segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Bola parada?

Após o período de reflexão que uma vitória importante do SLB sempre exige dos detractores de Koeman, estes começam a dizer que o golo contra o FCP foi marcado por mais um lance de bola parada.Ora o rigor exige que se diga que o golo foi marcado de livre sim, mas que a bola impulsionada por Robert não teve nada de parada.Foi mesmo um desfile cheio de efeitos.Ao Vítor Baía até lhe pareceu haver uma espécie de controlo remoto a guiar o esférico.Não me digam que ainda se descobre o chip dourado...

domingo, fevereiro 26, 2006

O segredo de cozinha

Sempre admirei aqueles meus amigos, e mais recentemente aquelas minhas amigas ,que ,perante uma carta de vinhos, evitam os escolhos das escolhas óbvias ou desastradas, sabem de cor os anos bons e os anos maus para cada colheita,e para cada prato conhecem o melhor restaurante num raio de 100 quilómetros.Agarro-me a eles como uma lapa dos Açores,pois não consigo acompanhar a vertigem da mudança desses conhecimentos, e assim beneficio de saberes voláteis, para mim os mais extraordinários e merecedores de encorajamento.
Por isso aqui estou, em pleno exercício privado de serviço público, a recomendar um novo blogue que trata destes temas com generosidade e experiência ocupacional.Trata-se do pontocomo.Estou mesmo em condiçôes de desvendar quem é o Agapiano, pelo estilo e pela confidência.Mas eu nâo bufo.Segredo de cozinha é sagrado..

Dee Dee Bridgewater

Um casal amigo convida-nos a ir ouvir uma cantora ,género Josephine Baker, ao CCB.Tratava-se de Dee Dee Bridgwater que nos presenteou com uma agradável noite de jazz vocal, sublimando algumas cançôes francesas de Piaf a Brel, em homenagem aos dois mundos culturais de onde provém.Gosto destas sínteses.
Só tive pena de não ter ido à estreia do filme sobre Truman Capote.Fica para a próxima oportunidade.

sábado, fevereiro 25, 2006

Ironias

Depois do triste episódio de David Irving, uma suprema ironia numa altura que a Europa se mostra tão irredutível relativamente às ofensas sentidas pelos muçulmanos com os cartoons, eis que surge a história de Ken Livingstone, o conhecido presidente da câmara de Londres. Foi ontem suspenso por ter comparado um jornalista judeu a um guarda dum campo de concentração.
Quando surgiu a história dos cartoons da Dinamarca também não faltou quem recordasse o quão a Dinamarca é um país cosmopolita e defensor das minorias. Neste domínio, não falta currículo a Livingstone.
O mayor excedeu-se, é verdade. E podia ter pedido desculpas. Mas a sanção dura de que foi alvo é, no mínimo, descomedida.
A liberdade de expressão está reduzida a uma conveniência.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Pizza e privacidade

Vale a pena espreitar. Aqui.

The Cheney Shooting Soundtrack...

Aqui

O Estado não chega a todo o lado

O episódio da passagem do Presidente da República pelo concelho de Nelas não foi apreciado por um ângulo que tenho por essencial:O Estado não chega a toda a parte do território nacional.Basta recordar a Maria da Fonte para se entender que houve um tempo que nem aos cemitérios chegava...
Pois no momento em que se retiram escolas, quarteis, centros de saúde, e outros serviços públicos, a presença do Estado em muitas localidades cifra-se na recolha de impostos.E nas mesas de voto...Acham que vai dar certo?

The flap over bird flu shouldn't turn us into headless chickens

Simon Jenkins, The Guardian:
As far as I can read it, the flu strain known as H5N1 has taken eight years to spread from east Asia to Europe. In that time, it has killed just 91 people who have been in intimate contact with diseased birds. Roughly 200 people are ill at present, with a 60% chance of recovery. Short of eating infected bird faeces, humans seem close to immune. As world diseases go, this is trivial, yet it currently consumes more time and column inches than MRSA, malaria or Aids.

Nem anjos nem demónios

Há umas semanas o DN trazia uma notícia sobre a sexualidade dos portadores de deficiência mental. Tendo em conta o tema e as declarações de Ivone Félix, num país onde tantos ainda contestam e tropeçam na educação sexual nas escolas ou se opõem ao casamento de homossexuais, muito me espanta que o tema não tenha levantado mais um estrondoso alvoroço.
Ou talvez não…ficará apenas tudo na mesma. E é lamentável que assim seja. Porque a persistência na ideia errónea que “Sexualidade na deficiência é igual a deficiência na sexualidade”, ou no mito que os portadores de deficiência são seres assexuados, anjos (habitualmente alternado com a fábula de que são monstros] nega um direito a estes cidadãos. Evidentemente que a regulação desta questão não é simples, e levanta questões éticas e legislativas delicadas, nomeadamente a consideração do grau de deficiência mental como critério para a sexualidade activa.
Além do mais, fazer de conta que os cidadãos com deficiência mental são seres assexuados, privando-os da educação sexual, potencia o aumento da sua vulnerabilidade, nomeadamente aos abusos sexuais. E é estesum dos grupos mais afectado pela violência, designadamente pela violência sexual.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Sim, Sr. Ministro

Freitas do Amaral esclarece hoje no Público as afirmações que lhe foram atribuídas sobre a polémica os cartoons. Parece que, essencialmente, as suas frases “foram truncadas”, “deturpadas”, alvo de “simplificações grosseiras”. Conclusão: a bola continua do lado da malfadada liberdade de expressão.

Queres que te faça um desenho?

Eu sei. A boca é foleira. Mas se Pedro Tadeu, director do 24 horas, não tivesse dito "Mesmo na Cova da Moura não me parece que haja tanto bandido por metro quadrado”, mas tivesse antes feito um desenho, ainda seria acusado de ofensa agravada a pessoa colectiva?

Onde está Marques Mendes?

De acordo com o Público, Isabel Damasceno continua indiciada por corrupção passiva e falsificação de documentos.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

No Jardim de Inverno do S. Luis

Hoje , ao fim da tarde, fui ao Jardim de Inverno do S.Luis participar com o Luciano Amaral numa tertúlia animada pelo Daniel de Oliveira e pelo Pedro Mexia.A sala estava composta e a discussão centrou-se sobre o Futuro da Política.Alguém fará o compte-rendu.Aqui apenas deixo a impressão de que me diverti a falar de coisas sérias.

Dicionário de politiquês

Pedro Correia, que se estreou há pouco na blogosfera com o corta-fitas iniciou um dicionário de politiquês que promete.

A internet, os cartoons e o Islão

"Citizens throughout the Arab world are protesting caricatures of Muhammad first published in Danish newspapers. The conflict would not have occurred without a means of easily transporting information around the globe. The cartoon story is not particularly an internet story, since opponents of the depictions flew copies from Denmark to the Middle East. Yet, the internet is the biggest reason why cultural artifacts are readily available around the world today. Because of the internet, clashes between the sensibilities of different societies will only increase."
- in Wire News, "In Defense of the Culture Clash"

Um dos principais atributos e benefícios da internet, é precisamente o facto desta diminuir as distâncias entre "quem sabe" e "quem procura saber". A info-inclusão das nossas ideias ou da sua antítese, é uma realidade cada vez mais real e próxima ... em qualquer parte do Globo.

A cultura dos "outros" e do "eu"



Foi com deleite que ontem vi duma ponta à outra o "Status Anxiety" na Dois. Alain de Botton, autor de vários livros entre os quais "The Consolations of Philosophy" (título quase-emprestado da obra de Boethius), "How Proust Can Change Your Life" e "Status Anxiety" - dissertou durante o programa sobre a pressão que as pessoas sentem nas sociedades modernas Ocidentais em "saírem-se bem na vida", em não falharem perante o olhar "aceitador" dos outros e perante o status quo vigente.

Sobre o programa, eis algumas conclusões em jeito telegráfico:
1) Como observou e bem Milan Kundera no seu "Imortalidade", as ideologias foram hoje substítuidas pelas "imagem-logias". Hoje não somos mais do que a imagem que os outros têm de nós e da imagem que nos esforçamos por projectar nos outros.
2) Hoje sofremos de uma pressão inata, fruto desta "cultura do sucesso"; em que todos sentem a obrigação de se darem bem na vida, não por mérito ou ambição própria - mas por necessidade de aceitação dos outros, por necessidade de integração no modus vivendi Ocidental, o mesmo que tem substítuido a ideia de comunitarismo cívico por uma ideia de "winners vs losers".

Blaise Pascal tinha razão, por vezes "o eu é detestável" porque precisa do "outro" para ser.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Um jogo de futebol inteligente

O Benfica-Liverpool foi um jogo de futebol concebido com inteligência pelos treinadores das duas equipas, Koeman e Benítez.Os jogadores executaram quase ao pé...da letra as suas instruções.Sou um adepto do futebol colectivo de treinadores, e não do futebol individualista de vedetas.Por isso, esta noite no estádio da Luz completamente cheio, fartei-me de dizer ao meu filho:Gosto da racionalidade deste jogo.E ele:desde que ganhe o SLB!Como aconteceu!

"Marvel Land"


Porque o mundo precisa de heróis ... da Marvel.

Pela liberdade de investigação histórica

Quando cheguei à Universidade de Genebra em 1968,uma das coisas que me cativou foi a absoluta liberdade de investigação histórica existente quer na Facultade de Letras quer na Faculdade de Ciências Económicas e Sociais, tendo recebido, e dado, aulas nas duas.Mesmo nos temas mais recentes a liberdade de critica e tratamento era total.Esse ambiente levou-me aliás a especializar-me em História Moderna e Contemporânea em detrimento da licenciatura em Filosofia quase no fim.Não estou arrependido.Quando regressei á universidade portuguesa, desconhecedora dessas liberdades durante a ditadura ,sabia ao que vinha.Creio ter contribuído um pouco para o clima de liberdade científica que se goza agora nessas matérias.
Porém as notícias que nos chegam da Austria, e ,sobretudo da França,parecem querer orientar os investigadores para o historicamente correcto.Não queremos propagandistas nem mentirosos.Mas sem liberdade não há ciência histórica.Voltarei a este assunto.

Nascido clandestinamente

Tenho uma longa cumplicidade com Talleyrand que tem assinatura no divertido blogue Espírito de Xabregas.
Ao revelar que tinha feito anos ontem evocou a minha qualidade de açoriano, o que mereceu um reparo de um comentador que precisou que eu tinha nascido na ilha da Madeira.Tenho as duas afirmações por verdadeiras.De facto nasci na Madeira, mas os meus pais, micaelenses filhos de micaelenses, embarcaram-me clandestinamente no vapor Lima para a ilha de S MIGUEL, onde me registaram civilmente ,e fui baptizado segundo os ritmos e os costumes da época.Muitas complicações foram derivadas desse início aventuroso da minha vida. O meu primeiro Bilhete de Identidade demorou tempos a ser atribuído.Ainda hoje não percebo como conseguiram embarcar-me clandestinamente , no meio do Atlântico,em plena IIGuerra Mundial.Que extraordinários pais os meus.Que viram eles numa ilha que não viram na outra?
O certo é ter tido uma educação açoriana até ter vindo para a Universidade de Lisboa em 1960.
Obrigado Talleyrand pelas suas palavras amigas, e por me ter chamado pelo nome Bicho, deste blogue, que também é outro território de eleição.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Governo: 12 meses, 24 pontos negros

1.Aumento dos impostos, contradizendo o que foi claramente prometido na campanha
2.Lista extensa de nomeações como as de Armando Vara ou Fernando Gomes
3.Cortes e mais cortes…moralizações incompatíveis com a situação de alguns ministros - acumulação das reformas com ordenados
4.Silêncio relativamente ao ficcionado arrastão de Carcavelos
5.Péssima gestão e intervenção nos fogos florestais
6.Desastre completo ao lidar com o dossier da interrupção voluntária da gravidez
7.Adiamento da verdadeira e necessária reforma fiscal
8.Não revogação do Código de Trabalho, como prometido- não assegurando desenvolvimento da contratação colectiva.
9.Actualização salarial de APENAS 1,5% aos trabalhadores da função pública, sem negociação
10.Aumento do desemprego…longe dos prometidos 150 mil empregos
11.Atribuição de mais de 40 % do PIDDAC para as obras públicas
12.Obscurantismo em torno da OTA
13.Nem sombra do Choque Tecnológico
14.Apenas 0,5% do Orçamento de Estado para a Cultura
15.Dança das cadeiras nos institutos do Ministério da Cultura e sucessivas trapalhadas
16.Tentativa de quebra do poder sindical
17.Aumentos das propinas na ordem dos 140 %
18.Intenção de suprimir os exames de Português e de Filosofia
19.Criação de base de dados genética
20.Eclipse do Ministério do Ambiente e insistência na co-incineração
21.Lei da nacionalidade melhor. Mas insuficiente.
22.Desinvestimento na saúde e intenções recentemente reveladas pelo Ministro da Saúde- criação de escalões para os utentes
23.Continuação da total balbúrdia na Justiça
24.Deploráveis declarações no caso das caricaturas

Disaffiliation and defiance

Those who voted No without really knowing why- perhaps simply because they did not wish to play the game into which they had so often been trapped; because they too refused to be integrated into the wondrous Yes for a “ready for occupancy” Europe- their No was the voice of those jettisoned by the system of representation: exiles too, like the immigrants themselves, from the process of socialization. (…) Many now live, culturally and politically, as immigrants in a country which can no longer offer them a definition of national belonging. They are disaffiliated, as Robert Castel has put it.
J. Baudrillard, Pyres of Autumn (New Left Review, Jan. Feb.)

Porque sim

Das crónicas nos jornais aos blogues, os comentários à rusga no 24 horas são um rol de perguntas.
Como foi possível que listagens de centenas de telefonemas e respectivos telefones aparecerem no Processo da Casa Pia? Quem são os responsáveis? Alguém solicitou estes números? Por que é que respeitam ao período entre Dezembro de 2002 e Maio de 2003? Por que é que foram anexados aqueles números e não outros do "cliente Estado"? Quem é o responsável pelo suposto lapso técnico da PT? Porque é que estes ficheiros nunca foram destruídos? Quem mais teve acesso a estes dados?
Porque é que Souto Moura inicialmente desmentiu a informação veiculada pelo jornal 24 Horas? Porque é que se dão as buscas no jornal um mês depois da notícia e da exigência do Presidente da República? Porque são os jornalistas que denunciaram esta situação que são tratados como criminosos? Porque está o governo e o Presidente da República em silêncio? Porque é que é que temos este regime demente de escutas telefónicas? Porque e como é que existem constantes violações do segredo de justiça? Quais os seus objectivos? Porque é que Jorge Sampaio não demite o PGR? Quem manda no país? Que país é este que decorridos anos sobre o início do processo Casa Pia, continuemos neste lamaçal? Porque é que o único efeito concreto foi o fim da liderança de Ferro Rodrigues? Quem quer desprestigiar indelevelmente a justiça?
E por fim:
Porque é que nunca nos respondem?

20 de Fevereiro

O Diário de Notícias festeja hoje o seu número 50.000 com um suplemento especial em que comento uma matéria sobre a Conferência de Washington de 1921 que se cifrou por uma inteligente vitória da diplomacia geo-militar dos Estados Unidos perante britânicos e nipónicos.Acentuo este aspecto porque as élites europeias não se deram conta na altura da perícia norte-americana no desmantelamento da aliança naval nipo-britânica, duas das potências vencedoras da I Guerra Mundial.Foi esse desmantelamento operado em dois tempos, primeiro pela denúncia da aliança de 1902 no Secretariado da SDN conforme ao espírito do Pacto que condenava as alianças privadas entre Estados, e depois pela conferência naval de Washington que permitiu as condições do isolacionismo dos EUA no período entre as duas guerras.

Um café, sff XI

“Os cafés nascem e morrem segundo o humor do tempo ou a fortuna da época. Os que fecham deixam como que uma ferida de memória a toda uma geração, uma impressão de membro fantasma e de fuga do tempo. Outros transformam-se, como Le Procope, aberto em 1686, que também foi um modelo. O fenómeno não é exclusivamente parisiense. Até nos podemos interrogar se os cafés Costes e os seus inúmeros clones não terão um antepassado comum com os “cafés castanhos” do bairro Jordaan, em Amesterdão, atendendo à sua tonalidade sombria, patinada por três séculos de tabagismo, sob uma luz parcimoniosa. “
Courrier Internacional

domingo, fevereiro 19, 2006

"Mourinho, Pátria e Família"

"Since his arrival in Britain 18 months ago Jose Mourinho's style, arrogance and Iberian good looks have charmed and irritated in equal measure. As his Chelsea team prepare to meet Barcelona this week, Peter Conrad argues that Mourinho's militancy and shameless self-belief are rooted in his country's fervent attachments to family, religion and politics."


Outras passagens interessantes deste "polémico" e analítico artigo escrito por Peter Conrad no Observer Review:

"The British, ironically accustomed to defeat, long ago gave up being arrogant, though we envy the strutting and preening of cockier races. But how does Mourinho look from the other side? I often travel to Portugal, where I spend my holidays; knowing the country, I began to speculate about Mourinho's pedigree, and to wonder where his nationality explains his bumptious behaviour. The experiment began playfully enough, but my conclusions - which suggest that his motives and methods owe everything to political sympathies that he has always refused to discuss - are a little worrying."

"The Portuguese journalist Miguel Sousa Tavares has admiringly described Mourinho as one of the 'condottieri', a latter-day version of those warlords who brutally ruled Italian city-states during the Renaissance."

"Mourinho is as abstemious as the puritanical Salazar. He neither drinks nor smokes, and has made only one foray into a British pub"

sábado, fevereiro 18, 2006

Algumas leis "imutáveis" da vida

"É evidentíssimo que as coisas não podem ser senão como são; porque tendo tudo sido feito para um fim, tudo existe necessariamente para o melhor fim."
- Pangloss (in Cândide de Voltaire)

"É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma."
- Don Fabrizio, Príncipe de Salina (in Il Gattopardo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa)

Fraústo da Silva ri de quê?

Leio no Expresso a algazarra entre Joe Berardo e o Governo sobre as condições de instalação de uma colecção de arte no CCB.Que saudades de Sarquis Gulbenkian e de José de Azeredo Perdigão.

Sida, vacas loucas, gripe das aves...

Parece que escapei à sida e aos efeitos das vacas loucas.Mas não me deixam respirar.Agora ameaçam-me com a gripe das aves. Isto das epidemias na era global é por ondas.Será que então já posso comer descansado o meu carpaccio?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Correia de Campos empurra Zita Seabra

O ministro Correia de Campos conseguiu empurrar Zita Seabra de novo para uma posição mais à esquerda. Foi hoje na televisão.Depois do Ministro das Finanças ter admitido o fim das pensões de reforma para daqui a dez anos, agora é o da Saúde a proclamar a «last chance» para o Serviço Nacional de Saúde.Hoje o meu sapateiro, um homem muito vivido, mostrou-se indiferente à previsão mas por ter uma saúde de ferro.Creio que me disse nunca ter ido ao médico .Estes cidadãos é que nos podem salvar...

Munique no café Landolt

Contra todas as prevenções fui ver o filme do Spielberg sobre o atentado de Munique e a resposta dos serviços secretos israelitas.Quando dos acontecimentos na aldeia olímpica em 1972, eu estava exilado em Genebra e frequentava o café Landolt que o Steiner refere no seu livrinho sobre a ideia europeia.Já não era o café de Lenine, mas por estar perto da Universidade era muito frequentado pelos estudantes(e professores!)de todas as revoluções perdidas por esse mundo fora.Sobretudo os suiços eram muito radicais.Eu já me inclinava para o realismo político o que me valia amores e ódios.Outros exilados portugueses que frequentavam o café eram o Eurico Figueiredo, o A. Barreto,o Manuel Areias, o Carlos Almeida, entre outros e outras.
Por ter encontrado ontem um «vieux» do Landolt,na altura a viver com uma israelita , e hoje jornalista da TV Suisse Romande ,Alec Feuz, em reportagem em Lisboa, e por ter visto o filme sobre acontecimentos dissecados na altura «ao vivo» em Genebra, lembrei-me desse café de revolucionários.
Agora há uma placa que assinala a estadia nele dos refugiados políticos portugueses.Uma iniciativa da Mairie de Genève, diga-se de passagem.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Em nome de ...



Até prova em contrário

Até prova em contrário não gostei nada da rusga num jornal.Agora ou se sabe tudo sobre a fuga de informação em causa, e sobre a segurança das escutas telefónicas, ou ficará disto tudo o travo forte de uma intimação intimidante.

Americanas

Há, de facto, uma propensão global de aumento da participação política das mulheres. Da Libéria à Finlândia. Mas esta tendência não se verifica em alguns países. Os EUA são um deles. Para além da percentagem baixíssima de mulheres no Congresso, esta sondagem mostra que quase um terço dos norte-americanos não apoiariam uma presidente mulher, fosse de que partido fosse.

Frankenstein no armário

Parece que o debate sobre a ultra liberal directiva Bolkestein tem passado ao lado de Portugal, não obstante a sua importância e gravidade. As consequências como a mercantilização e degradação dos serviços públicos, a deslocalização massiva e a profunda desregulação laboral, dumping social, andam arredadas das preocupações lusas.
Os deputados europeus suprimiram hoje o princípio do «país de origem» da directiva. É qualquer coisa...mas não chega.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Quem nos representa no conselho executivo do BCE?

Ainda não será desta que haverá um português no Conselho Executivo do Banco Central Europeu.Pois seria de imaginar que com tanto excesso de zelo alguém podia lá chegar.Mas não.Com as escolhas feitas no último ECOFIN, mantêm-se os representantes dos grandes da zona euro, Alemanha, França, Itália,Espanha, e entram 2 elementos da Grécia sofística em termos filosóficos e orçamentais, e da Austria rigorosa e banqueira.De fora nesta primeira década da moeda única apenas a Bélgica,a Irlanda,o Luxemburgo ...e o zeloso Portugal.Ou estaremos representados sem o saber?

Complexo de Benjamim sexagenário

Sou o mais novo de três irmãos.Um é mais velho do que eu 10 anos, o outro apenas 3.Como caçula da família tive todos os mimos, as melhores coisas eram-me destinadas, e tudo recebia com um ar reflexivo bem patente nas fotografias da altura.Habituei-me a estudar o que faziam os meus irmãos cada um com a sua idade diferente.Lembro-me de saber aproveitar as características positivas de cada um deles, e de evitar aspectos que não queria repetir, ou nas relações com os meus pais, ou nas relações sociais.Ser benjamim foi um privilégio.
Hoje o meu irmão Luis faz 67 anos.Há muito que me habituei a detectar nele os sinais de perenidade e os sintomas de transitoriedade nesta idade sexagenária.Continua activo,cada vez mais solidário,e com uma alegria contagiante.Parabéns!

Recordação dos trezentos

A Maria João Regala chamou aqui à memória o seu avô que também assinou as listas do MUD ,e por isso foi penalizado, como o fora o avô da Joana Nunes Vicente Amaral Dias.
Agora que a Fátima Bonifácio está tão liberta dos anti-fascistas em Belém(embora se deva dizer que Cavaco Silva foi grevista em 1962!) estas genealogias dos que combateram a ditadura fazem ainda mais sentido.Lembro-me que, após a grande repressão universitária em 1965, dos trezentos estudantes resistentes(que contrastavam com os milhares da greve de 1962)uns duzentos eram descendentes de perseguidos pela ditadura.Eu era dos poucos que inaugurava um nome na lista.Em Outubro desse ano fui expulso de todas as universidades do País!Bichos-carpinteiros são assim...

Novas fotos de Abu Ghraib



Aqui.

Tiro no pé

É inacreditável a posição de Cheney. Depois de ter atingido Henry Whittington durante uma caçada, não comunicou imediatamente às autoridades. E não presta declarações. São a sobranceria, o secretismo e o “atirar a culpa à vítima” típicos da administração Bush.
O ridículo aqui no The Daily Show .

O desemprego sem opa

O desemprego aumenta.Estamos ao nível dos anos oitenta.As opas que se anunciam não tocam nesta questão. Investimento que não cria emprego.Compram-se acções com os empregados que há.Continuem a festejar...

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Jesus sou eu

Silvio Berlusconi afirmou: "Sou o Jesus Cristo da política, uma vítima paciente que suporta tudo, que se sacrifica por todos". E então...Freitas do Amaral não se indigna?

Não era uma vez no Oeste

A violência não é a de Sam Peckinpah, mas está lá todo o tempo. Os dois cowboys gays, o subtítulo criado pelo público (mas que deveria ser os sheepboys gays), mesmo depois de 20 anos de relação (nos meados dos anos oitenta, portanto), continuam tolhidos por uma sociedade estreita. E, a certa altura, por uma montanha outrora sublime. Gostei do filme, mas estava à espera de um pouco mais. A segunda parte anda a pastar, às vezes é demasiado formalista e mesmo convencional. Como diz Stephanie Zacharek (Salon): "Brokeback Mountain risks so much less than its characters do -- it's a closeted movie.” Convencional até na forma como repete tratamento dado às mulheres no oeste másculo. Ficam à porta.

Boas notícias atrasadas

Até do lado das receitas da Segurança Social acaba de surgir a súbita notícia de que , afinal, há um superavit de 300 milhões de euros quando a estimativa oficial era de um deficit de 100 milhões!Ainda bem.Afinal os próximos 10 anos prometem.Lembram-se do terror das previsões avalizadas ainda há um mês?

A crise acaba a 9 de Março

Um ambiente de milhões, mais, de milhares de milhões,envolve a sociedade económica portuguesa desde o fim das eleições presidenciais.Num instante dissolveu-se a baixa pressão que adensava uma atmosfera de crise por que todos os especialistas da praça juravam.Agora o clima é de confiança.Desconfio que o milagre económico faz a sua primeira aparição no dia 9 de Março entre a rua do Possolo e o palácio de Belém.Com a benção dos mesmos cientistas.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Inter-geracional

A Joana Nunes Vicente Amaral Dias refere-se aqui ao facto de seu avô pelo lado materno, o Prof Catedrático de Medicina Nunes Vicente já falecido e agora homenageado em Coimbra,não ter sido logo convidado para assistente da Universidade por ter «assinado as listas de 1945».Pois eu duvido que a sua geração saiba imediatamente o que foram essas listas.Devia ter dito que eram as listas do Movimento de Unidade Democrática(MUD)que pretendia disputar eleições livres em Portugal depois da II guerra mundial.E que os signatários foram perseguidos pessoalmente por isso.Já agora, Mário Soares pertenceu ao MUD...juvenil.Ter sido a excelente mandatária para a Juventude do nosso candidato fez mais sentido do que muitos julgaram.

A pergunta que ninguém faz

Quando os EUA e a GB saírem do atoleiro do Iraque conseguirão ao menos ter este país como aliado internacional, ou nem isso?

domingo, fevereiro 12, 2006

Mais uns cartuchos

No Courrier Internacional, sobre Margot James:
“A nova número dois do partido conservador britânico é uma mulher política notável a todos os títulos: loira, veste “tailleurs” feitos à medida, é rica”
No Expresso, sobre Ségolène Royal :
“é uma mulher esbelta de sorriso franco e simpático (… Advogada desde 1994, tem contra si, tal como a sua concorrente da direita, o facto de a França nunca ter tido uma mulher na presidência e de os partidos serem muito marcados pelo machismo. Laurent Fabius, seu rival no PS, perguntou: «E quem vai guardar as crianças?». Henri Emmanuelli, da ala esquerda do seu partido, foi ainda mais violento: «Vou ter de meter mais um cartucho na minha caçadeira».

Sorriso metálico

Medina Ribeiro, Diário Digital:
Há uns anos, e devido ao excesso de alumínio na água, vários diabéticos morreram num centro de hemodiálise em Évora, facto esse que inspirou Carlos Borrego, à altura ministro do Ambiente, a contar em público uma anedota segundo a qual se podia obter alumínio reciclando os mortos.
Foi demitido, mas é bem possível que tenha pensado (como agora oiço dizer em relação ao caso que está a dividir o mundo) que apenas estava a exercer o seu sagrado direito de liberdade de expressão de pensamento.

Os estraga festas

no blog do Guardian

Saudades e um cafezinho

Nuno Brederode Santos escreveu no DN uma crónica terna sobre o café Értilas, em Campo de Ourique. Diz que foi desafiado por José Medeiros Ferreira, que escreveu aqui sobre o Vává, que por sua vez foi desafiado por mim, com o mote do Steiner. Tenho gostado de ver este tema dos cafés a brincar por aí. Também achei graça ao facto de Brederode Santos me ter chamado Joana Vicente, repto que o José Medeiros Ferreira, volta e volta meia, decide lançar. Especialmente porque calhou num dia em que o meu nome Vicente estava especialmente presente. Sobre o meu avó, a Catarina Resende de Oliveira disse o essencial. Faltou um detalhe, que gostaria de ter visto mencionado. Não ficou logo assistente na Faculdade de Medicina porque assinou as listas de 1945.
Manuel Vicent, também tem hoje uma delicada crónica no El País sobre o café Gijón. Vai assim: “Pero la imagen de Alfonso, el cerillero, permanecerá congelada para siempre en todos los espejos del café Gijón reflejando una época feliz, a la que deberé volver en la memoria para no deponer nunca las armas. No son las grandes tragedias las que echan abajo las cajas del teatro de nuestra vida sino la muerte de algún amigo fiel que sin darnos cuenta nos sustentaba.”

Disciplina britânica

Soldados do Reino Unido filmados a espancar adolescentes iraquianos. Vídeo aqui.

Para onde levam a caixa das esmolas?

O Expresso anuncia que o Vaticano pretende administrar directamente o Santuário de Fátima.São vinte milhões de euros anuais.Compatíveis com a reclamada«pureza teológica»?E para onde irá essa impressionante caixa das esmolas?Entrará na livre circulação de capitais entre Fátima e Roma?Esperemos pela Conferência Episcopal de Abril próximo.E veremos qual a aplicação da Concordata perante o novo ânimo da Santa Sé em interferir directamente na esfera episcopal portuguesa.

sábado, fevereiro 11, 2006

O rosário

Definitivamente este episódio das caricaturas é um colossal atentado à liberdade de expressão. Basta ver como não se consegue falar sobre outro tema.

Aguarelas de graça

Alguém me leva até à SNBA para ver a exposição de pintura de Sena da Silva, arquitecto, designer, publicitário do Portugal industrial.Somos recebidos pela viúva Leonor Alvares de Oliveira que organizou esta comemoração do 80º aniversário do marido já falecido.Ao ler o catálogo ilumina-se a dedicação.No texto «A pintura que vim fazendo» o artista , ainda no ano 2000, revela que «a pintura que tenho feito nunca teve direito a notícia».Estremeço:o direito à notícia não dá a certeza a ninguém de ser noticiado naquilo que gostaria de manter intimo e público ao mesmo tempo.
O proprietário de fábricas, o arquitecto e designer de produtos industriais. o dirigente da SNBA com Daciano Costa, pintava artesanalmente pequenas aguarelas que oferecia no seu círculo de amizades, com temas variados e expressivos agora reunidos numa sala com pouca gente.
Deparo-me com um desenho intitulado«O Monte Carlo à hora do almoço».O Monte Carlo era um café-restaurante situado na avenida Fontes Pereira de Melo junto do Saldanha-lado do Monumental desaparecido há anos, aonde se reuniam várias tertúlias ,conforme as horas, os dias da semana e as mesas.Glosando a Joana Vicente Amaral Dias neste blogue , e antecipando-me um pouco, apetece-me desafiar o Nuno Brederode:Vá lá conta!

Ai que emocionante

Editorial do Expresso:

"esta é uma grande operação, de âmbito mundial, que chama de novo a atenção dos mercados internacionais para o país e que cria um grande grupo económico de matriz indiscutivelmente nacional. E é, ao mesmo tempo, a consagração do mais brilhante empresário nacional da actualidade - e a entrega das esporas de cavaleiro ao seu sucessor."

Criador de si próprio

São 400 anos sobre o seu nascimento.
Quando visitei a casa de Rembrandt, em Amesterdão, e embora a instalação não tenha ido completamente de encontro às minhas expectativas, gostei de descobrir o Rembrandt coleccionador, o Rembrandt água-forte e o Rembrandt introspectivo.
De todas as facetas da sua obra, a que mais aprecio é a longa colecção de auto-retratos, o sistemático e despretensioso escrutínio que faz de si próprio. Longe da fama, da glória e do retrato da beleza. Uma curiosidade, metamorfose, busca e expressão única na história da pintura, ainda que precedida por Dürer e, de certa forma, expandida por Van Gogh. O auto-retrato mudou muito, desde então e a representação de si é central na arte do séc. XX. No livro que acompanhou a exposição Narcisse Blessé (Paris, Passage de Retz, 2000] Jacqueline Frydman diz que « l´autoportrait, à l´aube du XXI siècle, demeure un leitmotiv pour l´artiste et une recherche de soi-même pour le regardeur « Olhar para os auto-retratos de Rembrandt é descobrir a conturbada história da sua vida, a sua perplexidade constante e a sua humildade. Mas é também perceber que não se tratou de acaso algum, nem sequer de um acto pragmático, resultante da disponibilidade imediata do modelo. O auto-retrato era um projecto artístico para Rembrandt, a representação da própria humanidade. Neste auto-retrato, poucos anos antes da sua morte, a imbricação da arte e da carne aparece num exacto recreio de luz, sem dúvida estudado de modo a que nenhum traço do tempo fosse subestimado. Não se incomoda com ser visto, oferece esse olhar com tranquilidade e sem qualquer pose. A viagem dessa luminosidade irrepreensível na diagonal e na vertical dirigem a atenção. Sem dúvida que Rembrandt sabia que “moi à cette heure et moi tantôt sommes bien deux »-(Montaigne]. Tudo bons pretextos para continuar o ART&rial.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Até onde?

Por mais pessimista que se seja em relação à administração Bush, os seus métodos são sempre surpreendentes.

Receitas Fantásticas

Insectos Voadores
Colocar 3 bastões perpendicular, formando um cilindro, sustidos por dois círculos de madeira, tipo lanterna veneziana. Fazer um orifício no círculo superior. Cobrir a estrutura de madeira com um pano fino, untado com mel ou visco.
Esta lanterna deverá ter aproximadamente 50 cm de diâmetro e 60 cm de altura. Colocá-la sobre qualquer objecto, a uma altura de 1 m do solo e, ao anoitecer, por uma vela acesa no seu interior.
Na manhã seguinte, uma miríade de dípteros, coleópteros, lepidópteros e outros insectos estarão presos no pano da lanterna.

(Ed. Fim de Século)

Uma ambivalente nova ordem


A cena inicial, a vozearia inconveniente que perturba os “mistérios Gloriosos e Dolorosos” recordados pelo príncipe na recitação do rosário, condensa toda a história. O destino de uma classe que vivia então encerrada “entre três muros e um dos lados da villa” numa “clausura que lhe conferia um ar de cemitério” (Lampedusa, p.13, Livraria Bertrand) . O conto da decadência e morte de uma época e de uma sociedade. E tudo perto da perfeição.
A esterilidade das paisagens sicilianas, as ruínas de Donnafugata, a entrega do sangue nobre na dança do príncipe com Angélica- onde o sacrifício se estende à felicidade da própria filha- o enfado da madrugada do baile com os seus bacios sebentos, o tom de fim de festa, o reflexo proustiano do tempo na imagem do príncipe ao espelho, convergem para essa prece pura que o príncipe faz a Vénus “sempre fiel”, “longe das imundices e do sangue” (Lampedusa, p.273). A constância.
O mais longo baile do cinema e a frase “é preciso que alguma coisa mude, para tudo continuar na mesma”, são habitualmente apontados como os clímaxes do filme. Contudo, partilho da opinião de José Medeiros Ferreira quando indica a magistralidade do diálogo entre o Príncipe e Chevalley.
Chevalley convida o príncipe para o senado, num discurso balofo. Diz Lampedusa que “as lisonjas deslizavam sobre a pessoa do Príncipe como a água nas folhas dos nenúfares; esta é uma das vantagens de que gozam os homens que são ao mesmo tempo orgulhosos e habituados a sê-lo” (p.201) E responde: “-Ouça-me, Chevalley; se se tratasse de um sinal honorífico, de um simples título para pôr no cartão de visita e mais nada, eu teria muito prazer em aceitar: julgo que, neste momento decisivo para o futuro do Estado italiano, é dever de todos dar a sua adesão, para evitar o espectáculo de discórdias em face daqueles Estados estrangeiros que nos olham com um temor ou com uma esperança que se revelarão talvez injustificados, mas que, por ora, existem.
(…) Nós, os sicilianos, habituámo-nos durante uma longa, muito longa hegemonia de governantes, que não eram da nossa religião, que não falavam a nossa língua, a cortar os cabelos em quatro. Quem não fazia isto não podia escapar aos extractores bizantinos, aos emires berberes, aos vice-reis espanhóis. Agora fomos dobrados de novo, somos assim feitos. Nestes últimos seis meses, desde que o vosso Garibaldi pôs o pé em Marsala, foram feitas demasiadas coisas sem nos consultarem para que se possa agora vir pedir a um membro da velha classe dirigente que as tome em mãos e as leve a bom termo. Não quero discutir neste momento se o que se fez foi mau ou bom; mas quero-lhe dizer já que o senhor só compreenderá por si quando tiver estado um ano entre nós. Na Sicília não importa fazer mal ou fazer bem: o pecado que nós, sicilianos, não perdoamos nunca é simplesmente o de “fazer”. Somos velhos, Chevalley, terrivelmente velhos.” (p.203)
É a fala da perenidade de um sonho e de todas as civilizações, perpetuadas por Giuseppe Tomasi, duque de Palma e que iniciou a escrita deste romance aos 60 anos. No filme, a contrário do livro, só há a insinuação da morte do príncipe. Não é permissível odiar coisa alguma, a não ser a eternidade, dizia D. Frabício.

Assim não vamos lá

O Eduardo Prado Coelho dá-se conta, hoje no Público,«da catástrofe que se abateu sobre a esquerda portuguesa».Antes tarde do que nunca, é certo.Mas a divisão dela durante a campanha presidencial foi fatal.A esquerda já tinha perdido substância, depois das presidenciais perdeu protagonistas que a podiam densificar.Desses possíveis protagonista tratou o império da comunicação social e a falta de sentido estratégico dos deslumbrados.E agora há por aí muita gente à esquerda colonizada pela direita.Que os escolherá nos próximos tempos.

O Príncipe Salina não colaborou

Já tinha visto a versão italiana do filme de Visconti, O Leopardo, na cinemateca no fim do verão de 2004.Agora foi no cinema Nimas.Aprecio tudo como se fosse a primeira e a última vez.Conheço de cor todas as cenas do filme, decor,movimentos de câmara,momentos altos da representação dos actores,a música composta pelo Nino Rota digna de ser tocada em concerto como uma das grandes composições da segunda metade do século XX, os diálogos,

quer na versão inglesa que vi uma dezena de vezes, quer agora na versão italiana sempre imaginada.
Desta vez retive sobretudo o diálogo entre o enviado de Turin, tão similar ao próprio Cavour obreiro político da unidade italiana, e o príncipe de Salina,quando este recusa o cargo de Senador e indica Sedara para tal lugar.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Charles Bukowski


"The more crap you believe, the better off you are."

Caricatural

Caricatural é a actual situação política internacional dominada pelas violentas reacções islâmicas à publicação de caricaturas boçais de Maomé num jornal ridiculo da Dinamarca.O Estado Português não tinha nada que se pronunciar sobre o assunto, e caso fosse um problema europeu então, sim, ñuma declaraçâo comum se associaria sabe-se lá a quê.Como a reacção do Governo era mais do que facultativa este errou infantilmente nas palavras.As outras crianças caem-lhe agora em cima.Quando a cólera atiçada passar é possível que alguns tenham crescido.Do outro lado brinca-se menos do que na nossa rua.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A olhar o céu

Luisão já não é o único jogador do Benfica a olhar o céu quando a técnica,ou a sorte, não o ajudam.Com o Manuel Fernandes a titular , e a errar passes e remates em demasia, não têm faltado grandes planos televisivos com ele a culpar a sorte madrasta em atitude semelhante à do brasileiro.Acham que estou a fazer uma caricatura?

«In hoc signo vinces»



Cenários possíveis e futuros (sem a ajuda de um Nostradamus) caso a OPA da Sonae vá para a frente:

a) O Governo Socrático ficará tranquilo porque a PT fica em mãos nacionais.
b) Os Espanhóis, esses cobiçadores do património nacional, não se chateiam muito porque sempre têm o Brasil e a Vivo para o «trade-off» ... do descanso nacional dos nossos governantes.
c) O Brasil, esse sorvedor de «cash-flow» da PT (segundo o clã Azevedo) é há muito persona non grata para uma Sonae já escaldada em territórios de Vera Cruz. Sendo assim, a Vivo pode realmente ficar para os Espanhóis.
d) TMN ou Optimus? Nas telecomunicações uma tem que ir. A AdC-Autoridade da Concorrência nunca aprovará um bolo que vale 63% de quota de mercado. A TMN não só é líder de mercado como é mais lucrativa que uma Optimus (outra sorvedora de «cash-flow» da Sonae). A TMN fica, até pela carga simbólica (foi a primeira operadora móvel nacional). A Optimus será vendida ... quiçá France Telecom? Teremos uma Orange em Portugal a curto ou médio-prazo?
e) Fixo vs Cabo? Com uma dinâmica imparável à vista, as telecomunicações móveis estão a tornar a rede fixa no médio-prazo num «challenger» quase-obsoleto. Por outro lado a Sonae.com anunciou já o ano passado que iria lançar no mercado um pacote "três em um" de internet, voz e televisão (vulgo «triple-play») que iria correr via ADSL (internet banda larga). Resta saber se, com uma OPA frutífera e com o acesso a toda a infra-estrutura de cabo da PT que cobre todo o território nacional, irá optar por manter esta ou vender a TV Cabo.

Enfim ... o que será, será.

Entender uma decisão

A minha recente decisão de me demitir dos cargos dirigentes no PS para os quais fora eleito no seguimento do apoio dado a Manuel Alegre para Secretário-Geral em 2004 teve duas reacções distintas na blogosfera:uma generosa e compreensível por parte do João Gonçalves, outra filha do desconhecimento do Paulo Gorjão.Azedume?!Por amor da liberdade de expressão!

terça-feira, fevereiro 07, 2006

O outro


A opinião pública global

Relatório completo aqui.

E um detalhe...

"With Iran included in this year’s poll, it has displaced the US as the nation with the most countries giving it a negative rating."

Contar para os outros

O Gil do Espírito de Xabregasretomou o meu post em que apresentava à JAD o espírito do Vává, e completou-o com os azulejos da Menez, pelos quais eu já me penitenciara de os não ter referido, além de ter descrito o menú da época em molhos pouco saudáveis.Confesso que na prática só tomava café no dito, pelo que ainda hoje tenho um bom estômago!É claro que muitos outros aspectos se podem recordar daquela tertúlia , e o Gil não deixa o ambiente revolucionário e «consciente» por mãos alheias.E fez bem.Apenas pretendi entrar no tema e, como não podia deixar de ser, não citei muitos nomes.Até porque as mesas eram estreitas...
Também teria valido a pena referir que a zona urbana onde se situa o Vává , na confluência da Avenida dos EUA com a de ROMA, representava na altura a mais moderna Lisboa.Creio que o cinema quarteto ainda nem existia.Em compensação havia perto as enormes salas do Alvalade,do Roma,e, sobretudo a do Império com as suas «sessões clássicas», e estreias à quinta-feira.Que mais?

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Vá lá conte...

É assim que a Joana Vicente termina o último post sobre os cafés europeus aqui nos bichos, convidando-me a falar da tertúlia que animou o Vává entre os anos 60 e 70 do século passado.Embora não partilhe da busca da alma europeia pelos cafés por onde digressei, como o fez G. Steiner nas suas palestras encantatórias, saboreei os relatos literários que a minha co-bloguer aqui escreveu sobre o tema e que tantos leitores cativou.E aproveito para esclarecer que no Match Point apenas me fixei na transformação técnica da Scarlett Johansson em relação à encarnação do Lost in translation.Nem vi para que lado caíu a bola...Foi o que tentei dizer num post arquivado.
Pois no Vává era assim.Perdíamo-nos por uma discussão acidental sobre um filme, um actor,um acontecimento, uma escolha sobre o que fazer a seguir.
A tertúlia do Vává nasceu da reunião de duas famílias principais e distintas até aí:os cineastas e artistas circundantes de um lado; e, de outro lado, os estudantes anti-fascistas que povoaram de fantasmas o imaginário político da Fátima Bonifácio até à recente vitória de Cavaco Silva.Nenhum dos dois aparecia no vává naquela altura.
Eu próprio só apareço com outra sistemática depois de ter sido expulso da cidade universitária pelo reitor Paulo Cunha, sem que da Dinamarca me viesse socorro figurado.Embora não fosse linear, as coisas passavam-se assim: os cineastas pretendiam levar no seu cinema as jovens associativas em esforços de emancipação, e os associativos desdobravam-se em proteger o seu território e em lançar as vistas para o mundo livre da criação artística.
Quem fazia admiravelmente a síntese eram duas mulheres, a Milice Ribeiro dos Santos e a Lena Carneiro que tratavam por tu o Escudeiro,o Seixas Santos,o António Pedro de Vasconcelos,a Noémia Delgado,o Paulo Rocha,o Gérard Castelo Lopes,o Cunha Telles, a Piedade Ferreira,a Ana Louro,a Ani Alves,o A Dias, o Vilhena e tantos outros.O Lauro António já oscilava entre o cinema e os estudos.E tenho ideia de ver por lá , sem assentar, o VPV e a Nani que seria capa da ELLE, versão original..
Com lugar à parte havia a Maria Emília Brederode,que se emancipava pelo facultativo trabalho em part-time numa agência de publicidade situada num andar superior no mesmo edíficio que o café e nos premiava com a sua presença distinta.O irmão Nuno frequentava a tertúlia com aquela indiferença que Miterrand concepualizaria mais tarde.
Lugar à parte tinha ainda o Fernando Lopes que de certo modo capitaneava os cineastas e declarava a Guerra e a Paz entre as componentes da tertúlia.Dia inesquecível foi a ida em peso do Vává à estreia do seu filme BELARMINO.Também o João César Monteiro fazia das suas e convidava todas as mulheres para as filmagens.Apaixonou-se pela misteriosa Teresa Bento, um rosto inesquecível vindo da luta estudantil, cujo pai era um fervoroso de Salazar, tendo eu herdado os volumes dos Discursos do ditador, oferecidos por ela antes de desaparecer.
Havia ainda escritores,jornalistas, e, muitos mirones, quando o êxito, ou apenas a fama, começaram a crismar alguns nomes.Foi aí que passámos a frequentar o Gambrinus ao fim da noite...

Vão gozar outro

The Guardian:
Jyllands-Posten, the Danish newspaper that first published the cartoons of the prophet Muhammad that have caused a storm of protest throughout the Islamic world, refused to run drawings lampooning Jesus Christ, it has emerged today.
The Danish daily turned down the cartoons of Christ three years ago, on the grounds that they could be offensive to readers and were not funny.

Polícia da tatu


Mulher proibida de andar de avião por causa de uma tatuagem. Ai que livres.

Bichos Carpinteiros por aí

Do leitor do DN, António Lopes (Viana do Castelo):

Lí o DN de hoje como é óbvio!
Também li montanhas de arengas dos nossos mais ilustres
escrevinhadores e fazedores de opinião que não sabem sair
do elogio aos altos valores da liberdade do Ocidente, o que não pode
ser postos em causa. Nem a liberdade nem o seu elogio.
No entanto ainda não compreenderam que com a publicação dos tais cartoons
na muito aberta e liberal Dinamarca, a Europa, ou no mínimo alguns Europeus
deram um lindo auxílio aos líderes moderados muçulmanos.

E o que está em causa é o que o Ocidente ou pelo menos a Europa pretendem.
Não será o aparecimento de elites moderadas que conduzam o poder no mundo
muçulmano para sociedades mais abertas???

- Que saída dão os desenhos dos senhores dinamarqueses aos dirigentes da Turquia
p.e, ou ao Presidente do Afeganistão???

- Carregar com polícias e tropas sobre os manifestantes acirrados por extremistas???

Se mesmo assim não entenderem o que está em causa eu proporia aos nossos mui corajosos
artistas da banda desenhada que fossem passar férias a um qualquer país muçulmano
e assumissem lá a autoria de tais divertimentos invocando a liberdade do o fazer.
É muito confortável fazer garatujas numa sala com ar condicionado e publicá-los na
protecção dos nossos princípios.

Também não repararam que a liberdade não dá, automaticamente, o descernimento e a sensatez a ninguém.
Muitas vezes ou já se nasce com estas ou nunca mais se adquirem.


E eu sou insuspeito pois não me incomodadaria nada que um qualquer antónio
ou um qualquer cid fizesse um arabesco representando o J. C. a dançar o fandango com a Maria Madalena!
Tanto menos que até vivemos num país onde (também) há liberdade de expressão.
( Isto muito embora pese o Bispo de Beja).

Sabidíssimo

Frases do TPC do meu filho para colocar no grau superlativo absoluto sintético:
* Sabias que o Miguel é muito amigo do novo Ministro da Economia?
* O velho mordomo, muito fiel ao Conde, correu logo a informá-lo do sucedido.
* Muito humildes, sempre haviam servido o amo com toda a dedicação e lealdade.
* Protestando com veemência, considerava-se espoliado de um direito muito sagrado

Nada de novo entre Londres e NY

Já que o Rui decidiu dar mais uma pancada no Match Point, com a qual concordo totalmente, aproveito para dar mais duas. Uma é um detalhe irritante: o facto de vermos primeiro o rapazinho a ler o Crime e Castigo e depois o Cambridge Companion to Dostoevsky. Piada sem graça. A segunda está relacionada com o comentário do Rui e prende-se com a obsessão de Woody Allen com as “outras”. As mulheres nos seus filmes são sempre umas tontas perturbadas que destroem lares e não fazem um chavo. Um rol de estereótipos sobre as relações amorosas, que chegam mesmo (geralmente) ao “ bom e o mau e já está”.
Mais um filme “made by a poor little rich boy who's perpetually on the outside looking in, gazing forlornly at this privileged world to which he's always wanted to belong, is so phony. "Match Point" is a fatally neat exercise in detached craftsmanship, and maybe that's the best we can expect from Allen at this point. If so, then all we can do is weep at the tragedy of his hangnail. “ (Stephanie Zacharek, Salon)

Betty Friedan (1921-2006)

Ou deveria dizer Betty Goldstein?

E sobre o futuro do feminismo…a perspectiva pessimista:
“As mulheres fizeram marcha-atrás uma primeira vez. Fá-la-ão de novo dentro de uma década ou duas? Projectemo-nos em 2030 e tentemos ver no que se tornaram essas jovens que pensaram ser um esforço vão tentar conciliar a vida familiar e a vida profissional. Encontrá-las-emos, em idade madura, espartilhadas nos subúrbios, cheias de ansióliticos, nas garras de adolescentes rebeldes, abandonadas pelos maridos que desandaram com jovenzinhas, incapazes de se integrarem no mercado de trabalho onde nunca tentaram entrar?
Imaginamos facilmente uma cena surreal e familiar, em que as mulheres percebem que fizeram a escolha errada e caíram numa armadilha velha como o mundo. Privadas de poder, dinheiro, independência, serão simples robôs domésticos, procurando desesperadamente uma nova Betty Friedan.”
Maureen Dowd (Courrier Internacional, nº39)
Mais optimista:
“Desde que nasceram, foram bombardeadas por consumismo, conservadorismo e hiperindividualismo; e ouviram dizer em todos os tons que o feminismo é absolutamente antiquado e, verdadeiramente, não-sexy. Dowd papa com tanta credulidade a propaganda da frustração, que não lhe ocorre que está a favorecer o problema que descreve. A bem dizer, com todo o mal que se diz dele, fica espantada por o feminismo ainda existir”
Katha Pollitt (The Nation)

Seja lá como for…e como dizia o hit brasileiro dos anos oitenta (A estranha história de Roni Rústico e Betty Frígida)
Hey Roni, você viu o que aquele boçal escreveu no jornal?
-Oh! Eles não sabem de nós
E os urubus continuam passeando a tarde inteira entre os girassóis.

Um café sff X

Gostei de ouvir o Fernando Alves a ler este excerto do Steiner na TSF e de ler João Céu Silva sobre este outro livro, dando a Lisboa um “sabor a Paris”. Italo Calvino dizia que quando visitamos Paris temos a sensação de chegar a um território familiar porque, sem nunca lá termos estado, conhecemos os seus monumentos, os seus escritores, os nomes das ruas. E os principais cafés.
Albano Matos também se lembrou do mesmo tema: “Já Lisboa (citada por Steiner logo a abrir a palestra) regrediu ao nível pré-café (ou pós-bancário, pela quantidade de estabelecimentos transformados em bancos nos últimos 40 anos), destruindo em massa cenários de amores e conspiratas, discussões literárias e revoluções permanentes. Da memória apagaram-se traços essenciais da história em que café Humberto Delgado pronunciou o famoso "Obviamente demito-o" que levantou um clamor em Portugal? Em que balcão Pessoa se deixou fotografar "em flagrante delito"? Ficamos assim, às portas da nova civilização, num limbo sem cafeína.

É a Lisboa sem o Chave D’Ouro, o Café Chiado- herdeiro do Marrare de Almeida Garrett- o Martinho, o Palladium, o Montecarlo, o surrealista Gelo ou cinéfilo Vá-Vá.
Li, já não me lembro onde, que o Medeiros Ferreira e o Fernando Lopes também frequentavam o Vá-Vá. Vá lá…conte.

domingo, fevereiro 05, 2006

A arquitectura da densidade






[Clique nas imagens para aumentar]

by Michael Wolf

Século do Medo?

Não afirmo peremptoriamente que vivemos no Século do Medo, como alguns declaram. Mas que o Medo, de efeitos poderosos, é um dos temas que domina a comunicação social, desde as gripes às alterações climáticas, parece-me evidente. E que o medo tem sido particularmente fermentado desde o 11 de Setembro, também.
Aliás, a propósito disso, vale a pena relembrar o documentário The Power of Nightmares, que remete para a diferença entre a “antiga” proposta de sonhos e a actual promessa securitária.
Embora as reacções de pânico em massa sejam menos frequentes do que se supõe, alguns interrogaram-se sobre se o medo dos ataques terroristas não as podia fomentar. E não tendo encontrado nenhum documento que confirme o aumento da sua frequência, alguns acontecimentos parecem querer mostrar essa possibilidade. A morte de quase 1000 pessoas em Bagdad em Agosto de 2005, quando a multidão entrou em pânico na sequência de rumores que davam conta da presença de um bombista suicida, é um deles. A histeria em massa ontem em Manila, é outro.
Mas não será apenas o “clima de medo” de que tanto falava Michael Moore, que lança condições para estes comportamentos. O facto de as pessoas se reunirem cada vez mais em mega-cidades, potencia-o. E o evacuamento, como aliás ficou demonstrado pelo Katrina, está longe de ser bem planeado.
Por outro lado, o que parece evitar o pânico entre a multidão são os laços, a coesão e a solidariedade. Numa sociedade de desaliança, onde estão esses comportamentos?
Ontem nas Filipinas, a multidão reunia por causa de um concurso que dava carros e afins. Uma população altamente desfavorecida que, depois de muitos terem morrido espezinhados, continuou na fila de espera.

Smash


Pessoas bonitas a fazerem coisas horríveis umas às outras dá bilheteira.
O resto dá Barthes: “He has always regarded the domestic “scene” as a pure experience of violence (…) If scenes have such a repercussion for him, it is because the lay bare the cancer of language. Language is impotent to close language- that is what the scene says: the retorts engender another, without any possible conclusion, save that of murder.”
(Rolland Barthes by Rolland Barthes, 1994, Univ. of California Press)
Não gostei particularmente do filme…
A sério. Umas críticas truculentas aqui e aqui.

Luso milhões

Antes

Beber vinho é dar de comer a 1 milhão de portugueses

Depois 1) 2)

Beber as palavrinhas de Bill Gates é dar de comer a 1 milhão de portugueses 3)

1) depois de ter apagado a hipótese: brincar ao apartidário convence um milhão de portugueses
2) depois de ter eliminado a hipótese: legalizar o casamento homossexual é dar um direito a um milhão de portugueses
3) depois de ter eliminado a hipótese de "a quase todos os portugueses" - formar 1 milhão de portugueses, tendo em conta que a população activa são cinco milhões, significa formar 20% dos que trabalham

sábado, fevereiro 04, 2006

O cartoon da discórdia



A propósito de Maomés, cartoons e afins ...

A liberdade de expressão como é sabido, é um dos pilares de sustentação do «modus vivendi» Ocidental. Esta concepção pluralista do mundo e do lugar que o homem ocupa nele, como é igualmente sabido, parece ser dissonante com a concepção monólitica que o Islão tem do homem e do seu uso da palavra.

Este pequeno preâmbulo serve-me para saltar de imediato para duas pequenas observações pessoais:
1) O mundo Ocidental é diferente do mundo Islâmico. Obviamente o primeiro não se deve assumir como moralmente superior ao último, no entanto este (mundo Islâmico) não pode utilizar e intimidar ao mesmo tempo, o espaço público que lhe permite ter uma voz discordante (como aconteceu na Dinamarca). Há aqui uma contradição de termos, bastante interessante: "somos" contra a liberdade de expressão, no entanto usamo-la para mostrar que estamos descontentes com a mesma.
2) O Ocidente sabe o quão díficil é dissociar a questão da "liberdade de expressão" da questão da "liberdade de acção". Como observou John Stuart Mill no seu On Liberty (1859) será que um indivíduo tem o direito de poder gritar fogo no meio de um teatro cheio de pessoas? Ter esse direito até tem, agora também tem o dever de se responsabilizar pelo consequente efeito da sua acção. E é isso que parece estar a acontecer na Dinamarca neste momento ... estamos a tentar "apagar o fogo."

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Mulheres na Política

Um outro fenómeno a verificar no próximo futuro será o da maior presença de mulheres em cargos políticos de responsabilidade.Já as estamos a ver chegar ao topo em países tão diversos culturalmente como a Alemanha e o Chile.Mas isto é só o começo do que aí vem, e isso por duas razões:primeiro porque as mulheres estão cada vez mais preparadas para a intervenção cívica a todos os níveis, segundo porque o poder político tem vindo a perder força e atractivo, nesta fase da globalização, perante outros poderes como o financeiro, o empresarial, ou o da comunicação social.Não admira pois que os homens em idade fértil prefiram testar-se noutros campos de actividade.As mulheres entrarão assim na vida política como entraram noutras profissões.Para ficar.

Procura-se



Presidente Sombra?

Blush

Depois do Downing Street Memo, um livro que revela o pacto feito entre Bush e Blair, que terão decidido invadir o Iraque semanas antes do que foi anunciado e independentemente da resolução das Nações Unidas.

Milão, 2005


O ano passado este anúncio foi proibido em Milão. Na altura, a IAP, entidade que fiscaliza a publicidade em Itália, afirmou que a fé cristã não podia ser parodiada e que era ofensivo para uma parte significativa da população. E declarou mesmo que o facto de se ver o torso nu de um homem a ser abraçado por uma mulher tornava o cartaz publicitário particularmente ofensivo.
O cartaz foi inspirado no Código da Vinci, que sugere que, na pintura, a figura de João é Maria Madalena. O livro de Dan Brown, aliás, foi durante criticado pelo Vaticano, pela voz do cardeal Bertone que, entre outras coisas disse que: “O livro é um monte de mentiras contra a Igreja, contra a verdadeira história do Cristianismo e mesmo contra Cristo. Pediria ao autor deste livro e de outros semelhantes para terem mais respeito porque a liberdade de expressão tem limites quando não respeita os outros”.

Debate em directo

com José Bové, no Le Monde
Quelle stratégie pour la gauche de la gauche en 2007 ?

Idosos na Política

Dei uma entrevista em plena campanha eleitoral a uma jornalista alemã que se mostrou surpreendida pela candidatura de Mário Soares por este ser octagenário.Como nem o exemplo de Adenauer a convencia, chamei-lhe a atenção para o facto de ,em breve, muitos quadros passarem à reforma em plena capacidade intelectual e física.Esses reformados não irão jogar cartas para as sociedades recreativas, ou para os jardins, antes veremos engenheiros,arquitectos,juristas,jornalistas, professores, e tantos outros que recusam a marginalidade, a intervirem cada vez mais na vida política, com muita experiência e mais tempo livre.Mário Soares só anunciou esse fenómeno que a pirâmide demográfica confirmará em breve. E nem todos se contentarão com os blogues...

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

A Globalização apetece mais do que a Internacional

Antes os nossos políticos pelavam-se por se passearem com os colegas estrangeiros de renome a quem tratavam publicamente por tu.Agora preferem fazer o mesmo mas com Bill Gates.E viram todos aqueles ministros na cadeia de produção a assinarem papel atrás de papel perante o ar sábio do «do homem mais rico do mundo»?
Espero sinceramente que Bill Gates leve uma boa impressão de tantos de nós!Gosto de gente útil para a humanidade.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

O taxista que não leva o cliente

Porque será que embirro com aquele motorista de taxi que no spot publicitário se recusa a levar o cliente à Caixa, e o manda ir por várias partes?Ao menos tem dado resultado?

"Os frutos são de todos"

A Alegre e à sua "coutada cívica":

"Le premier qui, ayant enclos un terrain, s'avisa de dire: Ceci est à moi, et trouva des gens assez simples pour le croire, fut le vrai fondateur de la société civile. Que de crimes, de guerres, de meurtres, que de misères et d'horreurs n'eût point épargnés au genre humain celui qui, arrachant les pieux ou comblant le fossé, eût crié à ses semblables: Gardez-vous d'écouter cet imposteur; vous êtes perdus, si vous oubliez que les fruits sont à tous, et que la terre n'est à personne."
- Jean-Jacques Rousseau, "Discours sur l'origine et les fondements de l'inégalité parmi les hommes" (1755)

Aforismos de um "imoralista"

"Só as pessoas que pagam as suas contas é que precisam de dinheiro, tio George, e eu nunca pago as minhas."

"Eu faço uma grande distinção entre as pessoas. Escolho os meus amigos pela aparência, os conhecidos pelo carácter e os inimigos pelo intelecto."

"Quando as verdades se fazem acrobatas, podemos apreciá-las."

- Lord Henry, o Cínico (Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray)

Por falar em MIT's ...



Por falar em MIT e como atalho de foice aproveito para partilhar com a blogosfera este curioso e luminoso "mupi pisca-pisca" da Bacardi Holanda.

Acabadinho de "picar" do blog do meu amigo Ilya Vedrashko, estudante e blogger do MIT.

Cavaco Silva desce

Os resultados finais das eleições presidenciais declarados pela secção de apuramento do Tribunal Constitucional revelam uma descida na percentagem de Cavaco Silva, o vencedor à primeira volta, mas agora ainda mais à tangente.Eis uma derrota empírica para a multidão de cultores do óbvio que sempre souberam que o Professor passaria à primeira!
Como alguém que preza a validade dos resultados eleitorais como uma das mais-valias da nossa democracia, creio chegado o momento de começar a prestar atenção a estas pequenas falhas do sistema entre o STAPE e o Tribunal Constitucional.E aproveito para felicitar Cavaco Silva por esta vitória tão apertada.!

A direita vira o dente a Manuel Alegre

Acabou a festa da direita dedicada a Manuel Alegre.Conseguido o objectivo principal de anular Mário Soares nas presidenciais a direita volta-se agora contra o poeta e aponta-lhe todos os pecados do mundo.Manuel Alegre meteu a esquerda num grande sarilho e o seu milhão de votos parece que não vai servir para nada.Nem sequer para lhe dar estatuto na AR.Vice-presidente com um milhão de votos?Antes soldado raso.Pior só um movimento cívico saído desta confusão.