quarta-feira, junho 29, 2005

Escola católica de Portugal?

Exactamente pelos mesmos princípios, concordo com o parecer ontem divulgado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, que obriga aos médicos a respeitar a recusa das Testemunhas de Jeová em receber sangue, mas no caso de menores atribui aos médicos a decisão e não aos pais, e discordo em absoluto das pretensões do Conferência Episcopal divulgas hoje no DN, em determinar uma “Educação Sexual controlada”, dando o direito aos pais a intervirem na definição dos programas e selecção dos professores que leccionem a disciplina. É evidente que a família tem um papel determinante na educação sexual das crianças. Mas isso em nada deve ou pode fazer com a escola prescinda do seu. Além do mais nem se compreende bem a sugestão da Conferência Episcopal. Dar aos pais o direito de intervir em programas e escolha de professores? Isto é sequer exequível? Como? Que percentagem do programa é ditado pelos pais? Todo? Que pais? Que organizações de pais? E com que critérios se escolhe um professor? Pela sua religião? Idade? Pelo tamanho do nariz? Enfim, mesmo que tal ideia (que afinal, não é suficientemente explícita) fosse praticável, imaginemos como era se um pai ou um grupo de pais quisesse uma Educação Sexual do tipo ensinar às crianças o sado-masoquismo, o exibicionismo, o fetichismo ou o voyeurismo? Como era? Quem regulava tais intenções e determinava o que é ou não ensinável? As escolas, presumo. O Governo, presumo. E portanto, não faz qualquer sentido. Ou queria a Conferência Episcopal a ser ela a determinar o que se ensina ou não nas escolas portuguesas? Ou supõe que todos os pais são contra a masturbação ou a homossexualidade? A Conferência Episcopal não tem que interferir nestas matérias e, tendo pretensão de o fazer, é bom que pelo menos o faça com ideias e projectos com pés e cabeça, mesmo que nem todos partilhem da mesma opinião. Quanto a outras opiniões da Conferência Episcopal como dizer que é a Educação Sexual vigente "deturpa o sentido da sexualidade, isolando-a da dimensão do amor e dos valores, e abre caminho à vivência da liberdade sem responsabilidade, pela ausência de critérios éticos, e à aceitação, por igual, de múltiplas manifestações da sexualidade, desde o auto-erotismo, à homossexualidade” ou que “excita a imaginação das crianças”, nem vale a pena comentar. Tenho vergonha.