quarta-feira, dezembro 28, 2005

Um café, sff VI

No dia 12 de Agosto de 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, Cocteau foi ao café La Rotonde.
Nesse sábado quente, encontra-se com Picasso e outros artistas, por volta do meio-dia, e almoçam. Para Picasso, um encontro habitual. Cocteau é um recém-chegado.
Os amigos mais próximos de Picasso, como Georges Braque e Guillaume Apollinaire, não se reuniram neste almoço já que se encontravam em recuperação, feridos na batalha. Apollinaire, aliás, não chegaria a recuperar e faleceria dois anos depois.
Segue-se uma sessão fotográfica que dura até às quatro da tarde, durante a qual Cocteau, com a sua Kodak, capta as expressões de alguns dos principais nomes da Escola de Paris: além de Picasso e a sua namorada, a modelo Pâquerette (Eva tinha falecido meses antes), Modigliani, Andre Salmon; Henri-Pierre Roche; Kisling, Max Jacob, Manuel Ortiz de Zarate posaram. São vinte e nove fotografias reunidas em A Day with Picasso: 24 Photographs by Jean Cocteau (Klüver, 1999, MIT Press).
Seria o início de uma relação importante. Doze dias depois, Cocteau anuncia a colaboração de Picasso num ballet de Diaghilev, com música de Erik Satie. Assim foram para Roma, uns meses depois, e estrearam em Paris em Maio de 1917. Para Picasso representava uma reviravolta na sua carreira- que se encontrava ameaçada depois de um dos seus principais promotores, Kahnweiler, ter sido exilado- contribuindo para o reconhecimento que teve entre as duas guerras.
Sobre o encontro, o autor das fotos escreveu no dia seguinte num bilhete para uma amiga:
”Nada de novo, a não ser que Picasso me leva para a Rotonde. Nunca fico mais que um instante, apesar da lisonjeira acolhida do círculo (talvez deva dizer cubo)... Sentar demais em cafés traz esterilidade. Bati chapas de Picasso e Mlle. Pâquerette e dos jovens que não vão além de um julgamento do mundo segundo Mme. Bongard. Você verá as revelações”.

Café de la Rotonde,Picasso.