quinta-feira, junho 30, 2005
O Regime Político ainda é o mesmo?
Não sei se o José Medeiros Ferreira gostará que eu o mencione como um sinal da inauguração de um processo paulatino de mudança de regime. Contudo, interpreto a tentativa de anulação da sua acção política, cifrada no afastamento das listas de deputados e na omissão de o indicar para o Conselho de Estado, conforme noticiado na altura, como uma intenção deliberada de privar o regime democrático de uma figura que conhece o mapa e as fronteiras desse regime, desde a luta anti-fascista. Do mesmo modo, o afastamento de Ana Benavente, agora mais claro no contexto actual das medidas tomadas no ensino, representa a vitória da influência orgânica da Igreja Católica. O facto de Helena Roseta ter sido dispensada das listas de deputados enfraquece a autonomia do grupo parlamentar. Claro que o Manuel Alegre poderia desempenhar o mesmo papel, não estivesse tão expectante de uma possível indicação do PS para a sua candidatura presidencial.
Neste quadro, Sócrates sente-se à vontade para desqualificar o movimento sindical apelidando-o de corporativo. Qualquer alteração das leis laborais depois deste ataque não passará de fachada.
E, sobretudo, prepara-se para alterar a lei eleitoral, introduzindo os círculos uninominais, de forma a decapitar a representatividade do pluralismo das correntes políticas em Portugal.
Não é isto uma mudança de Regime?
Neste quadro, Sócrates sente-se à vontade para desqualificar o movimento sindical apelidando-o de corporativo. Qualquer alteração das leis laborais depois deste ataque não passará de fachada.
E, sobretudo, prepara-se para alterar a lei eleitoral, introduzindo os círculos uninominais, de forma a decapitar a representatividade do pluralismo das correntes políticas em Portugal.
Não é isto uma mudança de Regime?
ILHAS
Quero agradecer ao blogue ILHAS as referências aos bichos-carpinteiros . Numa conferência que fiz nas Flores, apontei o fenómeno bloguítico nos Açores como uma das expressões da moderna cidadania insular.O ILHAS figurava em lugar de destaque. |
Emídio Guerreiro contra a lei da vida
A notícia da morte do resistente anti-fascista europeu EMÍDIO GUERREIRO suscita um minuto de longa reflexão sobre os combates políticos do século XX. EMÍDIO GUERREIRO foi um revolucionário burguês como já não há. A sua passagem pelo PPD nunca será bem compreendida se se não perceber essa raridade política depois da chegada do comunismo mas que volta a ter espaço depois do desaparecimento deste na forma histórica que tomou. Dá a impressão que nunca se rendeu a nenhum poder no foro íntimo da sua penetrante consciência. Nem tudo é claro na sua longa vida mas até ao fim seguiu o conselho de SÉNECA sobre os deveres da cidadania e esteve sempre presente como se não acreditasse na morte. |
Neurónios
Dmitry Sarkisov
This is a composite image of five Purkinje neurons from the rat cerebellum, in the back of the brain. Each has been filled with fluorescent dye through a glass pipette, shown touching the cells. Images were taken on a two-photon microscope. Each Purkinje cell receives hundreds of thousands of inputs through its dendrite, the elaborate tree-like structure seen emerging from the cell body.
This is a composite image of five Purkinje neurons from the rat cerebellum, in the back of the brain. Each has been filled with fluorescent dye through a glass pipette, shown touching the cells. Images were taken on a two-photon microscope. Each Purkinje cell receives hundreds of thousands of inputs through its dendrite, the elaborate tree-like structure seen emerging from the cell body.
quarta-feira, junho 29, 2005
Bush sem aplausos
A Joana Vicente Dias já colocou os links necessários para se ter uma ideia como o discurso de BUSH sobre o Iraque foi recebido na própria América, além de ter emitido as suas considerações sempre estimulantes.Assisti em directo pela televisão ao esforço do presidente dos EUA para dar algum sentido à sua política militar naquele país. BUSH escolheu falar aos seus concidadãos de um dos símbolos do mundo castrense norte-americano FORT BRAGG. Porém o ambiente à sua volta foi muito frio durante o discurso e praticamente não houve interrupções para aplausos. E, como notou um dos comentadores, uma dessas raras interrupções foi iniciada por um dos assessores da CASA BRANCA!Um assessor desses não tem preço. Ou seria um dos autores do draft?!
Balofo
Nos EUA ontem o dia ficou marcado pela “Comunicação à Nação” feita por Bush, e hoje não se falará de outra coisa. O presidente norte-americano tem os níveis mais baixos de popularidade no segundo mandato do que qualquer um dos últimos presidentes, e enfrenta uma oposição à guerra cada vez maior e já maioritária. Assim, pretendia com esta comunicação aproximar-se dos americanos e sossegar alguns ânimos. A expectativa era grande e esperava-se a apresentação de nova estratégia, de uma estratégia para o Iraque. Não conseguiu e o resultado foi o de reavivar a discussão sobre a guerra e receber um pálido aplauso no final.
Podem ler o discurso completo aqui e um exame “ponto a ponto” no Think Progress. O Think Progress e o Ezra Klein também incluem uma análise à Carlos Magno : )
Análise do Discurso de Bush por números
Referências ao 11 de Setembro: 5
Referências a Terror: 5
Referências a Terrorismo: 22
Referências a Armas de Destruição Massiva: 0
Referências a livre: 10
Referências a Liberdade: 21
Referências a Estratégias de Saída do Iraque: 0
Referências a Saddam Hussein: 2
Referências a Osama Bin Laden: 2
Referências a Erro: 1 (determinar um prazo de saída do Iraque)
Referências a Missão: 11
Referências a Missão Cumprida: 0
O maior fracasso deste discurso de Bush são as suas flagrantes inconsistências que, se resultaram quando a natural reacção emocional ao 11 de Setembro estava ainda muito viva, despertam imediata desconfiança e desqualificação, mesmo entre americanos conservadores e como mostram recentes sondagens. Basicamente, Bush fez uma reedição dos discursos dos últimos três anos, com nada de novo e muito do mesmo. E passando a ideia de que “agora que já lá estamos…”. Algumas contradições (chamem-lhe o que quiserem) estão aqui:
1) A invocação do 11 de Setembro e a insistência na ligação da guerra no Iraque com esta data- a comissão do 11 de Setembro concluiu que não existia nenhuma ligação entre Saddam e a al-Qaeda.
2) Implicar que a guerra no Iraque acabará com o terrorismo, quando é a própria CIA que reporta que o Iraque tem tornado numa escola de terroristas
3) Dizer que se têm feito progressos significativos no Iraque, quando na verdade os números dos ataques bombistas continua a subir e é o próprio Rumsfeld que admite que a insurgência pode continuar durante 10 ou 12 anos e, consequentemente, a guerra também.
4) Não apresentar qualquer estratégia nova para encontrar uma saída ou solução, para um problema que se agrava de dia para dia.
5) Dizer que se não manda mais tropas para o Iraque porque não foram pedidas, quando, para além dos repetidos pedidos, têm havido dificuldades graves no recrutamento que leva, inclusivamente, à construção de bases de dados de alunos do liceu, sem qualquer ética, com o propósito de garantir soldados suficientes.
6) Dizer que não se mandam mais tropas para o Iraque porque os Iraquianos têm que aprender a imporem-se por si próprios e que, além disso, podia mandar a mensagem de que a ocupação era permanente - só pode ser gozo.
7) Insistir que os insurgentes no Iraque são “terroristas de exportação”, quando se sabe que grande parte destes homens e mulheres são iraquianos. Caso contrário para que estaria a própria administração Bush a negociar com os sunitas?
8) Implicar que a resistência é terrorismo de exportação nega também a própria natureza destes ataques, resultado da própria ocupação americana e muitas vezes perpetuados por homens e mulheres com altos níveis de educação formal, socialmente integrados e não motivados por questões religiosas.
Referências ao 11 de Setembro: 5
Referências a Terror: 5
Referências a Terrorismo: 22
Referências a Armas de Destruição Massiva: 0
Referências a livre: 10
Referências a Liberdade: 21
Referências a Estratégias de Saída do Iraque: 0
Referências a Saddam Hussein: 2
Referências a Osama Bin Laden: 2
Referências a Erro: 1 (determinar um prazo de saída do Iraque)
Referências a Missão: 11
Referências a Missão Cumprida: 0
O maior fracasso deste discurso de Bush são as suas flagrantes inconsistências que, se resultaram quando a natural reacção emocional ao 11 de Setembro estava ainda muito viva, despertam imediata desconfiança e desqualificação, mesmo entre americanos conservadores e como mostram recentes sondagens. Basicamente, Bush fez uma reedição dos discursos dos últimos três anos, com nada de novo e muito do mesmo. E passando a ideia de que “agora que já lá estamos…”. Algumas contradições (chamem-lhe o que quiserem) estão aqui:
1) A invocação do 11 de Setembro e a insistência na ligação da guerra no Iraque com esta data- a comissão do 11 de Setembro concluiu que não existia nenhuma ligação entre Saddam e a al-Qaeda.
2) Implicar que a guerra no Iraque acabará com o terrorismo, quando é a própria CIA que reporta que o Iraque tem tornado numa escola de terroristas
3) Dizer que se têm feito progressos significativos no Iraque, quando na verdade os números dos ataques bombistas continua a subir e é o próprio Rumsfeld que admite que a insurgência pode continuar durante 10 ou 12 anos e, consequentemente, a guerra também.
4) Não apresentar qualquer estratégia nova para encontrar uma saída ou solução, para um problema que se agrava de dia para dia.
5) Dizer que se não manda mais tropas para o Iraque porque não foram pedidas, quando, para além dos repetidos pedidos, têm havido dificuldades graves no recrutamento que leva, inclusivamente, à construção de bases de dados de alunos do liceu, sem qualquer ética, com o propósito de garantir soldados suficientes.
6) Dizer que não se mandam mais tropas para o Iraque porque os Iraquianos têm que aprender a imporem-se por si próprios e que, além disso, podia mandar a mensagem de que a ocupação era permanente - só pode ser gozo.
7) Insistir que os insurgentes no Iraque são “terroristas de exportação”, quando se sabe que grande parte destes homens e mulheres são iraquianos. Caso contrário para que estaria a própria administração Bush a negociar com os sunitas?
8) Implicar que a resistência é terrorismo de exportação nega também a própria natureza destes ataques, resultado da própria ocupação americana e muitas vezes perpetuados por homens e mulheres com altos níveis de educação formal, socialmente integrados e não motivados por questões religiosas.
Imprensa aqui, aqui, aqui e aqui.
Escola católica de Portugal?
Exactamente pelos mesmos princípios, concordo com o parecer ontem divulgado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, que obriga aos médicos a respeitar a recusa das Testemunhas de Jeová em receber sangue, mas no caso de menores atribui aos médicos a decisão e não aos pais, e discordo em absoluto das pretensões do Conferência Episcopal divulgas hoje no DN, em determinar uma “Educação Sexual controlada”, dando o direito aos pais a intervirem na definição dos programas e selecção dos professores que leccionem a disciplina. É evidente que a família tem um papel determinante na educação sexual das crianças. Mas isso em nada deve ou pode fazer com a escola prescinda do seu. Além do mais nem se compreende bem a sugestão da Conferência Episcopal. Dar aos pais o direito de intervir em programas e escolha de professores? Isto é sequer exequível? Como? Que percentagem do programa é ditado pelos pais? Todo? Que pais? Que organizações de pais? E com que critérios se escolhe um professor? Pela sua religião? Idade? Pelo tamanho do nariz? Enfim, mesmo que tal ideia (que afinal, não é suficientemente explícita) fosse praticável, imaginemos como era se um pai ou um grupo de pais quisesse uma Educação Sexual do tipo ensinar às crianças o sado-masoquismo, o exibicionismo, o fetichismo ou o voyeurismo? Como era? Quem regulava tais intenções e determinava o que é ou não ensinável? As escolas, presumo. O Governo, presumo. E portanto, não faz qualquer sentido. Ou queria a Conferência Episcopal a ser ela a determinar o que se ensina ou não nas escolas portuguesas? Ou supõe que todos os pais são contra a masturbação ou a homossexualidade? A Conferência Episcopal não tem que interferir nestas matérias e, tendo pretensão de o fazer, é bom que pelo menos o faça com ideias e projectos com pés e cabeça, mesmo que nem todos partilhem da mesma opinião. Quanto a outras opiniões da Conferência Episcopal como dizer que é a Educação Sexual vigente "deturpa o sentido da sexualidade, isolando-a da dimensão do amor e dos valores, e abre caminho à vivência da liberdade sem responsabilidade, pela ausência de critérios éticos, e à aceitação, por igual, de múltiplas manifestações da sexualidade, desde o auto-erotismo, à homossexualidade” ou que “excita a imaginação das crianças”, nem vale a pena comentar. Tenho vergonha.
terça-feira, junho 28, 2005
Direito de Resposta
Inês Pedrosa (Expresso, 25 Junho 2005)
"No caso de Carrilho, a «acusação» estende-se ao aparecimento da mulher, Bárbara Guimarães, ao seu lado - e sucedem-se textos (muitos deles, infelizmente, assinados por mulheres), em que Bárbara é barbaramente desconsiderada. Porquê? Porque Bárbara é demasiado bonita e, não contente com isso, tem sabido utilizar a sua beleza em prol dessas frioleiras que são a leitura e a língua portuguesa. (...) Tudo coisas que não a recomendam, neste país guardado pelo gigante da inveja, que permanentemente empurra o mérito para fora de si. (...) Se preferiam ler nesta página mais umas filosofices sobre o papel e o lugar da família na política, paciência. Não gosto de telenovelas, nem tenho nada contra famílias felizes."
Ana Sá Lopes (Público, 26 de Junho de 2005)
"Vinha isto a propósito de ela ser feminista (e, como já disse, eu também). É verdade que abandonou alguns preceitos da teoria sobre o desejo feminino, oh sempre envolto em afecto, quando se viu a mandar passear três ou quatro rapazes bemintencionados depois de satisfeitas as primeirasimpressões bárbaras. (...)– Eu sou muito mais feminista do que aquela gaja!, disse-me ela, e era a sério.
– Mas, Vanessa, isso mede-se? (Sempre fiquei confrangida quando alguém tentava medir, assim em conversa, a dose de socialismo, realismo ou surrealismo, de um ente qualquer)
– Mede-se, mede-se. De resto, há imensas coisas que dizem muito sobre as pessoas. E eu sei muito bem porque é que ela não gosta de mim.
– Sabes? (Estava em causa o conflito laboral, daqueles extremamente relevantes dentro da cápsula do “emprego”)
– A gaja tem inveja, pá. Já viste a cara dela, a sério? É um monstrozinho! Que culpa tenho eu de Deus me ter dado estas pernas? Ela só me critica por inveja. Do rabo, talvez. Ou do cabelo. Ou destes vestidos que comprei agora nos saldos. Ou da minha família. Ela não tem filhos, deve ser por não ter filhos. E sabes se ela tem algum gajo? Se calhar não tem. Isto é uma chatice e depois sobra para mim. O problema dela sei eu bem qual é. "
– Mas, Vanessa, isso mede-se? (Sempre fiquei confrangida quando alguém tentava medir, assim em conversa, a dose de socialismo, realismo ou surrealismo, de um ente qualquer)
– Mede-se, mede-se. De resto, há imensas coisas que dizem muito sobre as pessoas. E eu sei muito bem porque é que ela não gosta de mim.
– Sabes? (Estava em causa o conflito laboral, daqueles extremamente relevantes dentro da cápsula do “emprego”)
– A gaja tem inveja, pá. Já viste a cara dela, a sério? É um monstrozinho! Que culpa tenho eu de Deus me ter dado estas pernas? Ela só me critica por inveja. Do rabo, talvez. Ou do cabelo. Ou destes vestidos que comprei agora nos saldos. Ou da minha família. Ela não tem filhos, deve ser por não ter filhos. E sabes se ela tem algum gajo? Se calhar não tem. Isto é uma chatice e depois sobra para mim. O problema dela sei eu bem qual é. "
Aneurisma Cerebral
Peter Keston
The image shows a 'berry' aneurysm at the base of the brain. The wall of the basilar artery has ballooned out, ruptured and has caused a devastating brain haemorrhage. To block the blood flow inside the aneurysm and prevent further bleeding, a platinum wire (the thickness of a human hair) is coiled up inside the berry.
O Navio Prisão
Um relator especial da ONU contra a Tortura denunciou que os Estados Unidos estão a utilizar navios de guerra como campos de prisioneiros para suspeitos de terrorismo. Os navios estarão no Oceano Índico escapando à legislação nacional e internacional sobre o tratamento de prisioneiros.
segunda-feira, junho 27, 2005
Pois é...
"If the congenitally gullible British media is to be believed, Europe has a new liberator: he goes by the name of Tony Blair and Britain's newspapers and broadcasters think he will triumphantly ride into Brussels on Friday (1 July) to inaugurate Britain's presidency of the European Union (EU) by unleashing a radical programme of market-based reforms and a bonfire of red tape that will make Europe great once more. Needless to say, this is pure nationalist fantasy, the latest manifestation of the conceit long embedded in the British political elite that if only its politicians were more committed to the EU then they could lead it. As an aspiration it is even more ludicrous than usual because this time it is to be achieved largely by the British Prime Minister's supposed force of conviction, charisma and skills as a salesman, allowing him to bypass Europe's discredited leaders and convince the people of the need for a dramatic break with the past in a mere six months. Forget New Labour, New Britain; now it is New Labour, New Europe.The ludicrously-high expectations of what Mr Blair can achieve were exemplified by an embarrassingly naive double-page spread in the Blairite London Times on Saturday with a headline that would have made the old Pravda proud: "Britain is blowing a wind of change across Europe". We hate to rain on anybody's parade but this sort of journalism needs to take a cold shower because, to be blunt - it ain't gonna happen. Mark our words: it will all end in failure and embarrassment, for the Prime Minister and his desperate cheerleaders in Britain's Euro-sceptic press and the Tory Party, whose intellectual collapse accelerates by the week."
Pode ler o resto (e vale a pena) aqui.
"A marca Carrilho"
Ainda sobre a marca Carrilho, a Joana "postou" um link para um artigo entitulado Como Vender um Candidato (DN 9 de Abril 2005).
Nele o Edson, o Einhart e o Carlos (eu já os trato por tu e eles nem me conhecem, apesar de partilharmos o mesmo métier) opinam sobre a marca Carrilho e o papel de Bárbara (um verdadeiro exemplo de co-branding político, como diz cá a malta).
Indo à boleia da temática em questão gostaria de aproveitar para transcrever algumas passagens de uma carta publicada no Público (Tribuna do Leitor, 20 de Junho 2005) pelo Luis Jorge (um ex-colega e amigo destas lides):
"A marca Carrilho"
"A candidatura de Manuel Carrilho à Câmara Municipal de Lisboa coloca duas questões a um publicitário: a sua notoriedade é-lhe benéfica ou prejudicial? O facto de ser filósofo é um convite ao despeito ou à admiração dos Portugueses? A mulher com quem casou garante-lhe ou retira-lhe votos no eleitorado feminino? E no masculino? O pequeno Dinis Maria poderá fazer as delícias da terceira idade?Quaisquer que sejam as conclusões, parece óbvio que Manuel Carrilho se considera um produto, ou seja, um objecto tão vendável como um sabonete ou um aspirador. E mais que isso, pretende transformar-se numa constelação de estímulos que inspirem sensações de conforto, sofisticação e domesticidade, libertando os eleitores da díficil tarefa de analisar projectos, aprovar ou rejeitar reformas, enfim, de pensar."
(...)
"Quando vi Bárbara Guimarães, com o pequeno Dinis, a pedir que votassem 'no papá' e quando li os cartazes que prometem vagos 'projectos para Lisboa', não pude evitar a sensação de que há muita arrogância, vaidade deslocada e desprezo pelos eleitores nesta tentativa de manipulação canhestra dos media. O suave beneplácito do doutor Prado Coelho irritou-me ainda mais.
E a pergunta com que fico, depois de ter sido tratado como um débil mental, a pergunta a que ninguém vai responder, nem aqui nem na imprensa cor-de-rosa, a pergunta que me vai convencer a ficar em casa no dia das eleições é só uma: quem é que eles julgam que são?"
- Luis M. Jorge
O Iraque e a imprensa americana e inglesa
Noto que pela segunda vez é a imprensa inglesa que noticia, em primeiro lugar, negociações entre autoridades norte-americanas e rebeldes sunitas. Sempre me pareceu que a própria prisão de Saddam já tinha sido o resultado de diligências semelhantes e, se bem se recordam, a primeira notícia sobre negociações envolvia Saddam lui-même! Por isso foi desmentida por Washington. Porém desta vez Rumsfeld admitiu que há contactos com representantes do ilegalizado partido BAAS para se tentar uma saída para a solução política da futura constituição iraquiana. Porque será que é a imprensa britânica a revelar esses passos semi-secretos para a resolução da insurreição no Iraque? Divisão de tarefas ou lições de liberdade de imprensa?
Fractal
Darsh Ranjan
This fractal is obtained by iteratively applying the transformation z <- (z*z + r*z*c + c*c)/(z*z + s*z*c + c*c), beginning with z = c and fixing r and s as two conjugate points on the unit circle. The colors are determined by the average value of the iterates as the number of iterations approaches infinity as c is varied over the complex plane. Although the rule used to generate the image is so mathematically simple, the shape is strangely organic and even suggestive of some sort of creature possessing a large head and a barbed tail.
O choque tecnológico (sim, já não há pachorra)
Sugiro que expanda o programa a alguns elementos do Governo, já que:
É canja
Os nitrofuranos são uma substância perigosa e proibida. Há dois anos houve uma denúncia em como existiam nitrofuranos em frangos. Dos 139 inquéritos, 13 aguardam julgamento. 51 foram arquivados e 70 estão em investigação. Não sei o que aconteceu aos restantes 5. A TSF não se descose : )
Grande novidade...
"Descontentes e desolados", diz o DN: "O optimismo dos portugueses não está a atravessar a sua melhor fase e, quanto ao futuro, a maioria continua a pensar que nada de muito substancial irá mudar." Não há problema, sempre tem a vantagem de nos mantermos nos primeiros lugares no consumo de anti-depressivos.
domingo, junho 26, 2005
Portugal 2005
Jorge Coelho: Você interessa-se mais pela bola e pelo comentário desportivo do que pela câmara de Sintra.
Fernando Seara: Ó meu bom amigo… não diga isso. Veja lá se quer que eu comente a sua entrada para a Quadratura…
Jorge Coelho: (Recebe um telefonema) O que é que tem a ver? Vocês e a bola…já o Flopes, andava a comentar a bola…e que figurinha…
Fernando Seara: Francamente, Coelho. O Fernando Gomes também ia à bola e veja lá onde ele foi parar…
Jorge Coelho: (Recebe um toque) Ó meu amigo… esse Fernando Gomes era jogador…você está a confundir tudo. E veja lá se ainda tenho que o relembrar do Pôncio Monteiro…
Fernando Seara: (Manda uma sms) Sim, sim Coelho…mas não se esqueça da importante relação. Afinal a Galp foi uma grande patrocinadora do Euro 2004…
Jorge Coelho: Você já me começa a irritar, Seara. Quer que lhe fale de Valentim Loureiro?
Fernando Seara: Ó Coelho, esteja lá caladinho. Então e as idas dos deputados à bola?
Jorge Coelho: Bom, estou a ver que você mete auto-golos. (Recebe e lê uma sms) Só para lhe refrescar a memória da bola no PSD: Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, membro suplente da direcção da Académica; Feliciano Barreiras Duarte, ex-secretário de Estado-adjunto do ministro da Presidência, presidente da assembleia geral do União de Leiria; Luís Cirilo, deputado do PSD e ex-governador de Braga, secretário-geral do Vitória de Guimarães; Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel e também presidente do clube de Penafiel.
Fernando Seara: (Faz um telefonema) Coelho, Coelho…você não tem emenda. Olhe a bola no seu campo: José Lello, deputado, presidente do Conselho Fiscal do Boavista; Mário Almeida, presidente da Câmara de Vila do Conde, dirigente do Rio Ave… Dias da Cunha, presidente do Sporting, dirigente nacional do PS.
Fernando Seara: Ó meu bom amigo… não diga isso. Veja lá se quer que eu comente a sua entrada para a Quadratura…
Jorge Coelho: (Recebe um telefonema) O que é que tem a ver? Vocês e a bola…já o Flopes, andava a comentar a bola…e que figurinha…
Fernando Seara: Francamente, Coelho. O Fernando Gomes também ia à bola e veja lá onde ele foi parar…
Jorge Coelho: (Recebe um toque) Ó meu amigo… esse Fernando Gomes era jogador…você está a confundir tudo. E veja lá se ainda tenho que o relembrar do Pôncio Monteiro…
Fernando Seara: (Manda uma sms) Sim, sim Coelho…mas não se esqueça da importante relação. Afinal a Galp foi uma grande patrocinadora do Euro 2004…
Jorge Coelho: Você já me começa a irritar, Seara. Quer que lhe fale de Valentim Loureiro?
Fernando Seara: Ó Coelho, esteja lá caladinho. Então e as idas dos deputados à bola?
Jorge Coelho: Bom, estou a ver que você mete auto-golos. (Recebe e lê uma sms) Só para lhe refrescar a memória da bola no PSD: Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, membro suplente da direcção da Académica; Feliciano Barreiras Duarte, ex-secretário de Estado-adjunto do ministro da Presidência, presidente da assembleia geral do União de Leiria; Luís Cirilo, deputado do PSD e ex-governador de Braga, secretário-geral do Vitória de Guimarães; Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel e também presidente do clube de Penafiel.
Fernando Seara: (Faz um telefonema) Coelho, Coelho…você não tem emenda. Olhe a bola no seu campo: José Lello, deputado, presidente do Conselho Fiscal do Boavista; Mário Almeida, presidente da Câmara de Vila do Conde, dirigente do Rio Ave… Dias da Cunha, presidente do Sporting, dirigente nacional do PS.
Entretanto João Soares diz que também tem 324803570579375092502 caracteres e a conversa continua.
Um romance com Dostoievski I
"Finalmente, fecharam o caixão, puseram-no no carro e levaram-no para o cemitério. Acompanhei-o apenas até ao fim da rua. Daí em diante o carro seguiu a trote. O pobre pai foi atrás do veículo, a chorar ruidosamente, num pranto entrecortado devido à corrida. Caiu-lhe o chapéu, mas não se deu ao trabalho de o apanhar, continuando o seu caminho. A chuva batia-lhe na cabeça e um vento frio açoitava-lhe o rosto. O velho, porém, parecia não o sentir, chorando e correndo sempre, ora de um lado do carro, ora de outro. As compridas abas do seu fraque já roto ondulavam ao vento. Viam-se-lhe livros em todos os bolsos, e debaixo do braço levava um grande e pesado volume, que apertava convulsivamente de encontro ao peito. Os transeuntes descobriam-se e benziam-se, e alguns ficavam parados a contemplar o pobre homem, com olhos de espanto. De vez em quando, caía-lhe um livro, sobre a lama da rua. Então chamavam por ele, indicando-lhe o que perdera. O velho apanhava o volume e continuava a caminhar atrás do féretro. Pouco antes de dobrar a esquina, aproximou-se dele uma mendiga bastante idosa e seguiu também o carro, ao seu lado. Finalmente o cortejo sumiu-se na curva do caminho.”
(Pobre Gente, pág. 69, Ed. Livraria Civilização)
(Pobre Gente, pág. 69, Ed. Livraria Civilização)
Querida Net Cabo
e para que o Medeiros Ferreira e todos os leitores que passam pela mesma desgraceira possam, pelo menos, rir. Stand-up comedy em vídeo aqui.
Falar ao povo
No Verão passado estive em Cuba e, entre as muitas coisas que me impressionaram, desde a pobreza à gentileza dos cubanos, ficaram na lista (mais para o fim, mas ficaram…) as comunicações diárias na rádio do Fidel. São bizarramente bucólicas, tanto quanto políticas. Naturalmente que o seu impacto deve-se igualmente ao facto de, como portuguesa, a ideia de uma comunicação oficial pela rádio, diária ou semanal, provocar estranheza e até alguma urticária. Aqui nos EUA, volta e meia, escuto as comunicações semanais radiofónicas de Bush. Algumas são também “únicas”. Pode ler ou ouvir aqui a desta semana.
A Net Cabo não faz zzz
Aqui para a zona do Príncipe Real a Net Cabo desfalece com frequência, interferindo negativamente com a produtividade do meu acesso à Internet. Sempre que dou conta da falta de firmeza da luz verde do status sou submetido a um interrogatório pericial que me levará em breve a engenheiro técnico, embora a matéria seja sempre a mesma e o resultado final semelhante: dentro de meia hora o caso deve estar resolvido, o que nem sempre acontece. Serei o único assinante nestas condições?
Interacção Vírus- Células
Joerg Schroeer
"Human cytomegalovirus infected human endothelial cells. Multicolor Immunofluorescence (IF). Blue: DAPI = cellular DNA. Green = GFP (green fluorescence protein). Red + Magenta = two different viral proteins. Captured with a Zeiss LSM510 laser scanning confocal microscope."
Lost in Translation
O Tim tem 14 anos e nasceu nos EUA. A sua mãe era da Alsácia e morreu quando ele tinha 9 anos. Antes de perder a mãe, o Tim passou por vários lares, sempre a entrar e a sair de casa, numa instabilidade assustadora, porque a mãe tinha uma esquizofrenia grave. O pai do Tim, que nunca viveu com a mãe do rapaz, é do Congo e imigrou para os EUA durante a puberdade. Casou-se com uma mulher também do Congo, há cerca de 5 anos atrás. Ambos trabalham e são, aliás, bastante bem sucedidos. Tiveram um filho (meio irmão do Tim) há 3 anos, que nasceu com uma mal-formação muito severa e que, depois de um ano em cuidados intensivos e do enorme sofrimento de todos, acabou por falecer.
Depois de a mãe morrer, o Tim ficou a viver com o pai e com a madrasta, mas há quase um ano apresentou-se sozinho num lar para crianças, acto bastante insólito, dizendo que se recusava a viver com a sua família, pois era espancado e mal-tratado. O caso, naturalmente, seguiu para tribunal e o Tim passou a viver no lar.
Quando a equipa de profissionais do lar é chamada para apresentar o seu relatório da situação, explicam como estão preocupados com o Tim, que se fecha no quarto, fazendo uns “rituais de bruxaria” estranhos, isolando-se dos colegas e pouco comunicando. Acusa o pai de lhe bater e de praticar “feitiçaria branca”. Nesta altura, a equipa, conhecendo a história psiquiátrica da mãe do Tim, coloca a hipótese de ele ser também psicótico e apresenta-se muito inquietada. Na primeira entrevista com o Tim, ele nada fala, comportando-se como a maioria dos adolescentes numa situação de avaliação psicológica. A única palavra que conhece em congolês é N’doki, que significa “criança bruxo”. Os N’doki são comuns no Congo e, na verdade, uma crença cultural muito importante e complexa. Não a descreverei aqui em exaustão, mas importa dizer que as crianças podem ter Kindoki (a feitiçaria) congenitamente ou porque foram iniciadas ritualmente nessa prática. Assim, crê-se que essas crianças têm um órgão ou uma substância (Kundu) que as tornam mortalmente ameaçadoras para as suas famílias e comunidades. Podem ser tratadas através de curandeiros conhecidos como os N’ganga, que podem “exorcizar” e fazer “vomitar a feitiçaria”, através de rituais complicados e que exigem um treino e uma preparação longos e difíceis. Aliás, as Igrejas Cristãs (especialmente evangélicas), em muitos lugares da África Central, fazem também estes rituais de purga. Contudo, às vezes são vistas como “feitiçaria encapotada”, e há uma série de regras culturais para as distinguir, aceitar ou rejeitar.
Depois de a mãe morrer, o Tim ficou a viver com o pai e com a madrasta, mas há quase um ano apresentou-se sozinho num lar para crianças, acto bastante insólito, dizendo que se recusava a viver com a sua família, pois era espancado e mal-tratado. O caso, naturalmente, seguiu para tribunal e o Tim passou a viver no lar.
Quando a equipa de profissionais do lar é chamada para apresentar o seu relatório da situação, explicam como estão preocupados com o Tim, que se fecha no quarto, fazendo uns “rituais de bruxaria” estranhos, isolando-se dos colegas e pouco comunicando. Acusa o pai de lhe bater e de praticar “feitiçaria branca”. Nesta altura, a equipa, conhecendo a história psiquiátrica da mãe do Tim, coloca a hipótese de ele ser também psicótico e apresenta-se muito inquietada. Na primeira entrevista com o Tim, ele nada fala, comportando-se como a maioria dos adolescentes numa situação de avaliação psicológica. A única palavra que conhece em congolês é N’doki, que significa “criança bruxo”. Os N’doki são comuns no Congo e, na verdade, uma crença cultural muito importante e complexa. Não a descreverei aqui em exaustão, mas importa dizer que as crianças podem ter Kindoki (a feitiçaria) congenitamente ou porque foram iniciadas ritualmente nessa prática. Assim, crê-se que essas crianças têm um órgão ou uma substância (Kundu) que as tornam mortalmente ameaçadoras para as suas famílias e comunidades. Podem ser tratadas através de curandeiros conhecidos como os N’ganga, que podem “exorcizar” e fazer “vomitar a feitiçaria”, através de rituais complicados e que exigem um treino e uma preparação longos e difíceis. Aliás, as Igrejas Cristãs (especialmente evangélicas), em muitos lugares da África Central, fazem também estes rituais de purga. Contudo, às vezes são vistas como “feitiçaria encapotada”, e há uma série de regras culturais para as distinguir, aceitar ou rejeitar.
Perante o impenetrável silêncio do Tim e da sua única palavra em congolês, uma das hipóteses que foi colocada, e que se revelou errada, foi a de que o pai pensasse que o Tim era um N’doki, o que explicaria, de acordo com o seu contexto, a morte da mãe e a morte do meio irmão, tanto como os comportamentos estranhos do Tim. Ou seja, se o pai achasse que ele era um N’doki, seria provável que o tivesse sujeito aos rituais dos N’ganga, e daí advir a alegação de maus-tratos.
Contudo, quando o pai, a esposa e o Tim foram entrevistados conjuntamente (recordo que era necessário um relatório para tribunal por maus-tratos infantis) o pai apareceu como completamente distante destas crenças e longe de fazer semelhantes atribuições. De facto, a meio da entrevista, Tim pediu para falar com um dos técnicos à parte e, quando regressou à sala, contou como sua a alegação de que o pai o espancava era mentira e fabricação sua . Contou tudo, confessou e pediu desculpas. O pai, extremamente afectuoso, mostrou-se aliviado e elogiou o filho por ter tido a coragem de contar a verdade.
No Congo, a linhagem é matrilinear. Ou seja, os filhos não são filhos do pai, mas sim dos tios maternos, e a sua família é essa, incluindo os primos e outros parentes dessa linha. Aliás nem sequer existe a palavra família. A palavra que existe é Kanda e que representa esse conceito de linhagem materna. A noção de família tal como a entendemos não tem qualquer sentido para eles. Ora, de acordo com este sistema, o pai não tem qualquer poder ou direito sobre os seus filhos. Quem tem é a família materna. O pai pode “casar” com os seus filhos, expressão que siginifica adquirir os direitos de paternidade, negociando uma espécie de dote com a família materna mas, se assim não for, não é propriamente pai. O pai é pai dos filhos da sua irmã. Claro que esta linhagem só funciona se todos estiverem no mesmo sistema, tal como no nosso só funciona se todos estiverem de acordo com as regras. Porque se uma mulher congolesa casar com um homem de uma linhagem patrilinear (um americano, por exemplo) significa que o tio congolês nunca terá filhos. Os filhos serão filhos do pai biológico americano e o tio congolês que esperaria (de acordo com a sua linhagem matrilinear) que os seus sobrinhos fossem seus filhos, terá que abdicar dessa expectativa/direito.
Assim sendo, Tim encontrava-se num verdadeiro paradoxo: para o Tim ser filho do seu pai (de quem muito gostava e que tinha sido sempre a sua única “base segura”, tendo em conta a terrível instabilidade da sua mãe) significava ser congolês. Mas ser congolês tinha como consequência que não era filho do seu pai, mas sim filho de um tio (irmão da falecida mãe) da Alsácia e que nem sequer conhecia. E se era filho de um tio da Alsácia, então não era congolês mas sim alsaciano.
No Congo, a linhagem é matrilinear. Ou seja, os filhos não são filhos do pai, mas sim dos tios maternos, e a sua família é essa, incluindo os primos e outros parentes dessa linha. Aliás nem sequer existe a palavra família. A palavra que existe é Kanda e que representa esse conceito de linhagem materna. A noção de família tal como a entendemos não tem qualquer sentido para eles. Ora, de acordo com este sistema, o pai não tem qualquer poder ou direito sobre os seus filhos. Quem tem é a família materna. O pai pode “casar” com os seus filhos, expressão que siginifica adquirir os direitos de paternidade, negociando uma espécie de dote com a família materna mas, se assim não for, não é propriamente pai. O pai é pai dos filhos da sua irmã. Claro que esta linhagem só funciona se todos estiverem no mesmo sistema, tal como no nosso só funciona se todos estiverem de acordo com as regras. Porque se uma mulher congolesa casar com um homem de uma linhagem patrilinear (um americano, por exemplo) significa que o tio congolês nunca terá filhos. Os filhos serão filhos do pai biológico americano e o tio congolês que esperaria (de acordo com a sua linhagem matrilinear) que os seus sobrinhos fossem seus filhos, terá que abdicar dessa expectativa/direito.
Assim sendo, Tim encontrava-se num verdadeiro paradoxo: para o Tim ser filho do seu pai (de quem muito gostava e que tinha sido sempre a sua única “base segura”, tendo em conta a terrível instabilidade da sua mãe) significava ser congolês. Mas ser congolês tinha como consequência que não era filho do seu pai, mas sim filho de um tio (irmão da falecida mãe) da Alsácia e que nem sequer conhecia. E se era filho de um tio da Alsácia, então não era congolês mas sim alsaciano.
Tim, um rapaz brilhante, tinha resolvido a questão. Acreditando ele próprio (e não o pai, como inicialmente se supôs) ser um N’doki, criou, na entrevista com os técnicos e com a família, um ritual de expurga da feitiçaria o mais semelhante possível aos verdadeiros. Mas na altura ninguém se apercebeu. Contou, confessou e pediu desculpas. Atormentado pela culpa (da qual tinha zero, mas que no seu pensamento mágico infantil, como é comum nas crianças, carregava) da morte da mãe e da morte do irmão, aprisionado no paradoxo da sua identidade, elegeu na entrevista com os técnicos e a família um suposto N’ganga (um dos técnicos presentes), a quem primeiro confessou para depois “vomitar a sua feitiçaria” com a família.
O Tim é agora caloiro numa prestigiada universidade norte americana, tem uma namorada muçulmana e como projecto ir ao Congo neste Verão e pela primeira vez na vida.
O Tim é agora caloiro numa prestigiada universidade norte americana, tem uma namorada muçulmana e como projecto ir ao Congo neste Verão e pela primeira vez na vida.
Leia com cuidado
Hoje no DN, como ontem no Público ou no Expresso, muitos colunistas fazem elogios rasgados ao discurso de Blair. No dia seguinte à sua presença no Parlamento Europeu, publiquei aqui o link para o discurso completo de Blair, para quem não o tivesse visto ou para quem, não o tendo visto na totalidade, formasse o seu juízo. Escusado será dizer que há quem, ao contrário de mim, avalia Blair e sua orientação política como positivas, o que até posso compreender. Já tenho mais dificuldades em entender como é que, perante a vacuidade total de medidas concretas no seu discurso no PE, alguém possa gabar-lhe as propostas ou as ideias, porque pura e simplesmente elas não existiram. Blair fez um discurso verbalmente empolgante (pelo menos para muitos eurodeputados) mas de conteúdo nulo. E, de novo, desafio a que o leiam na íntegra e que indiquem claramente onde é que Blair aponta como concretizar propostas, executar projectos ou agilizar medidas. Não aponta e lamento que alguns façam passar a imagem oposta. Enfim, para quem quiser ler outra opinião, aconselho a de Christopher Booker. Um destaque:
Tony Blair, in his two pronouncements last week on the future of "Europe", made just enough of the right noises to convince the more gullible sections of the media that he might be about to mastermind some miraculous transformation of the EU. He talked about the need to hear the people of Europe blowing their trumpets outside the city walls. He talked of the need for "leadership", and how the EU needed to be "modernised", its economies deregulated, the Common Agricultural Policy reformed. If all this happened, he might even be prepared to renegotiate the British rebate.
But examine his speeches in Westminster and Brussels more closely and they include not a single proposal as to how any of these wonders might be achieved.
The financial arrangements for the CAP, as President Chirac reminds him, are set in stone for another eight years. And, as a Brussels official was last week quoted as saying, the agriculture which the CAP sustains is viewed as "the very fabric of European civilisation, a rampart against decline, the rural exodus, mushrooming urban sprawl, shanty towns, crime, violence, drugs".
(…)It is all very well for Mr Blair to talk airily about reforming the CAP. It was devised in the 1960s by France, with the specific aim of protecting French farmers, so that the rest of Europe could pay for their surpluses twice - first by subsidy, and then as imports. Despite at least three "reforms" of the CAP since, that principle remains sacrosanct. Tony Blair will be long gone before the CAP is abandoned.
Enfim, o desespero é tal que, um bom orador, ainda que sem sustentabilidade alguma, é aclamado Salvador. Pior: nada perceberam da recusa dos europeus…como se alguma vez estes, mesmo que Blair tivesse tal crédito, acreditariam num ímpeto britânico…pobre Europa, esta…
Tony Blair, in his two pronouncements last week on the future of "Europe", made just enough of the right noises to convince the more gullible sections of the media that he might be about to mastermind some miraculous transformation of the EU. He talked about the need to hear the people of Europe blowing their trumpets outside the city walls. He talked of the need for "leadership", and how the EU needed to be "modernised", its economies deregulated, the Common Agricultural Policy reformed. If all this happened, he might even be prepared to renegotiate the British rebate.
But examine his speeches in Westminster and Brussels more closely and they include not a single proposal as to how any of these wonders might be achieved.
The financial arrangements for the CAP, as President Chirac reminds him, are set in stone for another eight years. And, as a Brussels official was last week quoted as saying, the agriculture which the CAP sustains is viewed as "the very fabric of European civilisation, a rampart against decline, the rural exodus, mushrooming urban sprawl, shanty towns, crime, violence, drugs".
(…)It is all very well for Mr Blair to talk airily about reforming the CAP. It was devised in the 1960s by France, with the specific aim of protecting French farmers, so that the rest of Europe could pay for their surpluses twice - first by subsidy, and then as imports. Despite at least three "reforms" of the CAP since, that principle remains sacrosanct. Tony Blair will be long gone before the CAP is abandoned.
Enfim, o desespero é tal que, um bom orador, ainda que sem sustentabilidade alguma, é aclamado Salvador. Pior: nada perceberam da recusa dos europeus…como se alguma vez estes, mesmo que Blair tivesse tal crédito, acreditariam num ímpeto britânico…pobre Europa, esta…
Olha, olha...
Acho extraordinário o lamento de Miguel Relvas…como se ele não tivesse criado entidades regionais sem qualquer coerência…
sábado, junho 25, 2005
Células Estaminais Neuronais
John Dimos
"This image depicts neural stem cells that were genetically modified with an engineered form of HIV. Visualized in green is a transgenic protein introduced by HIV; red is a stem cell stain, and blue depicts neuronal progeny."
Comentário aos comentários
Este blogue iniciou-se com uma atitude muito aberta em relação aos comentários dos nossos visitantes e, numa primeira fase, os comentários honravam quem os fazia e eram uma mais valia do próprio blogue. Nem o facto de outros blogues de grande sucesso não terem abertura para essa inter-actividade blogosférica nos levou a tomar grandes cautelas. Infelizmente, nos últimos dias, verifica-se que uma espécie de brigada da provocação escolheu este blogue para o inundar de dichotes e até de insinuações e difamações. Enquanto esses comentários parasitas apenas tinham por objecto os próprios autores do blogue BICHO-CARPINTEIRO o masoquismo era só nosso. Porém detecta-se agora uma fase de ataque a pessoas estranhas à edição do deste blogue e que são assim vítimas da liberalidade alheia. Não acho correcto que tal possa continuar.
Mas agradeço a todos aqueles que nos deram a suas opiniões civilizadamente.
Mas agradeço a todos aqueles que nos deram a suas opiniões civilizadamente.
Luís Osório e a Capital
Uma má noticia esta da saída de Luís Osório do jornal A Capital.
Luís Osório trouxe à imprensa escrita a sua imensa capacidade de inovar e de criar, fez-se rodear de uma equipa nova plena de talentos, apoiada na experiência de Rogério Rodrigues, que deu aquele jornal uma riqueza perdida e uma qualidade artística que marca uma era no jornalismo.
A Capital tornou-se, sob a sua direcção, um projecto diferente no panorama da comunicação social em Portugal como já não se via desde a passagem de Mário Mesquita pelo DIÁRIO DE LISBOA e desde a primeira fase do DNA .
O espaço de debate público fica ainda mais reduzido com a sua partida.
Mas Luís Osório volta sempre!
Luís Osório trouxe à imprensa escrita a sua imensa capacidade de inovar e de criar, fez-se rodear de uma equipa nova plena de talentos, apoiada na experiência de Rogério Rodrigues, que deu aquele jornal uma riqueza perdida e uma qualidade artística que marca uma era no jornalismo.
A Capital tornou-se, sob a sua direcção, um projecto diferente no panorama da comunicação social em Portugal como já não se via desde a passagem de Mário Mesquita pelo DIÁRIO DE LISBOA e desde a primeira fase do DNA .
O espaço de debate público fica ainda mais reduzido com a sua partida.
Mas Luís Osório volta sempre!
ART&rial IV
(ART&rial I, ART&rial II, ART&rial III)
Em 1527 o exército de Carlos V, I de Espanha, conquista Roma e assim começa o fim do Renascimento, bem como novo ímpeto ao ataque da Reforma da Igreja. A arte iria mudar, mas como, se era então perfeita? Michelangelo, Ticciano, Leonardo. Quem lhes poderia suceder? Quem os poderia superar se tinham mesmo ultrapassado a beleza e a harmonia da Arte Grega e Romana? É deste modo que surge o Maneirismo, na torrente copista dos grandes e inexcedíveis mestres. E é por isso que nesta fase se vêem algumas obras quase cómicas, como a representação de cenas bíblicas onde a profusão de figuras parece uma equipa atlética. Cartoccia, Invenzione, Maniera.
Largamente desprezado, o Maneirismo só é cunhado e reconhecido depois da célebre e corajosa exposição impulsionada por André Chastel, historiador de arte. A exibição em 1965, no Louvre, permitiu reabilitar algumas das obras e autores desta época. Uma boa altura para elevar a Segunda Renascença já que, perante a profusão e o estridente dos quadros maneiristas, do seu modo auto-consciente e justaposto, é difícil manter a calma…Duas salas com pintores maneiristas no AI não têm bancos. Noutra sala há assento, sempre gelado, onde as cores bizarras e os músculos cinzelados e impacientes se sentem solitários.
Gosto da descrição que Delacroix faz do Maneirismo no seu diário: “tudo o que pintam é músculos e poses, nas quais a ciência, ao contrário da opinião geral, não é de todo um factor dominante…Desconheciam todos os sentimentos humanos e todas as paixões. Quando faziam um braço ou uma perna, parece que pensavam apenas naquele braço ou naquela perna e que nem sequer remotamente consideravam a forma como se relacionavam com a acção da figura à qual pertenciam, e muito menos à acção do quadro como um todo…E aí está o seu grande mérito; trazer o sentimento do grande e do terrível, mesmo a um membro isolado.”
Mas nem todos os discípulos se acomodaram a esta fasquia e se resignaram à retorção e às posições fanfarronas. Tintoretto e El Greco eram insubordinados, geniais e comovem mais do que agradam. Domenikos Theotokopoulos, veio da Grécia, onde a arte jazia ao modo bizantino, de imagens apenas remotamente humanas. Depois de uma passagem por Veneza estabeleceu-se em Todelo, fugindo aos cânones e aos críticos. O primeiro quadro de El Greco com que me deparei foi no princípio da minha adolescência, numa visita ao Museu do Prado. Embora insistissem comigo para apreciar a sua audácia, os corpos da Adoração dos Pastores pareciam-me torpes e a sombra sinistra. A suspensão das figuras desequilibrava a minha apreciação e os impressionistas, esses sim, pareciam-me gentis e longe da turbulência então impossível de sustentar.
Um dos melhores trabalhos de El Greco exibido nos EUA (ou mesmo fora de Espanha) está no AI. Terra e Céu unidos por um laborioso código de gestos e modos, posturas e meneios que tão bem caracterizam a tensão religiosa na obra de El Greco. A manipulação e o ardor dos seus quadros encontram aqui expressão maior, no túmulo aberto, na hospitalidade do círculo dos anjos, no ritmo articulado entre mundos. Maria, elevada num quarto de lua crescente, pura, toca ainda na Terra com os mantos volumosos que o pintor preferia. Agradava à Contra Reforma…e sim, aqui figura S. Tiago segurando o seu livro.
Não há vez que visite o Museu e que não pare aqui. Há sempre mais um detalhe, na figura serpentinata, na eloquência das mãos, no fervor do encontro. Sem gravidade, porque os longos e singulares corpos de El Greco, pairando longe da verdade anatómica, não me assustam como outrora. Barroco, o período que se segue, e que na verdade significa grotesco ou absurdo, trará outros excessos.
Transferência de Equity
Edson Athaíde é quem dirige a campanha de Carrilho. Ah, bom...como dirigiu, por exemplo, a campanha de Santana...
Se tudo conta para decidir o voto nas câmaras mais disputadas, pode haver em Lisboa um "efeito Bárbara Guimarães"? A popularidade da mulher de Manuel Maria Carrilho pode beneficiá-lo em termos de marketing? Carlos Coelho não tem dúvidas que sim. "Esse capital pode ser absolutamente determinante. Se existe capital valioso na imagem do professor Carrilho tem a ver com a mulher dele, a simpatia que gera e o seu grau de notoriedade, que é superior à dele. "Bárbara Guimarães pode conseguir aquilo a que se chama em publicidade' transferência de equity'", explica Carlos Coelho, isto é, o mesmo efeito que as marcas procuram quando escolhem alguém popular para fazer campanha por um produto.Edson Athaíde é cauteloso quando fala de Bárbara Guimarães, embora reconheça que a apresentadora "é conhecida e tem uma imagem muito boa, o que, como é óbvio, não atrapalha a campanha" de Carrilho.
EXCELENTE DIAGNÓSTICO. Com publicitários assim, quem precisa sequer de se candidatar?
80% bebem álcool antes dos 14
É o título de uma das notícias do Expresso de hoje. Infelizmente não é novidade. Em Portugal, quando já havia um Centro de Atendimento a Toxicodependentes em todos os Distritos, continuavam a existir apenas 3 Centros Regionais de Alcoologia, com paupérrimos recursos logísticos e humanos e enfrentando o vazio de estratégias e empenho de sucessivos governos.
Carpiteiros por aí: e-mails de leitores
SPRC CONSULTOU EMBAIXADA DA FINLÂNDIAE CONCLUIU QUE O SENHOR PRESIDENTE FOI MAL INFORMADO
O Senhor Presidente da República Portuguesa parece estar a juntar a sua voz às de quantos entenderam pronunciar-se contra os professores portugueses. Assim, depois daministra da Educação,do senhor Belmiro de Azevedo, do ministro da Saúde ou do comentador Sousa Tavares, veio o Dr. Jorge Sampaio dizer que os professores finlandeses trabalhavam 22 horas lectivas e permaneciam nas escolas cerca de 50 horas por semana.Seria estranho se assim fosse, pois significaria um trabalho diário de 8horas, incluindo sábado, emais duas horas ao domingo!Daí que o SPRC tenha contactado a Embaixada da Finlândia tendo sabido que os professores finlandeses trabalham entre 15 e 23 horas lectivas, não ultrapassando as 37horas e 15 minutos nototal do seu horário. Nos períodos de interrupção os professores não têm depermanecer nas escolas,assim como nos dias em que não tiverem serviço distribuído.São, pois, ligeiras as diferenças. Em Portugal os horários lectivos situam-se entre as 12 e as 25 horas lectivas semanais e os professores têm um horário completo de 35 horas. Muitos, porém, designadamente os que têm cargos ou assumem funções de gestão nas escolas, são obrigados a permanecer um maior número de horas nas escolas.O Senhor Presidente da República deve, pois, corrigir a sua informação e tratar com respeito os professores e educadores portugueses.
(enviado por José Carlos Garrucho)
sexta-feira, junho 24, 2005
Provas Académicas
Gosto da solenidade moderna das provas académicas. Tendo-as prestado em duas universidades tão distintas como a UNI de GENÈVE e a UNI NOVA DE LISBOA sempre as concebi como momentos especiais e intensos de fazer avançar o conhecimento universitário e o saber científico. Arrisco mesmo a dizer que são mais produtivas, desse ponto de vista, do que as aulas. Talvez por isso, no meu tempo, um assistente em Genebra dava menos horas de aulas do que um doutor, para poder investigar.
Hoje, mais uma vez, dei-me conta da maior utilidade marginal dessas provas ao arguir uma tese de doutoramento na minha Faculdade. Fiquei satisfeito por ter regressado à Academia.
Sim...mas....
Os EUA acabam de reconhecer que há tortura em Guantánamo, no Iraque e no Afeganistão. Contudo, uma vez mais, o Governo declara não ter responsabilidades:
"They said it was a question of isolated cases, that there was nothing systematic and that the guilty were in the process of being punished."
The US report said that those involved were low-ranking members of the military and that their acts were not approved by their superiors, the member added."
The US report said that those involved were low-ranking members of the military and that their acts were not approved by their superiors, the member added."
Extinguir coisas fundamentais
A Comissão Nacional da Luta contra a SIDA (CNLCS) desaparece e as suas atribuições são transferidas para o Alto Comissariado da Saúde. Há uma semana, Meliço Silvestre demitiu-se da CNLCS alegando, entre outros motivos, a passagem para esta tutela. Mas na altura não se falava da extinção da CNLCS, mas tão somente da transferência de tutela. Se Meliço Silvestre não se tivesse demitido, tinha sido demitido.
Em Portugal nenhum governo fez um investimento sério no combate à SIDA mesmo quando, no início da década de 90, os estudos mostravam estatísticas muito baixas, e a prevenção primária era atempada. Esta opção de Sócrates vai ter como resultado o agravamento da secundarização da luta contra a SIDA, deixando-a sem qualquer cunho prioritário no dito Alto Comissariado, e não obstante as actuais taxas de infecção.
Muito barulho por nada
O que ontem Blair revelou foram as suas qualidades como orador. O resto?...ah, bom, o resto é conversa:
Ontem:" I am a passionate pro-European. I always have been".
Os dados ex-pessoais
O Pentágono está a criar uma base de dados, de alunos do liceu entre os 16 e os 18 anos e de todos os alunos universitários, para identificar potenciais recrutamentos militares. Inclui informação como datas de nascimento, notas escolares, número da segurança social, endereço de e-mail, etnicidade e disciplinas em estudo.
A base está a ser feita juntamente com a BeNow Inc, uma companhia de marketing especializada analisar dados para definir potenciais clientes, com base nos seus perfis e hábitos.
Para além da questão imediata da privacidade, há dois detalhes dignos de nota. Primeiro, os alunos podem optar por ficar de fora desta base de dados. Muito bem, mas se o fizerem, a sua informação ficará registada na mesma.
"The Pentagon's statements added that anyone can "opt out" of the system by providing detailed personal information that will be kept in a separate "suppression file." That file will be matched with the full database regularly to ensure that those who do not wish to be contacted are not, according to the Pentagon."
O segundo detalhe é que esta base dá o direito ao Pentágono de, sem notificar os cidadãos, partilhar os dados para outros fins que não os militares:
"The system also gives the Pentagon the right, without notifying citizens, to share the data for numerous uses outside the military, including with law enforcement, state tax authorities and Congress."
quinta-feira, junho 23, 2005
Argentina Aires
Lisboa cheira a BUENOS AIRES por estes dias. Entretanto a COMISSÃO EUROPEIA, assaltada por tantas notícias das nossas desgraças orçamentais passadas e futuras, resolveu-preventivamente! -abrir um procedimento por défice excessivo contra Portugal, devido à previsibilidade de derrapagem das contas públicas no fim do ano.
Estamos perante uma nova interpretação dos poderes da Comissão nesta matéria pois ela só pode actuar perante a efectiva derrapagem e não preventivamente como Joaquín Almunia anuncia.
Portugal torna-se assim no primeiro caso de co-execução orçamental on-line com os muito bem pagos funcionários da Comissão. Que pena não se poder fazer como a Alemanha e utilizar os fundos do plano Marshall para baixar o défice!
Estamos perante uma nova interpretação dos poderes da Comissão nesta matéria pois ela só pode actuar perante a efectiva derrapagem e não preventivamente como Joaquín Almunia anuncia.
Portugal torna-se assim no primeiro caso de co-execução orçamental on-line com os muito bem pagos funcionários da Comissão. Que pena não se poder fazer como a Alemanha e utilizar os fundos do plano Marshall para baixar o défice!
A Cigarra
6 Janeiro de 2005: "Portugal atravessa seca, mas só o Algarve preocupa"
31 de Janeiro: "Algarve: Autarquias e empresas garantem que não haverá racionamento de água"
1 de Fevereiro:Seca deve continuar até ao fim de Abril
1 de Fevereiro:Seca deve continuar até ao fim de Abril
19 de Fevereiro: Santuário pede benção de chuva
15 de Abril: Seca: Governo admite subir nível de prevenção em algumas regiões
5 de Maio: Parlamento debate os efeitos da seca
31 de Maio: Portugal ainda não pediu apoios à UE
3 de Junho: Portugal enfrenta pior seca dos últimos 60 anos
AGORA: quase 80% do país em seca extrema e severa, na primeira quinzena de Junho, é o que diz o relatório do Programa de Acompanhamento e Mitigação dos Efeitos da Seca.
&
O passado é o luxo de proprietários
(Sartre, Náusea, p.88, Ed. Gallimard)
Em Portugal, volta e meia, os arquivos da PIDE, a divulgação de nomes de informadores, são assunto, como foram em Abril deste ano.
Esta semana dois acontecimentos fizeram-me pensar sobre a impunidade em Portugal.
Um deles foi nos EUA, o julgamento e a condenação de Edgar Ray Killen, por ter assassinado, há 41 anos atrás, 3 homens de 20 e poucos anos, activistas de direitos civis. Killen era membro do Ku Klux Klan e conta agora com 80 anos. Este foi um caso que marcou uma geração e uma época, tendo sido projectado pelo filme Mississipi Burning.
Embora muitos lamentem que o crime não tenha sido considerado homicídio qualificado, tendo em conta a sua clara premeditação, na verdade, o mais provável é Killen falecer na prisão, tendo em conta a sua idade. A CNN ontem e anteontem mostrava como quer investigadores quer familiares das vítimas insistiam na ideia de “justiça feita”; “fecho de um capítulo”; “começar de outra época”.
A outra situação foi em Itália, onde o tribunal militar de Spezia condenou ontem à prisão perpétua 10 antigos soldados nazis alemães pelo massacre, em 1944, de 560 civis italianos.
Not a policy to be proud of
Chama-lhe a Economist desta semana (sem link) :
"Reports of the brutality of American interrogators—or their surrogates in Egypt and Uzbekistan—have become commonplace. Still, this book, by an army sergeant who spent six months at the American prison camp at Guantánamo Bay, has something to add, not because of what it says about the effects of inhumane treatment on suspects, but for what it did to soldiers like himself.
Erik Saar is “every American”. At the age of 22, he had never been outside his own country, had been married for three years and had proudly voted Republican in 2000. Not seeing much future in a marketing job at UPS, he joined the army to pursue a career in intelligence. (...) At Guantánamo, Mr Saar's world crashed. (...) If America ignored the Geneva Convention, “what kind of brutality might we be visiting upon ourselves in the future fight?” (...) When he saw torture being used at Guantánamo, he struggled to “reconcile my beliefs as an American, my conscience, and my religious beliefs with my duty as a soldier.”
The struggle was lost during the interrogation of a 21-year-old Saudi. The man was believed to have taken flight training with two of the September 11th hijackers. Interrogators got nothing from him. After each gruelling session, he returned to his cell and prayed, but a female interrogator sought to break him by making him feel dirty before his God. With the prisoner shackled in an uncomfortable position, she unbuttoned her blouse and began rubbing her breasts against him. “Do you like these big American tits?” she asked. She made another sexually crude remark, then added, “How do you think Allah feels about that?”
The prisoner spat in her face. She grew cruder. She told him she was having her period, unbuttoned her military trousers and wiped what she said was menstrual blood on his face (it wasn't blood; it was from a red magic marker). He screamed but did not break. Outside the room, she began to cry. So too did Mr Saar. “I hated myself.” Tears rolled down his cheeks. He went home, and took a shower, but “there wasn't enough hot water in all of Cuba to make me feel clean.”
The struggle was lost during the interrogation of a 21-year-old Saudi. The man was believed to have taken flight training with two of the September 11th hijackers. Interrogators got nothing from him. After each gruelling session, he returned to his cell and prayed, but a female interrogator sought to break him by making him feel dirty before his God. With the prisoner shackled in an uncomfortable position, she unbuttoned her blouse and began rubbing her breasts against him. “Do you like these big American tits?” she asked. She made another sexually crude remark, then added, “How do you think Allah feels about that?”
The prisoner spat in her face. She grew cruder. She told him she was having her period, unbuttoned her military trousers and wiped what she said was menstrual blood on his face (it wasn't blood; it was from a red magic marker). He screamed but did not break. Outside the room, she began to cry. So too did Mr Saar. “I hated myself.” Tears rolled down his cheeks. He went home, and took a shower, but “there wasn't enough hot water in all of Cuba to make me feel clean.”
quarta-feira, junho 22, 2005
Faça você mesmo
Esta história do Ministro ter mandado os médicos lavar as mãos (declarações em relação às quais já houve reacção) presta-se a muitas interpretações. “Lavo daqui as minhas mãos”, “Mãos Limpas”, “Nada na Manga”, “Na palma da mão”. Lembrei-me de uma piadeca, em que um senhor, ao ver o letreiro “Empregados devem lavar as mãos”, fica à espera horas e horas. Até que, finalmente, decide lavá-las ele próprio.
Não há portugueses maus
Noto em muitos artigos publicados por estes dias uma tendência para demonizar certos grupos sociais por estes estarem a defender, bem ou mal, alguns dos direitos ameaçados pelas medidas de combate ao défice. Agora são os professores e os funcionários públicos os bombos da festa. Amanhã serão os polícias e depois os militares. Os articulistas colocam-se sempre do bom lado do combate e refugiam-se na actividade privada para dar lições de bom comportamento aos outros. Mas eu gostava de os ver a reagir a eventuais cortes de crédito bancário às suas exemplares empresas...
Adeus ao Conselho da Europa
Foi-me atribuído o título de membro honorário da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, distinção que outros parlamentares portugueses também já tiveram e cuja companhia me agrada.
Para quem, como eu, assinou a entrada da REPÚBLICA PORTUGUESA no CONSELHO DA EUROPA em Setembro de 1976 e aderiu no mesmo momento à CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS HUMANOS, foi uma despedida cheia de sentido.
Oxalá o Conselho da Europa continue a vigiar a permanência do ESTADO DE DIREITO entre os seus próprios membros. Como se pode entre-observar nada está adquirido.
Para quem, como eu, assinou a entrada da REPÚBLICA PORTUGUESA no CONSELHO DA EUROPA em Setembro de 1976 e aderiu no mesmo momento à CONVENÇÃO EUROPEIA DOS DIREITOS HUMANOS, foi uma despedida cheia de sentido.
Oxalá o Conselho da Europa continue a vigiar a permanência do ESTADO DE DIREITO entre os seus próprios membros. Como se pode entre-observar nada está adquirido.
Recadinho
Jaime Gama também não foi propriamente discreto, ao dizer que é o primeiro Presidente da AR que não é maçon. Mas com intenções nas antípodas das de Berlusconi.
Status quo, vulgo circo
Estas jogaditas de meia leca, para mostrar que a "A Europa Continua" são propaganda da quinta apanha da azeitona. Mas enfim, valeu pelas palhaçadas de Berlusconi que, elegante como habitualmente, referiu-se à Filândia (por comparação a Parma, onde teve lugar a cerimónia da Autoridade de Segurança Alimentar Europeia) da seguinte forma:
"Estive na Filândia e tive que suportar a cozinha filandesa, por isso estou em posição para fazer uma comparação. (Para que fosse em Parma) tive que usar todas as minhas tácticas de Playboy (...) Assim o Barroso vai ter uma oportunidade para provar o nossos "culatello" em vez dos arenques fumados filandeses".
Depois dos anti-americanos... os anti-europeus
O Luxemburgo é um grande doido. Depois de ter sido tomada a decisão da não decisão e o referendo ter sido oficialmente deixado de molho, os luxemburgueses vão ter na mesma o referendo no dia 10 de Julho. Compreendo, para maluco, maluco e meio. Na Filândia, as sondagens mostram que, caso houvesse referendo, quase metade o rejeitariam.
terça-feira, junho 21, 2005
"Bábá, Diniz e o filósofo"
Caro Manuel,
A ti um irónico, por excelência, dedico-te a seguinte passagem do Richard Rorty, que tanto aprecias (tal como eu):
"For the ironist, philosophy, so defined , is the attempt to apply and develop a particular antecedently chosen final vocabulary - one which revolves around the appearance-reality distinction."
Post em aberto II
Ontem, antes de partir para Washington (onde estou pela primeira vez, e sobre a qual relatarei as minhas impressões mais tarde) deixei aqui um post explicando que não poderia aceder ao blog por 24 horas e que, tendo em conta que o Medeiros Ferreira também está ausente do país e os outros bichos noutras carpintarias(embora entretanto o MBR tenha aparecido!), que o Bicho Carpinteiro ficaria entregue aos seus leitores até hoje. Sugeri que usassem os comentários para deixar sugestões de temas de discussão ou opiniões sobre outros assuntos. Agora, ao abrir o blog, vejo que esse post desapareceu! Não sei como, não sou uma especialista, e já pedi ao Hidden para averiguar o que se terá passado. Também não sei se havia muitos ou poucos comentários, mas como pedido de desculpas (a um comentário que seja), reedito o post. Se por acaso o post anterior não for recuperado, podem, se quiserem, recolocar os comentários que tinham escrito anteriormente.
Fica, como disse anteriormente, a sugestão.
Adenda. Mais estranho ainda: os comentários ao Post em Aberto I aparecem no Post Chicago vs Lx.
Prós e Contras Chicago vs Lx VII- Adagio
Prós VII
Chicago é “apenas” a 52ª cidade mais cara do mundo
Contras VII
Lisboa não anda muito longe…ocupa o 66º lugar. E pela subida que tem tido, pouco falta para andar “nos cinquentas”.
Ó Stôr
Leio o post que o MBR publicou esta tarde. Não estou de acordo com o que escreve, e espero que seja esse também um dos catalizadores deste blog. Apenas quero sublinhar aquilo que, seguramente, MBR sabe bem e que não menciona:
1. As paupérrimas condições dos professores- desde salários (que não aumentam há dois anos), ao desterro a que são sujeitos com sucessivas deslocações;
2. Os constantes ataques a que têm sido sujeitos (já nem quero falar da vergonha que foi o concurso dos professores com Santana Lopes), mas já mesmo sob este Executivo: por exemplo, recordo as declarações de Sócrates, no princípio deste mês, em Setúbal, quando disse que era um privilégio dos docentes e um mau exemplo estes não terem turma distribuída no ano da aposentação. Ou Sócrates não sabe do que fala, ou foi puramente demagógico, pois trata-se apenas de medida da administração para evitar que a meio do ano as turmas tivessem que mudar de professor. Outra possibilidade era, como está na lei, que o Ministério tivesse de pagar mais 1/3 ao professor por estar a trabalhar depois de ter atingido as condições de aposentação, o que assim se evita.
Outro exemplo foi o que o Governo disse sobre os professores com horário zero, que, efectivamente, não têm turmas atribuídas mas têm um horário a tempo-inteiro.
3- A falta de reconhecimento do estatuto da classe dos professores, que, sendo uma profissão de alto desgaste e que idealmente exige uma actualização constante, não vêem reconhecidos direitos nem possibilidades, com as quais, afinal, beneficiariam os alunos, ou seja, todos nós. Embora não concorde com tudo o que está neste artigo de João Dias da Silva no DN , no final indica algumas questões importantes
4- Esta questão do timing da greve é uma balela. Os professores não deveriam ter feito greve na altura dos exames? E o Governo, deveria ter avançado com estas medidas na altura dos exames? Ou contava que isso fosse um "impeditivo" ?
5- Se a greve não teve maior impacto, isso deve-se às ameças que foram feitas aos professores, à estranha tolerância que alguns têm aos governos do PS, e à desunião da própria classe dos professores.
6- O país está numa situação complicada e sim, é preciso contenção. A ver vamos se paga só o do costume e até que ponto vão as medidas de aumento das receitas.
Professores...e alunos
Atento a um noticiário da TSF, ouvi um dirigente sindical classificar os professores como «os actores principais do sistema educativo». Infelizmente, tem razão. Não é preciso ser especialista na matéria para concluir que a influência dos sindicatos de professores tem sido a principal força bloqueadora de reformas de fundo no sector.
Governos atrás de governos, cederam sempre a quem tinha acesso mais fácil aos media, a quem parecia ter mais presença no espaço público - com prejuízo evidente para aqueles que deviam ser a razão de ser do sistema, ou seja, os alunos.
Dizem os sindicalistas que o objectivo desta greve não é inviabilizar os exames. Está bem, deve ter sido por isso que a agendaram para estes dias... Aliás, foi curioso observar como o propósito da greve foi desligado dos exames quando não conseguiram evitá-los, mas bastou deixarem sem provas algumas dezenas de alunos para logo invocarem o episódio como comprovativo do suposto «êxito» da paralisação...
Senhores dirigentes sindicais dos professores: tenham paciência, mas também vos é devida uma parte no peditório do défice...
segunda-feira, junho 20, 2005
224 mil pessoas irrelevantes
Correia de Campos, ministro da Saúde, considera irrelevante que existam 224 mil doentes em lista de espera para uma cirurgia e o que é importante é saber se é possível diminuir o tempo que os doentes aguardam por uma intervenção cirúrgica. Entretanto, Carlos Arroz, do Sindicato Independente dos Médicos mostra-se espantado com estas afirmações: "Não há nenhum ministro da Saúde com bom senso que fique descansado com 220 mil doentes portugueses em lista de espera. Espero que o ministro tenha o bom senso de imprimir mudanças estruturais nos hospitais para que se possa dar conta dos doentes em tempo útil".
É extraordinário que o Ministro faça declarações destas...
Sem dúvida um dia muito turbulento na Saúde.
Depois da divulgação do Relatório Anual, Constantino Sakellarides apresentou a demissão do cargo. Mesmo que haja esta coincidência, Sakellarides fez questão de sublinhar que se trata apenas de uma questão de higiene- está há 5 anos no cargo.
De todo o modo, note-se que esta é a segunda demissão em pouco mais de uma semana no Ministério da Saúde, porque na semana passada, Meliço Silvestre abandonou a presidência da Comissão Nacional da Luta Contra a SIDA, afirmando que não havia as condições para "concluir os projectos definidos" no combate à doença, apontando a "indefinição da tutela" e a provocada "instabilidade política" na Comissão. Nem foi dada luz verde para avançar com o rastreio nacional nem, de acordo com Meliço Silvestre, houve disponibilidade da tutela para reunir.
Mudam-se os tempos...
E as vontades, mudarão?
O excesso de défice
Segundo o El País na quarta feira a UE avança com um processo contra Portugal pelo défice excessivo:
Lisboa envió a la Comisión un apretado programa de corrección del déficit para los próximos cuatro años, que incluye recortes de gastos a través, esencialmente, de la reestructuración de la Administración pública y del sistema de seguridad social, y un aumento de ingresos con la subida del IVA y de los impuestos sobre el tabaco y los combustibles. Duras medidas que complicarán el crecimiento de la economía, estancada desde 2002.
Listas de eeeespeeeeraaaaa
São 224 mil à espera de uma cirurgia, a maioria há mais de um ano. As mentiras de Luís Filipe Pereira.
Constantino Sakellarides, que apresenta este relatório anual do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, acha que a medida proposta pelo actual Governo, da exigência de prova fiscal para insenções no sistema de sáude, pode tornar-se "perigosa e injusta". Para além de ser ineficaz e honorosa. O relatório também critica a falta de clareza do Governo quanto à construção dos dez hospitais em parceria público-privado.
Para além da absoluta necessidade da separação do sector público e privado na saúde, para quando a requalificação dos Centros de Saúde e reforço do papel do Médico de Família (um mero exemplo, mas o Centro de Saúde de Santarém, capital do distrito, tem buracos no chão, um calor insuportável no verão, falta de condições generalizada, etc.); uma verdadeira Entidade Reguladora da Saúde; a criação da carreira de profissionais de saúde do Serviço Nacional em exclusividade; a promoção de Associações de Utentes, etc. ?
Desesperante
Porque é que a TSF não pode dar música de jeito? Para ouvir as notícias lá tenho que gramar com intervalos de 20 ou 25 minutos de "Discos Pedidos". Bolas.
domingo, junho 19, 2005
Chama-se Mãos Limpas
e é a gordura de Berlusconi, retirada durante uma lipoaspiração, convertida numa barra de sabão que em leilão valeu 15 mil euros.
Cem dias de Governo...
25 grandes momentos...
1.Durante a campanha: um optimismo resplandecente. Depois de Abril, as medidas que “não estavam no programa”.
2. Governo quase sem mulheres
3.Défice: Supostamente Sócrates não sabia do estado do país. Quando o soube dramatizou-o o mais que pode até aparecer com a continha do défice.
4.Sócrates anuncia aumento de impostos, contrariando o que foi prometido durante a campanha eleitoral;
5.Dias antes da tomada de posse, Campos e Cunha afirmava que os impostos iriam subir e foi desmentido.
6.Governo quer moralizar as reformas dos políticos e são revelados casos de 2 ministros a acumular ordenado com reforma
7.Nomeação de Fernando Gomes para a Galp, um especialista.
8.Governo quer moralizar as nomeações políticas mas já fez mais de mil (quase 13 por dia). Sócrates diz que “é natural”.
9.Decisão de realizar uma revisão da Constituição com a única finalidade de fazer um referendo a um Tratado Moribundo
10.Freitas diz que o referendo ao Tratado não é para fazer, contrariando a posição oficial do Governo. Se era para ser “jogada política” saiu muito mal.
11.Onde está um cheirinho que seja do milagroso Choque Tecnológico?
12.A própria crítica de Augusto Santos Silva nas jornadas parlamentares do PS: “não correu bem a gestão do aumento do IVA”
13. Na campanha assegura que fará o Referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez. Ainda se aguarda.
14. Sócrates faz discurso das não excepções. Para a idade da reforma abre logo a excepção da PSP e da GNR, para o fim das subvenções vitalícias para os cargos políticos também.
15.Total ineficácia em relação à Seca.
16.Até agora as medidas em relação aos fogos não auguram nada de bom. António Costa já passa as culpas para o Governo anterior. Um clássico. Primeiros fogos com apenas uma aeronave.
17.Sócrates dividiu as mulheres socialistas, que tiveram este mês a votação mais renhida e disputada de que me lembro. Tão mau, tão mau, que estiveram 4 dias a contar votos.
18.Sócrates anuncia que quer acabar com as subvenções dos deputados com 12 anos de serviço; deputados do PS ameaçam renunciar o cargo.
19.Sector energético e sector têxtil, medidas, nem vê-las.
20.Arrastão de Carcavelos: resposta estrutural do governo = zero
21. Prometidos 150 mil empregos. As previsões apontam para o aumento de mais uns milhares de desempregados.
22.Política Externa: Europa e pouca.
23.Hospital de Faro: Campos e Cunha diz que é para suspender. Sócrates desmente.
24.António Costa propõe magistrados para acções especiais da polícia
25. Já conta com umas Manifestações jeitosas: Função Pública, Professores e para dia 22 a PSP. Provavelmente também dos magistrados judiciais.
MAS NADA DE DESANIMAR: Sócrates diz que é decidido e corajoso:
PS e a liberdade de imprensa
Ascenso Simões não gostou da entrevista que tinha dado JN, toca de mandar retirar os jornais das bancas e mandou re-imprimir a seu gosto.
sábado, junho 18, 2005
Ser Hitler ou não ser Hitler
Ontem um Senador Norte Americano comparou Guantanámo a Hitler.
Hoje um Padre Espanhol compara o casamento de homossexuais com Hitler
Uma modinha muito em voga
Freitas do Amaral compara Bush a Hitler
Chavez compara Aznar a Hitler
Chavez comparado a Hitler
Republicanos comparam Democratas com Hitler
Bush comparado com Hitler ou
Hitler comparado com Bush
Coreia do Norte compara Bush a Hitler
Kim Jong-II comparado a Hitler
Rumsfeld compara Zarqawi a Hitler
Sharon comparado a Hitler
Mugabe compara-se a Hitler
Buttiglione comparado com Hitler
Arafat comparado a Hitler
Saddam comparado a Hitler
Bin Laden comparado a Hitler
Milosevic comparado com Hitler
Ratzinger o "Papa de Hitler"
Clinton comparado a Hitler
Collor de Mello comparado a Hitler
Fidel comparado a Hitler
Kasparov compara Putin a Hitler
Giuliani comparado com Hitler
Eminem é comparado com Hitler
Sean Penn compara Bill O'Reilly a a Hitler
Ted Turner compara a Fox News ao Hitler
Um Romance com Faulkner II
"À nossa frente a água corre espessa e escura. Fala-nos num murmúrio incessante e múltiplo, com a superfície amarela agitada por fugidios redemoinhos que revoluteiam um instante à superfície, silenciosos, efémeros e profundamente significantes, como se logo abaixo da superfície algo vivo e descomunal despertasse de um sono ligeiro para de novo nele reentrar após um momento de ociosa vigília". (p.113)
"por termos de nos usar uns aos outros por meio de palavras que eram como aranhas a balouçar penduradas das vigias pela boca, a oscilar e a girar sem nunca se tocarem, e que só através das vergastadas o meu sangue e o deles podia correr como um só rio". (p.139)
(Na Minha Morte, Ed. D. Quixote)
Hora e meia a ver a Banda Passar
Fui apanhado no trânsito pela manifestação da função pública. Exactamente numa transversal da rua de S Bento, por deficiente indicação da policia sobre o modo de se chegar à rua da Escola Politécnica vindo da D JoãoV. Embora tivesse ficado retido durante cerca de hora e meia não perdi de todo o meu tempo, pois pude assim apreciar o desfile da manifestação, o ânimo dos manifestantes, o número deles-certamente superior a trinta mil-e também a reacção tolerante dos transeuntes.
Como disse neste blogue a instabilidade social veio para ficar. E não é boa conselheira.
Como disse neste blogue a instabilidade social veio para ficar. E não é boa conselheira.
É preciso ser um país muito louco
para depois dos acontecimentos de Carcavelos autorizar uma Manifestação da Frente Nacional, cuja constitucionalidade é duvidosa, para o dia em que há muito estava convocada uma Manifestação Anti-Racista.
É quase inacreditável que estejam a permitir e a criar uma situação destas. Crime organizado? Há de vários tipos.
"Os factos são prisioneiros na baía de Guantanamo"
Salman Rushdie no DN de hoje sobre Guntánamo:
E, no entanto, a evidência crescente de um comportamento feio por parte do pessoal militar americano é extremamente perturbadora, não pela ofensa aos detidos, mas pela ofensa a nós próprios, à nossa identidade como pessoas livres e morais que vivem "sob a alçada da lei", ao nosso sentido daquilo que defendemos e de quem somos. Essa identidade é, ou deveria ser, algo que conservadores e liberais deveriam estar ambos determinados a defender.:
E, no entanto, a evidência crescente de um comportamento feio por parte do pessoal militar americano é extremamente perturbadora, não pela ofensa aos detidos, mas pela ofensa a nós próprios, à nossa identidade como pessoas livres e morais que vivem "sob a alçada da lei", ao nosso sentido daquilo que defendemos e de quem somos. Essa identidade é, ou deveria ser, algo que conservadores e liberais deveriam estar ambos determinados a defender.:
Elegância
Entrevista de Manuel Maria Carrilho ao Expresso de hoje:
Acusa os jornalistas de «traumas» e «fragilidade mental».
Quando o jornalista insiste, responde: "o que está a dizer é que os jornalistas são débeis mentais e não se interessam pelo essencial. Pobre país que tem uma classe jornalística assim"
Carmona Rodrigues é «sonso» e «indigente». Vai fazer do Parque Mayer um jardim, e já fez diligências:
"EXP. - Sá Fernandes diz que há suspeitas de financiamento partidário.
M.M.C. - Então deve chamar a atenção das autoridades. Eu reservo-me para essa altura e proponho-me construir um jardim no Parque e acabar com o embuste do arquitecto Ghery, porque nem há um contrato.
EXP. - E se for assinado um contrato antes das eleições?
M.M.C. - Seria ilegítimo fazê-lo, de resto já o comuniquei ao arquitecto Ghery, naturalmente."
Nada de admirar, porque como diz, tem "38.760 caracteres de propostas e ideias"; "Eu vou ganhar folgadamente esta eleição"; " Eu sou a nova política."
Ah...
Para a Câmara de Oeiras não. Mas como Nogueira Pinto cadidata-se à Câmara de Lisboa, fica Maria de Belém como provedora da Santa Casa da Misericórdia.
sexta-feira, junho 17, 2005
A BBC e a Cimeira Europeia
A secção portuguesa da BBC telefona-me de Londres a pedir a minha opinião. sobre o Conselho Europeu que ainda decorre. O profissionalismo de quem me entrevista é sólido. A jornalista não está interessada em demonstrar que sabe tanto, ou mais, de que quem entrevista como acontece em tantas estações amadoras. Lembro-me da lição de um velho mestre em Teoria de Informação da Universidade de Genebra: a credibilidade da BBC foi criada pelos seus jornalistas durante a Guerra Mundial. Entre 1939 e 1941 começavam os noticiários com a frase: TODAY, BAD NEWS. Até que a partir de um certo momento anunciaram; TODAY GOOD NEWS.E todos acreditaram.
Que dirá hoje da cimeira a BBC?
ART&rial III
A perspectiva é uma das grandes novidades no séc. XV. Oferece outra riqueza tanto quanto realismo. Contudo, o que mais me agrada é sentir que o observador está lá, dentro do quadro e fazendo-o depender do seu olhar. O ângulo já não é apenas divino, a Terra (palavra sempre antropocêntrica) gira em torno do Sol e o homem é sujeito tanto quanto objecto.
Tenho pena que a Virgem de Botticelli não esteja ao lado da Virgem de Corregio. Coloco-as aqui, próximas, satisfazendo o meu capricho e fiel a esse humanismo da visão.
Em Botticelli descobre-se o culminar do misticismo religioso florentino, uma ternura cuja serenidade me desfaz, a mestria da linha que denuncia a estrutura do rosto e lança o volume dos corpos. Mas nem a Virgem toca no Menino nem o Menino toca na Virgem. Em ambos um pano violeta, urdidura real, que os distingue e anuncia.
Corregio traz o sfumato ao centro da obra. Dispensa a precisão do desenho de Botticelli, brinca com a luz e a sombra, faz do triângulo o princípio. Mais etéreo, dá à Virgem azul um dos verdes mais resplandecentes que conheci, escusando as letras da esperança. Allegri era o seu verdadeiro nome.
Quando nos tornamos velhos clientes podemos descobrir a novidade. A surpresa é filha dessa monotonia. Há umas semanas chegou um novo e belíssimo quadro, de Fra Bartolommeo, onde figura Savonarola. Encontro na sua expressão a Fogueira das Vaidades que criou e onde ele próprio ardeu.
Sim, da Alta Renascença, Ticcano é o que mais me enfeitiça. Veneza é um palco e os seus quadros dramáticos, como este onde Danae recebe a chuva de ouro de Zeus. Reparo nas cegonhas ao fundo, repousando sobre o lago, e fico um pouco mais. Ticciano teria gostado da contemplação, que nos prendesse a ênfase que abandona o desenho e encontra a cor, o erotismo, a poesis. Compreendo que Florença desdenhasse desta mitologia veneziana...
Uma encomenda de Filipe II de Espanha, fruto da amizade de seu pai, Carlos I, com Ticciano e revelando a elevação do estatuto do pintor, que passava a frequentar a corte, destino que só mais tarde bafejaria os músicos.
(nota: esta não a versão que está no AIC, não disponível on line)
Descartes estava quase a nascer e com ele nova incisão: res cogitan e res extensa, a razão soberana e o corpo máquina.
Mas imaginemos que ainda falta muito tempo, que nada nos obriga a descer as escadas para as galerias do Barroco, e que Danae, de 1554, encontra Shakespeare, escrevendo nessa mesma altura:
Time, force, and death
Do to this body what
Extremes you can,
But the strong base and
Building of my love
Is as the very centre of the
Earth,
Drawing all things to it.
(Troilus and Cressida, act. 4)
Pausa para reflexão
Finalmente José Sócrates rendeu-se à realidade dos factos, sob a forma eufemística da pausa para reflexão sobre o Tratado. Assim não haverá referendo em Portugal em Outubro juntamente com as autárquicas, conforme os altos estrategos haviam concebido. Também se verificou que a revisão constitucional imaginada pelos cultores do efémero político ficou ultrapassada. Nada que este blogue não tivesse atempadamente previsto.
A pausa para reflexão não se destina apenas ao modo de funcionamento da UE, antes deve começar pela nossa própria maneira acrítica de participar no processo de decisão europeu desde que começámos a ser bons alunos de mestres discutíveis.
A pausa para reflexão não se destina apenas ao modo de funcionamento da UE, antes deve começar pela nossa própria maneira acrítica de participar no processo de decisão europeu desde que começámos a ser bons alunos de mestres discutíveis.
quinta-feira, junho 16, 2005
O que morre na praia?
Acabei de ouvir a intervenção do CDS (TSF) na Assembleia da República sobre o arrastão de Carcavelos. O grande argumento é que o CDS está do lado das pessoas que foram atacadas. E então? Alguém está contra as vítimas de sexta feira passada? É evidente que não, e a intervenção do deputado Nuno Melo foi demagógica e populista. É justamente porque se pretende evitar que coisas destas voltem a acontecer, que é preciso pensar nelas com seriedade. Tenham sido 500 ou 100, foi de grande monta, muito mais do que parece na comunicação social portuguesa, e penso que até houve mais abafamento do que alarmismo. E não, não se trata de um punhado de teorias sociológicas edição de bolso, mas sim de intervir a montante e a jusante deste problema.
Pensar que se resolverá com mais policiamento é o lado simétrico da violência. Hoje controla-se a praia de Carcavelos, amanhã a de Quarteira. E depois? Se ocorrer em outra praia, num centro comercial, numa estação de metro, numa escola? As medidas repressivas são por vezes inevitáveis, mas forçosamente temporárias e de efeitos a curto-prazo.
Carcavelos apenas mostrou aquilo que já sabemos há muito, evidenciou a quantidade de pessoas, entre os quais portugueses descendentes de imigrantes africanos e imigrantes africanos, privados de direitos essenciais, a viver em condições degradadas e pouco integrados. E pelo menos isto deveria fazer-nos entender que a exclusão está longe de se resumir à questão do emprego/pobreza. Não são estes os únicos motivos pelos quais um grupo se sente excluído e age em conformidade. Há pobreza integrada e a exclusão é também simbólica, da ordem dos valores, da identidade, do sentimento de pertença, tanto quanto relativa ao acesso aos bens e serviços (saúde, educação, justiça, participação cívica) e territorial.
Por exemplo, se muitos jovens de descendência africana são portugueses porque nasceram em Portugal e foram educados pelas nossas escolas, pelos nossos media, nas nossas ruas, a Lei da Nacionalidade faz com que muitos destes cresçam e permaneçam estrangeiros, com todas as consequências simbólicas e práticas dessa situação: não são tratados como nacionais e não se comportam como tal. Não têm os mesmos direitos sociais, mas são exigidos iguais deveres. Além do mais, as políticas urbanísticas continuam a insistir nos mesmos erros: desertificação das cidades, progressiva centrifugação, criação de guetos e realojamentos que os reproduzem. O combate à exclusão territorial teria que passar, evidentemente, por um planeamento que fomentasse a integração e a “vizinhança” plural. Projectos de inserção social são escassos e pouco ou nada coordenados.
Carcavelos apenas mostrou aquilo que já sabemos há muito, evidenciou a quantidade de pessoas, entre os quais portugueses descendentes de imigrantes africanos e imigrantes africanos, privados de direitos essenciais, a viver em condições degradadas e pouco integrados. E pelo menos isto deveria fazer-nos entender que a exclusão está longe de se resumir à questão do emprego/pobreza. Não são estes os únicos motivos pelos quais um grupo se sente excluído e age em conformidade. Há pobreza integrada e a exclusão é também simbólica, da ordem dos valores, da identidade, do sentimento de pertença, tanto quanto relativa ao acesso aos bens e serviços (saúde, educação, justiça, participação cívica) e territorial.
Por exemplo, se muitos jovens de descendência africana são portugueses porque nasceram em Portugal e foram educados pelas nossas escolas, pelos nossos media, nas nossas ruas, a Lei da Nacionalidade faz com que muitos destes cresçam e permaneçam estrangeiros, com todas as consequências simbólicas e práticas dessa situação: não são tratados como nacionais e não se comportam como tal. Não têm os mesmos direitos sociais, mas são exigidos iguais deveres. Além do mais, as políticas urbanísticas continuam a insistir nos mesmos erros: desertificação das cidades, progressiva centrifugação, criação de guetos e realojamentos que os reproduzem. O combate à exclusão territorial teria que passar, evidentemente, por um planeamento que fomentasse a integração e a “vizinhança” plural. Projectos de inserção social são escassos e pouco ou nada coordenados.
É interessante verificar (ver link abaixo) que as percepções dos portugueses são mais negativas em relação a imigrantes africanos, diáspora com longa história em Portugal, do que em relação à imigração eslava ou brasileira.
O mais extraordinário é que a maioria dos portugueses, como mostram sondagens recentes como da Universidade Católica (Lages & Policarpo)PDF, são favoráveis aos plenos direitos mesmo de imigrantes ilegais e defendem a sua naturalização. A sondagem também mostra que quanto mais formalmente educados os cidadãos portugueses, menos racistas são. O poder político não conta com a oposição nem da opinião pública nem dos mass media (como demonstram outros trabalhos- ex: Isabel Ferrin- a sua difusão tem mudado e passado a ser bastante menos xenófoba). Por isso não se compreende a inércia e o constante adiar de medidas estruturais. Da mesma forma que não se entende como as televisões chegaram a Carcavelos no rescaldo dos acontecimentos, ou se ouviu o Secretário de Estado do Turismo preocupado com o impacto na actividade do sector e não se escutou o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, e outros importantes responsáveis nestas áreas. Estavam na praia?
O que pensam as pessoas da Frente Nacional quando vêem emigrantes portugueses em Inglaterra a serem atacados violentamente, porque uma inglesa foi supostamente assassinada, por um português?
Como diz Robert Castel, a exclusão de hoje, diferentemente da dos anos 70, e como já aqui uma vez assinalei, consiste em indivíduos supranumerários, sem qualquer utilidade social, translúcidos. Os acontecimentos de Carcavelos têm a única vantagem de os terem tornado visíveis, rompendo com o “longe da vista, longe do coração”. Que Verão diferente seria se soubéssemos aproveitar a oportunidade e tirássemos a cabeça da areia. Como ficaria mais fresco.
O mais extraordinário é que a maioria dos portugueses, como mostram sondagens recentes como da Universidade Católica (Lages & Policarpo)PDF, são favoráveis aos plenos direitos mesmo de imigrantes ilegais e defendem a sua naturalização. A sondagem também mostra que quanto mais formalmente educados os cidadãos portugueses, menos racistas são. O poder político não conta com a oposição nem da opinião pública nem dos mass media (como demonstram outros trabalhos- ex: Isabel Ferrin- a sua difusão tem mudado e passado a ser bastante menos xenófoba). Por isso não se compreende a inércia e o constante adiar de medidas estruturais. Da mesma forma que não se entende como as televisões chegaram a Carcavelos no rescaldo dos acontecimentos, ou se ouviu o Secretário de Estado do Turismo preocupado com o impacto na actividade do sector e não se escutou o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, e outros importantes responsáveis nestas áreas. Estavam na praia?
O que pensam as pessoas da Frente Nacional quando vêem emigrantes portugueses em Inglaterra a serem atacados violentamente, porque uma inglesa foi supostamente assassinada, por um português?
Como diz Robert Castel, a exclusão de hoje, diferentemente da dos anos 70, e como já aqui uma vez assinalei, consiste em indivíduos supranumerários, sem qualquer utilidade social, translúcidos. Os acontecimentos de Carcavelos têm a única vantagem de os terem tornado visíveis, rompendo com o “longe da vista, longe do coração”. Que Verão diferente seria se soubéssemos aproveitar a oportunidade e tirássemos a cabeça da areia. Como ficaria mais fresco.
Barroso e a Cimeira
O Presidente da Comissão Europeia tem por estes dias a sua prova de fogo enquanto líder internacional. Nestas situações confusas o melhor é simplificar.
Assim deve começar por constatar o óbvio: o TRATADO CONSTITUCIONAL, nesta versão, já não entrará em vigor. Deve pois ser muito claro nesta matéria por muito que isso custe ao eixo continental. As ratificações devem parar e um novo diploma, mais simples e mais participado na sua génese, deve ser elaborado, incorporando as lições do funcionamento dos órgãos comunitários depois do último alargamento.
Durão Barroso terá de chamar a si o dossier das PERSPECTIVAS FINANCEIRAS, procedendo a discretas negociações, como aliás tanto gosta, entre as partes em confronto até poder apresentar uma solução consensualizada numa próxima cimeira.
Finalmente deve fazer ouvir a voz da Comissão em termos internacionais, para combater a impressão de desagregação que alguns querem fazer passar. Por exemplo podia dar novos meios de socorro ao ALTO COMISSARIADO DA ONU PARA OS REFUGIADOS nesta emergência.
Assim deve começar por constatar o óbvio: o TRATADO CONSTITUCIONAL, nesta versão, já não entrará em vigor. Deve pois ser muito claro nesta matéria por muito que isso custe ao eixo continental. As ratificações devem parar e um novo diploma, mais simples e mais participado na sua génese, deve ser elaborado, incorporando as lições do funcionamento dos órgãos comunitários depois do último alargamento.
Durão Barroso terá de chamar a si o dossier das PERSPECTIVAS FINANCEIRAS, procedendo a discretas negociações, como aliás tanto gosta, entre as partes em confronto até poder apresentar uma solução consensualizada numa próxima cimeira.
Finalmente deve fazer ouvir a voz da Comissão em termos internacionais, para combater a impressão de desagregação que alguns querem fazer passar. Por exemplo podia dar novos meios de socorro ao ALTO COMISSARIADO DA ONU PARA OS REFUGIADOS nesta emergência.