segunda-feira, outubro 31, 2005

«Modus vivendi»

A natureza do homem numa frase:

"Duas coisas há nos homens que os costumam fazer roncadores, porque ambos incham: o saber e o poder."
- Padre António Vieira

É, não é?

"Nothing is so admirable in politics as a short memory."
- John Kenneth Galbraith

[ Para aqueles que se queixam dos recorrentes anglicismos, fica aqui a solução ]

Reincidente

Parece que Bush não aprendeu nada (mas também não se esperava outra coisa) com a acusação formal a Lewis Scooter Libby. The New York Daily News noticia que o seu substituto será David Addington, conhecido como um dos “advogados da tortura”.

Gripe II


«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse.
«Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais, Libertar-se-á... nunca mais!

Excerto de "O Corvo", deEdgar Allan Poe
Tradução de Fernando Pessoa

O Quadrado de Alegre

Para relembrar:
"O problema é que não sei sequer que guerra é. Não sei quem me vestiu esta farda, nem quem me mandou para aqui e me pôs uma arma nas mãos. Munições não me faltam, nem rações de combate, nem água. Todos os dias sou reabastecido. Mas também não sei por quem. Não sei tão pouco quem são os meus, nem por que país ou causa estou a combater, se é que combato pelo que quer que seja. Defendo este reduto. É o meu quadrado. Talvez não tenha sentido estar aqui a defendê-lo, mas se o perdesse eu próprio me perderia. O único sentido, que talvez não tenha grande sentido, é defender este quadrado. "
(Texto publicado no Expresso, 30/07/05. O sublinhado é nosso)

domingo, outubro 30, 2005

Manifesto Asneira

"Não sendo nem uma redacção, nem um dicionário, o manifesto só pode ser uma asneira. Passa por um programa de governo, promete a Lua, acicata a esperança de um milagre para o dia em que o dr. Cavaco subir gloriosamente aos céus. No fundo, agrava o pior problema do presuntivo Presidente Cavaco: a desilusão e a fúria do país quando constatar que ele não mudou, nem consegue mudar, coisa nenhuma. Tretas de agora, penas de amanhã. O manifesto é um mistério. "
Vasco Pulido Valente, Público (de sábado)

Tom e Linguagem

A linguagem e o tom da campanha utilizados pela trupe Cavaquista, passam por recorrer à técnica constante do reminder: “há um problema no País – mas Cavaco é a solução”.

Todo o seu discurso é feito de palavras de acção “estabilidade”, “união”, “Portugal precisa de si”. Como diria Max Weber “a obediência é determinada pelos motivos do medo e da esperança”.

Mais do que falar em esperança, Cavaco joga no campo do «medo» e da incerteza do futuro do País. Cavaco utiliza as palavras como moeda de troca pelos votos que espera conquistar.

A política para Cavaco é uma transacção.
A política para Soares é uma relação.


Música de "agitação"



[ "My Generation" - Carregue no play para ouvir ]

sábado, outubro 29, 2005

Como disse, Senhor?

"(só) Cavaco Silva e Manuel Alegre - podem reivindicar a condição de homens livres e independentes de qualquer servidão partidária."
- José Barata-Feyo in Grande Reportagem

Eu, jovem pertencente a uma geração "à rasca" que nada percebe de politiquices, pergunto-me enquanto cidadão céptico: então se tanto Alegre como Cavaco não têm ajuda de qualquer "aparelho", quem é que "banca" a festa? De onde vem o dinheiro para gerir a logística das comitivas, dos beija-mãos, dos comes-e-bebes, dos "outdoors" e dos holofotes mediáticos?

Do próprio bolso não lhes sairá certamente, ou sairá? Pergunto eu, claro, que nada sei destas coisas, apenas de que "não há almoços grátis"!

sexta-feira, outubro 28, 2005

Cérebros: retrato de um país

Quando cá chegam, são desprezados.
Quando cá estão, são convidados a sair.

A esquerda que se esconde das sondagens

A série de sondagens, paineis e barómetros que se ocupam das próximas presidenciais, mostram um grande avanço de Cavaco Silva sobre os 4 candidatos de esquerda.Estes somados pouco ultrapassariam os 30% das intenções de voto.
Deduzo que há muito voto à esquerda que se esconde das sondagens.O importante para a avaliação da saúde da opinião pública em Portugal é entender porque essa intenção de voto mais à esquerda está a passar à clandestinidade.

Citação "du jour"

"O problema nao é salvar Portugal, mas salvarmo-nos de Portugal."
- Jorge de Sena

Joga e Bota Fora

Inês Pedrosa, porta-voz de Manuel Alegre sobre o barómetro de ontem "As eleições presidenciais serão muito mais do que um duelo entre Cavaco Silva e Mário Soares. Serão pelo menos um combate eleitoral a três".
Acho mal... Estão a excluir outros candidatos...

O manifesto pluri-governamental

O manifesto apresentado por Cavaco Silva é uma espécie de plano de fomento que necessitaria da sucessão de muitos governos para ser executado na generalidade.O próprio PR teria de assegurar de antemão vários mandatos para não ter que se resignar apenas a lançar o país numa confusão de objectivos e de prioridades. Manifesto pluri-governamental ou testamento político precoce?

quinta-feira, outubro 27, 2005

Fiquei na dúvida

Não posso falar do manifesto do candidato Soares porque muito sinceramente não o conheço. Mas hoje ao ouvir o manifesto do candidato Silva fiquei na dúvida, estaria ele a falar como se tratasse de um cargo executivo, aquele que almeja vir a ganhar?

Diz-me com quem andas...


Político deste século que Cavaco Silva afirma admirar:
DUARTE PACHECO, ministro de Salazar

(em entrevista à K- ver post anterior)

Lema 2006: Kem tem K sempre esk

O blog Kapa decidiu recuperar uma entrevista de Cavaco Silva, dada à revista homónima em 1991 e conduzida por Pulido Valente. Coisas que se lêem:
"Há quem não aceite os meus critérios de escolha dos ministros. Para mim, a capacidade de análise política ou, por exemplo, de falar muito bem não chega para fazer um bom governante. Acima disso, valorizo a capacidade de executar um programa, de realizar uma obra."
e depois...
"Nunca revelei, e não posso, nem tenciono revelar, o critério que uso para escolher e julgar os meus colaboradores, incluindo os ministros. O que não significa que não siga um critério estrito, desde 1985. (...)Não se sai do governo necessariamente por incompetência. Existem razões políticas, que às vezes só por si obrigam a mudanças. E, de resto, quem não é bom ministro pode ser óptimo administrador ou outra coisa qualquer."
e ainda
"K:Considera ainda a política «a pirueta, o floreado, a retórica»?
(...)Repare, quando fui eleito presidente do PSD, em 1985, os portugueses estavam cansados de um excessivo verbalismo, de promessas vãs, de políticos muito hábeis em jogadas palacianas. Procurei, de facto, tirar benefícios desse estado de espírito, do desejo de outro estilo e de outros métodos. "

Manual de sobre-vivência

Os «Rousseaunianos românticos» desta vida que me perdoem a heresia, mas qual Maquiavel, qual Hobbes, Clausewitz, qual carapuça.
O "48 Laws of Power" é a unica cartilha realista condensada de sobrevivência para a individualista e cínica sociedade de mercado em que vivemos. Fica aqui um lamiré para aguçar o apetite de uma certa plateia do Bichos:

Law 1
Never Outshine the Master
"Always make those above you feel comfortably superior. In your desire to please or impress them, do not go too far in displaying your talents or you might accomplish the opposite – inspire fear and insecurity. Make your masters appear more brilliant than they are and you will attain the heights of power."

Law 2
Never put too Much Trust in Friends, Learn how to use Enemies

"Be wary of friends-they will betray you more quickly, for they are easily aroused to envy. They also become spoiled and tyrannical. But hire a former enemy and he will be more loyal than a friend, because he has more to prove. In fact, you have more to fear from friends than from enemies. If you have no enemies, find a way to make them."

Law 3
Conceal your Intentions

"Keep people off-balance and in the dark by never revealing the purpose behind your actions. If they have no clue what you are up to, they cannot prepare a defense. Guide them far enough down the wrong path, envelope them in enough smoke, and by the time they realize your intentions, it will be too late."

Law 4
Always Say Less than Necessary

When you are trying to impress people with words, the more you say, the more common you appear, and the less in control. Even if you are saying something banal, it will seem original if you make it vague, open-ended, and sphinxlike. Powerful people impress and intimidate by saying less. The more you say, the more likely you are to say something foolish.

Law 5
So Much Depends on Reputation – Guard it with your Life

"Reputation is the cornerstone of power. Through reputation alone you can intimidate and win; once you slip, however, you are vulnerable, and will be attacked on all sides. Make your reputation unassailable. Always be alert to potential attacks and thwart them before they happen. Meanwhile, learn to destroy your enemies by opening holes in their own reputations. Then stand aside and let public opinion hang them."

Law 6
Court Attention at all Cost

"Everything is judged by its appearance; what is unseen counts for nothing. Never let yourself get lost in the crowd, then, or buried in oblivion. Stand out. Be conspicuous, at all cost. Make yourself a magnet of attention by appearing larger, more colorful, more mysterious, than the bland and timid masses."

Law 16
Use Absence to Increase Respect and Honor

"Too much circulation makes the price go down: The more you are seen and heard from, the more common you appear. If you are already established in a group, temporary withdrawal from it will make you more talked about, even more admired. You must learn when to leave. Create value through scarcity."

Law 17
Keep Others in Suspended Terror: Cultivate an Air of Unpredictability

"Humans are creatures of habit with an insatiable need to see familiarity in other people’s actions. Your predictability gives them a sense of control. Turn the tables: Be deliberately unpredictable. Behavior that seems to have no consistency or purpose will keep them off-balance, and they will wear themselves out trying to explain your moves. Taken to an extreme, this strategy can intimidate and terrorize."

Law 25
Re-Create Yourself

"Do not accept the roles that society foists on you. Re-create yourself by forging a new identity, one that commands attention and never bores the audience. Be the master of your own image rather than letting others define if for you. Incorporate dramatic devices into your public gestures and actions – your power will be enhanced and your character will seem larger than life."

O que nos separa

Quando tomei a decisão de apoiar a candidatura de Mário Soares, particularmente de ser Mandatária para a Juventude, deliberei, por mote próprio, não ir mais às reuniões da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda, órgão máximo do partido e da qual, por eleição, faço parte. Até Janeiro não as frequentarei.
Ninguém do Bloco me ditou a regra. Ninguém do Bloco me disse “Não venhas”. Eu própria entendi que, sendo forçoso e natural que nas reuniões da Mesa Nacional se discuta a estratégia presidencial do Bloco, não era correcto eu apresentar-me. Assim foi no sábado passado e assim será até às presidenciais.
Creio, aliás, e tendo em conta que sou dirigente do Bloco mas apoio outra candidatura, não poderia ser de outro modo.
Com esta experiência custa-me ainda mais a entender a posição de Manuel Alegre e de Helena Roseta relativamente à comissão política do PS. As eleições presidenciais não são partidárias e não devem ser partidárias. Mas há partidos que apoiam os candidatos Soares, Cavaco, Louçã e Jerónimo. Lá porque Alegre não é apoiado pelo partido em que militou durante anos e anos, no qual disputou eleições para secretário-geral há bem pouco tempo atrás, não pode denegar o facto que o partido não o apoia. Nessas reuniões da comissão política do PS são discutidas as estratégias relativamente a Soares. É, como referi em relação ao BE, natural que assim seja e independentemente do facto de cada candidatura ter os seus órgãos próprios.

A inauguração da sede de candidatura de Mário Soares

Muito povo na inauguração da sede de candidatura de Mário Soares.Muita juventude e um discurso notável da minha parceira de blogue, calorosamente aplaudido.
De repente pensei que a Joana Amaral Dias pode estar para a candidatura de Mário Soares, como este esteve, como mandatário da juventude, para a candidatura de Norton de Matos.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Concurso de gaffes

Mário Soares respondeu, ontem, a muitas perguntas de jornalistas,sendo que alguns chegaram a formular várias na mesma intervenção, umas mais precisas do que outras, se me é permitida uma avaliação não-corporativista.Sem qualquer mediação, nem qualquer assessor por perto, o candidato enfrentou a bateria de questões com à vontade.Por vezes pediu para repetirem as perguntas, e bastaria que a regra estabelecida fosse que cada jornalista fizesse uma só, como acontece por esse mundo livre fora , para o ter evitado.Também foi impreciso quanto aos anos de SG do PS, e aposto que se eu perguntar de chofre ao JMF durante quanto tempo ele foi sub-director do Público, ele é capaz de não saber ao certo, sem que isso o desqualifique como actual director.Soares também disse mandatário em vez de porta-voz, e,não disse que a questão do referendo sobre a IVG já está a ser apreciada no Tribunal Constitucional, sem que se saiba se sobre a forma , consubstanciada na específica questão magna desta enorme sessão legislativa,se sobre o conteúdo.Tanto bastou para que os sábios do momento recenceassem essas «confusões».

Por mim acho-as benignas, sobretudo se comparadas com as confusões de Cavaco, que já fala como PR e já trata o Parlamento como se este fosse a insignificante Assembleia Nacional.

Eu até acho que os apoiantes do professor deviam propor a restauração do nome da Assembleia Nacional.Para ele tornar a gaffe numa previsão.Caramba,quem não percebe a diferença das gaffes?!


terça-feira, outubro 25, 2005

Música de "agitação"



Pelo regime democrático, contra o situacionismo.

Foi um Mário Soares cheio de energia que apresentou o seu manifesto eleitoral e respondeu a todas as perguntas dos jornalistas.Mais de uma hora de pé, sem assessores por perto, dominou a cena e deu o ritmo da passada para a maratona.Ainda não será desta que o regime democrático ficará à mercê dos indiferentes e dos seus inimigos.
Afirmou-se pela estabilidade, mas referiu nunca ter sido um situacionista, como as presidências abertas no tempo das maiorias absolutas de Cavaco Silva confirmaram.E apelou à concertação social para levar para a frente as reformas em curso.Aqui é que os cavaquistas se vão revelar.
Também não escondeu os seus apoios partidários.
E gostei de ver os dois mandatários lado a lado, Vasco Vieira de Almeida, o nacional, e Joana Amaral Dias, para a juventude, serenos nas suas convicções.Representando todos os apoiantes.Que são cada vez mais.

O povo é sereno...

Vem aí mais uma eleição presidencial. A minha opção de cidadania não é tabu: votarei em Mário Soares, mas não prescindo, na minha qualidade de jornalista e comentador político, de dizer o que muito bem entender.Não tenho deveres de militância e prezo muito a minha independência de espírito.
Gostaria, sobretudo, que esta eleição fosse um sintoma de maturidade da democracia portuguesa, um desiderato que já foi alcançado na escolha de deputados e de autarcas. Estou, por sinal, convencido de que as candidaturas que procurarem remeter a escolha do próximo Presidente da República para um problema de regime correm o risco de esbarrar num muro de credibilidade que a opinião pública, na sua esmagadora maioria, não aceitará.
Aguardemos os debates, as mensagens dos candidatos e desdramatize-se o que deve ser encarado como uma escolha - importante, sem dúvida - de uma sociedade que não está à beira do colapso. O sistema político está construído com um conjunto de poderes e contra-poderes que tem evidenciado um equilíbrio decisivo em conjunturas de maior crise. Não há, em minha opinião, motivos suficientes para pôr em causa o semi-presidencialismo resultante da sábia revisão de 1982. Nem me parece que isso passe pelas intenções dos candidatos mais credíveis que já estão no terrreno.
Percebo os arroubos de entusiasmo de quem agora se vê na primeira linha de uma militância porventura inesperada, mas convém não perder de vista o arquétipo onde se movem e irão mover os sujeitos que farão as circunstâncias.

Realmente durante os dez anos enquanto primeiro ministro a coisa não correu bem

«O professor Cavaco Silva nunca foi presidente da República, nunca teve a possibilidade de mostrar de que forma pode ajudar o país». Kátia Guerreiro, mandatária para a juventude da candidatura de Cavaco.
(no Público de sexta feira)

Dear Mrs Parks

A big journey

Belle de Jour

A propósito da discussão sobre a possível alteração à lei sobre a prostituição, é importante distinguir a prostituição voluntária e a forçada, ligada ou não a tráfico. Esta última deve ser condenada e legislada enquanto tal. E só esta distinção, aliás, permitirá combatê-la com eficácia. Quanto à primeira, aos homens e mulheres que se prostituem voluntariamente, é necessário enfatizar dois aspectos. O primeiro é que devem existir, efectivamente, medidas preventivas. A maior parte delas ligadas ao combate à pobreza e ao desemprego, educação e educação sexual, abuso sexual nas crianças, prevenção da gravidez adolescente, etc.. E implementarem-se medidas e programas para os que querem deixar de se prostituir. Em Portugal tem passado essencialmente (e salvo raras e honrosas excepções) por aulas de crochet.
O segundo é que, independentemente dessas medidas, há mesmo quem queira prostituir-se. Por diversas razões. Uma delas é o dinheiro. Aqui há que re-avaliar a prostituição enquanto uma categoria social muito particular, como mulheres e homens que não aderem às normas e regras sexuais, como alguém que merece pena ou desprezo, ocupando uma posição marginal, e negando-lhes protecção e garantia de direitos humanos.
Apenas a validação da prostituição voluntária, que entretanto substituiu o discurso abolicionista na cena internacional, verdadeiramente desafia as perspectivas tradicionais sobre a sexualidade, frequentemente conjugada no modo criminal ou estigmatizante. As mulheres e homens que escolhem serem prostitutos e recusam o estatuto de vítimas são ostracizados e desprezados. Pela sua transgressão “merecem o que têm”. Contudo, se é verdade que a distinção entre voluntária e violentadora se tem vindo a consensualizar (muitas vezes como consequência das reivindicações e organizações de muitas prostitutas) nenhum acordo internacional condena os abusos dos direitos humanos dos trabalhadores do sexo, sendo apenas trazidos à luz para exemplificar a prostituição forçada ou mesmo para justificar as políticas de combate ao tráfico, a maioria das vezes assentes em medidas restritivas em relação à prostituição.
A maioria das vezes favorecendo os de terceiros, como clientes, proxenetas, mediadores, traficantes e managers.
Outras formas de regulamentação ou legalização parciais revelaram também desvantagens, realçando mais o elemento de controlo da prostituição, falhando na concessão de benefícios, tais como baixa médica, seguro de saúde, segurança social ou outros. Mesmo na Holanda, onde a prostituição é legal desde 2000, ou na Alemanha, muitos investigadores e técnicos questionam a suas vantagens, apontando a vulnerabilidade das prostitutas imigrantes ilegais, a ausência de medidas contra a estigmatização social e de programas de informação, continuando a polícia, o ministério das finanças e as autoridades na imigração a serem os únicos actores a lidar activamente com a prostituição.
Muitos dos que e prostituem voluntariamente são sujeitos a abusos semelhantes aos experimentados por outros trabalhadores em condições precárias e de exploração. Contudo, a sua posição marginal exclui-os das protecções nacionais e internacionais oferecidas a outros cidadãos.
Uma abordagem baseada nos direitos humanos e uma perspectiva baseada na saúde pública é crucial. Efectivamente, este tipo de abordagens tem sido escassa e praticamente apenas preconizada por alguns grupos não governamentais de defesa da saúde pública e pelas próprias organizações de prostituição, que reivindicam que a sua actividade seja perspectivada como um trabalho, aplicada a legislação do trabalho, evitando o abuso e a exploração, que as suas queixas sejam tomadas seriamente e que, em vez de serem perseguidos ou presos, sejam defendidos e levados a participar nas decisões políticas.
A proibição da exploração da prostituição é uma medida necessária mas é um substituto pobre dos direitos humanos universais.
Para quem quer aprofundar este assunto recomendo o livro de Alexandra Oliveira, investigadora que baseia as suas propostas a partir das intervenções no terreno e definindo um quadro realista e corajoso.






Futebol no Beato

Esta noite o futebol foi ao Convento do Beato, onde a comissão da FIFA que organiza o próximo Mundial na Alemanha deu uma recepção para desejar as boas vindas à equipa portuguesa que se apurou para a fase final.Franz Beckenbauer apresentou os 12 estádios, e as 12 cidades que irão receber jogos e adeptos.
Os números dos milhões de euros gastos para o evento encontram-se indicados na documentação distribuída pelos convidados e certamente a imprensa dará conta deles.O sistema de transportes entre as cidades foi posto em relevo também.Uma forma de dizer que a Alemanha unida está a integrar-se e que o futebol está a contribuir para isso.Gostei de lá estar.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Declaração de interesses

A semana que passou foi fértil no aparecimento de comentadores políticos, alguns deles conhecidos jornalistas.Nada tenho contra os jornalistas-comentadores, e tenho aprendido com muitos.Mas neste período marcado por uma clara opção presidencial, não ficaria mal aos mais empenhados numa candidatura declararem essa opção.Ajudaria ao entendimento do que dizem.

domingo, outubro 23, 2005

Gripe


The birds...
Hitchcock apresenta.







Some let me make you of the heartless words.
The heart is drained that, spelling in the scurry
Of chemic blood, warned of the coming fury.
By the sea’s side hear the dark-vowelled birds.
Dylan Thomas. The Collected Poems, 1956, Ed. New Directions. Especially When the October Wind (l. 29–32).

O candidato, a mulher, os netos, o betão e os cortinados.

É bom sabermos que Cavaco não vai fazer campanha com a família. Deve ser por isso que escolheu o 42º aniversário de casamento para apresentar a sua candidatura e que Maria esteve em lugar de destaque. Também deve ser por isso que a senhora e os netos aparecem na primeira página do Expresso. Compreende-se que urja humanizar a imagem do cavaquismo do betão. Mas a fórmula podia ser menos paradoxal e menos déjà vu.
Sobretudo mais arejada.

Máquinas de campanha

"There are times in politics when you must be on the right side and lose." - John Kenneth Galbraith

Soares e Cavaco. Diferentes personalidades, diferentes estilos, diferentes amigos. É interessante ver que Soares consegue despertar um movimento de apoio espontâneo materializado num blogue pluralizado por 13 comentadores. Já os amigos de Cavaco recorrem a esta grande instituição "fazedora de opiniões".


PS:: Antes de começarem o chorrilho (ou não) de críticas, que são sempre bem-vindas neste espaço aberto (desde que não roçem o verbetim mal-educadeco), advirto já que 1) O meu voto ainda não tem um candidato idealizado; 2) O comentário acima feito não é uma interpretação, é a pura "verdade efectual da coisa", como diria Nicolo Machiavelli.

Shirley Horn


Here's to life

A crítica a Cavaco

José António Saraiva, Expresso:
"Cavaco aparece como um candidato não envolvido em polémicas, sozinho no seu campo, não preocupado com os outros mas centrado no país.
E a verdade é que, historicamente, tem sido esse o seu lugar."

sábado, outubro 22, 2005

Eanes repete apoio a Cavaco Silva


António Ramalho Eanes, o primeiro presidente da República eleito livremente por sufrágio directo e universal, encabeça a lista de apoiantes de Cavaco Silva, como já o fizera em 1996, quando este perdeu à primeira volta para Jorge Sampaio.
Fiz parte das comissões políticas das suas candidaturas a PR , e tenho pelo General a maior das considerações.Aliás, só a sua excessiva modéstia o faz apoiar quem nunca desceria do seu pedestal para fazer o mesmo.
Os resultados desses apoios são muito indirectos, como se viu da primeira vez em que Cavaco perdeu sem apelo nem agravo.
Acho que Ramalho Eanes devia manter-se neutral , porque a República precisa de reservas sérias.Arrisca-se assim a ficar subalternizado por subalternos.Mas desde já rejeito ataques infantis à sua pessoa.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas

Digam lá que não foram catitas os actos falhados do Prof. Cavaco à entrada para Universidade Católica e quando inquirido sobre o aborto:
"Penso que um Presidente da República não se deve pronunciar, quer dizer um candidato a Presidente da República"(...)
"As propostas da Assembleia Nacional, isto é da Assembleia da República".

Atenção ao espelho...

A história eleitoral recente da democracia portuguesa está repleta de exemplos: quando se pressente que alguma coisa não está a correr bem, responsabiliza-se a Comunicação Social. Mesmo não ignorando que há quem, nos media, tenha e persiga uma agenda própria, manda a lucidez que não se subestime o discernimento de uma parte já muito alargada da opinião pública portuguesa, que não é susceptível de se deixar influenciar por supostos e «sinistros» (neste caso seriam «destros»...) manipuladores semi-ocultos.
A lógica das prioridades dos media está hoje muito condicionada pela suposta percepção daquelas que se julgam ser as preferências dos públicos, leitores, ouvintes ou telespectadores. Em segmentos de mercado mais restritos, no chamado universo de «referência», acresce um esforço de maior pluralidade, que, mesmo assim, não escapa também aos ditames das correntes dominantes.
Não há, então, nada a fazer ? Há, seguramente. Mire-se o espelho antes de olhar para o lado e depois tente-se entender o que é possível corrigir. Ainda se vai muito a tempo.
Como é óbvio, tudo isto em a ver com as presidenciais...

A longa resignação de Cavaco Silva

A apresentação da candidatura de Cavaco Silva não trouxe nenhuma novidade.Das frases fabricadas pelos profissionais de marqueting-profissão que , injustamente, não foi referida no discurso -refira-se o EU NÃO ME RESIGNO, que, por vias das dúvidas de interpretação do lead a destacar, figurava em título!
Ora a frase esbarra com o comportamento politicamente receoso do personagem, que se resignou a não apresentar candidato à eleição presidencial em 1991quando era um apartidário e amador chefe do PSD, o partido governamental da altura.E desfez-se no apoio a Mário Soares.Quando a crise europeia se perfilou em 1993 começou a elaborar a teoria do tabu que o levaria a resignar-se de primeiro ministro e de líder-mesmo que improfissional-do PSD.Meses depois da derrota do homem que teve de perder por ele, Fernando Nogueira, apresentou-se com amadorismo às presidenciais de 1996, perdendo as eleições à primeira volta.Voltou a resignar-se em 2001 e esteve 10 anos a contemplar a deriva do país, em parte conduzida por gente que havia escolhido para os seus governos.
Cavaco Silva , obviamente resigna-se.

Carnaval

(António José Teixeira)

A jota é tramada

Candidato conta-gotas

Anos e anos para apresentar uma candidatura. Meses de preparação de detalhes. Semanas de sound check, treino ao espelho e de feng shui da sala do faraónico CCB. Para dizer o que todos sabíamos. Projecto para o país? Nicles. E a dúvida sobre a interpretação do papel do Presidente continua. zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Copy Cat

Rebelo de Sousa tem um blog não oficial de apoio à candidatura de Cavaco. Chama-se super cavaco imitando o Super Mário. Daaahhh... que falta de imaginação. 7 valores, Prof. Marcelo.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Candidato ACS

O que é o candidato A[A]CS? Se vocês respondeu candidato Aníbal [António] Cavaco Silva, acertou. Mas se respondeu Apoiado [e Apadrinhado] pela Comunicação Social, acertou também e ainda melhor.
Recebido por email.
Leitor DEVIDAMENTE IDENTIFICADO.

A tropa ou a SIDA

A propósito da minha posição contrária às Forças Armadas no que respeita à exigência do teste do HIV e hepatites, e que expressei no DN, recebi dois mails de contestação:
"Imagine acesso livre a "doentes" dependentes de drogas,com sida ,homossexuais e lésbicas, obesos e já agora porque discriminar deficientes? Qual seria o resultado? Vejo que andamos sempre a nivelar por baixo..." (F. Lagarto)
e ainda:
"Para mim a Joana está a avaliar mal a situação. Felizmente não tem a vivência de situações extremas. Ora imagine lá uma situação de combate onde o sangue esguicha e banha tudo à sua volta. Para já, só por isso, há o perigo de contágio, para quem está à volta, tenha ficado também ferido ou não. E depois há que ajudar os camaradas feridos. Acha que há tempo ou presença de espírito para calçar umas luvas, pôr uns óculos de protecção ou uma máscara? E isto se houvesse tal equipamento disponível de forma universal entre as tropas. Por muito que lhe custe a política das FA está correcta, aliás deveria ser estendida às Forças de Segurança. E não se compare com outras profissões de risco na área dos cuidados de saúde. Estar em combate não é o mesmo que estar nas urgências ou numa sala de operações. No tocante ao fundamento científico já alguém fez uma avaliação do perigo de contágio nestas condições? (P. Peres)
Portanto, um defende que a exclusão faz parte de um critério mais amplo, o outro que há perigo de contágio em situações de combate.
Em primeiro lugar, não há nenhum motivo para que a infecção por HIV deva ser um critério de exclusão. Ao contrário de uma pessoa com asma, com uma deficiência, etc., um indivíduo portador do HIV (e não com SIDA) encontra-se na posse das faculdades físicas e psíquicas para o desempenho das suas funções nas FA. É o oposto disto que teria que ser provado para justificar a actual prática de exclusão liminar. A infecção por HIV, felizmente, e fruto dos avanços farmacológicos, é um quadro clínico que pode ser estável durante décadas, permitindo o normal e regular funcionamento, sem incapacitação.
Quanto à possibilidade de contágio em combate, é necessário sublinhar que nem todos os admitidos nas FA vão estar em combate. Além do mais, a despitagem do HIV aquando da entrada do candidato apenas pode dar uma falsa ilusão de segurança. Qualquer um pode ser infectado no dia seguinte.
O coordenador nacional da infecção HIV/Sida, Henrique Barros, considera-a uma discriminação: "O problema que se põe é o da razoabilidade dessa discriminação, sem fundamento científico'. Considerando que a questão da aptidão física, determinante no acesso às FA, "se coloca de igual modo a infectados e não infectados" e que "se uma pessoa num dado momento tem as aptidões físicas necessárias deve ser admitida". Não estando em causa o risco de terceiros ("A hipótese de transmissão do HIV, como das hepatites víricas, não se coloca nas situações profissionais") "não faz sentido a eliminação pura e simples dessa pessoa"."Em teoria, a probabilidade de alguém infectado vir a ter problemas de saúde é maior que a de um não infectado, tal como a probabilidade de um fumador é maior que a de um não fumador. E admito que se use o argumento de que um militar está numa situação em que está mais sujeito a expor terceiros ao seu sangue. Mas isso também se passa com os profissionais de saúde, e não impedimos pessoas com HIV de serem médicos."
O hepatologista Rui Tato Marinho concorda. "Esse tipo de situação tem de ser apreciado caso a caso. Do ponto de vista médico e patológico não me faz sentido que se exclua liminarmente qualquer portador dos vírus das hepatites B e C."
Miguel Oliveira da Silva, professor de Ética Médica na Faculdade de Medicina de Lisboa e membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida , vai mesmo ao ponto de reputar a exigência das FA como "inaceitável". Para este obstetra, há duas questões éticas em causa a do "consentimento informado" subjacente à realização das análises, já que a sua não aceitação é um factor de exclusão (o que prejudica a ideia do "consentimento"), e a eliminação de todos os infectados. "O Conselho pode e deve debruçar-se sobre esta questão", afirma, lamentando que para tal seja necessário "o pedido de um organismo institucional" - "Devia poder ser um cidadão a requerer o parecer"."Estado dá mau exemplo".
A mesma opinião, mas do ponto de vista do direito, tem o jurista António Garcia Pereira, especialista de direito do trabalho e membro da Associação Portuguesa dos Direitos dos Cidadãos. "A pura e simples exclusão de um cidadão candidato seja ao que for, portador do vírus da hepatite B ou C ou do HIV, só poderia ser justificada caso esteja/seja demonstrado que tal circunstância determinava ou inaptidão para as funções que pretende exercer ou risco para a vida e/ou integridade física do próprio ou de terceiros. Sem tal demonstração, a exclusão pura e simples e à partida afigura-se-me completamente ilegítima."
A Abraço, pela voz de Margarida Martins manifesta a sua indignação e a SOS Hepatites, representada por Val Neto, avalia a ironia da situação (também frisada pelo director executivo da Onusida, Peter Piot). "Isto é, depois das campanhas contra a discriminação uma vez por ano, o bom exemplo que o Estado dá à sociedade civil. Se a filosofia fosse de aproveitamento e não de exclusão, a preocupação das Forças Armadas devia ser pegar nessas pessoas e mostrar para o resto da sociedade que podem e devem ser integradas.
Paula Policarpo, jurista, sublinha o facto de o valor jurídico da tabela tabela de inaptidões e incapacidades das FA (Portaria n.º 790/99), ser "infralegal" (ou seja, inferior ao da lei) e lembra que "neste país existem inúmeros actos normativos - nomeadamente portarias, decretos regulamentares, despachos, etc. - ilegais, e que durante muito tempo produzem efeitos sem serem impugnados".Dá-se a coincidência de ter sido esse o caso da formulação anterior da dita tabela, ou seja, da Portaria n.º 29/89, que incluía a homossexualidade como um impedimento no acesso ao serviço militar , classificando-a como doença mental e como "desvio e transtorno sexual". A inconstitucionalidade da norma (o então provedor de Justiça, Menéres Pimentel, considerou-a "constitucionalmente intolerável") levaria à sua alteração, em 1999.

O King e o Bolo Rei

Mas que raio de ideia, essa de levar um candidato a PR (not public relations) ao King! Devias tê-lo convidado para o Cinema President.... vão acusá-lo de veleidades monárquicas. Já agora, O OUTRO, o candidato do bolo-rei, teve a esperteza de arranjar uma artista que todas as noites lhe vai cantar o fado – Kátia melhor que «Alice»?! E os restantes presidenciáveis, nesta campanha Alegre, quem vão convidar para representante dos (e junto dos) jovens apoiantes? O Manel, a Roseta?; o Jerónimo, a Odete? E, que raio, não há jovens masculinos mandatáveis? Só cum uma candidata tipo Hillary! Por exemplo, a Maria José Morgado, que poderia nomear UM HOMEM A SÉRIO PARA MANDAR NELA, talvez o Saldanha Sanches. Seria um daqueles delegados impostos.
Recebido por email.
Leitor DEVIDAMENTE IDENTIFICADO.

A «Cavacada»

Os meus amigos fervorosos entusiastas da (re)candidatura de Mário Soares aplicam-se, com entusiasmo compreensível, na «cenarização» da pré-campanha do velho leão da democracia portuguesa.
Receio - e digo receio porque, embora sem «fervoroso entusiasmo», já tenho voto entregue - receio, dizia eu, que haja algum desfasamento entre o que tem sido feito e aqueles que são os novos vectores de mobilização da sociedade portuguesa. Uma candidatura presidencial, em 2005, não se afirma com base em iniciativas de angariações de apoios ou de notoriedades como acontecia há 10 ou há 15 anos. Veja-se, por exemplo, o cuidado com que a «Cavacada» vai seguindo esses sinais de mudança...
Pode ser que me engane, mas o mais prudente é contar apenas com o Benfica para me dar alegrias colectivas nos próximos meses

Vacina contra o pânico, -sida, vacas loucas e gripe das aves

Brotam múltiplos os especialistas em pandemias.Agora todos sabem tudo sobre a gripe das aves.Das terras do Drácula esperam-se os fenómenos mais horripilantes.Daquela mistura de cristianismo ortodoxo e de islamismo imperial até a mutação genética parece mais verosímil , embora hoje as notícias sejam mais reconfortantes.O bicho ,a fazer mal aos humanos ,ainda não ultrapassou os estreitos dos Dardanelos e do Bósforo !
Não que deixe de acreditar em tudo que concentradamente me explicam na rádio, na televisão e nos jornais.Foi assim com a internacionalizaçãoda sida e com o caso estritamente europeu e português das vacas loucas.O combate à luxúria e à gula continua.Regressamos ao vale de lágrimas.Por favor não entrem em pânico.Os Estados è que devem comprar o máximo de vacinas que o líquido não vai dar para todos, diz um perito não sei de quê ,nem donde vem.Puxa,o ambiente no Titanic era mais alegre!

"Elos" adicionais

Avisa-se tripulação, curiosos e visitantes da "obra carpinteira" de que foram adicionados novos links, a saber:

\\\\ Edge Foundation
Skeptic Magazine ////

Os "sinais"

De acordo com Jared Diamond, Professor da UCLA e autor do livro "Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed", existem duas causas principais (que mais não são do que tautologias) que levam ao colapso das sociedades:

1. The Isolation of the Elite
"The people in power, who are running the country, loose touch with the mood, feelings and issues that the rest of the population faces."

2. Failure to Adapt the Core Values
"Societies are founded with a set of principals or values. If these values don't change or aren't updated to be relevant to the age, the society can fall."


O Malcom Gladwell de quem eu gosto bastante (vide "The Tipping Point") escreve uma interessante crítica no The New Yorker sobre o livro do Professor Jared, a qual vale a pena ler.

A desresponsabilização de Sócrates

Não sei se Villaverde Cabral, apoiante de Cavaco Silva, está baralhado. Mas parece. No Público de hoje (linkador pagador) defende o reforço da presidencialização do regime. Acha que para tal não é necessária nenhuma alteração à Constituição e que perante a crise económica e partidária actual só faz sentido que o investimento simbólico e político feito na eleição do Presidente tenha consequências como um “efectivo controlo do executivo”, designadamente com a possibilidade de presidir às reuniões do Conselho de Ministros. Defende que, caso Cavaco Silva seja eleito, este deverá ser o seu papel. Entretanto, no Fórum da TSF, o assunto está em debate. Chamado a participar, Villaverde Cabral reforçou esta sua ideia. E afirmou que, tal como no semi-presidencialismo francês, este sistema funciona melhor quando há “sintonia partidária entre a maioria parlamentar e o presidente eleito”. Aqui, disse o sociólogo, “a eleição de Cavaco Silva levanta problemas políticos”.

Ralhete ou justiça?

O jornal Público de hoje destaca a notícia do New York Daily News de ontem, onde se dá conta do clima tenso que se vive na Casa Branca perante a possível conspiração política e a acusação a Karl Rove, na exposição e identidade de Valerie Plame, agente secreta da CIA. Diz o jornal:

"An angry President Bush rebuked chief political guru Karl Rove two years ago for his role in the Valerie Plame affair, sources told the Daily News."He made his displeasure known to Karl," a presidential counselor told The News. "He made his life miserable about this."
Bush has nevertheless remained doggedly loyal to Rove, who friends and even political adversaries acknowledge is the architect of the President's rise from baseball owner to leader of the free world."

É bom recordar o que Bush disse repetidas vezes no passado:
"If there's a leak out of my administration, I want to know who it is (...)If the person has violated law, that person will be taken care of. I welcome the investigation. I am absolutely confident the Justice Department will do a good job. I want to know the truth. Leaks of classified information are bad things."

O rapto

A declaração de Lawrence Wilkerson, braço direito de Collin Powell, ontem:
"Vice-President Dick Cheney and a handful of others had hijacked the government's foreign policy apparatus, deciding in secret to carry out policies that had left the US weaker and more isolated in the world".
Mas tem mais...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Citação do dia

"A maioria dos portugueses não tem medo nenhum de andar a 180 à hora numa auto-estrada, mas falem-lhes em pandemia e ficam paralisados de terror, prontos a barricarem-se em casa.

Sabendo que as pessoas adoram ter medo, os cientistas adoram assustar-nos. É a sua fonte preferida de poder e legitimidade."
- Domingos Amaral in Diário Económico

O teste das farmácias

José Sócrates,dentro da velha regra que o mal se faz de uma só vez e o bem pouco a pouco, começou no seu discurso de posse na Ajuda , em Março, por anunciar o seu combate aos corporativismos.E deu como exemplo o fim dos privilégios de que gozam entre nós as farmácias e seus proprietários. Era uma forma de dizer que nem os mais poderosos escapariam ao seu modo de governarEntretanto ocuparam-no com as medidas de cortes na função pública.E eis que regressa agora às farmácias.Este é o verdadeiro teste.Estava escrito.

Direito à palavra

“It has to be the thing you loathe that you tolerate, otherwise you don’t believe in freedom of speech.”
- Salman Rushdie (1993, Secrecy and Censorship, in E. Hazelcorn & P. Smyth, Let in the Light: Censorship, secrecy and democracy, p.36)
Ontem na Assembleia da República discutiu-se a alteração à legislação sobre manifestações, que se mantém desde 1974 e na sequência das polémicas e recentes autorizações de manifestações de conteúdo racista e homofóbico. Sobre esta matéria já aqui referi que defendo o direito à manifestação. E não apenas manifestações com as quais concordo. Defender a liberdade de expressão apenas para aquilo com que concordamos é fácil…e perigoso.
Neste sentido, e até porque a prática já é outra, defendo a alteração à lei.
Não posso deixar de sublinhar, contudo, que a defesa da liberdade de expressão não deve ser cega ao equilíbrio delicado desta questão. Nomeadamente quanto ao incitamento à violência e, já agora, a QUEM tem o direito de se manifestar.
Finalmente, as forças partidárias não podem confundir a defesa da liberdade de expressão com a defesa dos valores que professam. Autorizar uma manifestação xenófoba é uma coisa. Manter o silêncio sobre a ideologia que defende é outra.

Super Mário

Blog não oficial de apoio à candidatura de Mário Soares. Colaboram Ivan Nunes e vários ex-barnabitas: André Belo, Pedro Oliveira e João MacDonald. São do Super-Mário também Filipe Nunes, Pedro Adão e Silva, Mariana Vieira da Silva, Migue Cabrita, Rui Branco, João Pinto e Castro. O politólogo André Freire e Vital Moreira também lá estão.

terça-feira, outubro 18, 2005

No wild child

O Turner Prize, que premeia artistas britânicos, é um dos mais controversos e prestigiados. Este ano uma das favoritas é Gillian Carnegie que “apenas” pinta. Não há instalações, vídeos, retretes partidas, reciclagem ou perfomances na sua obra. Há as categorias convencionais da pintura. Naturezas mortas, paisagens e nus com um twist. Um certo domínio da técnica (mais na textura do que na cor) e uma personalidade discreta. Depois de ter passado anos a chocar, o Turner Prize parece apostar (outra vez através de uma desconhecida) na fórmula que a tradição é a nova heterodoxia. E depois? A pintura ainda não morreu?

Cavaco e o golpe de estado

Já foi há uns dias, mas aqui fica, até porque o destaque na blogosfera foi mínimo: a entrevista de Morais Sarmento, ministro da Presidência do Governo PSD/CDS, ao Diário Económico:
”(...) Morais Sarmento: Apresentando-se desta forma ao país, o Presidente deixa de estar às quintas-feiras a receber o primeiro-ministro para comentar a situação do país e passa a estar às quintas-feiras a receber o PM para julgar em que medida o Governo está ou não a cumprir as directrizes. Enquanto estes pontos forem respeitados na livre decisão do Governo, tudo bem. Quando qualquer destes pontos for tocado, o Governo terminou nesse dia. Com ou sem maioria.
Diário Económico: O que sugere é quase um golpe de Estado ao actual sistema…
MS: A encruzilhada em que o país se encontra exige mais. Há um programa presidencial que se deve sobrepor à acção dos governos, balizando-o. E é pelo respeito por essas balizas que o Presidente da República passa a avaliar o desempenho de qualquer governo. (…)"

Mário Soares expulso do prime time

Ontem Mário Soares reuniu, pela primeira vez, a comissão política da sua candidatura no Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, para discutir o manifesto eleitoral, cujo rascunho redigira. Ao olhar em volta não vi mais ninguém que o tenha ouvido apresentar outro manifesto elaborado por ele em 1965, no qual se defendia a aplicação do príncipio da auto-determinação para as colónias, dado que a guerra não seria uma solução. Só 10 anos depois os situacionistas da altura acordaram para a triste realidade.
Ontem a sala escutou e discutiu um texto que servirá a Mário Soares para demonstrar que, se querem ideias para o País, podem contar com ele.
Curioso mesmo foi ver os telejornais todos cheios de imagens de galinácios depenados a cacarejar em grande plano, depois do orçamento, e muito antes das declarações do jovem professor universitário Severiano Teixeira, porta-voz da candidatura. Passou tão tarde que o Paulo Gorjão, no seu observatório, não as viu certamente. Caso contrário não teria feito aqueles comentários no Bloguítica. A não ser que a revista RI o enerve para além do razoável...
Razão tem o Francisco Trigo de Abreu no Mau Tempo no Canil. A comunicação social anda torcida...ou retorcida.

Privatizações, para quê?

O orçamento de estado aposta seriamente nas privatizações e, ao que parece, sobretudo no sector energético. O choque fiscal falhado.

Prós e Contras

Ontem os Contras estavam onde?

segunda-feira, outubro 17, 2005

Nobre Nobel ?

Parece que alguma direita da blogosfera ficou incomodada com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Harold Pinter. Sem dúvida que o dramaturgo tem tido posições políticas. Como aliás muitos escritores, cientistas ou artistas têm ou tiveram, tendo ou não granjeado o Nobel. O que mais me espanta nesta discussão nem sequer é a incomodidade da direita com as posições de Pinter. Quanto a isso nada de mais natural.
Espanta-me, contudo, que discutam as suas posições políticas sem antes (ou mesmo depois!) discutirem a justeza da atribuição do prémio, a qualidade e importância da obra de Pinter.
O que dizer, então, da atribuição do prémio Nobel a Naipaul em 2001?

Lunch between pals

It is not hard to see why Bush and Barroso hit it off. Both are fiercely pro-free market, believe in an iron-tight trans-Atlantic partnership, take a tough line on terror and hail from the right of the political spectrum. Bush will also forever be indebted to the former Portuguese premier for organizing a summit of pro-war leaders in the Azores on the eve of the invasion of Iraq in 2003.
The warmth seems to be reciprocated. With Bush's approval ratings in Europe hovering around 25 percent, there are not many politicians would dare to claim: "President Bush and I share the idea that our strategic partnership should serve to promote democracy, human rights, rule of law, and market economy around the world." (United Press International)

O Orçamento vem aí!


O Orçamento vem aí com o seu cortejo de previsões adequadas que serão rebatidas pelos economistas da oposição com o mesmo espírito científico.Porque será que nas circunstâncias actuais os situacionistas perdoam os erros nas contas e são tão vigilantes para com as palavras malditas?Muito curioso...

domingo, outubro 16, 2005

Concentração de blogues

Também nos blogues o movimento de concentração parece imparável!
Por exemplo, a artesanal e unipessoal Grande Loja dos Trezentos, fabricada pelo Francisco Trigo de Abreu, encontra-se abandonada pelo dono, que se juntou ao evocativo nemesiano do Mau Tempo no Canil ,do Martim Silva.Para os bichos será assim mais fácil ler os dois ao mesmo tempo!E há sempre a hipótese de um encontro furtivo na esquina da pastelaria Cister...

sábado, outubro 15, 2005

A Diplomacia da libertação

Nos últimos tempos a nossa diplomacia,lato senso, tem vindo a especializar-se em diligências ordinárias e extraordinárias para libertar nacionais presos em diversos países acusados de tráfico ou uso de drogas. Ainda há pouco tempo assisti à vinda para Lisboa de um jovem português libertado graças aos cuidados discretos de um nosso Embaixador num Estado do norte de África.Antes essas diligências eram feitas silenciosamente, agora as trompetas da comunicação social não só pressionam as autoridades portuguesas publicamente como colocam as dos outros países numa situação de rendição , ou de intransigência , pouco inteligente para o êxito pretendido.Dá a impressão que há quem queira medir forças em público.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Imagologia partidária



"In the last few decades, imagology has gained a historic victory over ideology (...) Public opinion polls are the critical instrument of imagology's power, because they enable imagology to live in absolute harmony with people."
- Milan Kundera, Immortality

Com o triunfo da imagem sobre a ideologia, os partidos lentamente deixarão de ser os centros de poder. E como nota João Pereira Coutinho (vide Expresso 7 Outubro) "surgirão vozes individuais que terão papel principal no filme colectivo".
Um filme colectivo sem ideais, mas com muita imagem e ruído.

Pauleta,Eusébio e...José Águas.

Pauleta, o ponta de lança açoriano que é presentemente titular da selecção nacional, acaba de bater o recorde de golos marcados por Eusébio,natural de Moçambique.
Este facto veio causar algum embaraço aos cultores dos mitos nacionais criados no tempo do salazarismo.Um pouco como se hoje uma fadista fosse considerada melhor do que Amália Rodrigues , cujos restos mortais repousam no Panteão.
Como os golos contam , a objectividade do feito de Pauleta não pode ser contestada, mas quase se pedia ao micaelense que batesse o recorde sem alarde!
Confesso que a eficácia do meu conterrâneo me enche de alegria, embora ele não seja o meu tipo preferido de avançado.Se o melhor marcador de futebol fosse decidido a votos, eu votaria no saudoso José Águas, nascido em Angola!

quinta-feira, outubro 13, 2005

A guerra da net

O governo norte-americano não aceita a proposta da UE para colocar sob a tutela das Nações Unidas o controlo da Internet, correntemente da responsabilidade da ICANN (organização privada, supervisionada pelo Departamento de Comércio dos EUA). O principal argumento dos EUA é que a Internet ficaria vulnerável aos preceitos censórios de governos de países como a Coreia do Norte ou a China. Há um outro argumento (não oficial, mas que faz caminho) que se baseia na ideia “nós inventámos, nós controlamos” e que prefiro nem comentar. Receia-se, igualmente, a burocratização.
Do lado da UE há quem proponha que a Europa e o “resto do mundo” se autonomizem e, assim, evitem esta “negociação”.
Mas há que sublinhar que o governo norte-americano interfere com a ICANN. Um exemplo é a recente polémica com o .xxx. Efectivamente, os EUA deveriam ter internacionalizado o controlo da Internet e criado mecanismos de accountability.
Insistir na unilateralidade baseando-se na governamentalização e seus riscos é paradoxal e sem credibilidade. Dizer “não somos autoritários como a China, logo não cedemos” é apenas mais do mesmo.

Nobel e Artistas Unidos

O vencedor do prémio Nobel da Literatura é Harold Pinter. Por cá ficam os parabéns a Jorge Silva Melo que tem feito a divulgação deste autor em Portugal.

Pré-história da Globalização

Sarah Simon olhando o contrato social como mais frequente e intenso nas sociedades modernas, enquanto produto de melhorias nos transportes e nas comunicações e resultando num “system which does much toward annihilating the barriers of space and time”. Escrito em 1901. (American Journal of Sociology, 1901:800)

O Supremo

Bush sobre a nomeação de Harriet Miers para o Supremo Tribunal dos EUA: "People are interested to know why I picked Harriet Miers. Part of Harriet Miers' life is her religion". As suas crenças aqui.

quarta-feira, outubro 12, 2005

A elegibilidade dos independentes

Por razões conhecidas e circunstanciais volta-se a discutir a questão das condições de elegibilidade de listas de independentes para as autarquias.É um mau sinal.
Fui dos primeiros a criticar o monopólio partidário na apresentação de listas a eleições e, no Manifesto Reformador, em 1979, António Barreto e eu propusemos que a revisão constitucional abrisse a possibilidade a candidatos independentes, quer para as autarquias , quer para a AR. Anos mais tarde essa ideia fez caminho, embora apenas para as autarquias.
Agora volta-se a colocar o assunto aproveitando o recurso que vários autarcas , às voltas com a Justiça, fizeram dessa possibilidade ao serem excluídos das listas partidárias de que haviam feito parte até ali.Três do bando dos quatro foram eleitos com resultados esmagadores. Ou seja, a presunção de que os eleitores lhes reconheciam representatividade revelou-se certa. Desse ponto de vista como argumentar contra as actuais condições mínimas de elegibilidade?
Coisa bem diferente será legislar sobre inelegibilidades gerais tanto para candidatos independentes como para candidatos em listas partidárias que estejam acusados de crimes graves e em fase avançada do processo,ou seja já depois da dedução de acusação por parte do juiz de instrução e da apreciação do possível recurso interposto.
Há, é claro, quem sonhe com o regresso da anulação de candidaduras pelo Supremo Tribunal Admistrativo...

Filhos da terra

Bem ou mal (entendo que mais mal que bem) nas legislativas de 2005 (como, aliás, já tinha sucedido nas legislativas de 2002, mas menos acentuadamente) um dos afãs dos jornalistas era saber se o candidato a deputado tinha nascido no distrito pelo qual se candidatava. Não querendo discutir agora o interesse deste critério, e salvaguardando as devidas diferenças, se ele é considerado para as legislativas deveria ser considerado para as autárquicas. E não foi. Efectivamente, havia muitos candidatos não oriundos das localidades a que se canditavam. E entre os eleitos encontram-se Isabel Damasceno, natural de Mirandela (Bragança), que conquistou (de novo) a câmara de Leiria. Moita Flores, natural de Moura (Beja), assume agora a câmara de Santarém. Fernando Seara, outra vez à frente de Sintra, é natural de Viseu. José Apolinário, eleito para a câmara de Faro, é natural de Olhão. Estes são apenas exemplos...
Porque é que os jornalistas, em grande obsessão geográfica em Fevereiro, se desinteressaram agora pela “naturalidade”?

Comunicação iconoclasta


Para quando teremos os nossos decisores políticos a comunicar ao eleitorado através de meios pouco ortodoxos? Se calhar funcionava melhor e a mensagem passava.

A 'verdadeira' história de Alegre

No DN de hoje: "O deputado tem-se queixado de ter sido traído por Sócrates, mas, a julgar pelo relato que este fez, terá acontecido o contrário. O líder socialista lembrou que queria a candidatura de Guterres e que, uma vez inviabilizada, pensou noutra solução (não disse qual), até que lhe "chegou aos ouvidos" que Soares estaria disponível. Foi essa a sua opção e, segundo garantiu, só falou uma vez directamente com Alegre sobre o assunto, para lhe dizer que ia apoiar Soares e pedir-lhe que fizesse o mesmo. O poeta não lhe respondeu, mas "dois dias depois" disse ao Público que estava disponível para ser candidato, contou Sócrates, que explicou a sua tomada de posição pública com as notícias que entretanto tinham saído nos jornais."

Fazer história

O dossier da Legião Portuguesa, entregue à Torre do Tombo por António Arnaut em Abril, poderá ser consultado a partir desta semana.

Alice deste lado do espelho

(Versão modificada da minha crónica publicada ontem no DN)
O mundo de Lewis Caroll é a arte do impossível, entre a lógica e o feérico, o racional e o onírico. Quando Alice passa para o outro lado do espelho, entra num universo imprevisível, com tanto de infinito quanto de claustrofóbico, meio sonho, meio pesadelo. Que tanto desafia a explicação da realidade, quanto a recusa.
A Alice de Marco Martins, filme galardoado em Cannes e que se encontra em exibição, conta a história do pai de uma menina que desapareceu, como acontece com milhares de crianças. É a história de uma perda que, diferentemente das perdas definitivas, instala uma ambiguidade insuportável, uma impossibilidade de validação ou mesmo de verificação. Está viva ou morta? Bem ou mal? Retorna ou desapareceu para sempre?
Mário, obcecado por encontrar a filha, constrói um mundo ordenado, controlador e sistemático. Filma as ruas de uma Lisboa lívida, diária e metodicamente, socorrendo-se da vídeo-vigilância que nos invade e de uma rede de solidariedade pessoal, escondida e marginal. Aí se sublimam o caos urbano e a confusão interna.
O tempo e o espaço, verificados milimetricamente por Mário, são e não são o mundo de Alice. São, porque o tempo está adiado e cristalizado. Subsiste apenas o dia em que desapareceu a filha. O tempo que passa e que vai sendo recordado ao longo da película (passaram 193 dias desde que Alice desapareceu), acabou. Não há nem passado nem futuro, simplesmente esse dia, gerúndio redito todas as manhãs.
O espaço não é mais o espaço de uma cidade viva, de uma casa habitada ou mesmo um espaço emocional heterogéneo. É somente o espaço de uma cidade chumbo, anónima, onde as únicas artérias que perduram são as últimas a que Alice deu vida. Habita-se uma casa-museu e um espaço afectivo de outrora, onde só existe quem não está. Luísa (mãe) e Mário apenas têm o sopro da ausência.
O tempo e o espaço de Mário são o mundo de Alice também porque, não obstante esta organização rígida e contra-relógio, resistem enquanto fundados na fé mágica de que a filha acabará por aparecer, justamente pelas ruas que um dia percorreu, ilesa e intacta. Como se nada se tivesse passado, como se o filme, os dias lentos e magoados de Mário, fosse apenas um parêntesis. Alice há-de aparecer igual, com o mesmo casaco azul.
Mas o tempo e o espaço de Mário não são, por outro lado, o tempo e o espaço de Alice. Esse submundo onde se raptam crianças para as maltratar, violar, prostituir, traficar ou assassinar (o não-dito sempre presente no argumento depurado) tem um tempo e um espaço outros. O tempo onde se suspende a inocência e se interrompe a esperança, um espaço buraco negro, feio, sem humanidade, sem lei ou regra, invisível à face das ruas apinhadas do quotidiano, das rotinas dos empregos e dos transportes. E de facto, Mário e Luísa (ainda) vivem num universo à superfície, por mais ameaçado e ameaçador que tenha passado a ser. Agarram-se a ele como podem, retirando-se da fragmentação e da destruição da dor. Evadem-se dele sempre que possível, escapando para uma frequência distinta, onde talvez Alice exista.
Se Mário é uma personagem plana, no sentido em que se transforma na filha que desconhecemos, é a sua profissão- actor- que lhe confere uma outra dimensão. Se na vida Mário filma e espia, é voyeur; no teatro é espiado. Se na vida Mário é “anjo” ou herói; no teatro é suspeito e áspero. Se a vida de Mário é monótona e repetitiva, a peça que representa (paradoxalmente) é diferente todas as noites, feita de improviso.
Mário é actor, como se não fosse demais sublinhar a marginalidade da sua solidão. Este filme sobre a ausência é também um filme sobre a alienação. As hordas de gente parda que caminha em filas em metros ou em passeios, indiferente aos outros, indiferente à dor, está também indiferente a si própria. É gente zombie, na cidade madrasta que, como Marco Martins dizia numa entrevista algures, nem sequer pára para olhar quando o actor está (mesmo) de joelhos no chão. Nesta cidade não estão apenas socialmente excluídos os toxicodependentes, homossexuais ou sem-abrigo com quem Mário se encontra. Estão todos. Estamos todos.
E Mário passa para o outro lado do espelho no momento em que se vê nas televisões. Em que vê o seu rosto, as suas expressões, o seu desgosto. Em que se encontra consigo próprio, em que se desaliena de si mesmo.
O final do filme é o retorno desse real negligente. Alice não terá vestido um casaco azul. Alice não estará numa daquelas ruas. Alice não irá aparecer. Mário fica, então, irremediavelmente só.

terça-feira, outubro 11, 2005

Furacão-Tempestade tropical-Depressão e Aguaceiros

As televisões portuguesas devem ser das piores do mundo na apresentação da meteorologia.Nenhuma perspectiva geral,nenhumas fotografias de satélite,uns quadros pindéricos com um grafismo ante-moderno ,uma previsão mínima para o continente e ilhas aproximadas.
De repente um rebate:um centro de observação de furacões em Miami detecta um ex-furacão,Vince, que se formara subitamente a noroeste da Madeira e se dirigia surpreendentemente para a península ibérica.Domingo um desenho tosco faz crer que a zona atingida seria o norte .Entretanto o ex-furacão passa a tempestade tropical e serpenteia por Vila Real de Santo António,já na metamorfose de depressão,para acabar sem força nuns aguaceiros bem medidos pelas estatísticas pluviométricas,Assim se passaram 48 horas de noticiário meteorológicos em Portugal!E lembrarmo-nos que Portugal já foi pioneiro neste domínio, fornecendo e sonegando previsões do tempo aos beligerantes nas duas guerras mundiais...Por favor um pouco mais de tecnologia...

Poemas para o Nobel

Candidatos ao Prémio Nobel da Literatura:

Ali Ahmed Said (Adónis, poeta sírio)


The Sun and the Moon
The sun in Aleph City would at times fall from its wheel
and grow dark to frighten the folks.
It, together with the moon, would often be detained and punished –
They would prostrate themselves and pray and beg permission to rise;
They would only be given permission to rise after three nights had
elapsed, three nights during which they would be confined to the
navel of heaven,
An angel would then come, take them by the horns, and force them to
rise from the east, from the Gate of Repentance.



Ko Un (poeta sul corenano)

Margins of Meditation
A few days ago one of the dead came back from the tomb. Wearing the same old smile, his everyday clothes restored from the ashes, he gives a full account of himself. All around him shines a watery light. He talks his full, then leaves like a letter. Beside me my young brother, body and heart purified, sees him off.
We spend every afternoon like this, greeting and saying goodbye. Occasionally I hear the dead of ancient Korea talking. They usually omit a few things, I think. How could they reveal everything in one brief resurrection? Their story, before and after they died, is more than a few words can express.
After seeing them off, my brother stays silent like an empty bowl. Dressed lightly, he always welcomes our visitors from beyond, with clear glass barriers of taboo lining the hallway. Responding simply in a quiet voice to what they say, his heart is open, ready to receive everything, alone.
Every afternoon we welcome and send off guests from beyond the tomb. The light beyond the window is a sundial by which we tell the time. Each word my brother hears from the dead is first dried in the sun, then preserved. Truly, this world is the other world, huge and vast; this world is a tomb. Tomorrow, let's not send off those that come, let's have them live with us.




A lista dos favoritos deste ano incluí, naturalmente, outros nomes. O meu preferido, contudo, é Ko Un. Se por um lado é extremamente emocional, não é romântico. A sua simplicidade (espontaneidade?), humor e paradoxos, criando um sistema discursivo não familiar e imprevisível são características assinaláveis. Allen Ginsberg definia-o como um “a magnificent poet, a combination of Buddhist cognoscente, passionate political libertarian and natural historian”. O projecto Ten Thousand Lives é uma celebração da natureza humana enquanto poesia. Trata-se de uma biografia poética das pessoas que o autor conheceu, desde a sua infância. Ko Un considera uma obrigação comemorá-las nas palavras e este épico conta já com 20 volumes. É uma obra extraordinária, quer na sua concepção quer na sua dedicação. Ko Un já tem sido um dos favoritos em outros anos. Espero que desta vença!

Última chamada

Contrariar o desastroso resultado eleitoral do CDS-PP nestas eleições e o estado moribundo do partido, poderão ser argumentos adicionais para a candidatura de Portas às presidenciais?

Diga...33

O grupo dos cinco "dinossauros" autárquicos manteve-se nestas eleições. Braga, Poiares, Alenquer, Reguengos e Castro Verde têm os autarcas mais antigos do país. Nas próximas eleições irão completar 33 anos de poder local.

Troca-minas

Sobre o caso Eurominas, no Direito de Resposta editado no Público, e segundo noticia o mesmo jornal hoje, o deputado socialista José Lamego desmente o indesmentível. Primeiro, atribuiu o reconhecimento do direito à indemnização paga aos seus clientes a uma resolução do Conselho de Ministros que nunca existiu. Segundo, alegou que "nunca" acompanhou o processo da Eurominas "enquanto membro do Governo", mas, de acordo com o jornal, "o seu envolvimento no caso, no período em que foi secretário de Estado da Cooperação de António Guterres, está abundantemente documentado nos arquivos de vários departamentos governamentais."

As mulheres podem saír à noite?

A continuação do debate nos Prós e Contras com sucessivos galanteios e até comparações entre mulheres, como já se não imaginaria ser possível, levou a politóloga Marina Costa Lobo a protestar, e bem, afirmando que essa mentalidade levava ao afastamento das mulheres da actividade política e cívica. Ela própria foi objecto dessas apreciações durante o debate.Nenhum dos intervenientes era representante do poder local...

segunda-feira, outubro 10, 2005

Para um novo regime autárquico

"Em suma, dir-se-ia que o actual sistema político-administrativo local apenas mantém a democracia a funcionar de uma forma horizontal, como que a pairar por cima de uma sociedade civil pouco expressiva e ainda menos activa; e em franca descoordenação quer com as instâncias superiores do estado central, quer com a sociedade civil dos seus governados".
(Luísa Schmidt et al, 2005, Autarquias e Desenvolvimento Sustentável, Ed. Fronteira do Caos).

Ouvir com paciência

Ouço uma intervenção indiscritível do ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, o universitário Miguel Beleza, no programa Prós e Contras, contra tudo que mexe fora da sua rua. A sua passagem pelo governo foi de uma banalidade contrastante com o reformismo fiscal de Miguel Cadilhe e com o colorido discursivo de Braga de Macedo,só para situar o cinzentismo que introduziu nas finanças públicas.Mas na televisão ninguém o reconhece: opinativo,excessivo,galanteador.Deve ser por isso que é frequentemente chamado à RTP.

Última decisão

O Editorial do The Guardian de hoje, a propósito da polémica sobre a eutanásia e defendendo o suicídio assistido, conclui que “It is now time to move British laws onto a more open, sensible and humane footing”.
Este assunto tem sido pouco ou nada discutido em Portugal. Já há uns tempos que andava para fazer um post sobre o assunto e aproveitando o mote, deixo as principais razões pelas quais defendo a despenalização da eutanásia. Em primeiro lugar porque a considero uma liberdade individual. Como tal, a eutanásia passiva ou activa é o último espaço de liberdade a que um ser humano tem direito, numa apreciação (subjectiva, evidentemente) da sua condição e dignidade. De facto, existem doenças terminais que causam um sofrimento, físico e psíquico, insuportável. E há doenças/quadros clínicos que causam total perda de qualidade de vida. Dado a sensibilidade ética desta questão não posso deixar de referir as indispensáveis condições clínicas, de maioridade e de decisão informada e duradoura. A lei holandesa, que estipula que a eutanásia só possa ser efectuada por um médico, perante a solicitação explícita, informada e livre do paciente, parece-me uma boa formulação. Acrescente-se que o médico deve consultar outro médico independente. Como diz Singer (2002, Ética Prática, Gradiva, p.220) “A força da argumentação em favor da eutanásia voluntária diz reside na sua combinação de respeito pelas preferências ou autonomia daqueles que se decidem pela eutanásia e na base racional inequívoca da própria decisão”.

A esmagadora vitória da direita

como se vê no gráfico...



fonte: Ministério da Justiça

Gostei e não gostei

Guardo para o artigo de amanhã ,no Diário de Notícias , os meus comentários políticos sobre as autárquicas.Agora só quero assinalar que gostei das vitórias do PS nos Açores,onde é governo há nove anos,ao ganhar mais 3 Câmaras, em Vila Nova do Corvo,Praia da Vitória e Ribeira Grande.
Não gostei do apelo ao voto em concreto de Mário Soares.A lei até pode estar ultrapassada no seu espírito inicial, e há muitas democracias onde o costume das campanhas vai até à boca das urnas, mas enquanto ela existir deve ser respeitada por todos.Ainda não existe o espaço europeu das campanhas eleitorais.!

Que chova

Rain is grace.
Rain is the sky condescending to the earth.
John Updike, Self–Consciousness: Memoirs, ch. 1 (1989)

Fly Flypaper theory

De acordo com a CNN, a ameaça terrorista ao metro de Nova Iorque terá tido origem no Iraque. Mais uma estocada na teoria de Bush de “combater o terrorismo lá fora para não ter que o combater em casa.”

domingo, outubro 09, 2005

"Vive la France"

"The French have every right to act a bit superior. I would be happy living anywhere, but if I had to choose just one country - and the British aren't going to like me saying this - it would be France. I love France and love the French people. I'm crazy about them. I think they're the greatest. There. I've said it."

- Linda Evangelista ao Observer Magazine, 2 de Outubro 2005.


[A Linda é que ainda não conhece Portugal como deve ser, senão diria o mesmo do nosso País. Hmmm bem, exceptuando aquela vez no Portugal Fashion em que engargalou uma garrafita de Porto e ia tropeçando na passarelle]

Post "meritocrático"



"A competition is fair only if all competitors start on equal conditions. But such a situation does not exist, it's a known fact. And if all were equal, how could one be better than the other? In a competition people finish as they started."
- Paul Valéry

Curiosamente, Ronald Dworkin defende que se as pessoas começarem de um mesmo ponto de partida (digamos que hipotéticamente todos têm a mesma capacidade ou poder de compra) no fim acabaremos sempre por ter uma situação de desigualdade. No entanto esta situação é aceitável, diz Dworkin, porque é fruto das diferentes decisões tomadas, necessidades e preferências de cada um.

Faz sentido, o mercado é apenas responsável pela redistribuição de recursos que se faz e se troca entre os diferentes agentes económicos e não pelo pelo juízo equitativo de quem toma a decisão. Mas eu pergunto-me, se por exemplo déssemos para a mão de um gestor de activos financeiros 20 mil Euros e entregássemos a mesma quantia a um pedreiro, será que ambos partiriam em condições iguais?


PS:: Este post vem na senda de um tema, que tanto a Joana como eu tivémos já oportunidade de "discutir" por diversas vezes. Além do mais, foi tema recente no último "A Revolta dos Pasteis de Nata" transmitido pela RTP2 e que contou com a presença da Joana e do "pós-moderno" Manuel João Vieira.
PSS:: Cláudia, cheers for the Valéry tip.

Portas que se fecham às eleições

Costumava votar numa secção no edifício da Imprensa Nacional na rua da Escola Politécnica,mais tarde passei para uma na Universidade Aberta na mesma rua, e já fui até à do Salitre em expedição.Sempre com o mesmo número de eleitor.Hoje ,entre chuviscos,constatei que as portas da Universidade e da Imprensa Nacional estavam fechadas.Informaram-me na Junta de Freguesia que as secções de voto só vigoravam no apertado espaço dela e num Centro Escolar na rua Alexandre Herculano, para onde me dirigi com a família.

As filas longas não me aborreceram, mas fiquei chocado com a falta de condições de acesso para pessoas com dificuldades várias de locomoção.E foi impressionante como nenhuma delas desistiu perante escadas e corredores estreitos.Saúdo o Centro Escolar pela abertura das instalações e gostaria de saber por que razões os outros edifícios se fecharam aos cidadãos, com os seus átrios espaçosos vazios e desertos.


sábado, outubro 08, 2005

Angola na Alemanha

Confesso que torci muito por Angola no jogo desta tarde contra o Ruanda, e que festejei o golo do Akwá como se ele fosse do...Benfica.!

Seria bom que o triângulo Portugal-Angola-Brasil se impusesse na fase final do Campeonato do Mundo de Futebol que se realiza na Alemanha em Junho.Porquê?Por uma dessas razões sentimentais indefinidas...Eu que até prefiro o tipo de futebol...inglês !Se tiver companhia ainda vou à Alemanha ver...


sexta-feira, outubro 07, 2005

Empobrecer rapidamente é crime?

Enriquecer rapidamente pode ser suspeito e há formas de o fazer que são criminosas.Mas pode-se acumular riqueza lentamente, em crime brando, sem chamar a atenção das autoridades mais escrupulosas.Ainda há a clássica acumulação primitiva do capital,cuja possível origem fraudulenta já caducou há séculos e hoje é muito respeitável e respeitada, levando até a condenar os que só agora principiam, numa cópia sem imaginação.

Desde pequeno que resolvi não me envolver em qualquer crime económico, por achar que lhe falta panache e não ter vocação.

O que me procupa mesmo é saber se a pobreza , súbita ou lenta, será crime.E de quem.


quinta-feira, outubro 06, 2005

Suspeita sobre ambos?

PODE O JORNAL «PÚBLICO» SFF ESCLARECER COM QUEM É QUE FÁTIMA FELGUEIRAS MANTEVE CONTACTOS NO SECRETARIADO NACIONAL DO PS? QUANDO É QUE ESSES CONTACTOS TIVERAM LUGAR? QUEM É QUE INFORMOU JAIME GAMA PREVIAMENTE DA LIBERTAÇÃO DE FÁTIMA FELGUEIRAS?
O Bicho Carpinteiro adere, assim, ao pedido de esclarecimento lançado pelo Bloguítica. Como escrevi na terça -feira no DN:
"O jornal Público noticiou, na passada semana, que Fátima Felgueiras tinha estabelecido contactos relevantes com a cúpula do PS. Sócrates desmentiu, o jornal não. Um total esclarecimento é devido. Ou fica a suspeita sobre ambos."

(Alguns) Muros da Vergonha

Ceuta & MelillaEUA & México
ChipreCoreias Israel & Palestina


Zimbawe & Botswana Índia & Paquistão

Conflito e Consenso



O Primeiro-Ministro tem toda a razão. Portugal regista um baixo nível de conflitualidade social. Queremos mais!

Até porque e como diria o sociólogo Georg Simmel: "O conflito é uma forma de socialização".


Post-scriptum: Isto remete-me para outra questão que daria outro post, a questão do "consenso". Será que do antagonismo social alguma vez chegamos a um "consenso de sobreposição" em matérias como direitos e deveres sociais, como Rawls e outros liberais desejam? Ou será que a coisa agudiza-se ainda mais?

O Centenário Político da República

Leio que o governo irá nomear uma comissão para as comemorações do centenário da República, presidida por Vital Moreira.

O sinal está dado de que essas comemorações se pretendem mais políticas do que históricas, mais viradas para o presente e para o futuro do que para o passado, o que me parece correcto e bem pensado.Daí que não seja um historiador a presidi-las ,o que poderia provocar a imagem contrária.

Porém se assim é,deveria o governo ter esperado um pouco mais e convidado um antigo Presidente da República a encabeçar essa celebração.Penso em Jorge Sampaio que dentro de alguns meses estaria livre para se dedicar a uma causa que nos seus mandatos acentuou.

Aprecio muito Vital Moreira e tenho a certeza que cumprirá com brio a tarefa que lhe será confiada,levando as comemorações a todo o País.Mas a República tem os seus critérios...históricos.


quarta-feira, outubro 05, 2005

Isto não é publicidade!

"Isto não é publicidade, isto é verdade" - é para momentos como este que o 5 de Outubro serve.

Manuel Maria Carrilho no seu melhor malabarismo mediático-anedótico, depois de um abraço (quase esquecido) ao nosso Primeiro, lá foi com o entourage de câmaras para as portas do edifício dos Paços do Conselho dar um "bacalhau" ao Eng. Carmona.
"Venham ver" disse ele.

Foi bonito. Vivá a República!

segunda-feira, outubro 03, 2005

Micro-cosmos.

Somos tão grandes e tão cultos que um debate sobre a cultura à esquerda e à direita no São Luíz suscitou, pelo menos, quatro colunas de opinião em jornais e revistas de referência. (A de Mega Ferreira na Visão não está on-line).

domingo, outubro 02, 2005

Muitos dois

Estão sempre a apanhar números dois e números três da Al-Qaeda. Parece que há muitos. Mas os media começam a não cair na esparrela. Da Newsweek:


“But veteran counterterrorism analyst Evan Kohlmann said today there are ample reasons to question whether Abu Azzam was really the No. 2 figure in the Iraqi insurgency. He noted that U.S. officials have made similar claims about a string of purportedly high-ranking terrorist operatives who had been captured or killed in the past, even though these alleged successes made no discernible dent in the intensity of the insurgency.
"If I had a nickel for every No. 2 and No. 3 they've arrested or killed in Iraq and Afghanistan, I'd be a millionaire," says Kohlmann, a New York-based analyst who tracks the Iraq insurgency and who first expressed skepticism about the Azzam claims in a posting on The Counterterrorism Blog (counterterror.typepad.com). While agreeing that Azzam--also known as Abdullah Najim Abdullah Mohamed al-Jawari--may have been an important figure, "this guy was not the deputy commander of Al Qaeda," says Kohlmann.
Three U.S. counterterrorism officials, who asked not to be identified because of the sensitivity of the subject, also told NEWSWEEK today that U.S. agencies did not really consider Abu Azzam to be Zarqawi's "deputy" even if he did play a relatively high-ranking role in the insurgency.”

Jardim, pequenos quintais e a floresta

"Os votos da Madeira têm, ao longo dos anos, um penhor: o do medo. Não porque Jardim assuste alguém, mas porque os próprios madeirenses têm medo de perder tudo aquilo que ao longo dos anos ele fartamente conseguiu, com empertigadas ameaças e grosserias. O povo mantém-no no poder por isso, o PSD suporta-o pelos votos que ele vale e a nossa pobre floresta democrática vai assistindo, cada vez mais impotente, ao multiplicar de tais jardins e quintais de podres poderes, com regras cada vez mais ditadas pelo seu próprio desregramento. Que tudo isto se passe sem um sobressalto nacional, é o único espanto."
Nuno Pacheco, Editorial do Público de hoje.

Nikias premiado

Nikias Skapinakis, para mim o grande retratista da Lisboa cultural da segunda metade do séc. XX, acaba de ganhar o Prémio Souza Cardoso, pelos seus "55 anos de intervenção", como assinalou nas densas palavras que proferiu ao receber esse prémio. ´
Conheci o já consagrado pintor nas cadeias salazaristas em 1962, onde desenhou este retrato de amigo.