quarta-feira, fevereiro 22, 2006

A cultura dos "outros" e do "eu"



Foi com deleite que ontem vi duma ponta à outra o "Status Anxiety" na Dois. Alain de Botton, autor de vários livros entre os quais "The Consolations of Philosophy" (título quase-emprestado da obra de Boethius), "How Proust Can Change Your Life" e "Status Anxiety" - dissertou durante o programa sobre a pressão que as pessoas sentem nas sociedades modernas Ocidentais em "saírem-se bem na vida", em não falharem perante o olhar "aceitador" dos outros e perante o status quo vigente.

Sobre o programa, eis algumas conclusões em jeito telegráfico:
1) Como observou e bem Milan Kundera no seu "Imortalidade", as ideologias foram hoje substítuidas pelas "imagem-logias". Hoje não somos mais do que a imagem que os outros têm de nós e da imagem que nos esforçamos por projectar nos outros.
2) Hoje sofremos de uma pressão inata, fruto desta "cultura do sucesso"; em que todos sentem a obrigação de se darem bem na vida, não por mérito ou ambição própria - mas por necessidade de aceitação dos outros, por necessidade de integração no modus vivendi Ocidental, o mesmo que tem substítuido a ideia de comunitarismo cívico por uma ideia de "winners vs losers".

Blaise Pascal tinha razão, por vezes "o eu é detestável" porque precisa do "outro" para ser.