quarta-feira, agosto 31, 2005

À atenção do centro moderado

Sou um leitor proveitoso dos textos do Paulo Gorjão no BLOGUÍTICA e do João Gonçalves no PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Ambos parecem-me expoentes de uma corrente de opinião que denomino, sem pretensões de rigor científico,de centro moderado.

Ambos são pessoas que estimo e que prezo.Por isso as suas críticas ásperas à candidatura de Mário Soares fazem.me alguma impressão.

Até porque não será Mário Soares a perder o centro.Mas o centro opinativo pode perder-se de Mário Soares.!


Modelo Nórdico

Daniel Kaufmann, director dos programas mundiais do Banco Mundial, afirma, na revista Finance&Development (notícia no Público), que o desenvolvimento português é travado pela corrupção e que Portugal podia estar ao nível de desenvolvimento da Finlândia, se melhorasse a sua posição no ranking de controlo da corrupção.
Portugal aparece em vigésimo sétimo lugar num estudo publicado pela Transparency Internacional, uma organização não governamental contra a corrupção.
Entre 146 países, Portugal tem uma pontuação de 6,3 numa escala de 0 a 10, em que 0 significa percepção de que existe corrupção total, e 10 significa ausência de percepção de corrupção:
Finlândia 9,7
Nova Zelândia 9,6
Dinamarca 9,5
Islândia 9,5
Singapura 9,3
Suécia 9,2
Suíça 9,1
Noruega 8,9
Austrália 8,8
Holanda 8,7
Reino Unido 8,6
Canadá 8,5
Áustria 8,4
Luxemburgo 8,4
Alemanha 8,2
Hong Kong 8,0
Bélgica 7,5
Irlanda 7,5
EUA 7,5
Chile 7,4
Barbados 7,3
França 7,1
Espanha 7,1
Japão 6,9
Malta 6,8
Israel 6,4
Portugal 6,3

Medidas básicas no combate à corrupção aqui.

Presidenciais à esquerda

Segundo o DN de hoje, a leitura comparada dos resultados eleitorais das legislativas e das presidenciais de 1979 até 2005 permite concluir que os portugueses votam consistentemente mais nos candidatos presidenciais de esquerda do que nos partidos da mesma área política.

Mais longe da Paz

Amira Hass, reconhecida e premiada jornalista, a única repórter israelita em território palestiniano, deu ao Público de hoje uma entrevista. Começa por afirmar que prefere utilizar a palavra evacuação do que retirada, porque retirada só se fosse de todos os territórios ocupados. Além disso, esclarece, o controlo do exército sobre Gaza continua e, “o que é mais importante, as ligações à Cisjordânia”. Para Hass, a separação de Gaza da Cisjordânia é uma forma de dominar os palestinianos e forçá-los a uma espécie de rendição. A evacuação de Gaza tem, então, um duplo objectivo: remete os palestinianos a um isolamento impiedoso e faz prosseguir a política da expansão dos megacolonatos na Cisjordânia.
E conclui que há dois povos a viverem no seu país. Sem igualdade será um inferno para ambos. Utilizando as suas próprias palavras (prefácio do livro Beber o Mar em Gaza), estamos agora “mais longe da paz”.

Não era o que se dizia de Marrocos?

O jornal EL PAÍS é um jornal de referência mundial.O que publica é lido por muita gente em muitos lugares.Não é apenas um jornal doméstico como os nossos.Pois esse jornal publicou no domingo passado uma matéria sobre Portugal,a propósito da última vaga de incêndios, em que recorda a saída sucessiva de Guterres,Barroso e Santana, para concluír haver a sensação de que Portugal se está a tornar ingovernável.Mas não era isso que se dizia de Marrocos no fim do século XIX ?

terça-feira, agosto 30, 2005

Pseudo-Constituição

Destaques da imprensa de hoje, sobre a pseudo-constituição iraquiana. O Iraque é o braço da administração Bush pior controlado:

“Between the idea and the reality falls the shadow of occupation. Whatever the parliamentarians in Iraq do to try to prevent total meltdown, their efforts are compromised by the fact that their power grows from the barrel of someone else's gun.” (George Monbiot, The Guardian)
“The greatest danger is that divisions will now deepen further, perhaps descending into full-scale civil war. The one ray of hope may be that the Sunnis will take part in sufficient numbers to reject it on the basis that they command majorities in three of the country's 18 provinces. The question then would be whether political bargaining could resume, or whether the gun and the bomb will still be running Iraq's grim show.” (Leader, The Guardian)
“the constitutional mess signals prolongation of the bloody insurgency that prevents the establishment of bearable living conditions in much of Iraq, could lead to civil war and could stall a hoped- for U.S. withdrawal. “ (Op-Ed, San Francisco Chronicle)
“If Sunnis feel shut out of the political process, there's little incentive for them to lay down their weapons. Shiites and Kurds should understand the need to placate Sunnis and try to persuade them not to vote the constitution down in October. Better to amend the constitution than see Iraq torn apart.” (Ed., LA Times)
Adenda (31/08):
"We do not know what outcome we will face in Iraq. We do know that four years after 9/11, our whole foreign policy seems destined to rise or fall on the outcome of a war only marginally related to the source of what befell us on that day. There was nothing inevitable about this. There is everything to be regretted about it."
(Francis Fukuyama, The New York Times)

A mensagem

de Cindy Sheehan a passar na CNN.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Manuel Alegre

ANTES



& DEPOIS















(Caricatura surripiada aqui)

sábado, agosto 27, 2005

À sua imagem e semelhança

Quando surgiu o nome de Bolton para a ONU alguns iluminados acharam que era perfeito. Uma espécie de anti-ONU para a ONU era mesmo o que era necessário. Agora os resultados vêm à superfície. Bolton quer uma ONU sem qualquer promessa de auxílio aos países mais pobres, rejeita qualquer determinação sobre a luta contra as alterações climáticas ou imposições no desmantelamento nuclear. O que quer, então? Luta contra o terrorismo. Way to go, Bush.

Só para gulosos

Como já se tornou numa tradição nestes últimos anos, parte dos dias de férias foram preenchidos com idas ao cinema para maiores de 6. Madagáscar, A Marcha dos Pinguins e A Fábrica de Chocolate ficaram a fazer parte do: “E lembras-te daquela cena do Verão passado?”.
O filme de Tim Burton, feérico e agridoce, conta a história de um chocolateiro excêntrico, prisioneiro da infância que jamais gozou e que, perante o medo da morte- que pode perseguir até um ente onírico como Willy Wonka- dá conta que não tem descendência.

O filme é uma receita onde a mistura de açúcar e raiva é exacta, o passado dickensiano e o presente globalizado têm as quantidades certas, o moral da história e o pure entertainment são uma mistura certeira. Tudo acompanhado por musicais imaginosos e cenários psicadélicos.
Dono da maior fábrica de chocolates de sempre, onde os trabalhadores foram despedidos por suspeita de roubo de receitas e misteriosamente substituídos por mão-de-obra barata (paga em chocolate), vinda de países distantes e exóticos, Wonka, num portentoso golpe publicitário, distribuí cinco bilhetes dourados entre os milhares de barras vendidas. Entre os felizes contemplados, que terão direito a uma visita à fábrica encantada e entre os quais será seleccionado um vencedor final (sabe-se mais tarde que para herdar a fábrica e apaziguar a solidão), encontra-se um rapaz humilde e de bom coração. Chama-se Charlie e vive com os pais e os quatro avós, numa casa húmida, de camas apinhadas e onde só se comem couves (o pesadelo de qualquer fedelho que se preze).
Os restantes premiados são uma sátira do “melhor que o mundo tem”, as crianças: uma rapariguinha caprichosa, rica e gananciosa, a Verruga Salgado; uma menina maníaca de pastilhas elásticas, vaidosa, competitiva e egocêntrica, a Violeta Bem-Parecida; um menino-leitão, atafulhado em doces, Augusto Lamacento; e, por fim, um pirralho com o cérebro formatado em ondas electromagnéticas, junkie do sofá, PlayStation e violência, Mike TeaVee. Vêm de países diferentes, como convém na aldeia global.
Dentro da fábrica, que apetece comer, o chocolateiro (representado por Johnny Depp, que numa mesma frase vai ambígua e magnificamente da perversidade à candura) faz o seu Crime & Castigo: cada criança vai perdendo o concurso pelo seu próprio pecado. Os respectivos pais que as acompanham e que, afinal, são os autores dos monstros, pagam também a sua factura. Augusto atola-se num rio de chocolate. Violeta, tentando mostrar que é a rainha da pastilha-elástica, mastiga uma ainda em teste, acabando mole, roxa e parecendo borracha. Verruga, de fato impecável e nariz empinado, acaba por cair e chafurdar na conduta do lixo. Mike, agressivo e tecnológico, acaba por ser diminuído num tele-transportador. Pecados capitais embrulhados em risota.
Wonka, de dentadura impecável e sorriso sombrio tem, ao contrário do conto original, um passado. E claro, quem poderia ser, num gozo delicioso à Psicanálise, pai de um chocolateiro? Um dentista, é claro. Entre os justos medos infantis estão o deitar-se na cadeira, abrir a boca, ver a broca à lupa e atordoar-se com o seu zumbido. Melhor ainda quando o dentista é o sinistro Christopher Lee. Mas, afinal, pai e filho encontram-se, ambos de luvas e fóbicos ao toque, superando as cáries de toda a filiação e a angústia da individuação.
Ricos e pobres, cinzento e cor, adulto-criança e criança adultiforme, são os contrastes do êxito do filme.
Recomendo que não leve pipocas. Prefira uma barra de chocolate.

sexta-feira, agosto 26, 2005

Incerteza e Confusão

As novas regras para a reforma na função pública anunciam tempos de incerteza e confusão para quem terá de tomar disposiçôes individuais racionais face a esta fúria niveladora por baixo que se destina a poupar no Estado Social. Desconfio que os próprios serviços estejam aptos a responder com rapidez e clareza às solicitações dos milhares de cidadãos desorientados que quererão aproveitar o período de transição facultado para respeitar o espírito do Estado de Direito. Por um lado pretende-se nivelar uniformemente, por outro lado abrem-se os guichets da diversidade do ano de acesso à reforma.Uma mina para os advogados que pelejarão ,em breve ,em defesa dos funcionários públicos mais recalcitrantes?

Brain Drain

António Coutinho, Carlos Duarte e António Damásio constam do ranking dos 250 investigadores mais influentes, de acordo com a Thomson ISI. Coutinho é director do Instituto Gulbenkian da Ciência e do Centro Nacional de Investigação Científica, em Paris. Damásio dirige o Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa. Duarte é investigador do Instituto Mediterrânico de Estudos Avançados da Universidade das Ilhas Baleares. Entretanto adquiriu nacionalidade espanhola.

Lista negra

Anteontem o Governo do Reino Unido publicou a lista de “comportamentos inaceitáveis” que darão direito à expulsão de estrangeiros residentes no país, justificada com a necessidade de uma maior eficácia na luta contra o terrorismo e expandindo substancialmente os parâmetros anteriores. Ken Livingstone, presidente da Câmara de Londres diz que o texto é muito rígido, limitando a liberdade de expressão e o direito à crítica. A lista inclui qualquer cidadão estrangeiro que “escreva, produza, publique ou distribua material, fale publicamente, incluindo pregar, gerir um website; use a sua posição de responsabilidade como professor, líder comunitário ou juvenil que:
exprima pontos de vista que fomentem, justifiquem ou glorifiquem violência terrorista na continuidade de crenças particulares; procure incitar outros a actos terroristas; fomente outras actividades criminalmente sérias ou procure incitar outros a actos criminosos; fomente ódio que possa levar a violência inter-comunitária no Reino Unido”. (texto completo aqui) Com a lista pronta, espera-se uma vaga de exportações. O processo de consulta para a lista em pouco alterou os critérios inicialmente propostos, o que faz com que os que participaram no processo, desde Organizações de Direitos Humanos até Associações de Imigrantes, e que expressaram grande discórdia, sintam agora que o mesmo foi uma farsa. Todas as suas legítimas críticas a este diploma, que faz temer pelos pilares básicos de um Estado Democrático, como o direito de expressão e de associação, regras contra a tortura, a detenção arbitrária e direito a um julgamento justo, mantêm-se.
Mas o problema com esta lista não é apenas nas questões dos princípios. É também no campo prático. Por exemplo: Deportar terroristas para países onde a tortura é praticada como forma de confissão, tendo em conta o carácter global do terrorismo, serve para quê? É muito caro investigar e prender terroristas no Reino Unido? É esse o argumento de peso? Fechar mesquitas em Londres levará a uma diminuição da expansão de certas crenças, ou antes pelo contrário?
Blair disse que “As regras do jogo vão mudar”. Jogo? Onde é que já ouvimos estas metáforas?

Rescaldo

Só 20% dos incêndios são por fogo posto. Mas foi catita ver grande parte da comunicação social passar, mais um ano, na caça às bruxas.

Borralho

Durão Barroso, enquanto presidente da Comissão Europeia (e já nem quero referir-me aos fogos de 2003), congratula a UE e a Comissão pela ajuda no combate aos fogos em Portugal, o que é, no mínimo, pouco correcto. Houve, felizmente, participação e auxílio de diversos estados membros, mas a título individual. Foram os Governos de países europeus que vieram em nosso socorro e não os meios da UE. Tal como já tinha acontecido com o tsunami. Evidente que a imprensa faz eco deste “equívoco”. Ou deveria dizer publicidade? Portanto, a UE fica, assim, com um arzinho ligeiramente parasitário.

Brasido

Porque não se fala quase nada das consequências ambientais dos incêndios, como a poluição, a redução da biodiversidade, a redução da protecção das nascentes ou a facilitação dos processos erosivos?
Ambiente, ambiente…diz-lhe alguma coisa, Sr. Primeiro Ministro e Sr. Ministro?

Obediência e pagamento

Maria José Morgado afirma hoje no PÚBLICO que «Mais dia menos dia haverá um mensalão à portuguesa».É possível que assim seja, mas diga-se desde já que o clima de obediência partidária em Portugal torna esses pagamentos menos gerais que noutras parte do globo representativo.

Contudo a retirada radical dos subsídios oficiais aos titulares de cargos políticos vem abrir caminho para novas formas de compensação aos futuros eleitos.Não viverá muito quem não venha a assistir a esse efeito perverso de medidas fáceis e superficialmente aplaudidas.Aumentará do mesmo passo a obediência sem prazo aos estados-maiores dos partidos por parte dos novos desprotegidos.

Mas não é assim que querem?


O Humanismo laico é um neo-paganismo?

O Papa Bento XVI condenou,como lhe competia , a barbárie nazi no recente encontro das juventudes católicas realizado na Alemanha, e atrbuíu à natureza neo-pagã do regime hitleriano a origem dos crimes cometidos contra a humanidade .Pareceu-me escasso como explicação.Até porque o humanismo laico de um Willy Brandt , que combateu sem sofismas esses crimes na própria altura , não devia andar longe de um neo-paganismo em que o Homem fosse a medida de todas as coisas .

De novo a negociação política no Iraque

A Joana Vicente Dias no seu post -Constituição ou Justiça- coloca com clareza os dados do problema político subjacente ao impasse constituinte oficializado por estes dias em Bagdade.Havia quem contasse com esse impasse para introduzir de novo a negociação política no centro da resolução do problema iraquiano.Os efeitos far-se-ão sentir para além da retirada das tropas anglo-americanas.E para além dos actuais protagonistas no terreno do poder.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Poesia Popular

Ontem, numa comunicação a empresários e num apelo ao investimento, Sócrates citou parte de um poema de Sá-Carneiro, “Quase”, declamando:
“Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além”.
Acrescentou, depois, que era isso que às vezes faltava no tecido empresarial: apenas um pouco mais de sol e de azul. Só que Sócrates não citou o que se segue:
“Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém... “


Isto não seria lá muito motivante, pois não Sr. Primeiro-ministro?
Enfim, já sabemos, desde os tempos da entrevista ao Expresso pejada de referências, que a veia de citador de Sócrates não é brilhante. Qual quase, qual quê.

A cereja envenenada

O documentário Dead Wrong: Inside an Intelligence Meltdown, exbido pela CNN, para além de toda a manietação da CIA e de outros actores pela administração Bush relativamente à existência de Armas de Destruição Massiva no Iraque (comentada neste post da Ana Gomes no Causa Nossa), coloca a questão da responsabilidade directa de George Tenet. Se ele sabia que havia discórdia quanto a esse importantíssimo aspecto dentro das agências de inteligência, o que era aniquilado pela propaganda da administração, não podia, simplesmente, ter alinhado com esse mesmo comportamento.
Limitar as suas funções a apresentar factos e não ter qualquer atitude quando os mesmos são distorcidos, é inadmissível. Se a guerra no Iraque podia ter sido evitada e não foi, parte da responsabilidade é de Tenet. Vê-lo, depois, a receber a Presidential Medal of Freedom é apenas a cereja no topo do bolo. Entre o nojento e o surrealista.
A CNN que, tal como a maioria dos órgãos de comunicação social mainstream, transmitiu todo o racional para a invasão do Iraque de forma acrítica, bem pode apresentar agora, à guisa de contrição, estes documentários.

quarta-feira, agosto 24, 2005

A pobreza do snobismo

"Snob: A person who sets too much value on social standing, wishing to be associated with the upper class and their mores, and treating those viewed as inferior with condescension and contempt."
- Chambers Dictionary

Há definições que assentam que nem uma luva e que categorizam certos indivíduos, tais como João Carlos Espada que proferem as seguintes palavras no suplemento Actual (Expresso, 20 de Agosto 2005). Ora vejamos:

"Hoje, visitamos um hotel de luxo ou viajamos de avião em primeira classe, verificamos que as elites competem entre si para ostentar um estilo andrajoso: não usam gravata, não vestem casaco, e apresentam-se descalços com umas xanatas arrepiantes. Além disso, falam alto, muitas vezes ao telemóvel, passam à frente das senhoras e nunca lhes cedem o lugar. Alguém disse, com propriedade, que são as elites pós-modernas."

Meu caro JotaCêÉ (perdoe-me a intimidade), há "clubes hereditários" dos quais nunca faremos parte, por muito que tenhamos queimado militâncias e ideologias errantes no passado e nos tenhamos reiventado com um PhD sob a batuta de Sir Karl Popper e novos associativismos em clubes selectos.

Já agora e por falar em "gentlemanship", o meu caro JCE deve-se ter esquecido de alguns dos ensinamentos de Sir Isaiah Berlin e Sir Karl Popper. Um "lapsus mortalis" para alguém que se diz liberal e adepto de uma sociedade livre e pluralista (pois é, às vezes nestas temos que "gramar" a diferença e as xanatas dos outros, por muito que nos desagrade).

Quem o ler até o confunde com um desses "românticos germânicos" que vê a sociedade como um espaço onde só há lugar para a figura do gentleman iluminado e esclarecido, que convenhamos, no fundo não anda muito longe do über man Nietzschiano.

Constituição ou Justiça?

O prazo para a votação da Constituição, pelos deputados iraquianos, voltou a ser dilatado. A Constituição deveria ter sido apresentada no passado dia 15 de Agosto. Caso contrário, o parlamento deveria ter sido dissolvido e novas eleições convocadas. O parlamento iraquiano evitou este “embaraço” alterando a constituição interina e adiando o texto para dia 22 de Agosto. Anteontem, contudo, e pouco antes da meia-noite, anunciou novo adiamento. Assim, sem o Supremo Tribunal (que já deveria ter sido criado) e com a aquiescência do parlamento, este processo constitucional vai reduzindo-se a um acordo entre Presidente e Primeiro-Ministro. E, sobretudo, a uma negociata entre curdos e xiitas, da qual, evidentemente, os sunitas se queixam.
Como sublinhava o Editorial do NY Times de ontem, há uns meses atrás Bush garantia que o secularismo dos curdos bloquearia a teocracia dos xiitas, enquanto esta limitaria o separatismo dos curdos. Na verdade os dois grupos aliaram-se e Washington, desesperado por uma qualquer constituição, foi cúmplice.
No anúncio deste novo adiamento, foram dadas garantias que não seriam feitas alterações ao princípio do federalismo, em relação ao qual xiitas e curdos estão de acordo, mas que conta com a oposição dos sunitas. O texto faz do Iraque uma federação, com fraca administração central e governado pela lei islâmica. Sobre isto, vale a pena destacar:
Artigo 2, 1º parágrafo: O Islão é a religião oficial do Estado e é uma fonte fundamental de legislação.
(Obviamente que sendo definido como fundamental, tornar-se-á imperioso)
a) Nenhuma lei que contrarie o essencial da lei islâmica poderá ser legislada.
(A versão anterior referia-se apenas ao Islão. Agora explicita lei islâmica)
Os 3 dias concedidos para a apresentação final do texto constitucional não contemplam a inclusão da igualdade entre homens e mulheres, ficando estas à mercê da Shariah. Podem ser subjugadas em nome de Deus, o que pode ir desde menores direitos no casamento, divórcio e heranças até a casamentos forçados, tortura, prisão e morte.
Os sunitas (maioritários em pelo menos 4 regiões) não apenas pretendem a unidade territorial e um governo central forte, como temem que o federalismo tenha como consequência a perda de poder, nomeadamente económico, já que se concentram nas províncias que não têm petróleo. Como a lei provisória estabelece que a Constituição pode ser rejeitada no referendo de 15 de Outubro, se 2/3 dos eleitores em 3 das 18 províncias votarem contra, a possibilidade de não ser aprovada existe. As províncias de Anbar e Salah al-Din provavelmente rejeitarão a Constituição. Noutras províncias como Ninevah, Diyala Baghdad e Babil o Não é menos provável, mas possível. De facto, insistindo no privilégio do veto, os curdos poderão ter dado aos sunitas o instrumento ideal para a rejeição.
Em que dará este federalismo, como distribuir os lucros do petróleo, como conciliar o Código Civil com as liberdades de exercício das convicções religiosas garantidas aos cidadãos (artigo 39), o que aconteceria caso fossem convocadas novas eleições, os riscos do aumento do descontentamento dos sunitas e da insurgência, a possibilidade da guerra civil, são questões que continuam perigosamente a pairar. Na verdade, os EUA querem acelerar a todo o custo este suposto processo democrático no Iraque. Bush, com a sua popularidade a baixar paulatinamente e com a oposição à guerra a fermentar de dia para dia, necessita desesperadamente desta constituição. Mas note-se que o seu comité apenas ficou formado em meados de Maio, deixando apenas 3 meses para a sua redacção.
O projecto constitucional é uma das vértebras para o processo democrático (minado desde o início), mas a pressa e as pressões dos xiitas poderão transformá-lo num texto sobre quem manda no país. Num pesadelo. É evidente que o Iraque precisa de uma constituição. Mas precisa mais de um acordo justo.

Autárquicas presidencialistas

Soares avançou com a possibilidade da sua candidatura, compelindo Cavaco a apressar-se na confirmação da sua. Ela aí está, antes das autárquicas, o que permite antecipar que Soares anuncie igualmente a sua, antes do final de Setembro. Assim, as autárquicas ficarão sempre em agenda paralela às presidenciais. Não era isso que o PS também queria?

Portugal no cabo

À procura de qualquer coisa que quase nunca encontro, acabo por parar no Canal Discovery. Trata-se de um daqueles programas de viagens, desta vez sobre Portugal. Percebo que o trajecto terá começado no Norte, mas eu apanhei o barco em Lisboa.
A apresentadora come pastéis de Belém, vai às noivas de Santo António- apresentadas por Júlia Pinheiro- para numa casa de faduncho e passa nas Marchas Populares. Segue-se uma brevíssima visita a Évora e à Capela dos Ossos, em direcção ao Algarve. A rapariga bem avisa que o melhor é procurar pequenas aldeias e evitar a época alta.
Enfim, salvos pelos Açores, destino final do roteiro.

terça-feira, agosto 23, 2005

O candidato mulher

do PCP é Jerónimo de Sousa.

Fatwa à americana

O Reverendo Pat Robertson, fundador da Christian Coalition of America, afirmou que era melhor que Hugo Chavez fosse assassinado:
You know, I don't know about this doctrine of assassination, but if he thinks we're trying to assassinate him, I think that we really ought to go ahead and do it. It's a whole lot cheaper than starting a war....We have the ability to take him out, and I think the time has come that we exercise that ability. We don't need another $200 billion war to get rid of one, you know, strong-arm dictator. It's a whole lot easier to have some of the covert operatives do the job and then get it over with.”
Robertson é um importante elemento da direita cristã americana, gozando de audiências regulares com Bush, um conhecido líder religioso e anfitrião de um popular programa.

O Regresso de Sócrates

É o título do Editorial do Público de hoje, por Manuel Carvalho:
"O primeiro-ministro chegou de férias e deve ter de imediato sentido um forte desejo de regressar à serenidade da savana. Não apenas porque à sua espera estava uma maré de incêndios que ameaça transformar o Verão num segundo capítulo da tragédia de 2003. Depois, porque encontrou o PS profundo envolvido no seu hobby favorito — a intriga. A seguir, porque pôde constatar que a economia portuguesa está condenada à estagnação em 2005, no melhor dos cenários, ou poderá até chegar ao final do ano em recessão. E tirou todas as dúvidas sobre o estado de espírito do país com a revelação do indicador de clima económico do INE, que coloca a confiança dos agentes ao nível dos primeiros meses de 2004. (…) Pode ser que, na placidez da savana, Sócrates tenha percebido que não se pode dar ao luxo de desbaratar capital político com nomeações duvidosas e programas que nada mais indicam do que vontade de mostrar trabalho. E que um pouco mais de comedimento e de pudor não lhe afectam a imagem de determinação e vontade que tanto gosta de propalar."

O safari

As férias africanas do primeiro ministro fizeram correr rios de tinta. Aqui vai, em poucas palavras, a minha opinião: tem o direito de as fazer onde quiser, desde que as pague do seu bolso. Este ano, dada a situação económica do País, ter-lhe-ia ficado melhor fazer férias cá dentro. Mas é apenas uma questão de bom senso, pessoal e político. E está tudo dito - o resto é política rasteira, à mistura com um dos «desportos» domésticos preferidos: a inveja...

domingo, agosto 21, 2005

Ser citado na blogosfera

A blogosfera está atravessada nestes dias por duas polémicas fortes: uma sobre o anonimato e a outra sobre o uso dos blogues como fonte de inspiração para as agendas dos jornais.

Sobre o anonimato, a única questão relevante é a do conteúdo das matérias colocadas na blogosfera pelos que não dão a conhecer o seu verdadeiro nome. Há muita liberdade de espírito, e de opinião, que se não revelaria de outro modo. E muitas vezes há situações pessoais que isso recomendam.Já os ataques pessoais, os insultos, que com tanta frequência inundam as caixas de comentários, fazem parte do lixo que todas as sociedades produzem, mas que umas sabem tratar melhor do que outras. Este ultimo caso tem sido um tema de discussão entre os autores do Bicho-Carpinteiro, ainda sem solução consensual.

Quanto ao uso da blogosfera como fonte de inspiração das redacções dos órgãos de comunicação social, o assunto merece mais a atenção deontológica dos jornalistas do que grandes gritos de indignação por parte dos bloguistas.Também não vale a pena tentar diminuir o impacto de muitos blogues no agendamento temático dos jornais, como me parece detectar aqui e ali em recentes artigos sobre o assunto.

Ultimamente muitos jornalistas começam as conversas comigo dizendo que já leram o que escrevi no bicho-carpinteiro , e que querem ir mais além.Confesso que tento remetê-los para a citação do blogue, mas percebo que a originalidade é um valor...

Há ,aliás, excelentes blogues feitos por jornalistas, como o GLÓRIA FÁCIL, A GRANDE LOJA DOS TREZENTOS.o TERRAS DO NUNCA, entre outros.

E é com este «entre outros » , com que os jornalistas remetem para o anonimato quem gostaria de ter nome, que termino esta carta aos bloguistas.


sábado, agosto 20, 2005

Viagens na minha terra

No editorial de hoje do Expresso lê-se que “qualquer português de classe média” pode fazer um safari ao Quénia. Independentemente da opinião que se possa ter sobre as férias de Sócrates, o Expresso apenas mostra quão afastado vive do mundo real. Um safari (dos mais baratinhos) ao Quénia custa cerca de 3 mil euros por pessoa. Uma família de quatro elementos pagaria, assim, cerca 10 mil euros (fora alimentação e tudo o mais, e já tendo em conta que as crianças pagam menos). Quanto portugueses de classe média podem gastar esta maquia nas férias?

Humor Negro

Um repórter da RTP1 chama ao Encontro Mundial da Juventude o Woodstock Católico.

A guerra à porta

No princípio do mês, Cindy Sheehan, mãe de um soldado morto no Iraque, decidiu protestar contra a guerra com a pergunta: “Por qual causa nobre morreu o meu filho?” Instalou-se à porta do Rancho de Bush, onde este se encontrava a gozar as suas contestadas férias, pedindo uma audiência (jamais concedida), e clamando por respostas às suas perguntas. O protesto foi num crescendo. Media, apoiantes, vigílias, outras mães com questões semelhantes juntaram-se a Cindy Sheehan.
Achincalhada por muitos, Cindy aguentou-se estoicamente, trazendo a realidade da guerra ao portão de Bush. Ontem, assim que soube que a sua própria mãe sofrera um ataque cardíaco, partiu.
Não se sabe se regressará, mas deixou um legado importante.
Em primeiro lugar, e com a guerra a decorrer, CS recolocou a questão fundamental. Para quê a Guerra no Iraque? Podem Bush & Cª continuarem a recusar-se a responder a este repto, como têm feito? Pode Bush ignorar o que tem à porta?
Cindy Sheehan é apenas um símbolo da oposição (crescente) à guerra no Iraque, mas os presidentes também são símbolos. E a mensagem que passou foi a de que, com o país em guerra, com o desespero no seu próprio relvado, continuará a passear-se calmamente de bicicleta.
Nem CS podia ficar acampada para sempre, nem Bush pode ficar de férias eternamente (se bem que…). Sobretudo, nem o povo iraquiano nem o povo americano podem continuar a serem ludibriados até 2017…ou mais…

Erros, Mentiras e Pressões.

Como todos sabem, Jean Charles de Menezes, um electricista brasileiro tomado por terrorista, foi morto pela polícia britânica. Na altura, a polícia declarou que ele se tinha recusado a obedecer a ordens da polícia para parar e que usava um casaco suspeito (por ser demasiado quente para a época).
Em Julho referi-me a estes acontecimentos aqui e aqui.
Agora a verdade vem ao de cima. E a verdade é que a polícia britânica não apenas cometeu um terrível engano como mentiu:
Menezes não foi devidamente identificado porque o polícia que o vigiava estava “na casa-de-banho” quando ele saiu da casa;
Menezes tinha um casaco de ganga, não fugiu da polícia e não sabia que estava a ser seguido;
Menezes não saltou a barreira dos bilhetes no metro;
Menezes estava já tinha sido agarrado pela polícia quando foi sete vezes baleado na cabeça.
A polícias não apenas errou e mentiu como tentou impedir a abertura de um inquérito independente, tendo entrado em contacto com o Ministério do Interior para recomendar que o assunto fosse resolvido internamente.
A família de Menezes pede agora a demissão do chefe da Scotland Yard. É pena que assim seja. Blair já o devia ter posto a andar. E depressa.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Mota Amaral também disponível?

Leio, no jornal CORREIO dos AÇORES de 14 deste mês, que se constituíu um movimento para a candidatura de Mota Amaral a Belém que já recolhe assinaturas para os devidos efeitos.

Como a notícia não foi desmentida muito me admira que os jornais e as televisões «do continente» não se tenham precipitado a recolher declarações do ex-presidente da Assembleia da República.Não acreditam na disponibilidade do companheiro de Cavaco Silva no PSD?Porquê?Há disponibilidades ...e disponibilidades?


A responsabilidade é um afecto?

Hoje comecei o dia a pensar na enorme responsabilidade de Manuel Alegre caso Mário Soares resolvesse não avançar para Belém.Onde iria encontrar apoios?As televisões não desapareceriam das suas declarações no dia seguinte?Então sim, seria o vazio.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Casamento e celibato.E a castidade?

Leio, com o maior interesse, uma entrevista do novo Vigário-Geral da Diocese de Angra, padre Hélder Fonseca, dada ao jornal micaelense EXPRESSO DAS NOVE.

Entre muita reflexão original, leio que o padre considera que «A disciplina eclesiástica do celibato (...) é difícil como estar casado sempre com a mesma pessoa.No entanto, ambas as situações são possíveis.Vejo tantos casados a aspirarem ao celibato, que não sei bem qual a cruz mais leve.»

E como não há referência à castidade...até se percebe o argumento dado!


quarta-feira, agosto 17, 2005

Opção Estratégica versus Vazio

Apoio a candidatura de Mário Soares à presidência da República há mais de 2 anos,antes da declaração de qualquer vazio à esquerda.É uma opção estratégica minha que muitos conheceram a devido tempo, ainda se falava da fatalidade da candidadura de Guterres.

Por isso, não tomo à letra a tese do vazio `a esquerda para juntar todos à volta do fundador do regime democrático em Portugal. Uma opção estratégica é o contrário da aceitação de um estado de necessidade.

Mário Soares,pela idade e pela acção desenvolvida antes do policiamento interno das reputações políticas, desembaraçou-se a tempo da selecção exógena dos valores à esquerda. onde só medram os percepcionados como conformistas pelos poderes instalados.Daí não haver no mercado quem tenha hipóteses de derrotar Cavaco Silva, a não ser ...Mário Soares.

Por isso, por estar imune à fabricação de timidos valores à esquerda, ou ao apoucamento de outros, Mário Soares conseguiu elaborar nos ultimos anos uma série de posições que o colocam como um fortíssimo candidato progressista.Na previsão de um vazio?


Leitura de Férias

WALTER BENJAMIN :

«O conformismo,o vício secreto da social-democracia,não afecta apenas a sua táctica política ,mas também as suas perspectivas económicas».

Que dirá a isso, hoje,Oskar Lafontaine e o eleitorado alemão?Esperemos por Setembro.


terça-feira, agosto 16, 2005

Por terras de sua Majestade

Lord Byron,
Poeta, idealista, aristocrata e sonhador ... eis algumas fotos interessantes tiradas em Newstead Abbey (a sua humilde casa).


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O túmulo do cão de Lord Byron


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A "pia" de Lord Byron


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As luvas de boxe de Lord Byron

sexta-feira, agosto 12, 2005

tOTA loto

Segundo o DN de hoje:
"A construção do novo aeroporto da região de Lisboa, na Ota, "terá impactos negativos significativos, fundamentalmente devido à destruição de habitats". A Ota "implicará a destruição de corredores ecológicos existentes" e "acarretará ruído além do legal". A "acessibilidade da procura lisboeta de transporte aéreo irá piorar" e "o município de Lisboa poderá perder receitas em consequência da quebra populacional e da relocalização de empresas para outros concelhos da região". Estes e outros conceitos (...) [constam] do estudo preliminar de impacto ambiental elaborado pelo NAER (Novo Aeroporto) e ontem referido pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, na defesa que expôs da localização referida.
(...)
O relatório fala ainda do impacto nos preços que terá na zona circundante da Ota a implantação do novo aeroporto. As vantagens são escassas e a mais relevante é a requalificação do emprego. Contudo, alerta, o desemprego na região "é escasso".
Os relatórios da British Air Authority (BAA) e do Manchester Airport [inferiam] que a Portela teria capacidade, se devidamente remodelada, para 21 milhões de passageiros por ano, uma barreira que não deveria, segundo estimativas da época, ser ultrapassada antes de 2020.Os relatórios aconselhavam a "desenvolver as instalações existentes até ao limite da sua capacidade" e afirmavam a "operacionalidade garantida até 2020". Não consideravam necessária a construção de outra pista e diziam que quer a Ota quer Rio Frio eram hipóteses mais caras que a ampliação da Portela.

Teste a sua Santanice

"Em nenhum outro mandato se fez tanto", diz Santana, referindo-se à CM Lisboa.
Escolha a resposta certa para completar a frase
Em nenhum outro mandato se fez tanto...
1) erro
2) buraco
3) despesismo
4) cartazes auto-promocionais
5) trocas de presidente
6) trapalhadas
7) promessas
8) fachada
9) As respostas 1; 2; 3; 4; 5; 6 e 7 estão correctas
10) Todas as respostas estão correctas
11) Qual dos mandatos?
12) Carmona quer a lei da rolha

quinta-feira, agosto 11, 2005

António Costa na fogueira

Vejo o MAI António Costa no parlamento a responder pela política de combate aos incêndios deste governo.E olho para ele com a estima de quem o sabe profundamente comprometido com o serviço público.Eleito há um ano para o Parlamento Europeu,onde não chegam as consequências do populismo anti-deputados,aceitou regressar 6 meses depois para assumir uma pasta descaracterizada ,como é a da Administração Interna .O ministério dos bombeiros ,como entre dentes é reconhecido o antigo Ministério do Reino...

E aqui está o ministro,quase impotente perante a floresta de enganos dos ataques que lhe são dirigidos.Se tivesse ficado mais uns tempos no P.E. seria o grande reforço político da clássica remodelação governamental a meio do mandato.Assim só lhe resta dar combate aos fogos ...para não se queimar demasiado.


Futebol doméstico

Mau sinal as derrotas do SLB e do SCP,em casa, perante as equipas italianas.O futebol português parece estar a ficar demasiado doméstico a nível de clubes e apenas a selecção dá um ar da sua graça.

Já gostei mais de Scolari e do que ele pode trazer-nos em termos de organização e de concepção.Está muito repetitivo.Mas apreciei a sua entrevista de ontem ao Record.Sobretudo quando ele aconselha Figo-que tem gerido tão mal esta fase outonal da sua carreira-a posicionar-se como armador de jogo e deixar de ser um 7 ala,tendo em conta «a sua qualidade de passe».

Qualidade de passe ,eis o verdadeiro problema da equipa do Benfica.Como marcar golos sem boas assistências?

Ainda temos uns dias antes do confronto com a realidade!


A máquina de calcular...de novo.

Tribunas Livres

Na minha crónica no DN de anteontem, referi o facto de a Portugal Telecom empregar dezenas de filhos de políticos e ex-governantes. A referência fazia parte de uns textos curtos que, ocasionalmente, coloco no fim do texto principal e dizia:
“Ligações Perigosas. Na Portugal Telecom estão empregados dezenas de ex- políticos e filhos de governantes. A filha da Edite Estrela, o irmão de Santana Lopes, o filho de Jorge Sampaio, o filho de António Guterres, o filho de Marcelo Rebelo de Sousa. Uma nova geração em amena convivência.”
Facto que foi noticiado, pelo menos que eu saiba, pelo Correio da Manhã e pelo Diário Digital, tendo igualmente sido depois mencionado no Causa Nossa, por Vital Moreira, no Renas e Veados e n’Os Tempos que Correm, por Miguel Vale de Almeida.
O Renas e Veados nota, aliás, como a notícia que Vital Moreira e Vale de Almeida linkavam do Diário Digital desapareceu depois, do site.
Seja como for, ontem ao final da tarde, um amigo, sempre mais atento a estas coisas, chamou-me a atenção para o facto de na “Tribuna Livre” do DN, onde surgem as cartas dos leitores, Marcelo Rebelo de Sousa fazer um esclarecimento sobre o que eu comentava na crónica. Eu não tinha reparado porque ontem apenas li o DN on-line, onde não consta (pelo menos não encontrei) esta rubrica.
Marcelo Rebelo de Sousa diz o seguinte (texto integral)
“Relativamente à peça hoje (ontem) publicada (no DN), da autoria da jovem política Joana Amaral Dias, e da qual se pode depreender a existência de qualquer tipo de ligação perigosa ou dependência minha por causa do meu filho Nuno, ou do meu filho por minha causa em relação à PT, pelo facto de este exercer actividade profissional naquele grupo, venho esclarecer:
1) O meu filho entrou no Grupo PT já eu deixara de ser governante há cerca de 20 anos e líder da oposição há quase meia dúzia.
2) A decisão do meu filho foi tomada contra a minha opinião, que teria preferido que continuasse numa prestigiada empresa de consultadoria internacional, aliás na sequência de MBA feito em Singapura e Fontainebleau. Mas, como se compreenderá, eu não tenho o direito de mandar na carreira profissional de um filho de mais de 30 anos, nem ele tem de subordinar a sua actividade profissional às minhas opiniões.
3) O facto de o meu filho exercer funções no grupo PT não me impediu, como é natural, nos últimos anos de ser livre de comentar a PT no plano económico e político, nem de, enquanto jurisconsulto, emitir pareceres desfavoráveis à mesma, sempre que o entendi juridicamente justificado.”

Fica o esclarecimento de Marcelo Rebelo de Sousa que, pelos vistos, visava a minha crónica e não todos os outros que deram ou destacaram a notícia. Todavia, não posso deixar de sublinhar que não era a Nuno Rebelo de Sousa que se dirigia o meu comentário. Mas antes à “coincidência” de na PT se encontrarem empregados não apenas os que mencionei no DN mas muitos outros, como se pode ler na notícia- não desaparecida em combate- no Correio da Manhã.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Passe as férias nos CTT

Ausentei-me de casa,com toda a família,durante 10 dias,período que não é tido por excessivo para umas férias repartidas.

Ao regressar,além dos deveres para com o blogue,tinha a caixa de correio cheia de avisos para ir à estação dos CTT da Patriarcal.Livros oferecidos e revistas como a Egoísta e a Ler estariam à merçê de uma travessia agradável do jardim do Príncipe Real.

Preparava-me para saborear essas leituras quando me informaram que os correios só guardam a correspondência durante uma semana e que vários dos avisos tinham ultrapassado aquele prazo e as encomendas enviadas aos remetentes.

Pasmei com a irracionalidade do prazo,e com o trabalho inútil que ele certamente acarreta para aquele serviço público.E fiquei penalizado pelas consequências futuras .Será que me continuarão a mandar aquelas revistas que tanto aprecio?


Notas Presas

No serão de segunda-feira tive a oportunidade de assistir, pela primeira vez, ao programa Notas Soltas com António Vitorino a ser entrevistado por José Rodrigues dos Santos, na RTP1. Das intervenções que já vi de AV, salta sempre uma grande falta espontaneidade e um discurso de papel quadriculado. Contudo, este formato tipo holofote agudiza a coisa. Vitorino mostra-se tenso, com a fala estudada, mas não o suficiente para que apareça descontraído e natural. Se há coisa que, certamente, as audiências apreciam em Marcelo Rebelo de Sousa é a vivacidade e expressividade que se transformam em pedagogia. O Professor, portanto.
Não que goste particularmente, mas lá que tem resultado…

Quanto aos conteúdos, AV foi completamente redondo. Nos fogos fez o discurso das condições climatéricas e pouco mais. Sobre a Caixa meteu os pés pelas mãos, e mesmo perante a insistência de uma resposta clara e concisa, por parte de JRS.
(Isto tudo para além dos aspectos panfletários do Governo/partidários que a Alta Autoridade para a Comunicação Social levantou relativamente à participação de AV- e que também tinha colocado com MRS)

Como volta e meia mostravam ambos no ecrã, a imagem de JRS, enquanto escutava, era desoladora. Parecia mesmo que estava a fazer um esforço para prestar atenção. Eu também.

Você tem uma mensagem

O DN noticiou que Carrilho preferia Alegre. Carrilho desmentiu, reiterando o seu apoio a Soares, mas o jornalista reafirma a história. Será Carrilho suficientemente audaz e perverso para fazer sair uma notícia que pode desmentir, mais ou menos impunemente, apenas com o fito de mandar um recadinho a Sócrates: “Vê lá, agora até brincamos às amizades, mas eu sou o senhor que se segue”?

terça-feira, agosto 09, 2005

O verdadeiro candidato de EPC

A manchete do DN,já desmentida por quem de direito,levantou-me uma dúvida sobre quem Eduardo Prado Coelho apoiaria para candidato presidencial com mais convicção:se Manuel Alegre se Manuel Maria Carrilho.A menos que haja um terceiro que agora não estou a ver quem seja.Para levar a sério,claro.

Crise de Vocações

A Direta até hoje só tem um candidato presidencial em exercícios de aquecimento.Trata-se de Cavaco Silva que perdeu por falta de comparência em 1990 contra Mário Soares e foi derrotado nas urnas por Jorge Sampaio em 2000,para desaparecer de novo em 2005.Um tratado de economia pessoal!

Os canditatos que apareceram por ele naquelas datas foram o irreverente Basílio Horta e o obediente Joaquim Ferreira do Amaral.Pergunto-me quem avançará caso desta vez o economista não queira voltar a provar uma derrota eleitoral.Santana Lopes ou Marcelo Rebelo de Sousa,ambos reciclados em ponderados homens de Estado?

Á esquerda já se percebeu que haveria candidatos suficientemente motivados.Mas a opção estratégica por Mário Soares aí está irreversível e a reunir cada vez mais apoios.

Já ouviram hoje as notícias,não?


segunda-feira, agosto 08, 2005

Por mares navegados

Retomo esporádicamente a escrita por este meio.O génio do blogue,desde o início, é a Joana Vicente Dias que o alimenta com generosidade e inteligência.Posso assim ir e vir com a certeza dos bichos-carpinteiros ficarem em boas mãos.

Escrevo quinzenalmente no Diário de Notícias e esta é a semana não.Acontece que o meu último artigo intitulado«Um Rei no meio do Atântico» se baseou numa peça jornalística do Expresso que foi corrigida,parcialmente,pelo seu autor Estevão Gago da Câmara,que aliás me telefonara no dia da publicação do artigo a dizê-lo.

Também recebi precisões da presidência da República,do Chefe do Estado Maior da Armada,do Comandante da Zona Marítima dos Açores.O tema da segurança e do patrulhamento marítimo do arquipélago mereceu todas estas reacções, o que equivale a reconhecer a importância do tema levantado.Congratulo-me pelos esclarecimentos prestados e agradeço-os aos seus autores.Nunca duvidei do cabal cumprimento das missôes que tivessem sido atribuídas à Marinha Portuguesa na emergência.Até porque no meio do Atlântico o oceano tem horror ao vazio.


sábado, agosto 06, 2005

Defina Prevenir, sff.

Os incêndios são um dos nossos pesadelos sazonais. É verdade que o calor e a seca não ajudam. A regra dos 30 (mais de 30º, ventos a mais de 30 km/h e índices de humidade inferiores a 30%) é a dor de cabeça de qualquer prevenção e estratégia de combate. Mas da seca sabemos desde Novembro, por exemplo. Agora António Costa lembrou-se que precisamos mais meios aéreos. E afirma que ainda é possível prevenir. "A ideia de que os terrenos têm de ser limpos antes do Verão está errada. Hoje ainda se podem limpar os terrenos."
Prevenir o quê? Que La Fontaine veja em António Costa uma fonte de inspiração?

Amigos, amigos...

Já foi destacado pelo Blogue de Esquerda.
O editorial de Pedro Rolo Duarte:

Portugal

Vou ao Google News, introduzo a palavra Portugal. Os fogos, mais fogos e outros fogos. A derrocada da falésia, Horta e Costa e o mensalão, a seca.
Vim para passar férias. Está difícil.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Jardim à Beira Mar a Arder

Portugal incendiado. Literalmente.
O país parece um inferno. É mesmo.

Ministros à letra

O Ministro das Obras Públicas tem hoje um artigo no DN, sobre os investimentos deste governo. Se pensam que há uma linha a justificar a necessidade da OTA, meia dúzia de palavras a enquadrar o abate da Portela ou um parágrafo que indique o COMO, desenganem-se. Um artigo de banalidades e generalidades, sem qualquer rigor na sustentação do projecto, aspectos financeiros ou relativamente às consequências desenvolvimentais.
Frases como “há que ter plena consciência de que a mobilidade constitui um dos traços essenciais da dinâmica das sociedades actuais”; “Portugal dispõe de vantagens competitivas importantes que importa valorizar, potenciar e aproveitar, designadamente no que se refere à sua posição na fronteira oeste atlântica da Europa, assumindo-se, à sua escala, como grande plataforma logística e importante pólo de mobilidade da Península Ibérica.”, terminando com “ Projectos que, no quadro dos constrangimentos orçamentais existentes, e sem prejuízo do necessário rigor e avaliação no que se refere à qualidade dos investimentos a realizar, importa decidir agora, para poderem estar concluídos até 2015 e servir o País neste século XXI.”.
Catita. Por este artigo o ministro não cai, de certeza.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Silenciadores

Sócrates decidiu fazer nomeações políticas para a CGD. O critério é o mesmo de sempre: malta de confiança partidária. Armando Vara, por exemplo.
Quando Celeste Cardona, que até sabe usar o cartão de crédito e levantar dinheiro, foi nomeada para a CGD, o PS criticou. Agora faz igual.
Jobs for the boys and for the girls? Sim, mas sobretudo controlar politicamente instituições como a Caixa. O DN de hoje noticia que os desentendimentos entre Vítor Martins e o Governo resultaram da recusa da administração da CGD em participar nos financiamentos privados aos grandes investimentos públicos, como o futuro aeroporto da Ota e a rede de TGV.
A determinação de Sócrates em avançar com a OTA é total. Rolarão as cabeças necessárias. A do Ministro Campos e Cunha já foi. Agora vão umas quantas na CGD.
E a pergunta persistirá até que o Governo se digne a dar esclarecimentos.
Porquê um aeroporto na OTA?
Não há resposta. O Governo do Silêncio cala os que se opõem.

Cumplicidades

Afinal Sampaio também recebeu Cavaco. Lá manteve, como pôde, a equidistância. O CDS é que anda mal informado. Ninguém disse a Pires de Lima que Cavaco ia a Belém? Escusava de ter andado a vociferar que Sampaio era “cúmplice” da proto candidatura de Soares. O que é que o CDS realmente conhece das intenções, movimentos e projectos de Cavaco?
Outra coisa interessante saiu desta reunião. Ao passo que a ida de Soares era “pública”, fazendo parte da agenda do Presidente da República que é diariamente publicitada, Cavaco terá pedido reserva quanto à divulgação do encontro. Portanto, não apenas Pires de Lima não tinha razão, como parece que a cumplicidade andava mais à direita do que à esquerda

segunda-feira, agosto 01, 2005

Há mar e mar

Os mais recentes estudos sobre a misteriosa doença do século, a Depressão, mostram como os pacientes deprimidos são mais realistas. Ao contrário de Peter Kramer (crítica ao seu novo livro, Against Depression, por Gary Greenberg, na Harper’s deste mês) não penso que o pessimismo deve ser evitado a qualquer custo (ainda que não endeuse a melancolia como fonte de criatividade ou inovação).
Ultimamente, cada vez que sai uma sondagem sobre o “estado-de-espírito” dos portugueses, meio país fica muito consternado com o pessimismo. Hoje o DN publica mais uma dessas sondagens, mostrando como a maioria dos portugueses acredita que quer as suas finanças quer a economia portuguesa estarão piores daqui a um ano.
Venha a lucidez. Mesmo que o tempo de férias convide ao optimismo oco.

O protesto

da European Federation of Journalists contra o fecho da Capital e do Comércio do Porto.

De volta

e para um Agosto longo.