terça-feira, janeiro 31, 2006

A blogosfera vai animada

Temia que após as presidenciais a blogosfera se ressentisse dos 3 meses temáticos e caísse num certo luto, sobretudo entre aqueles que mais se dedicaram ao assunto.Mas não, e ainda bem!
Ontem, ao conversar com o João Gonçalvesdei-me conta que o segredo da sedução dos blogues está neste perpétuo movimento de querer encontrar os outros por todos os meios ao nosso alcance!
Por isso a rendição de Vasco Pulido Valente é uma excelente notícia para todos nós e para ele também!Obrigado Constança Cunha e Sá.

Leitura encenada

A Isabel Medina convidou a Maria Emília e a Maria Emília convidou-me, a assistir a uma sessão de leitura encenada no Teatro da Comuna.Como tenha boas recordações de sessões do género fui ver a peça «in progress»-O Olhar do Outro-produzida pela Escola de Mulheres, sobre a actual questão da imigração.
Trata-se de um trabalho colectivo entre encenadores portugueses, espanhois, marroquinos e franceses, baseado em inquéritos junto de associações de imigrantes e outros agentes ligados ao fenómeno, que aliás também estiveram presentes e debateram o tema no fim da peça.
Esta foi encantatoriamente lida por Fernanda Lapa, Rogério Samora,Albano Jerónimo, Leonor Seixas e São José Correia.Sempre gostei de ouvir ler bem peças de teatro.
A estreia da versão dramática está prevista para o verão.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

"Your jornalism"


[Clique na imagem para ver]

É provável (ou não) que muitos de vós tenham já ouvido falar da Current TV, projecto de Al Gore (sim, o ex-Vice e compagnon de route de Clinton) que, em termos análogos, mais não é do que uma "plataforma Blogger" mas em televisão. Ou seja, assim como a blogosfera permite a democratização, partilha e interacção da palavra e da opinião na internet, a Current TV espera fazer o mesmo via Televisão - a audiência, os destinatários podem igualmente passar a emissores de conteúdo.

Sean Penn no video acima ilustrado (independentemente de se gostar dele político ou cinematograficamente), tem um discurso interessante sobre o conceito de "viewer created content": do porquê das pessoas poderem criar e partilhar as suas "estórias" pessoais ou factuais, de como estas podem e devem ter integridade e valor jornalístico complementando-se à media tradicional, muitas vezes "biased" e influenciada por certas agendas politico-económicas.

Outras presidenciais

Leio que em ano de eleições intercalares para o Congresso dos EUA já se começa a falar das primárias para as presidenciais de 2008.Desde este outro lado do Atlântico declaro que Hillary Clinton é a minha preferida.Porque sabe, porque quer, porque pode.E porque uma mulher que consegue manter a sua autonomia como ela merece a minha admiração.

domingo, janeiro 29, 2006

Evidências do dia

Aparentemente, a Banca não é a única capaz de trazer a neve à cidade de Lisboa.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Qual Hamas?

Leader, The Guardian

Hamas's election manifesto did not repeat the call of its charter for the destruction of the Jewish state. It has been disciplined enough to largely observe a year-long ceasefire and has hinted it may continue that indefinitely. Its electoral triumph probably owes less to its resistance to occupation - an unequal struggle against Israeli F16's, Hellfire missiles and targeted assassinations - than to its demand for clean hands and delivery.
(...) Had Hamas won just a few ministerial seats in a powersharing cabinet dominated by Fatah, the tension between politics and resistance could have been hard to resolve.
(..) Victory for Hamas is a Middle Eastern earthquake that may bring new opportunities to the immense task of building peace between two peoples who have been fighting for far too long in the same small country.
Presumiblemente, para los radicales islamistas se acaba el tiempo de la retórica y llega el de las decisiones difíciles. Hamás sabe que su capacidad para gobernar la vida de los palestinos de modo tolerable depende tanto de sus relaciones con Israel como de la implicación occidental y de su ayuda económica. Hamás, que ha sembrado de cadáveres Israel con sus atentados suicidas, ha sido bastante escrupuloso en el último año en su observancia de la frágil tregua pactada por Abbas. Los tiempos que vienen exigen calma y contención, y no cabe descartar que el pragmatismo acabe imponiéndose y que verdades consideradas ahora teológicas acaben disolviéndose en una prédica sin graves consecuencias prácticas.

Os novos chefes

Os jornais começam a efabular sobre os novos nomes para o staff de Cavaco Silva em Belém.Mais importante do que o nome do Chefe da Casa Civil parece-me ser o do futuro Chefe da Casa Militar e, ainda mais importante, a composição desta.Os nomes para o Conselho de Estado também devem merecer atenção e descodificação.Não tenham dúvidas de que a presidência da República será ,para além de um orgão de soberania, um centro de poder.

Mais um para cooperar

Durão Barroso, que ninguém viu durante as presidenciais, aproxima-se de novo de Portugal.Para cooperar.Cavaco não estará sozinho em Belém.Nem Sócrates em S. Bento.Nem Marques Mendes na S. Caetano.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Democracia extrema


Bush vai mudar de opinião quanto a "democratizar o Médio Oriente"?

Bloco

Por Nuno Ramos de Almeida, no Aspirina B. A ler.

Méritos

Eduardo Lourenço (Visão)

“Talvez o mérito de Manuel Alegre tenha sido o de explicitar, sem pouca ambiguidade, o tipo de “socialismo” que é o seu e o de apresentar como a ideologia de um virtual Partido Socialista renovado.
É impossível introduzir nessa “ideologia” uma coerência que não comporta. Há nela várias tradições de Esquerda amalgamadas e pouco compatíveis. Há, sobretudo, inquietante, um relento de “ultranacionalismo” que a leva para outras paragens. Mas o que mais a define é o seu discurso “antipartidos” como se a essência mesma do salazarismo ressuscitasse ao serviço de um sebastianismo guevarista.
(…) a sua cruzada antipartido, além de intrinsecamente demagógica, populista no pior sentido, é ideologicamente incoerente, ou então francamente inaceitável. “

Obrigado Mozart

Nunca foi pomposo.Mergulhou na mais profunda criação com um ar leve.Obrigado Mozart por tantos anos de prazer intencional e gracioso.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Anos sem eleições

Já o disse noutras ocasiões. É importante uma campanha que promova o recenseamento. Mas hidden, não tem que ser com paizinhos.

A prazo

Uma série de leitores escreveram-me a protestar contra a crónica no DN de segunda-feira, porque o tema não era as presidenciais. Alguns chegam mesmo a dizer coisas do estilo, “perdeu, agora quer branquear a coisa”. Outros são mais simpáticos e mostram apenas espanto. Depois também fiquei a saber que outras pessoas (mesmo entre círculos políticos) acharam estranho o facto de eu ter escrito a crónica sobre um tema que não as presidenciais. Ora, as crónicas têm que ser entregues no jornal no dia anterior à sua publicação. No caso do DN é até às 3 da tarde. No Domingo, a essa hora, não podia saber os resultados, evidentemente.
Escrevi muitos artigos sobre as presidenciais. E segunda-feira lá estará o desfecho.

Ombro a ombro

O Francisco do Mau Tempo oferece-me o ombro. Eu não sou tão altruísta como ele. E por isso faço minhas as palavras de um amigo: “no ombro só fica a caspa”.

Presidenciais post-mortem

"O Cavaco de salvação"

«Ele há muitas maneiras de se olhar para umas eleições presidenciais. A televisão portuguesa, por exemplo, passa um anúncio, que presumo da responsabilidade da Comissão Nacional de Eleições, para estimular as gentes ao voto. Trata-se de uma carinhosa relação entre um pai e um filho, dando a entender que o presidente é o pai de todos nós. Não é novo este conceito, pois bem me lembro que o meu livro da terceira classe apresentava a mesma ideia em relação ao moribundo almirante Américo Tomás. Salazar já tinha morrido. Ou talvez não.

Na verdade, nesses tempos passados, o verdadeiro pai da Pátria era Salazar. Foi nisso que grande parte do povo pensou quando o ditador se finou. "Foi-se o nosso Pai". Como o povo igualmente sabe, quando a pancada é muita o corpo amolece. E depois de 48 anos de fascismo, os portugueses tinham o corpo e a alma bem amassada. Um país de "sôr dôtor" e barretada, de espinhela curvada ao padre, ao médico, ao engenheiro, ao juiz, num hábito de reverência saloia e de aceitação do seu lugar na vida. Marcas ainda hoje presentes no nosso corpus social. Daí que quando Salazar expirou, apesar de já não se encontrar no poder há algum tempo, muita gente se sentiu órfã, independentemente de gostarem realmente do homem de Santa Comba Dão ou não.

O problema é que desde então, depois de um período caótico de fraternidade no pós 25 de Abril, o país ressente-se ciclicamente dessa orfandade, procurando imagens, figuras, personalidades que, de algum modo, reúnam características que se assemelhem às do provinciano ditador, nomeadamente as que o definiram como salvador da Pátria. Honestidade, probidade, magreza, origens humildes, amor pela economia, desprezo pela cultura, solidão, teimosia, certeza inabalável da sua superioridade (megalomania?),
desconfiança em relação a todos os outros. Estarei a descrever quem, Salazar ou Cavaco Silva?

Longe de mim pensar que o segundo se assemelha ao primeiro do ponto de vista político. Ou sequer que as suas ideias e práticas remetam para algo que tenha a ver com o fascismo ou ditadura mais ou menos provinciana. Nada disso. Cavaco é um democrata. Por muito que isso às vezes lhe custe. Refiro-me unicamente aos aspectos simbólicos de uma candidatura à Presidência da República que muitos dão como vitoriosa. Não tem e usa Cavaco muitos dos trejeitos de Salazar? Penso que isso salta à vista, é inegável.

Então a pergunta será: por que razão o povo português segue este tipo de dispositivo simbólico e não o rejeita como uma má experiência? Não sei. Atrevo-me a pensar que o longo apagão sobre o fascismo que a nossa educação pública efectuou nas últimas três décadas não terá construído uma memória desses tempos e desses tiques nas pessoas. Hoje, que parte da nossa juventude tem consciência clara do que era Portugal antes do 25 de Abril, de qual era a nossa taxa de analfabetismo, de pobreza, etc.? Quem sabe exactamente quem foi e como era Salazar? Uma diminuta percentagem como as estatísticas infelizmente revelam. Talvez seja essa ignorância ou falta de memória que pode levar um povo a apreciar os mesmos tiques e... sobretudo, não os achar ridículos, anacrónicos, não se rir deles.

Infelizmente, isto não tem piada nenhuma. Sei que não consigo encontrar uma resposta que realmente me satisfaça e convença.

Um dos tiques mais irritantes de Cavaco é o seu silêncio, o mistério que envolve as suas opiniões sobre uma série infindável de questões. Mas é também um dos mais eficazes, um dos que marca mais pontos, exactamente porque remete para o segredo e a solitária tomada de decisões, que podem ser as mais inesperadas. E isto fascina o povo, na sua tacanhice e desejo de desresponsabilização.

Tem, portanto, alguma razão a campanha televisiva paternalista: trata-se, no limite, de uma infantilização do cidadão, de uma mensagem clara de que ele precisa de um PR que seja uma figura paternal. Quem terá encomendado este sermão à Comissão Nacional de Eleições? Quem é que disse que o PR deve ter estas características paternais? Onde é que aprenderam que isso promove e exalta a República, na medida em que reforça o sentido de cidadania? Tudo isto me parece muito esquisito, muito esquisito mesmo. Quando o Estado nos dá este tipo de mensagem subliminar 30 anos depois da instauração da democracia, não posso deixar de estranhar. Onde é que ficou a imagem do cidadão responsável, adulto, consciente das suas obrigações cívicas e
políticas, digno, culto, interessado, a exercer o seu direito de voto?
Algures, num qualquer oceano de boas intenções. Isto para não entrar numa de teoria da conspiração e achar que nada disto é inocente.
Cair na real, dizem. Cair na economia, nas finanças, nas privatizações, nas bolsas. O pior é que nada disto tem qualquer realidade e é precisamente esse Portugal que nos empurra para trás.

Se a direita portuguesa só se consegue unir através de um símbolo salazarento como Cavaco, isso explica muito do nosso atraso em termos de desenvolvimento económico, dá muito a ver da mentalidade empoeirada dos grandes patrões de Portugal e do provincianismo egoísta dos nossos banqueiros.

É provável que Cavaco ganhe as eleições, até porque é apoiado por estas gentes do dinheiro. Um país cujos grandes projectos nacionais são o Euro 2004 e agora o Alemanha 2006 significa um povo à deriva e sem valores, capaz de se agarrar a qualquer cavaco de salvação. Nem que ele venha, lúgubre, salazarento, bafiento, a flutuar do passado. O que sabe o que quer e para onde vai, perdão... o que raramente duvida e nunca se engana. O cavaco de salvação.»

- Carlos Morais José in Jornal Hoje Macau
20 de Janeiro de 2006

E agora?

Na segunda-feira, o DN dava-me como uma das derrotadas destas eleições. Dizia que eu tinha estado ao lado de Soares, não apoiando a candidatura do Bloco de Esquerda e que, ainda por cima, tinha sido muito crítica quer em relação a Alegre, quer em relação a Cavaco, os dois vencedores.
Tudo verdade, portanto.
Cavaco Silva ganhou. É o Presidente da República eleito. Mas o seu resultado mostra como a segunda volta, e como afirma Fernando Rosas no Público de hoje, estava perfeitamente ao alcance da esquerda, não obstante todas as declarações de vitória de Cavaco, feitas desde o início. E estava ao alcance da esquerda em parte, se a esquerda tivesse sido mais combativa perante os silêncios de Cavaco. Perante o "pela calada" que lhe permitiram, entre outras coisas, “captar uma parte significativa do voto de descontentamento”, vindos não apenas da expressão dos “políticos são todos iguais”, mas também das políticas levadas a cabo por Sócrates.
A derrota da esquerda deve-se também à sua divisão.
Tinha sido preferível uma federação das esquerdas. O Bloco e o PC não quiseram. O PS não soube. E o PS não soube não apenas tardando em apresentar um candidato, como permitindo que se instalasse a total confusão, que em muito beneficiou Alegre.
Entre o seu cocktail de ideais patrióticos, memoriais e anti-partidos (mas nunca criticando o governo), Alegre seduziu votos do PS, do CDS, do BE e de “cidadãos descrentes”. Valeram-lhe 20%. Mantenho, evidentemente, as críticas que fiz a Alegre e digo aqui, como já tive a oportunidade de dizer publicamente e em privado muitas vezes, que a estratégia de poupar Alegre, receando o efeito de boomerang, não resultou. Muitos pouparam-lhe críticas justas e fáceis (no sentido que material não faltava), com medo que se vitimizasse. Está visto que não valeu de nada. Alegre, poupado pela direita e pela esquerda, cresceu até um milhão de votos.
Já ouvi por aí a ideia de que, neste nosso “Portugal dos brandos costumes” ganharam os dois candidatos que não fizeram críticas e perderam os que as fizeram. Não concordo. A vitória tangencial de Cavaco mostra que as críticas tiveram efeito. O resultado do PCP também. Jerónimo é “O simpático”, mas nunca se coibiu de criticar Cavaco. E mesmo Alegre, especialmente no episódio Cunhal. Repito: o resultado abastado de Alegre deve-se, em larga medida, ao medo que muitos tiveram de pôr na mesa as profundas contradições, falta de preparação e demagogia de Alegre.
Se não queriam federação, se houve muito mais críticas a Soares, como foram na cantiga de Alegre?
Além disso, basta olhar para as intenções de voto no pós-debates, para perceber quem foi prejudicado com as críticas. Efectivamente, o grande momento de confronto nestas presidenciais (que soube a pouco, mas foi praticamente o único) foram os debates na TV. A seguir aos debates, as intenções de voto em Alegre e Cavaco- os mais criticados nos mesmos- desceram para, na campanha (muito mais morna que a pré-campanha), recuperarem. Louçã e Soares, os que foram mais incisivos e aguerridos nesses mesmos debates, viram a suas intenções de voto aumentarem nessa altura.
Não havendo mais debates, a coisa ficou mais difícil. Alegre começou a visita aos mortos, Soares colou-se ao governo (realmente a sua pré-campanha foi bem mais eficiente…e como já outros notaram, colou-se ao governo o candidato que mais está para além de qualquer partido ou governo), Cavaco fez o acomodamento final na sua mudez. Louçã e Soares perderam a vantagem alcançada em Dezembro.
A esquerda falhou ao não ser capaz de se federar e ao ter, em alguns momentos, ficado acanhada com o discurso “eu não critico ninguém” de Cavaco (Alegre em particular, mas não só). As candidaturas de Soares e Louçã falharam ao recear criticar Alegre. Soares falhou ao permitir interferências do governo (que ainda por cima, entretanto, lançou medidas impopulares). Irónico...o discurso que mais se ouviu sobre os poderes presidenciais foi o medo que o (futuro) Presidente interferisse com o governo. Soares fez o contrário: deixou que o Governo interferisse com o (candidato a) presidente.
Já está mais que batido que Soares fez, ainda assim, um grande combate, com nada a ganhar, tudo a arriscar. Um exemplo cívico, democrático e, sobretudo, um exemplo contra o Portugal dos mitos e estátuas. Valeu a pena.
A campanha de Louçã como, aliás, Medeiros Ferreira já ontem assinalou no DN, foi geralmente bem conduzida. Mas também mostrou que, ao contrário do PCP, que tem uma tradição muito mais aparelhística, o Bloco não deve nem pode ficar-se por aí.
Entre o descontentamento relativamente aos partidos e as novas possibilidades dadas pelos autênticos movimentos sociais, espero que a Esquerda abra agora- e finalmente- o caminho, mais falado do que trilhado, da sua própria reflexão e refundação.
Os tempos que se seguem, sem eleições, podem ajudar. Vamos ver se vem o mais importante, se há federação de vontades.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Ouçam esta história antes de adormecerem

Muitos foram os que declararam que dormiriam bem com qualquer PR que fosse eleito.A declaração soporífera foi a mais das vezes feita por gente de esquerda a apresentar o seu atestado de sabedoria democrática .
Contados os votos, e numa interpretação selvagem,só os setecentos mil em Mário Soares parecem sólidos em termos de defesa do regime democrático representativo.Do mais de um milhão que cifrou Manuel Alegre,por muito cívicos que sejam,ninguém saberá quantos se apresentariam para soerguer o sistema de partidos.Os populistas que levaram Cavaco Silva aos ombros, desde que este escondesse os apoios do PSD e do CDS-PP,também não morrem de amores por aparelhos partidários e gostariam de ver o PR eleito ao leme.Embora Jerónimo de Sousa tenha andado de Constituição na mão, ninguém em consciência acha que se deve pedir aos comunistas que sejam convictos defensores dos regimes pluralistas, representativos e ocidentais, ou meramente europeus.Descontados esses quatrocentos mil votos, resta-nos os trezentos mil de Francisco Louçã cuja estadia no pórtico do sistema não permite um sono prolongado ao relento.
Agora já podem ir para a cama.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Conversar com Mário Soares

Hoje ao fim da tarde estive a conversar com Mário Soares.Falámos quase só do futuro.Com o tempo à nossa frente.

Como se fosse a minha

Chego a casa depois de ter passado uma longa noite, primeiro no hotel Altis, depois na TSF, e por fim na SIC.Tive ainda um momento de descontracção em casa do Mário Mesquita.
Sinto esta derrota eleitoral como se fosse a minha.

domingo, janeiro 22, 2006

Votar em S. Mamede

Fomos todos os cá de casa votar `numa associação escolar na rua Alexandre Herculano.Parece que os accionistas da Imprensa Nacional já não emprestam o espaçoso edíficio da rua da Escola Politécnica para estas chinezisses das eleições.Daí que a caminhada seja agora maior para os habitantes desta larga freguesia de S Mamede.Como de costume fomos depois tomar café à pastelaria Alsaciana.Também já lá vai o tempo em que a Cister abria as suas portas em domingo de eleições.Jorge Silva Melo escreveu, aliás, uma bela crónica no Mil Folhas em que descrevia a sua descida de Campo de Ourique para S Mamede em dia de votar, sabendo que nos ia encontrar no café a ler o jornal, mas esquecendo-se uma vez mais de me trazer a tradução de um poema de Goethe que lhe pedira noutro domingo eleitoral!
Achei que muitos votantes tinham um semblante carregado.Mas votar é uma festa!

sábado, janeiro 21, 2006

Ir ao cinema à tarde

De vez em quando vou ao cinema à tarde.Num fim de semana de eleições em que esteja pessoalmente muito empenhado é quase uma superstição, como aquela de só acertar a hora quando o avião aterra...
Pois esta tarde fui ver o último filme de Woody Allen,Match Point,que cumpriu com brio e intensidade o propósito.Notei em particular que aquela Scarlett Johansson com quem se podia andar em Tóquio, no Lost In Translation,sem ir necessáriamente para a cama,transformou-se de tal maneira em Londres que tornou essa possibilidade absurda...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

O último dos "itos"


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Parabéns, Clara

Com o talento singular que só têm alguns privilegiados, Clara Ferreira Alves escreve hoje, na revista «Única» do «Expresso», um texto fundamental para se entender o que está em causa nas eleições de domingo.
Com esta meia dúzia de linhas de apoio ao que diz a Clara, sinto-me absolvido pelo pecado do silêncio prolongado a que me remeti, neste blogue, ao longo das últimas semanas. Espero que o artigo («Um Homem para a Eternidade») ajude ao esclarecimento de alguns espíritos mais confusos.

O investimento de fora cá dentro

O investimento estrangeiro chega a Portugal mesmo sem aquele secretário de Estado que Cavaco traz no bolso.Nicolau Santos hoje no Expresso faz com ele uma festa e uma oportuna análise.Eu já tinha recebido o convite da Microsoft para ir ouvir Bill Gates no próximo dia 1 de Fevereiro, mas ainda não sabia que a MSFT tinha vindo para ficar.Nunca fui à IKEA mas a minha nora garante que não quer outra coisa.Quando visitei há tempos a Auto Europa percebi que os alemães a apreciavam muito e que, à primeira, voltavam a apostar nesta empresa de cultura gestionária avançada.A futura refinaria de Sines quase que já fumega, e assim por diante.Ora aqui está uma boa diplomacia económica aplicada.Afinal estamos bem cotados no exterior.Porque será que tantos dos nossos empresários domésticos não se dão conta?

Um dia com Mário Soares

Ontem ao descer o Chiado a multidão que acompanhava Mário Soares deparava-se ao entrar no Rossio com uma comerciante ambulante que repetia incessantemente a calúnia do pisar da bandeira nacional que legionários e pides montaram em 1973.Teria valido a pena explicar-lhe que a bandeira republicana já fora defendida pelo pai do candidato, ainda os esbirros da ditadura se acobertavam com outras?
E, claro que fascismo nunca mais, mas porque será que persistem os ataques do tempo da ditadura contra Mário Soares?Sobretudo quando só ele pode derrotar a direita de todas as cores nestas presidenciais...

quinta-feira, janeiro 19, 2006

A quinta feira de Carlos Barbosa

O aumento do preço dos combustíveis foi obviamente o tema de hoje em todos os fora de discussão na comunicação social.Quem revelou as maiores qualidades de agitador foi Carlos Barbosa ,o apolítico presidente do ACP.As suas previsões,feitas na TSF e na SIC_NOTÌCIAS, sobre os protestos dos automobilistas merecem registo para memória futura.
O governo não devia estar à espera do aparecimento dessa nova vedeta mediática.

A agenda do apoiante

Esta noite alguém assinala-me que não me têm visto ao lado de Mário Soares tanto quanto esperavam dado o apoio que manifestei para que se candidatasse.Pasmo com a má fé.Tenho estado com o candidato sempre que contactado.Desde logo na abertura da sede,nas reuniões da comissão política realizadas, tendo tomado a palavra na maioria delas, na ida aos Açores, em vários comícios de Coimbra a Aveiro, em várias realizações da juventude e dos sindicalistas, por exemplo.A comunicação social não refere, não regista, e então?Tenho de recorrer ao blogue para anunciar a minha agenda!
Assim amanhã estarei na Trindade e na FIL.Mas olhem que não é propriamente uma notícia...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Clipping do dia

"In sectors such as banking, telecommunications, and technology, almost two-thirds of the organic growth of listed Western companies can be attributed to being in the right markets and geographies. Companies that ride the currents succeed; those that swim against them usually struggle."
- Ian Davis,Elizabeth Stephenson, McKinsey Quarterly, Jan. 2006

Eduardo Lourenço desvenda

Histórico artigo, o de Eduardo Lourenço hoje no Público.A Alfarrobeira política para onde a esquerda caminha em losango permeável só será evitável se o eleitorado a salvar.Escusado dizer que quem personifica as luzes que o infante D. Pedro transportava para Portugal é, hoje mais do que nunca, Mário Soares.Como escreve Eduardo Lourenço Mário Soares nunca esteve tanto ao serviço da esquerda.E houve quem quisesse perturbar e ocultar isso com palavras e obras.
Mas a mais sonora palavra será a dos votantes.

Saber ressuscitar

Carlos Pinto Coelho tem pelo menos duas qualidades que admiro:Sabe renascer e sabe reunir pessoas como ninguém.
Há também os que sabem renascer sozinhos,escondendo-se um tanto donde foram vistos moribundos pela última vez.Aparecem mais tarde, já com penas novas, perante alguns que o conheciam mas preferem outras companhias para a sua nova existência.
Pois Carlos Pinto Coelho é dos poucos que gosta de ressuscitar à vista de todos, principalmente daqueles, e são muitos, que algum dia se cruzaram com a sua delicada amizade.Pois Acontece!
Aconteceu esta noite no charmoso Pestana Palace onde decorreu um sarau cultural a propósito do lançamento da 2ª edição renovada do livro de fotografias comentadas literariamente por mais de cem escritores«A Meu Ver».Tudo foi agradável, mas quem me deu mais prazer foram os diseurs Carmen Dolores e Luis Lucas.E a fina apresentação do Homem Cardoso.E o canto do Carlos Guilherme.E ainda ter visto o Medina Ribeiro que vinha aqui comentar com qualidade.
Ah, o Carlos Pinto Coelho também tem um blogue!

terça-feira, janeiro 17, 2006

"Citação acompanhada de nota" ... do dia

"The politics of our society are a conversation in which past, present and future each as a voice."
- Michael Oakeshott, "Rationalism in Politics and Other Essays"

Só vejo um candidato Presidencial, onde exista esta conversa a «três tempos».

Ruminação do dia

"Considering that an individual's vote almost never matters, why do so many people bother to vote at all?
(...)
It may be that the most valuable payoff of voting is simply being seen at the polling place by your friends or co-workers."

- Dubner e Levitt, The New York Times Magazine, 6 de Nov. 2005

A agenda de uma democracia

O remate de Cavaco Silva quando comentava a sua recusa em participar num debate a 6 (Público): “Não contem comigo para descredibilizar a democracia portuguesa”.
A justificação de Fernando Lima (DN) também é catita: “O professor não vai alterar a agenda por respeito com os eleitores”.
A quantos eleitores chegaria um debate?!
Ainda por cima quando se sabe (DN) que “a agenda de Cavaco começa, nesse dia, precisamente ao meio-dia, em Lisboa”. E o horário previsto para o debate era entre as 10 e as 12, na RDP.

Zé e Marcelo

"Quanto a Cavaco Silva, gere a vantagem de três factores. Primeiro, o tempo. Assim como Soares está fora de tempo, ele tem a sorte de ter, para muitas pessoas, o tempo adequado; na idade e no fim de percurso político, e porque há crise económica e um economista dá jeito. As pessoas gozavam muito com isto, mas na ideia do Zé Povinho isto entra e faz sentido." (Marcelo Rebelo de Sousa, DN)

Um café, sff IX


« Le quartier, explique Jacques Baratier, avait été à la mode déjà avant la guerre avec d’autres écrivains comme Giraudoux, Queneau, Leiris, Bataille, Prévert, Sartre. André de Richaud… Mais il est reparti tout de suite après la guerre, je crois principalement à cause de deux pôles qui ont été le Flore, d’abord, et très vite après, le Tabou » (…) Comme pour mieux conjurer la fatalité, on replonge dans les caves. Les réduits qui, hier, abritaient une population terrifiée deviennet les repaires privilégiés d’une jeunesse en quête d’oubli, d’insouciance et de « chaleur humaine », dira Juliette Gréco. Désormais, on va au « quartier » comme on rejoindrant une famille. Tout le monde se connaît par son prénom ou son surnom. On danse, on boit, on discute, on se bat parfois, on fait l’amour à Saint-Germain-des-Prés. (…) Cette explosion de jeunesse et de vitalité qui était tournée vers le théâtre, vers le cinéma et la poésie est venue tout de suite après la guerre parce que les gens avaient été un peu contraints », rappelle Jacques Baratier ».
Richaud, F. (1999) Boris Vian, Ed. du Chêne.
Picasso, Mulher no Café

Um café sff, VIII


Claudio Magris, frequentador do Café San Marco, em Trieste: ”J'aime le côté maison volante, maison flottante ici: les tables en bois, les plantes, les tableaux, le chat, la perspective... J'y suis venu à plusieurs reprises travailler dans la journée. Au café, je suis certain de ne pas être dérangé par le téléphone, de ne pas avoir envie de lire plutôt que d'écrire en regardant les rayonnages de la bibliothèque. Et puis, surtout, j'aime la solitude en compagnie, propre à ces endroits. Cette solitude-là n'est ni isolée, ni aristocratique, ni misanthropique. Au contraire, elle apprécie le bruit et l'immersion dans le fleuve de la vie. Travailler au café c'est une façon, ironique, de ne pas se prendre trop au sérieux. »
(Entrevista à Revista Lire, Fevereiro 2003)
Van Gogh, Café nocturno

Mudar de registo

Sou o primeiro a achar que os blogues mais conhecidos estão demasiado ocupados com temas políticos, o que é difícil de evitar neste período eleitoral.Mas se o leitor se quiser recrear com boa prosa cultural e com um espírito vasto e sereno pode recorrer ao Crítico que descobri ontem por acaso.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Parece que é desta!




Farto dos monólogos do passado e recuperado de um autismo sintomático, o candidato do PSD afirmou ontem que será o "Presidente do diálogo social".

Parece que é desta!

Ruminações aleatórias

Interrogo-me eu ... em quem votará Paulo Portas? Será que vai votar no candidato que tem dificuldades em memorizar e pronunciar o nome do seu partido?

domingo, janeiro 15, 2006

"Oh diabo!"

São precisamente 18:45, estou refastelado no sofá a ouvir com deleite Aníbal Cavaco Silva a discursar em directo desde Barcelos. O seu tempo de atena, via Sic Notícias começou há cerca de 20 minutos e continua. Mário Soares minutos antes e em directo de Vila Real, teve que se contentar com uns simbólicos 2 minutos.

"Oh diabo", pensei eu para comigo - Cavaco deve ter muita coisa importante para dizer ao País, de contrário a Sic Notícias não lhe daria tanta primazia e espaço mediático. Mas isto sou eu, enquanto cidadão do «simple people» a especular, obviamente!

O povo de esquerda aparece

O povo de esquerda, que se tem escondido das sondagens ,fez a sua aparição este fim de semana nos comícios de Mário Soares em Aveiro,Coimbra e Porto onde a mobilização, o entusiasmo, e os oradores criaram um novo clima político nesta campanha.
Também o comício de Jerónimo de Sousa, ontem com o Pavilhão Atlântico a transbordar,assinala uma tomada de conciência por parte dos trabalhadores do que está em jogo nestas presidenciais e anuncia maior participação nas urnas de voto.
A estreita curva final desta campanha abre para horizontes mais largos.

sábado, janeiro 14, 2006

Descentralização

Há um poderoso lobby em Torre de Moncorvo: um mesmo cidadão dessa vila conseguiu a publicação de dois artigos, no mesmo dia e em dois jornais de referência.
J. Ricardo, no Expresso, dá porrada no mesmo. No Público defende uma medida do Ministério da Educação.
É obra…
E Manuel Alegre, sempre atento aos movimentos de cidadãos, já percebeu.

Dura realidade

“Só o professor de Economia Cavaco Silva tentou, sem grande êxito, resistir à intromissão na normalidade de uma campanha programada ao milímetro, onde o improviso é anulado até aos limites do possível. O Presidente “saberá o que fazer”, defendeu; “já há tantas dificuldades” no país, que problemas deste tipo são perfeitamente dispensáveis, sugeriu; mas, depois de alguma insistência dos profissionais da inconveniência, lá veio a receita do eventual futuro Presidente: os problemas da justiça precisam de um “consenso alargado”, a tal fórmula mágica defendida pelo economista para quase tudo, uma espécie de banha da cobra que cura todos os grandes males nacionais. E pronto”.

Carlos Romero, A campanha na TV, Público.

In vino veritas?

Cavaco respondeu a um inquérito. Responder ao DN, sobre a redução do número de deputados ou os círculos uninominais, não. Responder ao Público sobre matérias deste tipo, também não. Responder à Visão sobre livros, filmes e lemas, nem pensar. Mas desta feita, Cavaco decidiu responder. Fantástico. O inquérito deve ser mesmo substancial. Nada de “inquéritos desse tipo”. Deve ser uma pergunta mesmo indispensável, incontornável, decisiva para a escolha dos portugueses.
Pergunta o suplemento Fugas do Público a todos os candidatos: “Qual o seu vinho favorito?”.
Ribombam os tambores, rebentam os foguetes, explodem palmas.
Resposta do mui respeitado e respeitoso Senhor professor: “Não costumo beber vinhos”.
Os seus hábitos de leitura ou cinéfilos, não podemos saber. Nem, evidentemente, as opiniões políticas. Mutismo integrante da campanha direitinha.
Mas perder a oportunidade para passar a imagem de rigoroso, poupado e humilde é que não. Cavaco Silva não bebe, portanto. Mas sabe, como acrescenta à resposta ao Fugas, que os vinhos portugueses é que são os bons vinhos...

A mim não me calam

Expresso: E voltaria a votar a favor do Orçamento do queijo limiano?
Manuel Alegre: Se eu não votasse seria o chumbo do Orçamento, uma tremenda responsabilidade.

"Onde há fumaça ... costuma haver fogo"

"Real political correctness is determined by the triple threat of money, media domination and governmental regulation."
- Stanley Fish, 1994


Pergunta o Semanário Económico a Emídio Rangel: "Mário Soares tem-se queixado da comunicação social e das televisões, designadamente da SIC. Acha que tem razão?"
Ao que este responde: "Seria irresponsável da minha parte fazer um juízo global (...) Acho, no entanto, que existem alguns sinais a que Mário Soares alude e que são significativos."

"Por exemplo?", pergunta o Semanário Económico.
Responde Rangel: "(...) A ideia que se pretende passar desde o primeiro minuto em que se apresentou como candidato presidencial é de que está incapacitado, quando mostra com frequência sinais de grande lucidez e frescura física e mental. Entendo estas acções como uma tentativa de acentuar uma questão que não corresponde à realidade e que foi, nem mais nem menos, que uma campanha contra ele."

O recuo do Estado Acusador

A Justiça e a Comunicação Social são actualmente os dois problemas mais graves do regime democrático.Em Portugal acabam de colidir um contra o outro.Ás vezes é assim que se consegue progredir.Pelo confronto entre poderes sem controlo.
A revelação da gravidade,da incúria e do disparate com o registo de chamadas telefónicas, num processo que já por si requeriria uma especial atenção para não ser danificado,vai conduzir inevitavelmente à perda de credibilidade do Estado como entidade acusadora .E sobre as garantias aos cidadãos sobre os procedimentos de segurança em matérias tão sensíveis basta recordar que poucos dias antes uma delegação de deputados da Comissão de Liberdades e Garantias se tinha deslocado aos arquivos das escutas telefónicas sem se dar conta da mecha curta em combustão.
Em França ainda o mês passado se assistíu a um tamanho mea culpa pelo Parquet que o recuo do Estado acusador parece estar na ordem do dia.Uma boa notícia para os poderosos de todo o mundo.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

De Matosinhos a Grândola

Era especialmente importante para a campanha de Alegre evocar Álvaro Cunhal? E ir à lota de Matosinhos para homenagear Sousa Franco? Traz algum elemento relevante para esta eleição presidencial?
O que traz, e é por isso que Alegre insiste em fazer estes números, é a resposta irritada do PCP e da viúva de Sousa Franco. Isto é, traz o oxigénio de Alegre, a única coisa que, infelizmente, joga a seu favor: a vitimização e uma rebeldia de algibeira. Por isso, sobre Cunhal respondeu prontamente que "não há donos de personalidades históricas" e sobre a lota afiançou que “não há lugares proibidos em Portugal”.
Donos e proibições. Uma espécie de memória de Abril pequenina e oportunista. Ou será que Alegre até gosta de ver Cavaco a cantar a Grândola?

Desculpe, mas é engano

A propósito da notícia de hoje sobre as escutas telefónicas, Cavaco Silva considerou que estamos perante uma “situação grave”, e escusou-se a fazer mais comentários, salientando que dessa forma estaria a «especular». Ainda bem, porque no debate com Louçã mostrou grande desconhecimento sobre esta matéria.

Alegre é que não

João Miguel Tavares, DN:
Alegre, pelo contrário, tem feito uma campanha desastrosa, coleccionando intervenções absurdas nos debates televisivos e confundindo acção política com saraus de poesia. Não são só as ideias puídas - é a amálgama indigesta de nacionalismo bacoco e de resistência antifascista.Nesta campanha eleitoral, Manuel Alegre parece querer ser, ao mesmo tempo, Humberto Delgado e Américo Tomás. Não me lembro de alguma vez ter visto esta mistura de marialvismo soixante-huitard, de conservadorismo revolucionário, de patriotismo socialista, de Trova do Vento que Passa em batida hip hop. Ontem, Alegre foi a Chaves reviver o "salto" de 1964 para Espanha, quando fugiu de Portugal em direcção ao exílio. Antes disso, homenageou os presos políticos do Forte de Peniche, homenageou Salgado Zenha, homenageou tanta gente que nem Álvaro Cunhal conseguiu escapar à sua sanha laudatória. É como se ele só se tivesse candidatado à Presidência da República para distribuir vastas condecorações no 10 de Junho. Manuel Alegre baseou toda a sua campanha numa pretensa superioridade histórica e moral. No início, pode ter sido traído por Soares. No dia 22, não merece ficar à sua frente.

E porque não ...

Votar no próximo outdoor do MP3? Aqui.





Big Brother

Numa pequena nota de fim de página, o Público dá conta do que os mandatários distritais de Cavaco pensam sobre o candidato. Valente de Oliveira, mandatário pelo Porto, disse que: “contamos com alguém que veja tudo, que saiba tudo”. António Salvado, pelo Fundão, afirmou que: “Oxalá, senhor professor, que Portugal o mereça”. José António dos Santos, por Lisboa-Oeste, chamou a Cavaco “última tábua de salvação para que não se caia no precipício”.
Para estes mandatários, Cavaco não é um D.Sebastião ou um salvador da pátria. É um deus. Tudo vê, tudo ouve, salva-nos. E temos que nos portar bem, se é que o queremos merecer.
Mas como diz Pulido Valente, também no Público de hoje: “Esta megalomania, à superfície inexplicável, é natural num homem que se acha a “referência” e o “exemplo” de que os portugueses “precisam” e sinceramente julga que a sua simples presença em Belém devolverá a confiança ao país. Mas, se as coisas correrem mal, se não o ouvirem, se não lhe obedecerem, se o evasivo e autoritário Sócrates perversamente o ignorar, se Portugal persistir no vício e no “laxismo”, enquanto ele, Cavaco, o professor se agita em vão pela paisagem? Será essa a altura de lembrar que o Presidente “não pode fazer muito” e que não é bom “colocar demasiada esperança” nele.

A curva final da campanha

Há anos ofereceram-me um velho romance de Ferreira de Castro intitulado A CURVA DA ESTRADA , no qual se descrevem as opções que se podem colocar aos homens com longo passado na recta final da vida política.E as rectas podem ser curvas ,avisou-nos o vetusto dramaturgo.
Assim parece esta campanha presidencial.Estive no comício de Aveiro com Mário Soares, e todo o ambiente da sala era um ambiente de combate.O discurso do candidato colocou-o de novo acima das pequenas políticas do momento e apontou para o que se não vê do outro lado da curva apertada destas presidenciais.Desenganem-se os que pensam que se podem desembaraçar de Mário Soares nestas eleições.

Um belo texto

Constança Cunha e Sá é a grande revelação deste início de ano na blogosfera.O seu texto sobre o etarismo (uma expressão da Joana Vicente Amaral Dias)é uma bela peça de sensibilidade política e humana.
Os bichos aproveitam para agradecer a CCS a preferência manifestada pelo nosso blogue logo no nascimento do Espectro.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Condicionamento aversivo


Só para relembrar que o grande precursor desta campanha foi Macário Correia e a sua célebre frase: «Beijar uma rapariga que fuma é como lamber um cinzeiro

Más fotos

“Para além de semearem uma saudável confusão nas hostes cavaquistas, as palavras do ex-primeiro-ministro estiveram ontem na origem de um momento televisivo de grande impacte: não pela fuga tentada de Cavaco quando foi confrontado pelos jornalistas com as declarações de Santana, mas pela estranha carantonha desenhada pelo fácies do candidato para fazer passar a mensagem de que não sabia o que se estava a falar. Um susto!”
Carlos Romero, A campanha na TV, Público.
Vídeo aqui.

Inquéritos indecorosos

Já uma vez tinha aqui apontado os destaques em falso do jornal Público. Hoje é revista Visão que na capa, com grande realce, remete para as respostas- a um inquérito (tipo filmes, livros, lemas, viagens)- dos 6 candidatos presidenciais. No miolo, verifica-se que “Cavaco Silva recusou-se a responder ao questionário”. Mas a justificação é sublime: “não tem por hábito replicar a inquéritos daquele tipo”. E quer ser Presidente da República.

Mitificação por encomenda

O que é preferível?

Mudar de ideias quando os factos mudam, como Soares fez ao anunciar que se re-candidatava?

Ou deliberadamente omitir os factos, como Cavaco fez ao dizer há cerca de 3 meses atrás que ainda ia consultar a familía e os portugueses, quando toda a sua entourage tinha já alugado com meses de antecedência, o espaço da sua futura sede de candidatura?

Os portuguese parecem preferir a segunda. Aguardemos então com serenidade pelo arquétipo do «Herói» previamente anunciado.

Um tema para o futuro próximo

Há quem veja no facto de Mário Soares criticar a comunicação social apenas um sintoma deste se estar a sentir em dificuldades nesta campanha.Nem os erros de facto, como a noticiada falsa ausência de Francisco Assis no comício da alfândega do Porto, ou a peça de várias colunas no jornal Público sobre um indeterminado sentido de voto de Carlos César, prontamente desmentido por este em termos que não deixam dúvidas,mereceram qualquer mea culpa por parte dos jornalistas responsáveis.
Apostamos que o estado actual do à vontade jornalístico será um dos casos de regime num futuro próximo?Assim a modos como a Justiça.Não será isto que Mário Soares anda a anunciar?

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Pois é…

Ontem no Instituto Politécnico de Abrantes, Soares teve um debate, muito participado, com estudantes. Sala cheia, candidato circulando pelo meio da sala, de microfone na mão, muitas perguntas, tudo "sem rede".
Na visita à Universidade da Beira Interior, Cavaco Silva foi recebido com alguma indiferença por parte dos estudantes, nomeadamente durante a volta que fez pela biblioteca, onde nenhum aluno se dirigiu ao «professor», que acabou por dar uma «aula inesperada» no pátio da faculdade.

Libertar para Condenar

Numa crónica no DN já tinha chamado a atenção para o problema do encerramento dos hospitais psiquiátricos. A “desinstitucionalização” dos doentes psiquiátricos parece exclusivamente assente na “racionalização de meios”, o que trará aumento significativo do número dos sem-abrigo, das encarcerações e entupimento das urgências psiquiátricas.
Ainda não tinha tido tempo para deixar alguns destaques da reportagem que o jornal Público (8/01/06) fez sobre esta matéria. Aqui ficam então, outras opiniões:
Rui Durval, director clínico do Hospital Miguel Bombarda, receia que se queriam fechar hospitais psiquiátricos só "para poupar dinheiro". Lurdes Santos, psiquiatra responsável pelo Hospital de dia do M. Bombarda refere que a retirada dos doentes leva tempo e salienta a necessidade de “acautelar cuidados para os doentes” residentes. José Caldas de Almeida, recém-chegado da direcção do Programa de Saúde Mental na OMS, afirma que “se está a discutir as coisas ao lado do que é importante (…) Extinguir por extinguir não resolve nada”. E acrescenta que não percebe a inexistência de “instituições alternativas. A criação de residências para doentes psiquiátricos sem família foi das poucas coisas que se fizeram bem nos últimos anos em Portugal. O problema é que se deixou isso só para as organizações não governamentais. O Estado aqui tem de assumir as suas responsabilidades”.
Caldas de Almeida também não deixa de apontar a responsabilidade que os Hospitais SA, onde os serviços de saúde mental foram “desapoiados ou mesmo impedidos de se desenvolverem”. O resultado é que alguém do Algarve ou do Alentejo tem que se deslocar a Lisboa se necessitar de internamento psiquiátrico.
Efectivamente, a forma como, aparentemente, o Governo está a conduzir este processo, é errada e altamente prejudicial para os doentes. Num país em que, como diz Caldas de Almeida, há “milhares de pessoas abandonadas, com problemas graves de saúde mental” e sem “conseguir contactar os serviços”. Um país em que a saúde mental e a psiquiatria têm serviços de fraca qualidade, fruto de desinvestimentos sucessivos.
Péssimo, especialmente tendo em conta que Portugal apresenta índices de problemas de saúde mental e vulnerabilidade entre os piores da Europa, de acordo com o estudo “Estado da Saúde Mental na União Europeia”.
Em suma, acabar, progressivamente, com os grandes hospitais psiquiátricos é positivo. Mas jamais pode ser feito sem uma série de medidas que o precedam:
Generalização do acesso aos cuidados de saúde mental;
Criação de serviços de psiquiatria especializados, de fácil acesso e com internamentos disponíveis (eventualmente nos hospitais gerais)
Implementação de medidas de apoio especiais para as famílias que recebem estes doentes (nomeadamente apoios financeiros)
Desenvolvimento de trabalho em rede e em parceria (Centros de Saúde, Segurança Social)
Criação de programas de apoio domiciliário;
Criação de pequenas residências;

Mas assim, lá se ia a poupança resultante do encerramento dos Hospitais Psiquiátricos…

Um povo naturalmente contraditório




Não gostamos de nos sentir acorrentados; no entanto ansiamos por alguém que nos diga sempre que caminho há só um.
(veja-se o candidato do «tem que haver sempre acordo»)
Não gostamos de ser um povo errante; no entanto ansiamos por alguém que acerte sempre por nós.
(veja-se o candidato que «raramente se engana»)
Não gostamos da irresponsabilidade; no entanto optamos sempre por alguém que tome conta de nós.
(veja-se o candidato do «pensem nas vossas crianças»)
Não gostamos de desculpas; no entanto somos os primeiros a desculparmo-nos com os outros.
(veja-se o candidato do «são precisos mais estudos»)

No fundo, teremos sempre aquilo que merecemos.

terça-feira, janeiro 10, 2006

O regresso de Santana Lopes

Santana Lopes regressou à vida política activa hoje numa entrevista na Sic-Notícias, conduzida pela dupla Ana Lourenço-Adelino Faria.Em boa forma recordou estimativas económicas de Cavaco Silva meramente instrumentais para o jogo pessoal do candidato presidencial.Do mesmo passo deu a entender que falta trabalho de casa por parte dos outros candidatos.
A grande revelação não foi sobre a sua intenção de voto-embora tenha ficado claro que não votará em Cavaco-mas sobre o seu regresso à Assembleia da República.
Santana Lopes prepara-se assim para disputar a Cavaco Silva a tomada do poder no interior do PSD.António Borges e Manuela Ferreira Leite vão ter o homem à perna.A direita cheira o poder.JPP

Eleger à primeira quem perderá à segunda?

Alberto Costa,no discurso de Leiria, pergunta com implacável lógica política:
Faria sentido eleger na primeira volta um candidato que seria derrotado na segunda?
Alguém quer responder?

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Cerimónias

Hoje participei em duas cerimónias distintas.
A primeira foi académica, realizou-se no ISCTE,e consistiu numa valente discussão sobre a política externa do General De Gaulle.É tão raro a Universidade Portuguesa se dedicar a estudos sobre outros países que creio ser de assinalar esta tese de Mestrado de Nuno Filipe Mendes, orientada pelo Prof. António Costa Pinto.
A segunda realizou-se no espaço dos paineis de Almada Negreiros no edifício do Diário de Notícias, destinou-se à apresentação da remodelação do jornal e contou com a presença do Presidente da República Jorge Sampaio.
Como historiador tenho uma grande dívida para com o DN como fonte mais do que centenária. E honro-me muito de ser seu colaborador regular há anos.Aproveito para anunciar que, finalmente, aceitei ter uma coluna semanal.Todas as terças-feiras.
E gostei do que vi e ouvi hoje no DN. Lamento o fim do DNA, e fiquei satisfeito por , no derradeiro número,terem seleccionado algumas frases minhas de uma entrevista dada em 1999 ao Luis Osório.

Citação (gregária) do Dia

"'When everybody thinks alike, Everyone is likely to be wrong."
- Humphrey B. Neill, "The Art of Contrary Thinking"

"Fantasporto"



... é já no próximo dia 22 Jan. num país chamado Portugal.

domingo, janeiro 08, 2006

O mundo do trabalho e a concertação social

Ontem assisti, na qualidade de membro da comissão política da candidatura de Mário Soares, à reunião de centenas de dirigentes sindicais organizada com entusiasmo por Vítor Ramalho na FIL da Junqueira.Foi um momento alto de esclarecimento mútuo, de informação, de entendimento entre as partes envolvidas no processo produtivo e a dimensão política do contracto social.
Tudo começou com um excelente ,e genuíno, discurso da dirigente sindical europeia Helena André,que Mário Soares, em boa hora,convidou para mandatária nacional para o Trabalho, e continuou com o testemunho de dezenas de dirigentes da CGTP e da UGT.
Ao ouvi-los ficou-me a certeza que a concertação social é possível e desejável em Portugal nos próximos tempos.Mário Soares foi muito claro nesse sentido.
Como não houve nenhum fait-divers, a comunicação social pouco se interessou pelo encontro.Mas foi das coisas mais sérias deste período eleitoral.
E a presença de outro membro da comissão política ,Dias da Cunha,foi reveladora do que pode ser a atitude de um empresário de sucesso atento ao mundo do trabalho.

sábado, janeiro 07, 2006

Detalhes?

Independentemente das opiniões sobre as críticas que Soares dirigiu à comunicação social e particularmente à SIC, o dia de campanha de ontem ilustrou bem alguns "enviesamentos".
Quando cheguei a Lisboa, vinda do comício na Alfândega do Porto, vi na SIC Notícias o repórter a enfatizar o facto de Francisco Assis não ter estado presente e implicando, naturalmente, a falta do apoio do PS local.
De facto, há desfavorecimentos e benefícios na comunicação social que são mais ou menos subjectivos. Escolher as piores fotos e poses ou fazer planos apertados de salas cheias, dando a ideia de meia dúzia de pessoas, são exemplos de formas de prejudicar candidatos (Ainda há pouco, em conversa com um conhecido jornalista, ele me dizia que no seu tempo eram obrigados a fazer planos amplos e que dessem uma perspectiva do conjunto ao telespectador, fosse esse enquadramento vantajoso ou não para candidato). Outro exemplo: numas reportagens aparecem as notas menos simpáticas que os cidadãos fazem na rua, e noutras não.
De qualquer forma, há coisas mais ou menos subjectivas, como dizia. Contudo, acentuar o facto que determinada pessoa estava ausente, quando na verdade estava presente, não é subjectivo. É um dado concreto. Francisco Assis esteve no comício na Alfândega. Só não viu quem não quis ver.
Assis certamente que, quando tiver oportunidade, o esclarecerá.
Outro aspecto a sublinhar nas noticias que hoje deram conta das actividades de campanha de sexta-feira, diz respeito às observações que Soares fez com elementos do seu staff, pensando que o microfone estava desligado. O candidato comentou, como a SIC Notícias não deixou de mostrar até à exaustão, que o evento não estava como ele queria. Uma mera questão de organização. Uns queriam o jantar antes dos discursos, outros depois. Ora, reduzir o comício de ontem, com uma grande sala a abarrotar e uma intervenção de Soares cheia de força, a um fait divers, é curto. Além disso, levantam-se questões deontológicas neste tipo de jornalismo, quando se exibem, com pompa, as palavras de um candidato à presidência da república, dirigidas a um dos seus “operacionais”, sobre a organização de uma actividade, quando esse mesmo candidato estava convencido que o microfone estava em off, como, aliás, se nota nessas mesmas imagens.

Um equívoco

Vasco Pulido Valente, no Público de hoje, relembra como Soares combateu a ditadura e ganhou. Combateu a subversão comunista e ganhou. Fundou o PS, o único partido democrático e europeu antes do 25 de Abril e tornou-se numa “glória do Ocidente”. Pulido Valente entende que um homem destes, de uma “cultura cosmopolita”, em que a “arte, a história, a filosofia, a política, a conversa” contam, vai, apesar disso e por isso, perder, já que “o novo homem” está “reduzido a uma educação técnica, com ideias sumárias sobre a sociedade e a vida, imitativo, grosseiro e dedicado a uma ambição primária e pessoal”. Será?
Será que o que Portugal merece é o que Pulido Valente descreve como “uma personagem menor e um lírico de província”, “um reality show” de “falsa rebeldia, falsa independência e falsa inspiração” (Alegre)? Ou um “economista superficial e estreito, quando a crise excede, em muito, e decisivamente, a economia”, “a fé moderna na omnisciência e omnipresença do especialista” (Cavaco)?

Mais vinte anos

Hoje acordei a pensar que Mário Soares anda há tempos a dizer à geração do 25 de Abril que esta tem mais 20 anos de responsabilidade e de intervenção cívica e política.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Um link especial

Encontrei hoje o Martim Silva no Diário de Notícias e o FTA entrou cá em casa com o Quim que gosta de morder a minha neta, ainda não sabe bem porquê.Como resultado apetece-me linkar para o Mau tempo no canil

Uns são lutadores. Outros são sortudos.

A Visão entrevistou Cavaco Silva. E pediu-lhe que enunciasse o que diria se “tivesse que escrever 15 ou 20 linhas sobre si próprio, para uma futura enciclopédia, a fim de dar uma ideia do essencial de si”. O candidato disse que era “muito complicado responder” e depois já estava atrasado para uma reunião. Respondeu por escrito. Fica um excerto:
“Viveu em Moçambique dois anos. Viveu em Inglaterra quase três. Teve a sorte de conhecer a democracia de Abril de 1974”.

Para mais tarde recordar

No início da pré-campanha eleitoral, o Expresso teve uma capa em que, paradoxalmente, a mulher de Cavaco Silva e os seus netos eram o centro, mas o conteúdo remetia para a afirmação de uma campanha one man show. Lembram-se?
Esta semana a Visão destaca que: “À chegada ao pavilhão de Loulé, Cavaco e a mulher esperaram que o carro, conduzido pela filha, Patrícia, e em que viajavam os netos, passasse a restante comitiva e seguisse para junto de uma porta lateral. O candidato fez questão de que os quatro netos estivessem já sentados no Pavilhão, quando entrasse”.

Mais negócios do que economia

Interessantíssima a entrevista dada por João Salgueiro ao jornalista J Gomes Ferreira há pouco na Sic-Notícias.
Mais negócios do que economia parecem marcar a abertura do ano.
Muito serena também foi a análise sobre a postura dos candidatos presidenciais.Ficou claro que este antigo dirigente do PSD vê melhor Cavaco Silva no governo do que na presidência da República.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

O Professor tem pena

O repórter da Sic pergunta,talvez preparado para uma resposta original, se Cavaco Silva terá pena de abandonar as aulas, caso...
O Professor pausadamente reflecte, mais uma vez, sobre aquele imaginário cenário.E confessa estar preparado para tão insólita situação.Enfim...

Vida de menor

A comissão especial para investigar as circunstâncias que rodearam o processo da bebé de dois meses, vítima de maus-tratos severos e abusos sexuais, já apresentou o seu relatório. E concluiu que a Comissão de Protecção de menores de Viseu foi ineficaz, não cumpriu a lei, confiou demasiado e os seus membros estão todos mal preparados. Tiveram um mês para investigar a situação e não mexeram uma palha. Sabendo dos antecedentes do pai, não contactaram nem com os médicos que denunciaram a situação, nem com a segurança social ou com a polícia. É inacreditável saber que na última visita que os técnicos fizeram, nem sequer procuraram ver a bebé, confiando nas palavras do pai, que alegou que a filha estava a dormir.
Jeni Canha, a pediatra do Hospital Pediátrico de Coimbra, foi rigorosa e valente. Com a larga experiência que possui, não apenas denunciou a situação como teve a coragem de, desde logo, desmentir os que tentaram minimizar a situação. Traz algum conforto saber que, por uma vez, há um relatório que não deixa a culpa a morrer solteira.
Mas é insuficiente. A Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, bem como outras valências como o Instituto de Reinserção Social e as Casas de Emergência, necessitam de uma reestruturação profunda. Desde a dotação de meios à formação e especialização de técnicos.
Técnicos a acompanharem dezenas ou centenas de casos simultaneamente (que depois ficam pendentes), muitos deles a tempo parcial, instalações mais do que deficitárias e uma regulamentação da lei de protecção de menores que tarda em estar concluída, são situações inadmissíveis.
Especialmente quando se sabe que o número de processos triplicou desde 2000.

2026

"The year 2006 has begun with a taste of what 2026 might be like. An undemocratic, imperially minded energy superpower puts a crude, politically motivated squeeze on its more democratic neighbours. They squeal, but Russia has the oil and gas. Meanwhile China, a communist-ruled emerging superpower, continues to flex its muscles both economically and politically. And all over the west one hears the sound of kowtowing. Is this the shape of things to come?"

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Os poderes do Presidente da República

Esta disputa presidencial tem sido marcada por um tema que não depende dos candidatos resolver.O tema do aumento, ou não, dos poderes presidenciais.Só a Assembleia da República, investida de competências constituintes poderá tocar neles.
Mário Soares defende a posição que a sua experiência consolida: o PR tem já constitucionalmente a capacidade de exercer o seu mandato por forma a garantir «o regular funcionamento das instituições democráticas», seja lá o que isso for como gosta de rematar o Manuel de Lucena.E , para o efeito, já apresentou dois documentos programáticos sobre a forma como tenciona exercer o seu mandato, e quase que era escusado, tendo em conta o que dele se sabe.
O último abre mesmo a campanha com propostas concretas de acção, desde as presidências de proximidade até ás jornadas temáticas.E todos sabem que, a haver crises avulsas, com Mário Soares na presidência estas seriam resolvidas com prudência e coragem, atributos políticos que o cargo requer.
Já Cavaco Silva, e em menor grau Manuel Alegre, querem mudar o papel do Presidente da República.Mas para isso teriam de se dar ao trabalho de fazer eleger deputados em número suficiente para alterar a Constituição.E esse tempo já passou.Agora só fica o despropósito e a confusão.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Cavaco, a campanha mais cara II

Ouço Cavaco Silva apregoar que não recebe dinheiro de origem partidária, e que são os portugueses- o povo!- que se desdobram em donativos para a mais cara campanha presidencial.Não sei o que mais me impressiona nesta declaração escarnenta para a verdade,se a demagogia sem quartel, se a falta de vergonha .

Momentos Salamanca






"La libertad Sancho es uno es uno de los más preciosos dones que a los hombres dieron los cielos, con ella no pueden igualarse los tesoros que encierra la tierra ni el mar encunbre."
- Cervantes, "El Quijote", Cap. 58

Os cidadãos levados pela mão?

Vi ontem na RTP1, por duas vezes, um spot de publicidade institucional sobre as eleições presidenciais em que um pai e um filho menor ilustram uma relação de confiança que os leva ás urnas.Não quero acreditar que alguém queira promover a ideia do paternalismo na presidência.Ou será uma sugestão para se baixar drasticamente a idade dos votantes?

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Jorge, o "repetente"

(risos) Nem sei por onde começar; o melhor mesmo é deixar-vos com a seguinte transcrição de um artigo de Jorge Fiel (funcionário do semanário Expresso) escrito há cerca de 8 dias atrás:

"Ao incluir no currículo que não usa telemóvel, Mário Soares está a revelar que pertence a uma geração que nunca enviou uma SMS e não deu outra utilidade aos polegares senão a de chuchar neles (quando eram bébés) - ou eventualmente, e posteriormente, como auxiliares de uma recatada limpeza de salão (...) Mário Soares não está velho por ter 82 anos. Está obsoleto porque não usa telemóvel e tem orgulho disso."

Ao ler a estrutura gelatinosa do artigo em questão redigido por este jornalista «ma non troppo» do maior semanário nacional ... fiquei sem vocabulário. No entanto após o embate, em nanosegundos cheguei à conclusão de que quando o jornalismo é poucochinho e se é profissional da escrita light, as críticas saem entulhadas pela falta de qualquer tipo de argumentação.

Como diria Wittgeinstein: "What we cannot speak about we must passover in silence." -- ou em bom português, há alturas em que devíamos era estar calados.

Rabujento

Depois de adormecer e de dormir , pode acordar-se mal disposto…
DN: Já disse que, em tese, podia demitir o primeiro-ministro. Com base em que enquadramento constitucional?
Manuel Alegre: Artigo 195.º, n.º 2, da Constituição. É um poder discricionário do PR.
DN:Entende que é mesmo assim?!
DN:Concebe uma situação dessas?

Barrete

Quando Soares falou do boletim clínico, Alegre disse que se tratava de uma referência velada aos seus problemas de saúde. Agora diz que as declarações de Soares não o visavam. Não está rabujento, portanto.

Comigo não brincam

DN:Existe um défice democrático na Madeira?
Manuel Alegre:(Longa pausa) Há uma coisa que não faço dizer que há um défice democrático na Madeira e depois, se for eleito, deixar tudo na mesma. Goste-se ou não, há eleições na Madeira.
DN:Mas costuma dizer que a democracia não se confina às eleições...

Portugal dos pequeninos

João Gonçalves, no seu blogue Portugal dos pequeninos não se esquece de referir o meu nome como um dos responsáveis pela opção estratégica da entrada de Portugal na CEE, cujos festejos do vigésimo aniversário fizeram aparecer muitos europeístas de última hora.Embora consciente do papel que desempenhei na altura, e que um homem como Vítor da Cunha Rego relata a parte do Conselho de Ministros no livro de entrevistas de Maria João Avillez,costumo dizer que só se a UE der verdadeiramente para o torto é que terei esse papel devidamente sublinhado por todos!
Nada de novo sobre o universo.Até o Novo Mundo, descoberto por Cristovão Colombo, se chama América por causa do Vespúcio nas graças dos reis católicos!E o general De Gaulle , um ano depois da libertação de Paris nem foi convidado para o desfile da comemoração.Há sempre quem prefira os pequeninos...
Quanto ao País de Eventos, caro João Gonçalves, que o aborrece num outro postal: eu só dei o nome à coisa...

O Plágio de Luís Rainha

Tenho vindo a fazer uma série de posts chamados “Um café, sff”. Trata-se de um conjunto de excertos- citações de escritores, ensaístas e outros- sobre a importância dos cafés “marcadores da ideia de Europa”, uma pista lançada por Steiner.
No sexto post desta série (que ainda vai em curso) referi-me a um encontro que Cocteau teve com Picasso no La Rotonde. Baseando-me no livro de Klüver (A Day with Picasso: 24 Photographs by Jean Cocteau) e socorrendo-me de vários artigos que pesquisei na net.
Luís Rainha, do Aspirina B, pega no meu texto e acusa-me, sem mais, de plágio. Diz ele que não cito as fontes e “cola” várias das minhas frases a esses mesmos artigos. É verdade que li os artigos que LR diz que copiei. E li outros como este, este, este e este. E li também o livro “Cocteau”, editado pelo Centro Pompidou, que adquiri aquando da exposição em 2003: “Jean Cocteau, sur le fil du siècle”. Aliás foi este evento que me conduziu à obra de Klüver. No livro da exposição pode ler-se: “Un an plus tard, Cocteau et Picasso se promènent à Montparnasse, un beau jour de 1916, avec Henri-Pierre Roché, justement, et Max Jacob et Modigliani, et Kisling et une certaine Pâquerette…et puis Cocteau rejoint Picasso (et Diaghilev, Massine et la petit fille américaine, la danseuse russe Marie Chabelska) a Rome, au printemps 1917, pour préparer Parade ». Esta passagem remete para uma nota de rodapé, onde consta o trabalho de Klüver.
E fiz a minha súmula. O único pedaço que está ipsis verbis, questão que LR enfatiza de várias formas, é o bilhete que Cocteau escreveu o que, naturalmente, não pretendi alterar. As palavras são de Cocteau, e aparecem no meu post como tal. Se calhar LR queria que eu dissesse, à laia de artigo científico, Cocteau cit in
Mas o esforço de LR para consolidar a sua tese é tão grande que chega a cortar, através das reticências, partes do meu texto de forma a que batam mais ou menos certo com os excertos supostamente plagiados.
A acusação de LR é grave. Não só pelo que diz, mas também pelas suspeitas gerais que levanta. Basta ver os comentários que o post de LR gerou, e outros posts em outros blogs.

Seria a mesma coisa que eu dizer, que LR fez plágio neste post.
Ao falar de uma obra de Eduardo Kac, LR diz: “Uma instalação complexa que inclui projecções e uma planta geneticamente alterada de acordo com uma transposição para código ASCII da famosa sentença cartesiana: Cogito ergo sum”. Frase que, de acordo com os seus critérios, pode ser vista como uma cópia fraudulenta desta: "The sole piece on the board is a genetically engineered plant that, according to Kac, uses ASCII computer text to translate Descartes’s iconic statement of ontology (Cogito ergo sum — “I think, therefore I am”) into genetic code".
Ainda neste post, diz LR: "Será isto uma corajosa exploração das fronteiras entre o inanimado e o inteligente, entre o artificial e o natural, entre a Arte e a Ciência?" Não será esta frase apenas uma adaptação de : "Esta instalación da continuidad a mis intervenciones en curso sobre las fronteras entre la lo vivo (humanos, animales no humanos) y lo no vivo (máquinas, redes)". E de: "Kac is clearly interested in the interplay between art and science"
Ou neste outro post em que LR diz: “Os ícones russos deste período nunca esqueciam a figura do velho pastor, o escriba Anás; personagem de um famoso apócrifo, o proto-evangelho de Tiago (XV-XVI). Ele acusou José de ter surripiado a virgem Maria ao Templo de Deus, acusação de que este só se livrou após ter passado o teste da "água da prova do Senhor"
Encontra-se aqui um texto muito semelhante: “The figure of the old shepherd was one of the most attractive for the Russian icon-painters. On the icons dating from the 15th and 16th centuries he is called ‘the pastor', on some icons of the 17th century he is referred to as Anen. The scribe Anen (Anna) accused Joseph and Maria of the sin before the Nativity of Christ but after they had had ‘the water of accusation' and there was no sin on them the high priest let them got home”.
Não é por isto que julgo Luís Rainha nos termos em que se referiu a mim, alguém em quem “os pruridos éticos aparentemente podem ser suspensos quando se trata de criar uma máscara mais "cultural" e informada”, ou alguém que, “em vez de puxar pela cabeça em busca de opiniões originais, preferiu usar algumas passagens alheias, sem tal referir”.
E são estas declarações e o facto de LR ter ido, propositadamente, à cata de um plágio que queria encontrar, que mostram que, para além de uma acusação infundada, existem no seu post outras intenções.
Portanto, quanto a desonestidades, ficamos conversados.

domingo, janeiro 01, 2006

A Austria mostra a bandeira

O Expresso, semi-puritano, mostrou o cartaz com que a Austria pretendeu aquecer a sua presidência semestral da União Europeia:uma mulher jovem exibe uma espécie de slip com as pernas suficientemente afastadas para se ver o lugar geométrico onde se anicham as estrelas amarelas da bandeira azul.A ideia e a pose da mulher sugerem que algo de acalentador poderá saír desta presidência sem Constituição e sem discussões acaloradas sobre as perspectivas financeiras.
O Bloguítica até interrompeu a sua cruzada presidencialista para nos mostrar o quadro de Gustave Courbet que teria servido de inspiração aos promotores daquele lugar de culto para uma bandeira que ,como todas, se fêz para se saber onde reunir os combatentes.
Por mim não posso comparar o que não conheço,mas o modelo do pintor pareceu-me mais generoso de carnes.E dá para perceber como o culto do magro estilizado é recente...