É assim que a Joana Vicente termina o último post sobre os cafés europeus aqui nos bichos, convidando-me a falar da tertúlia que animou o Vává entre os anos 60 e 70 do século passado.Embora não partilhe da busca da alma europeia pelos cafés por onde digressei, como o fez G. Steiner nas suas palestras encantatórias, saboreei os relatos literários que a minha co-bloguer aqui escreveu sobre o tema e que tantos leitores cativou.E aproveito para esclarecer que no Match Point apenas me fixei na transformação técnica da Scarlett Johansson em relação à encarnação do Lost in translation.Nem vi para que lado caíu a bola...Foi o que tentei dizer num post arquivado.
Pois no Vává era assim.Perdíamo-nos por uma discussão acidental sobre um filme, um actor,um acontecimento, uma escolha sobre o que fazer a seguir.
A tertúlia do Vává nasceu da reunião de duas famílias principais e distintas até aí:os cineastas e artistas circundantes de um lado; e, de outro lado, os estudantes anti-fascistas que povoaram de fantasmas o imaginário político da Fátima Bonifácio até à recente vitória de Cavaco Silva.Nenhum dos dois aparecia no vává naquela altura.
Eu próprio só apareço com outra sistemática depois de ter sido expulso da cidade universitária pelo reitor Paulo Cunha, sem que da Dinamarca me viesse socorro figurado.Embora não fosse linear, as coisas passavam-se assim: os cineastas pretendiam levar no seu cinema as jovens associativas em esforços de emancipação, e os associativos desdobravam-se em proteger o seu território e em lançar as vistas para o mundo livre da criação artística.
Quem fazia admiravelmente a síntese eram duas mulheres, a Milice Ribeiro dos Santos e a Lena Carneiro que tratavam por tu o Escudeiro,o Seixas Santos,o António Pedro de Vasconcelos,a Noémia Delgado,o Paulo Rocha,o Gérard Castelo Lopes,o Cunha Telles, a Piedade Ferreira,a Ana Louro,a Ani Alves,o A Dias, o Vilhena e tantos outros.O Lauro António já oscilava entre o cinema e os estudos.E tenho ideia de ver por lá , sem assentar, o VPV e a Nani que seria capa da ELLE, versão original..
Com lugar à parte havia a Maria Emília Brederode,que se emancipava pelo facultativo trabalho em part-time numa agência de publicidade situada num andar superior no mesmo edíficio que o café e nos premiava com a sua presença distinta.O irmão Nuno frequentava a tertúlia com aquela indiferença que Miterrand concepualizaria mais tarde.
Lugar à parte tinha ainda o Fernando Lopes que de certo modo capitaneava os cineastas e declarava a Guerra e a Paz entre as componentes da tertúlia.Dia inesquecível foi a ida em peso do Vává à estreia do seu filme BELARMINO.Também o João César Monteiro fazia das suas e convidava todas as mulheres para as filmagens.Apaixonou-se pela misteriosa Teresa Bento, um rosto inesquecível vindo da luta estudantil, cujo pai era um fervoroso de Salazar, tendo eu herdado os volumes dos Discursos do ditador, oferecidos por ela antes de desaparecer.
Havia ainda escritores,jornalistas, e, muitos mirones, quando o êxito, ou apenas a fama, começaram a crismar alguns nomes.Foi aí que passámos a frequentar o Gambrinus ao fim da noite...