quarta-feira, novembro 30, 2005

Ignorados, claro.

É impressionante a reportagem no Público de hoje sobre
os doentes dos PALOP
, transferidos para Portugal ao abrigo de acordos de saúde, e que são instalados em apartamentos repletos de baratas e ratos, sem quaisquer condições de segurança e conforto. É impressionante também a ignorância das entidades portuguesas: quer o Ministério do Trabalho e da Segurança Social, quer o Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, quer a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, afirmaram desconhecer as condições degradadas em que os doentes africanos assistidos em Portugal são alojados.

O candidato profissional

Ele não come! por Joaquim Fidalgo (Público)
Ohomem não come. O homem não come!... Com medo de que possa estar por perto alguma câmara de televisão e o apanhe nessa actividade humaníssima que é mastigar, ele não come em público... Vinha na última Sábado, numa reportagem que supostamente mostrava Cavaco Silva "na intimidade". Lá contava o repórter que Cavaco tinha ido buscar um prato com comida, num pequeno-almoço buffet com um conjunto de pessoas, mas, quando se preparava para dar ao dente, logo o atento assessor, em pânico, lhe recordou: "Não coma!" É que havia umas equipas de TV por ali. E o homem não comeu. Lá ficou, quietinho, com o prato à sua frente. Imagine-se! A síndroma do bolo-rei não passou...Por estas e por outras é que o homem me inspira pouca confiança. A gente não sabe quem ele é. A gente não sabe como ele é. A gente não sabe o que ele pensa. A gente ouve o que ele diz mas a gente nunca sabe o que ele pensa, porque nunca sabe se o que ele diz é o que ele pensa, ou se é apenas o que ele pensa que é suposto dizer naquela circunstância. Nunca lhe sai nada de espontâneo, que ele não deixa. Nunca se mostra ao natural, que ele não quer. Que pessoa é ele, afinal?As pessoas comem, as pessoas bebem, as pessoas espirram e assoam-se, as pessoas enganam-se (e têm dúvidas...), as pessoas tropeçam, as pessoas riem com gosto, as pessoas zangam-se, as pessoas contam uma graça, as pessoas nem sempre se aguentam geometricamente penteadas. Cavaco não. Cavaco, em público, não diz nem faz nada que possa assemelhá-lo aos seus semelhantes - que, por acaso, são as pessoas.
(...) De Soares, por exemplo, nós sabemos bem quem é e o que tem na cabeça - concordemos ou discordemos. Ele, sim, diz o que pensa, mesmo que nem sempre pense genial. E tem uma pessoa dentro, claro: sem que tenha vindo mal ao mundo, já o vimos comer (é, ele come!), já o vimos rir, já o vimos ralhar, já o vimos com chapéus bizarros, já o vimos cometer gaffes, enfim, já o vimos homem. Conhecemo-lo, gostemos mais ou menos. Mas Cavaco, não: não sabemos quem é, só sabemos como se apresenta. Como representa. E nisso, sim, ele é cá um profissional!

Vicente Jorge Silva derrotado

A entrevista que Vicente Jorge Silva dá hoje ao Francisco Trigo de Abreu no Independente, é deveras sintomática dos que votam Manuel Alegre por derrotismo, pois ele está convencido, desde já ,da vitória de Cavaco Silva.Nem sempre o jornalismo é uma boa escola para a actividade política.Só é derrotado quem desiste de lutar.

terça-feira, novembro 29, 2005

Mau Ambiente em Montreal

O relatório "O Ambiente na Europa – Situação e Perspectivas 2005", da Agência Europeia do Ambiente (EEA), indica que o clima na Europa está a mudar de uma forma sem comparação nos últimos cinco mil anos. A temperatura média na Europa subiu 0.95°C no século passado, um valor 35 por cento superior ao aumento médio global de 0.7°C. Jacqueline McGlade, directora executiva da EEA, diz: "Se não adoptarmos medidas eficazes ao longo de várias décadas, o aquecimento global provocará o desaparecimento dos glaciares a norte e a expansão dos desertos a sul". De destacar também que "Entre 1990 e 2000, mais de 800 mil hectares do território europeu foram edificados (...). Se esta tendência se mantiver, a área urbana europeia duplicará em pouco mais de um século, com um enorme impacte nos recursos naturais".
Portugal apresenta "progressos pouco animadores", relativamente às emissões de gases com efeito de estufa, à expansão da agricultura biológica e à recolha selectiva de resíduos municipais.
Contudo, do outro lado do Atlântico, rejeitam-se novas medidas para combater as alterações climáticas. Harlan Watson, dos EUA, disse mesmo, na conferência a decorrer em Montreal, que “Os Estados Unidos opõem-se a todas essas discussões”. Para Bill Hare, director do programa climático da Greenpeace, “Esta é uma posição realmente irresponsável. Os delegados que participam nesta conferência dizem existir muitas questões na agenda mas há apenas um grande problema e esse é a posição norte-americana”.

Auto-contraditório

A entrevista que Manuel Alegre acabou de dar à RTP1, conduzida por Judite Sousa, foi muito fraca. Três destaques:
1. Alegre insiste (e bem) que Cavaco Silva não é independente porque é apoiado pelo PSD (e pelo CDS-PP). Mas, confrontado pela entrevistadora, diz que, se ele próprio tivesse o apoio partidário do PS, seria independente.
2. Quando Judite de Sousa lhe pede para explicar como é que em 2002 dizia que apoiaria Soares à presidência e agora tem outra posição, Alegre diz, simplesmente, que todos podem mudar de opinião.
3. Alegre diz que amanhã não irá à votação do orçamento, repetindo o erro. Contudo, e depois de todas as críticas que teceu em relação ao documento, afirma que se fosse (e até irá se o seu voto for necessário) votaria a favor.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Alguém queria,agora, uma guerra dos crucifixos?

Gostei de ouvir a Ministra da Educação,Maria de Lurdes Rodrigues,desmontar na televisão, a operação da nova guerra dos sinos, com que os reaccionários pretendiam obscurecer o que está em jogo na próxima eleição presidencial.Cavaco Silva abraçou-se imediatamente ao crucifixo.A Ministra demonstrou que o candidato da direita pode dormir descansado que não haverá cruzada religiosa.Guarde as energias, professor.A coisa é mais complicada do que parece.

Sem fotógrafo em Évora

Porque será que o editor do jornal Público tem uma tendência para colocar as reportagens sobre a campanha de Mário Soares em baixo de página e sem fotografia?Ou não há fotógrafos para todos?

A versão alegre

De acordo com o DN não há registo de Manuel Alegre ter votado contra o fim do Serviço Militar Obrigatório em 1999, apesar de o mesmo o ter garantido, enfaticamente, várias vezes nesta campanha presidencial. Nos diários oficiais da Assembleia da República o que consta é que todos os deputados do PS votaram a favor. Há registo das declarações de voto de um deputado do PS e de outra por um conjunto da bancada do PSD.
Do suposto voto contra de Alegre, nada.
Está visto. Há uma cabala contra este senhor.

WAL-MART

The High Cost of Low Price. O Trailer aqui.




A reacção da empresa foi quase tão reveladora quanto o documentário...

Quem vê caras não vê corações

O Directo ao Assunto (TSF) versou sobre o tema: "Envelhecer em Portugal", no seguimento da Presidência Aberta de Jorge Sampaio. Logo no início Carlos Pinto Coelho perguntava, com insistência, porque é que em Portugal a esperança média de vida é de 80.6 para as mulheres e de 70.3 para os homens. Odete Farrajota (fundadora do Movimento «Mais Voluntariado Menos Solidão») dizia que é porque existem mais mulheres do que homens. Luís Jacob (presidente da Rutis - rede Universitária da Terceira Idade) justificava dizendo que na Universidade da Terceira Idade 70 % são mulheres.
Foi um diálogo surreal...
De facto, as mulheres vivem mais do que os homens (a diferença chega a dez anos em países desenvolvidos) por várias ordens de razões. Em primeiro lugar porque é comum os homens terem actividades mais perigosas e mortais (desde guerras a profissões e comportamentos de alto risco). Em segundo lugar há questões hormonais que influenciam o envelhecimento. Mas, sobretudo, hoje sabe-se que o coração das mulheres (o coração propriamente dito, o músculo) funciona, em média, melhor do que o dos homens. A idade das artérias não perdoa.

domingo, novembro 27, 2005

Ponto Negro

Cá em casa separa-se o lixo. Papel, plástico, metal e vidro. Quando vou ao largo colocar os sacos nos respectivos contentores é um desespero. Estão sempre completamente a abarrotar. Ontem não apenas estavam mesmo cheios, como no chão se acumulavam pilhas de cartão, jornais e embalagens, ensopados com a chuva, a desfazerem-se e a sujarem toda a zona. Voltei para casa com os sacos. No final da semana, já sei o que me espera…

Concordar em discordar

Num interessantíssimo artigo de opinião pessoal publicado no Diário Económico, Tiago Mendes dissertou as seguintes palavras:

"Nada é mais natural num debate que discordar. O problema não está aí. Está antes em não se aprofundar essa discordância. Em não se fazer um esforço para que ela possa ser 'mutuamente compreendida'. Hoje o interesse numa discussão reside mais em saber quem a 'vence' do que em esclarecer o porquê das 'divergências'. Seja sobre as presidenciais, o défice, ou o aborto, mais que esgrimir pontos de vista finais sobre certo assunto, seria útil explorar o que os origina, para que intervenientes e telespectadores percebessem claramente a 'racionalidade' por detrás da discórdia. Com mais razão e temperada emoção. Estou certo que Aumann ficaria muito satisfeito se em Portugal um qualquer debate terminasse com um simples e cordial 'Meu caro, concordamos então em discordar?'. Selado - se possível - com um democrático aperto de mão."

Edward de Bono, por exemplo, considera que qualquer tipo de argumentação entre pontos de vistas diferentes, acaba por se resumir quase sempre a uma batalha final de egos. Tal, defende o autor, deve-se à tradição do sistema lógico que "nós" - Civilização Ocidental - herdámos da Grécia Antiga.

O problema não está em provarmos que a nossa razão é mais válida, melhor ou superior que a dos outros - o problema está, em que nós não suportamos estar errados perante os outros. Daí e muitas vezes, a lógica de uma discussão entre diferentes opiniões acabar num "jogo de soma nula": só um pode ganhar e quem ganha acaba como começou, com a mesma visão do mundo e das coisas sem ter acrescentado nada de novo aos seus argumentos.

Num contexto político e mais actualizado, podemos igualmente olhar para a "dificuldade" que alguns pensadores como Rawls ("Consenso de sobreposição) e Habermas ("Razão comunicativa") tiveram em justificar sistemas, onde em democracias liberais ocidentais, pudessem co-existir pacificamente pontos de vistas plurais e por vezes antagónicos.

Em resumo a culpa é dos Gregos, portanto.

Como disse?

"We say that Disneyland is not, of course, the sanctuary of the imagination, but Disneyland as hyperreal world masks the fact that all America is hyperreal, all America is Disneyland." - Jean Baudrillard ao The New Yorker

Ler e Meditar

Mais um excelente artigo de Mário Mesquita. Hoje, no jornal Público,só o título diz tudo:«A Direita Ventríloqua».Nele Mário Mesquita analisa, com textos em apoio,o cerco pró-caudilhismo que envolve Cavaco Silva nesta eleição presidencial.Depois não digam que ninguém avisou.A começar pelo candidato calado no meio dos seus ventríloquos messianistas.

sábado, novembro 26, 2005

O Sr. cacareja?

Como é que alguém que faz de sua estratégia Presidencial uma praxis do silêncio calculado, juntando a isso um doseamento "conta-gotas" das suas opiniões - pode pedir e esperar o voto dos cidadãos?

Até a galinha quando põe um ovo cacareja para dar conhecimento aos outros. Quem não cacareja é porque nada tem a mostrar, como tal não merece a nossa atenção.

sexta-feira, novembro 25, 2005

O 25 de Novembro e os democratas

Era Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros quando se deu o 25 de Novembro.Aliás o VI Governo Provisório, presidido pelo Almirante Pinheiro de Azevedo, era já um governo do 25 de Novembro avant la lettre. Fui um dos membros do Governo que foi até o norte do país na semana anterior ao desfecho esperado participar em comícios contra a deriva radical dos extremistas revolucionários.
Com a reposição do respeito pela vontade popular expressa nas eleições depositei toda a esperança da modernização da sociedade portuguesa na liberdade e no entendimento dos meus concidadãos.Jamais no sono dos democratas.

O 25 de Novembro e as mulheres

Pela resolução 54/134 de 17 de Dezembro de 1999, a AG da ONU declarou o dia 25 de Novembro como o Dia Internacional para a eliminação da violência nas mulheres.Ontem à noite estive numa Tertúlia organizada pela Estrutura de Missão (uma designação horrível, diga-se de passagem!) contra a violência doméstica , presidida pela dinâmica Drª Elsa Pais, que reuniu um vasto grupo de pessoas na exótica sala das máquinas do Museu da Água na calçada dos Barbadinhos.Há um grupo cada vez maior de mulheres com grande capacidade de intervenção cívica que contrasta ainda com o grau de exposição à violência doméstica de pessoas desprotegidas no universo fechado das casas e das famílias.É esse aspecto da violência que se pratica em locais em que a vítima está à mercê do mais forte aquele que mais me revolta.Daí a importância da alteração ao Código Penal, em 2000 e por iniciativa do BE, que tipificou a violência doméstica como crime público. com o apoio do governo do PS.Apenas um ano depois da resolução da AG da ONU.

Quando a Air America

passa a Guantanamo Express.

Neo- Inquisição

A Igreja Católica decidiu proibir o sacerdócio a homossexuais. Como é suposto os padres não terem orientações sexuais, ficam várias questões. Primeiro, os padres heterossexuais são permitidos?
Segundo: Se a medida pretende, de algum modo, prevenir a Pedofilia, é completamente errada. A homossexualidade não tem nada a ver com pedofilia. E a pedofilia não vitima apenas rapazes. Aliás, a maioria das vítimas de pedofilia são raparigas.
Terceiro: sendo esta uma decisão discriminatória, pode uma Religião ir contra a Constituição?
Quarto, como é que exactamente pretende a Igreja Católica avaliar e determinar as orientações sexuais dos candidatos ao sacerdócio? E como é que, três anos depois, pretende avaliar se o candidato superou (mesmo supondo que isso existe) as suas orientações sexuais?
Esta posição da Igreja Católica, que não é nova mas que recebeu agora grande destaque, consiste em fazer do grave problema que tem- os padres pedófilos- um ataque aos homossexuais. Em vez de resolver o crime que se passa no interior da sua própria organização, a Igreja Católica entende que passando ao ataque aos homossexuais dá a imagem à opinião pública que o problema vem de fora. Mas, lá dentro, e perante a própria exigência de celibato, as perversões sexuais continuarão, obviamente, a existir. Tanto quanto a eleição de bodes-expiatórios.

"One man show"


"A Sábado esteve quatro dias, de manhã à noite, com o candidato. Cavaco Silva cantarolou, disse piadas e adormeceu na banheira."

Pode não se sentir à vontade com as câmaras ou com a abordagem pessoal e próxima junto dos cidadãos ... mas com os "jornalistas da campanha" a estória é outra.

Estórias de uma intimidade artificial, numa banca próxima de si.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Miguel Cadilhe não dorme

Sempre apreciei Miguel Cadilhe por ser alguém que pensa pela sua própria cabeça, e ser um economista seguro e competente que não segue o evangelho do imperialismo estrangeiro.Foi dos poucos ministros das Finanças que deixou uma marca reformadora, e ainda hoje o nosso sistema de impostos tem a sua matriz.Nunca o ouvi anunciar o apocalipse da nossa sociedade com que tantos economistas ameaçam, caso não nos subjuguemos às suas pálidas ideias.Pelo contrário, Miguel Cadilhe apresenta, muitas vezes, soluções diferentes para os problemas financeiros do País.Há meses sugeriu que se vendesse parte do stock do ouro existente no Banco de Portugal.Hoje é o governo alemão da grande coligação que tenciona recorrer a essa medida e já está a prepará-la com a Bundesbank!
Pois é este homem que,nos últimos dias, tem vindo a revelar alguns aspectos do modo de estar na política de Cavaco Silva que são preocupantes pela falta de clareza nos propósitos do ex-primeiro ministro.Hoje na revista Visão há mais.É só ler.
Cadilhe também não dorme!

quarta-feira, novembro 23, 2005

A Ota ao pé da porta

O governo atrasa o TGV mas acelera o novo aeroporto internacional,de cuja necessidade a prazo ninguém duvida.A dúvida recaía no local.Mário Lino veio ontem dizer que a Ota é que é.
O novo aeroporto internacional na Ota só será uma visão de futuro se permitir um outro modelo de desenvolvimento urbanístico que termine com uma Lisboa cercada por bairros periféricos caóticos e rasgue novas vias de penetração rápida no interior do país.Por isso teria preferido que o anúncio da Ota tivesse sido também o anúncio de um plano de desenvolvimento das zonas circundantes.A exportação de parte de Lisboa para fora de portas.

terça-feira, novembro 22, 2005

O SLB enche o Stade de France

O jogo entre o Benfica e o Lille disputou-se não na cidade da equipa francesa mas em Paris.Um remake do célebre Estoril Praia-Benfica que se realizou no estádio do Algarve perante a indignação dos clubes que só têm adeptos na esquina do bairro.Em Paris , esta noite, foi batido o record de espectadores, em França, para a Liga dos Campeões Europeus.Com muitos portugueses.Que assim marcam presença na grande urbe de forma impressionante.Quem se candidata a repetir a façanha do clube da Luz?
A pergunta destina-se também aos clubes espanhois e italianos cujas comunidades de emigrantes são comparáveis à portuguesa.

Manuel Alegre sabe que eu sei que ele sabe...

Não percebi muito bem aonde Manuel Alegre queria chegar com o relato incompleto sobre a sua disponibilidade presidencial.Nem creio que isso agora seja relevante.Mário Soares aceitou ser candidato presidencial apoiado pelo PS quando outros declinavam essa responsabilidade, e Alegre ainda não tinha declarado a sua imensa vontade existencial de o ser.Sim; porque agora percebe-se que não era só disponibilidade.
E para ser candidato não é preciso ser vítima.Basta querer e ter condições políticas e materiais.A candidatura de Manuel Alegre deve-se exclusivamente à vontade dele.Desde a antiguidade que os heróis vivem mal com a banal natureza humana...

segunda-feira, novembro 21, 2005

Prós e Contras on line

Estou a ver o programa Prós e Contras sobre educação(et pour cause...)e declaro vencedor desta primeira parte o professor António Nóvoa.Desmistificou num ápice a tese de que o Estado anda a investir acima da média europeia na área da instrução.Desde quando?- perguntou ele.Há 100 anos?Há 50?Há 25?Mesmo há 10?Não,há menos.Chega para dar resultados já?
Também gostei de ouvir a antiga professora Amélia Pais.Agora é o intervalo.

O Partido Socialista Francês pela esquerda

O congresso do PSF,que muitos consideravam de crise, saldou-se por uma moção de síntese entre as diversas correntes, mas substantivamente orientada à esquerda,inclusivamente pondo em causa as actuais medidas sociais tomadas pelos governos de Chirac, como a idade da reforma e a lei dos despedimentos`Trata-se de uma vitória de Laurent Fabius, o socialista que votou não no referendo sobre a constituição europeia, e que se prepara para ser o candidato presidencial em 2007.A menos que Lionel Jospin recupere do tempo perdido...
A esquerda mexe na Europa.

A fuga frustrada de Bush


Com vídeo

domingo, novembro 20, 2005

Iraque? Não, obrigado.

Rumsfeld diz agora que não advogou a invasão do Iraque. O desespero e desvario da direita norte-americana é tal que depois de ter prestado estas declarações ao Washington Post, Rumsfeld afirmou na ABC (excerto em baixo) que, para além não ter defendido a guerra, “nem sequer foi consultado sobre a decisão”.
Convém lembrar que em 1998 ele solicitou a Clinton a decapitação do regime iraquiano. Depois do 11 de Setembro não perdeu tempo. A imprensa, aliás, sempre noticiou o forte apoio de Rumsfeld a esta guerra.
Com o Iraque a transformar-se num atoleiro cada vez maior, as baixas também se fazem sentir no ocidente. Por este andar, daqui a seis meses nem Bush defendeu a invasão do Iraque.
A transcrição do programa:
"STEPHANOPOULOS: If you had known that no weapons of mass destruction would be found, would you have advocated invasion?
RUMSFELD: I didn’t advocate invasion.
STEPHANOPOULOS: You didn’t?
RUMSFELD: No, I wasn’t asked. If you read all the books and the things
STEPHANOPOULOS: Why weren’t you asked? That’s very puzzling.
RUMSFELD: Well, I’m sure the president understood what my views were. But as a technical matter, did he ever look and say, “What should we do? Should we go do this or not do that?” This something the president thought through very carefully. "

Entra mudo e sai calado


Cartoon do leitor Francisco Espada.

sábado, novembro 19, 2005

O silêncio como programa de vida

Por Henrique Monteiro (Cartas Abertas, Expresso)
O Professor Cavaco Silva delineou uma finíssima estratégia para se colocar em Belém: o silêncio. O Professor não fala, não professa, não sussurra, nem sequer espirra para que o espirro não possa ser confundido com uma declaração. O Professor cala e consente.
Vários especialistas de várias matérias, contratados pela candidatura do Dr. Mário Soares, têm tentado extrair do Prof. Cavaco Silva um murmúrio que seja, um tímido rumor, um simples bocejo... Inútil. O professor Cavaco Silva não abrirá a boca, e muito menos para comer bolo-rei. O professor Cavaco tudo o que diz se resume a um simples «humm... hummm...»!
Perguntaram-lhe pela França e os carros ardidos; falaram-lhe do bloqueio da ponte e do fim do feriado de Carnaval; atiraram-lhe com a derrota que sofreu com Jorge Sampaio há 10 anos; em desespero questionaram-no sobre o terrorismo, o 11 de Setembro, o 11 de Março, o 4 de Julho, o 25 de Novembro, o próprio 25 de Dezembro. Ele... nada. Sorriu e fez «hum»!
Poucos sabem, no entanto, que esta estratégia, ao contrário do que com alguma malícia têm insinuado os Drs. Soares, Alegre, Louçã e Jerónimo, não visa - longe disso - ganhar eleições. O silêncio (e o silêncio é de ouro) é um programa de vida do Prof. Cavaco Silva. Em Belém, logo que ganhe as eleições com uns silenciosos 52 ou 53 por cento, o professor vai manter o estilo. Nas reuniões de quinta-feira, dois «huns» significam uma certeza e um «hum» uma certeza absoluta. Caso haja três «huns», Sócrates pode começar a pensar em arrumar a papelada.
Nas recepções aos Chefes de Estado estrangeiros, uma ligeira alteração (ou um duplo) permitirá ao professor proferir algumas palavras, nomeadamente: «Como Vai Vexa e a sua Exma família?»
De resto, o silêncio vai imperar. Um silêncio calmo e tranquilo, do qual nenhum português decente vai discordar. Aos poucos, todos nos calaremos e, no Parlamento, pela primeira vez em muitos anos, ouvir-se-ão os passarinhos. As manifestações da CGTP serão como os cortejos fúnebres, apenas o leve roçagar dos sapatos no alcatrão alterará o sepulcral silêncio das massas. O próprio Prof. Marcelo, na televisão ao domingo, guardará de Conrado o prudente silêncio, não apresentando mais do que as capas dos livros recomendados, uns ligeiros acenos para as fotos dos que lhe são benquistos e um polegar virado para baixo frente às fotos daqueles que, do seu ponto de vista, meteram água. Os noticiários da TVI terão menos 30 decibéis, ainda que um bebé tenha sido devorado pela bisavó, e o público do futebol assinalará um golo como quem aplaude um fado de Coimbra.
Uma só coisa poderá mudar a estratégia do Prof. Cavaco: caso ele chegue à conclusão de que o calado é o pior.

In memoriam

Peter Drucker 1910 - 2005

"Ser cidadão no sector social e através dele não é uma panaceia para os males da política e da sociedade pós-capitalista, mas pode ser um pré-requisito para a cura das suas 'doenças', porque restaura a responsabilidade civil, que é a marca da cidadania, e o orgulho cívico, que é a marca da comunidade."
- Peter Drucker, "Sociedade Pós-Capitalista",1993

Loja do Cidadão

Há meses fui lá tratar do passaporte, depois de deixar de ser deputado.Ontem,depois das 18h,tratei da renovação do Bilhete de Identidade.Mesma rapidez, mesma eficiência, mesmo bom acolhimento.Aqui fica a sugestão para o José Carlos Abrantes, sempre à procura de anotar coisas boas em Portugal.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Mensário


Ontem fizemos 6 mesinhos...
A bicharada agradece aos leitores.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Boletim médico

O meu jovem amigo Francisco Trigo de Abreu, no blogue que partilha com o também talentoso Martim Silva, Mau tempo no canil insurge-se contra o facto de Mário Soares ter proposto que os candidatos presidenciais mostrem os seus boletins clínicos.Pensa mal.
Em princípio é uma informação mais relevante para o exercicio do cargo do que a exibição da declaração de IRS.Por que será que Jorge Sampaio quando foi operado, já era Presidente da República, achou relevante essa informação, e ela agora é vista como indecente?
Pois eu acho que os candidatos deviam voluntariamente disponibilizar os relatórios clínicos a que se submetem antes de entrarem nestas corridas.Mas, por favor, não façam nenhuma lei sobre isso!

Gripe III

Ornitofobia. Recomenda-se a hipnose.
Já tinha dado para perceber.

A segurança da liberdade

"Since the attacks of September 11 2001, we have seen an erosion of liberty in most established democracies. If he's still alive, Osama bin Laden must be laughing into his beard. For this is exactly what al-Qaida-type terrorists want: that democracies should overreact, reveal their "true" oppressive face, and therefore win more recruits to the suicide bombers' cause. We should not play his game. In the always difficult trade-off between liberty and security, we are erring too much on the side of security. Worse still: we are becoming less safe as a result."

Ilusão óptica


Ontem o ministro da Saúde considerou uma "vergonha nacional" o elevado número de médicos em alguns hospitais. Em entrevista à SIC Notícias, Correia de Campos deu como exemplo os 59 oftalmologistas que trabalham no Hospital dos Capuchos, em Lisboa.
Hoje na TSF, a directora deste serviço nos Capuchos, Dr.ª Lucília Lopes, esclareceu que apenas tem 30 oftalmologistas no hospital. Destes 24 são especialistas e 6 são internos. Para além disso, entre os oftalmologistas que trabalham nos Capuchos, 6 fazem urgência no Hospital de São José. Portanto, na prática, os Capuchos têm 24 oftalmologistas “por dia”.
De facto, há muitos problemas com a Saúde em Portugal. A distribuição dos médicos e algumas das suas práticas têm que ser mudadas. Para garantir a efectiva “colaboração” dos médicos no SNS, primeiro há que reconhecer o número insuficiente destes profissionais e dar resposta à situação. Depois, criar a carreira de profissionais de saúde do SNS em exclusividade e apostar em programas de formação contínua, para terminar com a dependência de financiamentos indirectos.
Não é com declarações destas, colocando os doentes contra os médicos, que o ministro vai lá. Caso para dizer que está com problemas de visão.

Declaração de interesses

Gostei da atitude de Francisco José Viegas hoje no Jornal de Notícias, ao declarar perante os seus leitores habituais ser um apoiante de Cavaco Silva. Já tinhamos feito o mesmo nas nossas crónicas no DN, ao manifestar o facto de pertencermos à comissão política da candidatura de Mário Soares. Esperemos que o exemplo frutifique entre os colaboradores habituais dos orgãos de comunicação social.

Soares visto por Prado Coelho e Pulido Valente

Artigo de Vasco Pulido Valente no Diário de Notícias de 4 de Maio de 2003.
O meu candidato à Presidência da República é, evidentemente, o Dr. Mário Soares. Bem sei que, para certa gente, há o problema de ele ter 81 anos, quando entrar, e 86, quando sair. Erro crasso. O Dr. Mário Soares não envelhece, apura, e, agora, até lhe vejo uma espécie de alegria (um pouco pérfida e muito divertida) em manobrar os melancólicos bonecos da política indígena. Sem ele, a fúnebre procissão da nossa vida pública não se aguentava. Verdade que anda, como lhe compete, num passeio «esquerdista» e que a guerra no Iraque o provocou a algumas declarações duras de engolir. Só que, em Belém, essas coisas passam e ele nunca disse como o inimitável intelectual Carrilho que Bush era o novo Átila. O grande obstáculo ao regresso de Soares está, desconfio, nele próprio. Não o imagino a trocar a doce vida da Europa (sem aspas) pela «comida de banquete» e a dura obrigação de aturar a tempo inteiro os matarruanos daqui. Tanto mais que ele anda delirante com o seu papel de monarca em vias de indicar o sucessor. À esquerda, não existe ninguém. Guterres, que ele já humilhou publicamente, com um comentário assassino e amável, no fundo não conta. Se cair na asneira de se candidatar, o fugidio engenheiro acaba em bombo universal da festa. Com a ajuda, claro, do camarada Mário, que o detesta e não se coibirá de lhe aplicar a sua martelada. Fica a direita e, à direita, o homem que Soares aceitar ou não agredir (não escrevi «apoiar») ganha quase de certeza. Isto, em princípio, põe fora de jogo o Dr. Santana. E também o Prof. Freitas, que, sem perceber, se deixou atribuir um estatuto menor de «companheiro de caminho». Quanto a Cavaco, conseguiu até hoje conservar a sua reserva e a sua posição. Mas, com o campo limpo, nada impede Soares de um dia resolver que afinal lhe apetece uma última batalha. Eu voto nele.

Artigo de Eduardo Prado Coelho no Público de 9 de Maio de 2003
Soares é hoje o mais inventivo, o mais jovem, o mais contagiante político português. Conseguiu associar a desenvoltura com a imagem plena do pai de que o país necessita. Possui uma qualidade preciosa: tem um ar de estar feliz na política. Assume-se como um homem totalmente livre, que não teme desagradar a este ou àquele. Conseguiu perceber por onde passava o relançamento da esquerda contemporânea mais cedo do que todos os outros. Lê muito, escreve muito, fala muito. Só tem um obstáculo: as suas qualidades indiscutíveis suscitam o rancor de todos os aparelhos cinzentões povoados de medíocres embalsamados.

(via Super-Mário)

quarta-feira, novembro 16, 2005

Os Perigosos Pinóquios


Como muitos outros representantes da administração Bush, Robert Tuttle, embaixador no Reino Unido, disse ao The Independent : "US forces participating in Operation Iraqi Freedom continue to use appropriate, lawful and conventional weapons against legitimate targets. US forces do not use napalm or phosphorus as weapons."
Agora os EUA admitem ter usado fósforo branco. Mas dizem que não o consideram uma arma química…
Janota.
Acontece que o fósforo branco é, efectivamente, uma arma química. Enfim, esta "justificação" da administação Bush deve estar enquadrada na sua redefinição de Ciência.
E, afinal, quem usa armas de destruição em massa?
(Ilustração de Mark Byran)

Vídeo Vigilância


E a moda do capuz.
Se Blair descobre...

A vida política

Medeiros Ferreira fez ontem uma menção muito simpática à minha crónica no DN (que terá seguimento para a semana), que agradeço e estimo. Não posso deixar de referir que, no mesmo dia, saiu uma crónica no Público de José Neves que partilha do essencial da minha argumentação. Passo a citar um excerto:
“(…) Em Alegre e em Cavaco (…) a política morre aos pés de um nacionalismo exacerbado. Nesse nacionalismo, toda a contradição deixa de poder existir como parte de um conflito. A contradição é feita diferença e é apenas uma particularidade a ser confortada - isto é, sumida - na retórica do candidato. Aqui, o eixo central do discurso não tem lugar para pobres ou ricos, mas portugueses; não há pretos nem brancos, mas a unidade nacional; não há homens nem mulheres, mas o país; não há homossexuais nem heterossexuais, mas a pátria. Alegre dá verso à "vontade nacional" e Cavaco contabiliza o "interesse nacional". Em lugar da política, temos estética e técnica. Um poeta lusofónico e um ministro das Finanças, uma vez feitos candidatos presidenciais, apenas mobilizam o descontentamento para o extremo da política. É por isso que são deles os discursos mais vanguardistas. Instalados em todos os "centros" e em todas as instituições, Alegre e Cavaco tentam agora colocar-se de fora.
Hoje só interessa uma candidatura que seja política. E se algum candidato pode ajudar a construir uma alternativa, ele é o que procure as energias de um descontentamento radical com o actual estado de coisas, dispondo uma opção de conflito e de ruptura. Precisamos de alguém que fale de pobres e de ricos, de pequenas reformas e de grandes fortunas, de paz e de guerra, de pretos e de brancos e de proletários e de patrões. Ao contrário do que imaginam os discursos presidenciais, o mundo não se divide entre portugueses e outros. Em Portugal, há mais vida para lá de "Portugal".

terça-feira, novembro 15, 2005

The Meatrix

Ganhou o prémio do Media that Matters Film for Thought Award.
Quem ainda não viu pode ir aqui.

Um governo ainda Europeu

A grande coligação que se formalizou agora na Alemanha é ainda um governo que pretende dar uma resposta aos problemas da sociedade germânica dentro dos compromissos assumidos perante a União Europeia.O SPD manteve a aliança com o movimento sindical, a Democracia Cristã introduziu o aumento da idade da reforma.Mas o mais importante será a preparação de uma revisão da Lei Fundamental que retirará poderes ao Bundesrat e acentuará as competências próprias dos Estados federados.Por cá só interessou o cozinhado da coligação em termos dos problemas similares aos nossos.Mas a Alemanha tem vida própria.

Ruminação do dia

"A democracia está desenhada, não para fomentar novas ideias, mas para manter tudo estável."
- Edward de Bono ao Semanário Económico

Ler imediatamente

O excelente artigo da Joana Amaral Dias no Diário de Notícias de hoje, com o título Dividir Para Reinar.Só não fica tudo dito porque ela promete continuar.

"Pluralismo participativo"



Mais um candidato à corrida Presidencial?

segunda-feira, novembro 14, 2005

Constança Cunha e Sá

Após esta primeira ronda de entrevistas para a TVI, Constança Cunha e Sá aparece como a primeira grande vencedora destas presidenciais.Sempre bem preparada, dotada de uma forte personalidade que gere sem agressividade, jamais abdicou da condução das conversas com os 5 candidatos e jamais os deixou à vontade.
Ao elegê-la a primeira grande vencedora desta pré-campanha , tenho sobretudo em conta a importância que as entrevistas e os debates televisivos vão ter no desfecho eleitoral.Depois da exibição de Constança e Cunha e Sá vai ser díficil banalizar a campanha para as presidenciais!Ainda agora fez suar as estopinhas ao tecnocrata(ou académico?)Cavaco Silva.
Esperamos vê-la de novo na próxima ronda de debates.
Assistimos a um exemplo de televisão política de qualidade.

De facto, "uma questão de estilo"

"Quer-se um Presidente descontraído ou um Presidente preocupado?"
Pergunta-nos em tom de retórica José A. Saraiva, Director do Expresso.

Eu respondo-lhe de forma simplistica (tal como a pergunta "condicionada" feita): os Portugueses querem obviamente um Presidente preocupado. Um Presidente preocupado em ouvir.

Quem não ouve, não vê. Quem não vê, não sente. Quem não sente, não sabe. Quem não sabe, não pode fazer.

De facto e como diz Sr. Arquitecto, o que está em causa nestas eleições é acima de tudo uma questão de estilo.

Explique-me,senhor Scolari...

Todos aqueles que alguma vez tiveram de chefiar uma equipa sabem que há meia dúzia de regras básicas para o êxito da missão.
Por exemplo, a não ser em circunstâncias verdadeiramente excepcionais e de tal forma óbvias, não se pode desautorizar uma hierarquia - sob pena de se perder o controlo sobre a estrutura e fomentar a «subversão» generalizada - e note-se que isto não é incompatível com uma liderança aberta e participada. O entusiasmo e o empenho de uma equipa será tanto maior quanto se sentir parte integrante e activa de uma estratégia em cuja concepção também teve uma palavra a dizer - mesmo que limitada a uma área de acção que lhe é própria. E não é menos verdade que há que saber segurar, em circunstâncias difíceis, aqueles que já deram provas, noutras alturas, de qualidades excepcionais.
Mas há limites para tudo.
As escolhas do líder têm de assentar numa base mínima de racionalidade que o colectivo entenda. Se assim não for, pode conseguir um grupo de incondicionais apaniguados, mas, cedo ou tarde, falhará o objectivo principal.
Gostava, por isso, que o senhor Scolari - por quem tenho sincera admiração - me explicasse os motivos que justificam a insistência em fazer de Ricardo - nitidamente forma de forma ... - o titular da baliza da selecção nacional de futebol .

Class Act

Gary Younge, The Guardian.

Somos todos pró-americanos

68 % dos americanos descontentes com a direcção do país.

Cavaquistão, 11 anos depois.

Luís Miguel Figueiredo, baleado no "buzinão" da Ponte 25 de Abril, em 1994, ficou paraplégico e recebe uma pensão de 250 euros mensais .
A 24 de Junho de 1994, Luís Miguel, então com 18 anos, juntou-se aos que protestavam na ponte contra o aumento de 50% da portagem.
Cavaco Silva era primeiro-ministro.

Quando as contrariedades do leitor são parte das minhas razões.

Fiquei algo triste por vê-la apoiar Mário Soares porque (…) Mário Soares era, até ao momento em que se candidatou a um novo mandato para presidente, uma reserva moral intocável da política portuguesa que podia, do alto da sua sapiência e experiência, dar um grande contributo para a mobilização do povo em torno de uma qualquer causa e continuar a merecer o respeito de todos, mesmo dos seus adversários políticos. Pelo leitor Jorge Dias. Recebido por e-mail.

A longevidade dos argutos

A dignidade da campanha e os debates

Cavaco Silva tentou este fim-de-semana o discurso patriarcal fazendo apelos á dignidade durante a campanha eleitoral.Respondeu-lhe à letra Mário Soares recordando que o debate entre candidatos é o grau supremo da qualidade democrática de uma eleição.Já deu para perceber quem prefere o toca-e-foge a duas horas de contraditório televisivo.

domingo, novembro 13, 2005

Massacre

Para quem ainda não viu, fica aqui o link da RAI com o vídeo dos ataques químicos feitos pelos EUA a Fallujah.
O leitor Pedro Viana (via e-mail) chama atenção para estas notícias e acrescenta:
Merece a pena ler (no Daily Kos) não só pela clara denúncia que faz da barbárie em nome da "liberdade", mas também pela excelência da escrita, apoiada numa ironia desarmante que ridiculariza completamente todos os que arranjam desculpas (ou fingem ignorar) a "nossa" barbárie. (...)Este episódio da guerra no Iraque é demasiado grave para ser escondido não só pelos media tradicionais, mas também pelos novos media como os blogues (...)

A guerra da net II


O Público de ontem apresentava um artigo de Kofi Annan, bastante “moderado”, sobre a ONU e a Internet. Quanto ao debate sobre o controlo da Internet pelos EUA, a que já me tinha referido aqui, diz o secretário-geral das Nações Unidas: “Os EUA, que têm exercido as suas responsabilidades de uma maneira equitativa e íntegra, reconhecem que as preocupações dos outros governos em matéria de política pública e de soberania são legítimas e que é preciso prosseguir os esforços no sentido de encontrar meios de internacionalizar mais os mecanismos de governação”. Mas a verdade é que esta negociação está bastante crispada e que os EUA não mostram vontade de ceder. Ignacio Ramonet no Le Monde Diplomatique (Ed. Portuguesa) deste mês põe o dedo na ferida: “A hegemonia sobre a Internet dá aos Estados Unidos, em teoria, o poder de limitar o acesso a todos os sítios da rede, seja em que país for. Podem também bloquear todos os envios de mensagens electrónicas do planeta. Até agora nunca o fizeram, mas têm a possibilidade de o fazer. Esta simples potencialidade preocupa no mais alto grau numerosos países”.

Os desiludidos com Alegre

Por João Freire, Tribuna Socialista:
Manuel Alegre não esteve presente na votação que hoje decorreu na Assembleia da Republica sobre o Orçamento do Estado para 2006. (....)Este comportamento de Manuel Alegre - que gosta sempre de se refugiar em "questões de consciência", quando parece não ter mais argumentos políticos ... - levanta-nos muitas dúvidas. Porque também manifestámos o nosso apoio a uma candidatura que definimos como potenciadora de transversalidades à esquerda, de pontes para a uma unidade das esquerdas! (...)
São pertinentes as seguintes questões a Manuel Alegre:
Afinal em que se distingue políticamente da candidatura de Mário Soares? Existirá sómente um diferendo pessoal?
Como é possível um deputado candidato a Presidente empenhado nas questões sociais, faltar a um momento tão importante como a votação parlamentar de um documento que condicionará todas as políticas económicas e financeiras em 2006 e consequentemente todo o panorama social?
(...)

sábado, novembro 12, 2005

Destaque em falso

Na primeira página do Público de hoje vem um destaque com o título “Cavaco diz que aborto é questão de consciência de cada um”, apontando para as páginas 22 e 23. Nessas mesmas páginas nada consta sobre o assunto, até porque a secção é Mundo, onde Cavaco não cabe. Mas enfim, trata-se apenas de uma gralha sem importância.
Na pág. 13 encontram-se as declarações do candidato à presidência da república. São três perguntas que foram colocadas aos cinco candidatos sobre a interrupção voluntária da gravidez. Acontece que Cavaco Silva não respondeu às questões. A jornalista socorreu-se de declarações antigas do candidato para preencher as respostas. Assim, na pequena caixa de texto encontram-se referências como estas: “Como o Prof. Cavaco Silva já afirmou há muito tempo (…)”; “Por ocasião da apresentação da sua candidatura no CCB, o Prof. Cavaco Silva afirmou (…)”. Enfim, os jornalistas, perante o silêncio pouco democrático de Cavaco, utilizam declarações anteriores. Isto diz da qualidade do candidato. Mas aparecer um destaque na primeira página que induz a ideia de declarações actuais (nem sequer mencionando as dos restantes, que efectivamente responderam ao pequeno inquérito), diz da qualidade do jornal.

A transformação da política

por Daniel Innerarity
(Ed. Teorema, p. 29)
A política é, em primeiro lugar, uma gestão de assuntos do ponto de vista da sua contingência, isto é, considerando-os abertos, decidíveis, imprevisíveis, opináveis, controvertidos e revisíveis. Mercê desta propriedade, a perspectiva política distingue-se de outras actividades, como as que são exercidas pelos cientistas, os militares, os moralistas ou os economistas. É claro que se pode tratar os assuntos políticos como solucionáveis por estes, mas não é esse o núcleo do que entendemos ser específico da política. O especificamente político é aquela dimensão dos problemas que essas outras profissões não podem resolver adequadamente. Politizar é situar as coisas num âmbito de discussão pública, arrebatá-las aos técnicos, aos profetas e aos fanáticos.

Harper's Index

Years after the start of the Vietnam war that a majority of americans first said it was a mistake: 3 1/2
Years after the start of the Iraq war that a majority said this: 1 1/4

Um chip para o Expresso

O Expresso conseguiu dar um empate entre Mário Soares e Manuel Alegre, exactamente na semana em que este perdeu terreno , apesar de ter lançado o manifesto eleitoral e de ter dado uma entrevista à TVI.O avanço de Mário Soares é mesmo a novidade da sondagem em relação às anteriores.Por este andar a direcção do expresso vai precisar de um chip para detectar os resultados da 1ª e da 2ª volta...Como os árbitros da FIFA...

Memórias de mulher

Esta noite recebi dois telefonemas, um de uma jovem senhora ligada ao mundo da edição, o outro de um velho e querido amigo ligado a tudo o que há de bom na vida.Ambos estavam a ler as memórias de Filomena Mónica, minha colega na Faculdade de Letras de Lisboa nos anos sessenta e estavam entusiasmados.Disseram-me que sou referido, e até me leram uma ou outra passagem.Nada tenho a obstar à forma como a Mena Mónica recorda um menino vindo dos Açores antes dos vinte anos.Mas agora a curiosidade é enorme e urgente.Já tenho um exemplar prometido para segunda feira!

Que eu saiba estas são as segundas memórias de uma mulher portuguesa depois da II guerra, e as primeiras de uma da minha geração.Se o exemplo frutifica...

sexta-feira, novembro 11, 2005

Dar de comer a um milhão de portugueses

Hoje o Público noticia que o Programa Nacional de Prevenção dos Problemas Ligados ao Álcool aguarda aprovação no gabinete do ministro da Saúde desde o Verão. Nada estranho tendo em conta a profunda negligência a que o gravíssimo problema do alcoolismo em Portugal tem sido votado. Ontem no Encontro Internacional de Alcoologia, Rui Moreira, director do Centro Regional de Alcoologia do Norte, sublinhou, com razão, que se trata de um grave problema de saúde pública: estima-se que, em média, mais de 20 pessoas morram por dia em Portugal por problemas ligados ao álcool. O álcool é responsável por 60 por cento dos homicídios, 40 por cento dos suicídios, 22 por cento dos acidentes de viação mortais e cinco por cento das ofensas corporais registadas.
Mas o combate ao alcoolismo em Portugal é uma anedota. Existem apenas três centros regionais de alcoologia, francamente desprovidos de meios. E os sucessivos governos não têm dado qualquer resposta. Há anos que os especialistas no tratamento do alcoolismo reclamam mais recursos. Se compararmos os meios atribuídos à toxicodependência- e eles estão longe de ser suficientes- o contraste é evidente, sendo que, ainda por cima, o número de alcoólicos é 580 mil, quando, por exemplo, o número de heroinómanos é de cerca de 80 mil.

Falar de Blogues

O encontro de ontem na Livraria Almedina promovido por José Carlos Abrantes foi muito interessante. Já estão aqui alguns destaques. Havia muito mais para discutir, mas entretanto já tarde...
Sobre os blogues políticos destaco este relatório Buzz, Blogs and Beyond: The Internet and the National Discourse in the Fall of 2004:
"Bloggers' unique characteristics - focus, vehemence, visibility, authenticity, tangibility (versus talk-radio's into-the-etherness) and the emphasis on tomorrow's-news-this-second - sometimes move political decision makers like a cattle prod. "
"For mainstream media, yesterday's news is today's fishwrap, whereas a blogger can continue to chase a story for days after it breaks. In addition, a blog with open commentary is by its very nature a 'lean-forward' experience; I may read a story, write back with comments, my comments may inspire other comments, or a different story, et cetera. That latticework of information is curiously similar to the web itself."
e este artigo de Drezner & Farrell:
"we have sought to provide an answer to a perplexing question for political scientists – why do blogs sometimes have real political consequences, given the relatively low number of blog readers in the overall population? Our proposed answer to this question is that blogs may frame political debates and create focal points for the media as a whole. Because certain opinion-makers within the media take blogs seriously, they can have a much wider impact on politics. "

O homem que fazia chover

Cavaco Silva sentiu-se obrigado, ontem ,a fazer prova de vida , conjuntamente com a fadista Kátia Guerreiro.Os dois rodearam-se de jovens-sempre atrasados em relação às iniciativas da campanha de Mário Soares-e Cavaco debitou a custo as frases que lhe recomendaram para responder a este.

Mostrou-se neste episódio igual ao Cavaco Silva de há 15 anos:auto-satisfeito com os conhecimentos que adquiriu sobre qualquer problema.Agora trata a Globalização como se a dominasse, embora não se encontre responsável por este mundo fora que não defenda formas mais apuradas de racionalização do fenómeno.Lá pela Universidade Católica não há ninguém que lhe fale de Globalização Solidária?E Martins da Cruz não lhe dá a conhecer as sugestões internacionais para uma maior governança mundial dos aspectos espontâneos da globalização e que são o padre-nosso de qualquer agenda institucional?Bem sei que há quem ache que Cavaco fará vergar a especulação financeira e os deslocados empresários,mas dominar a globalização...Francamente...

Quem fala por quem?

Enquanto o candidato não volta a falar – depois de ter falado pouco e menos ter dito – lá se vai, entre os silêncios e o ruído, perscrutando algo. Entre outras coisas, uma resulta clara: ao contrário do que o Francisco aqui diz, desse lado não está um conjunto vasto de gente independente. Pelo contrário. Se aceitarmos que as Comissões Políticas são para ser lidas a sério, o mesmo se aplicando às Comissões de Honra (e quando nada mais resta, não há opção), desse lado está só mesmo o PSD e o que fica à sua direita. Olhe-se para o que se passa com a candidatura de Soares e ver-se-á, por exemplo nas suas comissões política e de honra, uma amostra muito mais pluralista (e é óbvio que valorizas o pluralismo mais do que uma pretensa independência face aos partidos – espero bem que não andes em deriva alegrista!). Depois, meu caro Francisco, deste lado há uma outra vantagem. O candidato fala e fala por ele. Nós, umas vezes concordamos mais, outras naturalmente menos, mas ficamos com espaço para, livremente, falarmos por nós. Desse lado, o candidato não fala, pelo que do seu silêncio se apropriam naturalmente as palavras dos seus apoiantes. Enquanto o que valer for a estratégia que, na sua ingenuidade, a mandatária para a juventude tem revelado de “nada fazer e nada dizer”, é difícil perceber onde acaba o que pensam os seus apoiantes e o que pensa, de facto, Cavaco.
Pedro Adão e Silva, Super-Mário

O "Sr. Silêncio"

"O problema de Cavaco é que, provavelmente, quanto mais aparecer, debater, mais votos perderá; enquanto com Soares acontecerá o contrário." - José Carlos de Vasconcelos, Visão

quinta-feira, novembro 10, 2005

A má moeda continua

Quem esteve atento ao debate na AR sobre o OE deu-se conta do K.O. técnico aplicado por Sócrates a Marques Mendes logo no primeiro round.Até a conversão de 350 euros em escudos correu mal ao presidente do PSD.Calculo o mal-estar de Cavaco Silva que ainda há dias o recebeu numa sala esterilizada com produtos anti-partidários. Continua em circulação a má moeda lá para os lados do PSD.Afinal Santana Lopes não era caso único, pensará o candidato presidencial.Mas haverá boa moeda cavaquista para além da Manuela Ferreira Leite, na rua de Buenos Aires? Mesmo que seja só para concorrer às próximas autárquicas ...

Um brinde



"To the economists - who are the trustees, not of civilization, but of the possibility of civilization." - Lord John Maynard Keynes (durante um brinde)

Coimbra é uma lição...

Ninguém é imune a uma visita à «cidade do conhecimento».
É certo que Coimbra perdeu, nos últimos anos, a «capitalidade» do centro do País a favor de outras capitais de distrito onde a liderança política e a capacidade empresarial falaram mais alto. Mas a cidade do Mondego conserva o iluminismo secular, o romantismo inesgotável, o contágio do saber que ainda não tem paralelo.
Fez bem, por isso, Mário Soares em ter começado a sua campanha de afectividade pela «menina e moça». Espera-se que tenha contagiado espíritos cépticos e que o exemplo de campanha de proximidade vingue como um estilo de propaganda política que acabe com as rotinas que têm afastado os portugueses dos seus deveres de cidadania.
Ficou provado, para quem tivesse dúvidas, que Coimbra pode ser sempre uma lição... pelo menos para os espíritos abertos. Assim tenham estado atentos...

Soares na estrada

Esta semana Mário Soares começou a visitar o país, e já esteve em Coimbra,Braga,Porto, sempre rodeado de muita gente, sempre a suscitar curiosidade, sempre a mobilizar multidões.Eu acho admirável.É um testemunho vivo contra o etarismo de que nos falou a Joana Amaral Dias no seu artigo no DN de terça feira.

É mesmo o único candidato no terreno.Os mais novos devem estar a poupar-se.A ver se aguentam.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Entifada "made in EU"



Contributos para os ávidos de debate:
"The sickness in France's heart", International Herald Tribune
"Early skirmish in the Eurabian civil war", Telegraph UK
"What's Wrong with Europe?", Spiegel
"Intifada in France", NY Sun
"Explosion in the suburbs", Guardian UK
"Les Misérables", WSJ
"C’est l’économie, stupide", Times UK
"French lessons for us all", Spiked Politics
"Reflections on the Revolution in France", Daniel Pipes
"The Revolt of Ennui", NY Times
"Get French or Die Trying", NY Times
"France is clinging to an ideal", Guardian UK
"Why France Is Burning", Washington Post
"Intifada a la francaise", Canada News
"But, What Country Is This?", Washington Post
"World Opinion Round Up", Jefferson Morley
"Don't Forget Paris", Salon
"Why Immigrants Don't Riot Here", WSJ


Post-scriptum:: Agora dão-me licença que vá trabalhar? Tenho que ir produzir riqueza, para que possa ser redistribuida pelo Estado mais tarde.

Os que dormem com Cavaco

Manuel Alegre, na entrevista da TVI, aderiu ao clube dos que declaram desde já dormir tranquilos caso Cavaco Silva seja presidente.É uma declaração que pode ajudar a adormecer a sua própria campanha e os seus próprios apoiantes.

Aumenta assim o clube dos que querem que Cavaco saiba que pode contar com eles a dormir.Também conta a pespectiva do sono ser para 10 anos!Um clube dos que dormem na forma.

O que vale é ver Mário Soares já na estrada a mobilizar apoios e votos.Com ele ninguém dorme.

terça-feira, novembro 08, 2005

"Basta um"


"Panadol. One is enough"

Anúncio da marca de analgésicos Panadol, premiada recentemente no festival internacional de publicidade de Londres.

Dúvida matinal

Qual é a diferença entre o defunto determinismo histórico marxista e o iluminado determinismo democrático americano?

A mim parecem-me duas impossibilidades epistemológicas. Onde apenas o «master franchise» conhece e parece acreditar nos benefícios que o seu produto poderá oferecer a futuros «franchisados».

sábado, novembro 05, 2005

Match

A Juventude Popular não apoia Cavaco.
Gonçalo da Câmara Pereira procura apoiantes.

"Where's Kátia?"



Depois do "Where's Wally", é caso para perguntar "Where's Kátia"?

Descubra se conseguir.

Belmiro de Azevedo vai a votos

O Expresso de hoje exulta com o apoio que Belmiro de Azevedo terá dado a Cavaco Silva, por duas ordens de razões.A primeira não me ocorre, mas a segunda tem a ver com o facto daquele semanário ter dado uma notícia precoce do mesmo teor que foi desmentida em Agosto.

Confesso que me surpreende a declaração de apoio pelo que ela tem de arbitrária, facultativa,e irracional, o que não me parece relevar da melhor cultura empresarial.Mas o risco também conta, embora não esteja a ver alguém telefonar a Belmiro de Azevedo às 8h da manhã daquela segunda-feira a pedir-lhe responsabilidades pela derrota de Cavaco.

Nesse caso Belmiro algum defeito enxergará na campanha do professor .Não será difícil.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Memória, Exemplo e Futuro

Do discurso do Prof. Sobrinho Simões, Mandatário Distrital de Mário Soares
(Na aprentação da Comissão de Honra, sábado)

É nas razões da minha decisão que voltam a aparecer a MEMÓRIA, o EXEMPLO e o FUTURO.

A MEMÓRIA é a qualidade mais estruturante de um povo e de uma nação. E eu não me esqueço que o Doutor Mário Soares esteve sempre presente quando Portugal dele precisou. Muitas vezes em alturas bem difíceis e bem arriscadas. Esteve antes do 25 de Abril e esteve no período, dificílimo, pós-revolução. Era primeiro-ministro quando o País se aproximou perigosamente da bancarrota e foi preciso tomar medidas duríssimas para assegurar a nossa sobrevivência. E foi graças a ele, à sua visão, e à sua determinação, que Portugal entrou para a Comunidade Europeia, apesar das vozes dissonantes de vários quadrantes. Sem a coragem, a visão estratégica e a acção de estadista do Doutor Mário Soares, Portugal não seria provavelmente hoje uma democracia ocidental, razoavelmente desenvolvida, membro da União Europeia.

O EXEMPLO é um outro elemento fundamental para a estruturação da sociedade. Em Portugal temos ainda muita dificuldade em reconhecer a importância das elites e dos líderes, e isso vai ter de mudar. O Doutor Mário Soares é um líder nato, capaz de utilizar o diálogo e a persuasão para convencer os outros da justeza das suas convicções e dos seus valores, sem entrar pela via da conflitualidade. O Doutor Mário Soares é um líder com autoridade sem ser autoritário. Só assim se compreende como foi possível ser eleito Presidente da República pouco tempo depois de ter imposto, enquanto Primeiro-Ministro, medidas duríssimas aos portugueses. É também um exemplo por dois outros motivos. Desde logo, porque num País em que poucos sentem a necessidade da competição saudável como forma de progresso, e tantos lutam por antecipar a idade da reforma, o Doutor Mário Soares, com o estatuto e a idade que tem, decidiu avançar para a luta eleitoral, numa fase gravíssima da vida do País, arriscando-se, calculem, a ganhar ou a perder. É um exemplo notável. Como também o é a sua mundivisão, a sua curiosidade e a sua vontade de aprender. Num País em que cerca de dois terços da população declara que não quer saber mais do que já sabe, e em que a chamada notoriedade social acaba em Vigo e Badajoz, é muito bom ter um candidato a Presidente que já foi tudo quanto se pode ser, que se mantém atento às mudanças do mundo e às novas ideias, curioso, culto, com vontade de aprender e de ensinar . [Também entre parêntesis dois pontos: a) O Doutor Mário Soares lembra-me, em muito aspectos o Aquilino Ribeiro que era, como sabem, uma verdadeira força-da-natureza; b) Gosto muito de assistir a Seminários Palestras, Discussões em que participe o Doutor Mário Soares, assim como de almoçar ou jantar com ele porque aprendo sempre qualquer coisa].

E, por fim, o FUTURO. O futuro de Portugal não depende do Presidente, nem do Governo, nem, muito menos (infelizmente) da Assembleia da República. Depende dos portugueses. Depende da capacidade de os mobilizar para as tarefas indispensáveis à construção de um País mais desenvolvido e mais justo. É fundamental que os portugueses sintam que terão um futuro melhor se forem capazes de se unir em volta de objectivos comuns, tais como a melhoria da competitividade, o reforço institucional , a recompensa ao mérito, a recusa em pactuar com a corrupção e a venalidade, a internacionalização e a repartição mais equilibrada dos rendimentos e dos recursos entre pessoas e regiões [A situação das regiões Norte e Centro, cujo PIB por pessoa é inferior ao do dos Açores e cerca de metade do da região de Lisboa, é insustentável]. Os problemas com que Portugal se defronta hoje, e se continuará a defrontar no futuro, mais do que soluções económicas exigem respostas políticas, embora seja obviamente preciso equilibrar as finanças públicas. Isso passa por apostar nas pessoas, na sua qualificação e no seu enquadramento institucional. Passa, também, por bons Governos, e pela capacidade que o Presidente da República tiver, enquanto “ouvidor” e árbitro, para ajudar a conciliar desenvolvimento com solidariedade e coesão social, e para servir como um catalizador social, isto é, como um amortecedor da conflitualidade e da crispação que as mudanças sempre induzem.

Novembro francês

A agitação dos últimos dias em França anuncia os tumultos do futuro nas grandes cidades europeias.

Contrariamente ao Maio de 68, os confrontos com a polícia não sáo protagonizados por estudantes mas por jovens desempregados.Não há referências culturais ,mesmo que radicais.Não se passam no centro de Paris, voir Quartier Latin,mas nos arredores que os emigrantes portugueses conhecem tão bem desde os anos 60.Não são os filhos da burguesia que recolhiam no final das refregas ao conforto da civilização das suas casas.Não são mesmo trabalhadores enquadrados politicamente mas jovens desenraízados.Um caldo insurreccional novo.

O Novembro francês terá pelo menos a mesma importância civilizacional que o Maio de 68.Mas as consequências poderão ser muito diferentes.

Saber ouvir, ajuda a ver

O ex-primeiro-ministro Cavaco Silva recusou hoje que o Presidente da República possa ser «apenas um ouvidor» e prometeu que, se for eleito chefe de Estado, vai estar «muito atento à actividade do Governo».

"O ex-primeiro-ministro Cavaco Silva recusou hoje que o Presidente da República possa ser «apenas um ouvidor» e prometeu que, se for eleito chefe de Estado, vai estar «muito atento à actividade do Governo».

«Um Presidente da República não pode ser apenas um moderador, um ouvidor, um árbitro a apelar ao diálogo. Exige-se mais ao Presidente da República», afirmou Cavaco Silva, segundo a agência Lusa, numa conferência organizada pela Federação Académica da Universidade de Lisboa, num recado claro para Mário Soares."
- in Jornal de Negócios

quinta-feira, novembro 03, 2005

Clipping

"É evidente que há aqui aquela velha tentativa de Cavaco Silva de mostrar que está acima dos partidos, que está acima da política, que está num estatuto superior. Eu acho que a política é uma actividade nobre e que, seguramente, quem se candidata a Presidente da República, não pode dizer que está ali como não político. Parece que tem vergonha daquilo que está a fazer."
- Miguel Sousa Tavares, Jornal Nacional TVI

A dívida de Cahora Bassa

Foi assinado mais um um acordo entre Portugal e Moçambique sobre Cahora Bassa.Esperemos que agora tudo corra menos mal.

A decisão de construir essa barragem, em 1969, foi logo muito contestada pelos riscos enormes que acarreteria às finanças , e até ao dispositivo militar naquele território.Todas as más previsões se revelaram verdadeiras, e as despesas com o empreendimento chegaram a constituir mais de metade do serviço da dívida externa portuguesa nos anos 80 !

Curiosamente nunca se pretendeu lançar um debate sobre essa decisão desastrosa para Portugal, embora haja, pelo menos, uma tese de Mestrado sobre as suas implicações.

Os nossos rigoristas das finanças ainda têm medo da verdade sobre este assunto.Esgotaram-se a criticar o Euro 2004!

quarta-feira, novembro 02, 2005

Soares Interactivo I

Mário Soares acabou de dar uma excelente entrevista à TVi. Sem medo do confronto, de perguntas e de exposição. Sem silêncio. Porque como ele próprio disse, há que esclarecer os eleitores. Saber ao que cada um vem. A democracia assim o exige.
Soares respondeu às questões mais notórias desta campanha. Assume a sua idade. Sem preconceito. A idade que todos atacam, porque outros argumentos não têm. Soares podia ter continuado no seu posto intocável, como “pai da pátria”. Podia ter continuado com a popularidade, o sossego e o consenso de que gozava. Preferiu avançar. Não é um vivo embalsamado. É um homem de ideias e de coragem. Que corre riscos, que vai à luta e que defende aquilo em que acredita.
Quanto aos apoios partidários, espero que o tema fique esclarecido de vez. Soares tem o apoio do PS. Mas tem também um apoio muito alargado da sociedade portuguesa e dos quadrantes mais diversos, como se vê na sua Comissão de Honra. Do desporto à cultura. Da economia à ciência. E nenhum destes é do PS.
Cavaco, por mais que tente enganar, tem o apoio do PSD. Bem que pode fazer gestos pseudo simbólicos da entrega do cartão. Dirigiu o PSD, tem o PSD do seu lado. E nem o PSD teria outro candidato. Se Cavaco não avançasse, quem tinha a direita para apresentar? Mas mais: ao contrário de Soares, Cavaco está preso nessa redoma partidária. E dentro dela, o círculo dos economistas é quem mais ordena. É assim a sua comissão de honra, é assim a sua visão do país, foi assim o seu governo de Portugal e assim continuará.
Cavaco não tem perfil para ser Presidente da República. Ao contrário de Soares, é curto o seu raio de acção e de entendimento.
Soares mostrou bem ao longo da entrevista conduzida por Constança Cunha e Sá que não nega que inicialmente afirmou que não se candidataria. E explicou porque depois mudou de opinião. A conjuntura internacional, europeia e nacional mudaram. E Soares, como sempre, não se ficou.
Postura bem diversa da de Cavaco Silva, que há anos que prepara a sua candidatura em silêncio, com régua e esquadro mas mantendo mistérios. Soares é assim: primeiro pensou que não deveria avançar e disse-o com clareza. Disse o que pensava. Entretanto escutou os apelos que lhe foram dirigidos. Pesou as mudanças em curso. Teve a sensibilidade para estar atento às circunstâncias e suas consequências. Quando mudou de opinião também teve a frontalidade de o anunciar, explicando-se sem meias-tintas.
Portugal não pode eleger um Presidente que está sempre calado. E que, calado, toma as decisões, prepara a sua execução e planeia os seus resultados, dando a conhecer aos portugueses as suas intenções quando tudo está concluído. Sem escutar, sem confronto, sem esclarecimentos. Ainda para mais quando pode haver tentações como a de reforçar os poderes presidenciais ou de passar a círculos uninominais, por exemplo. Portugal dispensa um presidente-sombra. Portugal precisa de um Presidente Interactivo.

Convívio com outros políticos

Fui à República de Cabo Verde participar num forum sobre relações internacionais, organizado pela sua Assembleia.Nos poucos dias que lá passei pude apreciar a alta qualidade de muitos dos seus políticos quer nas intervenções oficiais quer nas conversas pessoais que estas ocasiões sempre proporcionam.Desde o Presidente da Assembleia, Aristides Lima , ao Ministro dos Negócios Estrangeiros,Victor Borges, passando por deputados de vários partidos, em todos senti o orgulho e a sabedoria de quem está a construir um País.
Vim de lá mais consolado.

iPods Nano no metro

Campanha recente da Apple Japão. Uma maneira inteligente e eficaz de fazer com as pessoas levem consigo um "ipod nano" em tamanho real, conquistando o precioso "share of mind".

"Perto do bolso, perto do coração".







terça-feira, novembro 01, 2005

Wallace & Gromit

É a carnificina dos vegetais. Vindos do barro ao som do “There’ll always be an England”.

Praça dos Restauradores, nº24

Já está no site oficial da candidatura de Mário Soares o meu discurso na inauguração da sede.

Paixão "Aristotélica"

Na altura do Cavaquistão quando alguns cidadãos em diversos contextos fizeram uso da sua voz e se manifestaram publicamente (estudantes e utilizadores da Ponte 25 Abril) levaram pancada até dizer chega.

Parece que na altura era a forma do Governo dizer obrigado pela participação e intervenção da sociedade civil portuguesa. Era a forma carinhosa de incentivar o uso das virtudes cívicas dos Portugueses, ainda mal habituados a estas coisas da cidadania e da liberdade de expressão.

Não tenham dúvidas, Cavaco com a sua personalidade de executor pragmático, infalibilidade superior, sem margem para erro nos caminhos traçados, tem e sempre terá dificuldades em lidar com a tradição republicana do cidadão voluntário, activo e vigilante, cuja voz por vezes incomoda. É uma incompatibilidade factual da vida.

Damien, o iconoclasta



O artista plástico Damien Hirst, "descoberto" por Charles Saatchi e conhecido por conservar animais em formol, foi considerado pela britânica Art Review Magazine como a personalidade contemporânea mais influente do mundo das artes.

Ao ler a notícia hoje no Público, lembrei-me de uma vez ter visto na televisão inglesa, um programa sobre os novos talentos da Brit Art (Tracey Emin, Damien Hirst, etc.) onde o dentista de Damien (na altura um proeminente desconhecido das lides artísticas) se orgulhava de lhe ter tratado da dentadura a troco de algumas peças que hoje valem uma pequena fortuna. Um bom negócio portanto.

Cavaco é coerente

O discurso de Cavaco em torno da despartidirização e despolitização é, de facto, coerente com a hegemonia do mercado. Esta constitui-se não como um complemento à democracia, mas como uma alternativa à mesma. Quando o consumidor toma o lugar do cidadão não são necessárias decisões políticas.
E aí todos os valores têm um preço.

Sobre as "elites do poder"

O Dr. Pacheco Pereira, colunista da Sábado e autor do blog Abrupto observa no mesmo que somando os nomes das Comissões de Honra de Soares e Cavaco, qualquer máquina de calcular dar-nos-ia um número > 1000. Sendo que este número representativo, mais não é que um retrato do "establishment" do "quem é quem" neste País.

Ivan Nunes no blog Super-Mário faz questão de separar as águas: "(...) não é preciso olhar muito para perceber que são duas elites: num caso, uma impressionante colecção da ciência, das artes e das letras; do outro, para o bem e para o mal, quase todo o mundo empresarial português. Das duas elites, só uma é que é «do poder»."

Realmente e como dizem os Italianos: "Primo mangiare dopo filosofare"

Lendo / Vendo Blogs, Jornais, Televisão e outros Media

Ivan Nunes, no Super-Mário:
1. É triste ver em Pacheco Pereira a sua judiciosidade velha, velhaca, selectiva. Ele encontra em Soares a tentação de alimentar a inveja dos portugueses e espalhar a lama, por o ex-presidente da República ter recordado que é justamente como ex-político que Cavaco recebe uma das suas pensões de reforma. Quando Cavaco quis estabelecer entre si e os políticos uma película protectora, um manto diáfano de seriedade que o isolasse dos «pecados» dos políticos, Pacheco não encontrou mal nenhum. Como dizia Soares, exemplarmente, no sábado, «quando um candidato a Presidente da República diz que não é um político profissional, o que quer dizer com isto?» A dois meses das eleições presidenciais, é preciso confrontar os candidatos - e em particular Cavaco, que se pretende já entronizar - com as suas responsabilidades.
2. Pacheco vê também nas Comissões de Honra de Soares e de Cavaco um retrato da nossa elite do poder. Mas não é preciso olhar muito para perceber que são duas elites: num caso, uma impressionante colecção da ciência, das artes e das letras; do outro, para o bem e para o mal, quase todo o mundo empresarial português. Das duas elites, só uma é que é «do poder».
3. A capa do Público de hoje, com a entrevista ao seu proprietário, que declara a evidência do seu favoritismo por Cavaco, é todo um programa. O poder anda bastante ostensivo.

Lucro e Responsabilidade

Em 1970 Milton «laissez-faire boy» Friedman escreveu no New York Times um artigo entitulado "The Social Responsibility of Business Is to Increase Its Profits".

No mesmo artigo, Friedman (Nobel vintage 1976) argumenta:
"There is one and only one social responsibility of business - to use its resources and engage in activities designed to increase its profits so long as it stays within the rules of the game, which is to say, engages in open and free competition without deception or fraud."

Tendo como ponto de partida as observações feitas por Friedman há 35 anos atrás e o tema da "responsabilidade social" e sobre se a procura do lucro é um "meio ou um fim" em si mesmo, a Reason Magazine promoveu um recente debate entre o próprio Milton Friedman, John Mackey, CEO da Whole Foods e T.J. Rodgers, CEO da Cypress Semiconductor.


Ficam aqui alguns excertos interessantes:

"To extend our love and care beyond our narrow self-interest is antithetical to neither our human nature nor our financial success. Rather, it leads to the further fulfillment of both. Why do we not encourage this in our theories of business and economics? Why do we restrict our theories to such a pessimistic and crabby view of human nature? What are we afraid of?" - John Mackey


"Maximizing profits is an end from the private point of view; it is a means from the social point of view. A system based on private property and free markets is a sophisticated means of enabling people to cooperate in their economic activities without compulsion; it enables separated knowledge to assure that each resource is used for its most valued use, and is combined with other resources in the most efficient way." - Milton Friedman

"I do not believe maximizing profits for the investors is the only acceptable justification for all corporate actions. The investors are not the only people who matter. Corporations can exist for purposes other than simply maximizing profits." - John Mackey

"The fact is that despite some well-publicized failures, most corporations are run with the highest ethical standards—and the public knows it. Public opinion polls demonstrate that fact by routinely ranking businessmen above journalists and politicians in esteem." - T.J. Rodgers

"Both capitalism and corporations are misunderstood, mistrusted, and disliked around the world because of statements like Friedman’s on social responsibility. His comment is used by the enemies of capitalism to argue that capitalism is greedy, selfish, and uncaring."
- John Mackey


PS:: Mais do que Estados autistas que por vezes sufocam a esfera pública do cidadão e a iniciativa dos privados; mais do que mercados e ordens espontâneas por vezes geradoras de externalidades negativas - o que eu gostaria mesmo de ver era uma sociedade civil forte, voluntária e participativa. Quiçá assim, as nossas vidas não seriam unicamente regidas por este universo dualista.

1755


O malheureux mortels! ô terre déplorable!
O de tous les mortels assemblage effroyable!
D’inutiles douleurs éternel entretien!
Philosophes trompés qui criez : « Tout est bien »;
Accourez, contemplez ces ruines affreuses,
Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses,
Ces femmes, ces enfants l’un sur l’autre entassés,
Sous ces marbres rompus ces membres dispersés;
Cent mille infortunés que la terre dévore,
Qui, sanglants, déchirés, et palpitants encore,
Enterrés sous leurs toits, terminent sans secours
Dans l’horreur des tourments leurs lamentables jours!
Aux cris demi-formés de leurs voix expirantes,
Au spectacle effrayant de leurs cendres fumantes,
Direz-vous: « C’est l’effet des éternelles lois
Qui d’un Dieu libre et bon nécessitent le choix? »
Direz-vous, en voyant cet amas de victimes:
« Dieu s’est vengé, leur mort est le prix de leurs crimes? »
Quel crime, quelle faute ont commis ces enfants
Sur le sein maternel écrasés et sanglants?

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