segunda-feira, janeiro 02, 2006

O Plágio de Luís Rainha

Tenho vindo a fazer uma série de posts chamados “Um café, sff”. Trata-se de um conjunto de excertos- citações de escritores, ensaístas e outros- sobre a importância dos cafés “marcadores da ideia de Europa”, uma pista lançada por Steiner.
No sexto post desta série (que ainda vai em curso) referi-me a um encontro que Cocteau teve com Picasso no La Rotonde. Baseando-me no livro de Klüver (A Day with Picasso: 24 Photographs by Jean Cocteau) e socorrendo-me de vários artigos que pesquisei na net.
Luís Rainha, do Aspirina B, pega no meu texto e acusa-me, sem mais, de plágio. Diz ele que não cito as fontes e “cola” várias das minhas frases a esses mesmos artigos. É verdade que li os artigos que LR diz que copiei. E li outros como este, este, este e este. E li também o livro “Cocteau”, editado pelo Centro Pompidou, que adquiri aquando da exposição em 2003: “Jean Cocteau, sur le fil du siècle”. Aliás foi este evento que me conduziu à obra de Klüver. No livro da exposição pode ler-se: “Un an plus tard, Cocteau et Picasso se promènent à Montparnasse, un beau jour de 1916, avec Henri-Pierre Roché, justement, et Max Jacob et Modigliani, et Kisling et une certaine Pâquerette…et puis Cocteau rejoint Picasso (et Diaghilev, Massine et la petit fille américaine, la danseuse russe Marie Chabelska) a Rome, au printemps 1917, pour préparer Parade ». Esta passagem remete para uma nota de rodapé, onde consta o trabalho de Klüver.
E fiz a minha súmula. O único pedaço que está ipsis verbis, questão que LR enfatiza de várias formas, é o bilhete que Cocteau escreveu o que, naturalmente, não pretendi alterar. As palavras são de Cocteau, e aparecem no meu post como tal. Se calhar LR queria que eu dissesse, à laia de artigo científico, Cocteau cit in
Mas o esforço de LR para consolidar a sua tese é tão grande que chega a cortar, através das reticências, partes do meu texto de forma a que batam mais ou menos certo com os excertos supostamente plagiados.
A acusação de LR é grave. Não só pelo que diz, mas também pelas suspeitas gerais que levanta. Basta ver os comentários que o post de LR gerou, e outros posts em outros blogs.

Seria a mesma coisa que eu dizer, que LR fez plágio neste post.
Ao falar de uma obra de Eduardo Kac, LR diz: “Uma instalação complexa que inclui projecções e uma planta geneticamente alterada de acordo com uma transposição para código ASCII da famosa sentença cartesiana: Cogito ergo sum”. Frase que, de acordo com os seus critérios, pode ser vista como uma cópia fraudulenta desta: "The sole piece on the board is a genetically engineered plant that, according to Kac, uses ASCII computer text to translate Descartes’s iconic statement of ontology (Cogito ergo sum — “I think, therefore I am”) into genetic code".
Ainda neste post, diz LR: "Será isto uma corajosa exploração das fronteiras entre o inanimado e o inteligente, entre o artificial e o natural, entre a Arte e a Ciência?" Não será esta frase apenas uma adaptação de : "Esta instalación da continuidad a mis intervenciones en curso sobre las fronteras entre la lo vivo (humanos, animales no humanos) y lo no vivo (máquinas, redes)". E de: "Kac is clearly interested in the interplay between art and science"
Ou neste outro post em que LR diz: “Os ícones russos deste período nunca esqueciam a figura do velho pastor, o escriba Anás; personagem de um famoso apócrifo, o proto-evangelho de Tiago (XV-XVI). Ele acusou José de ter surripiado a virgem Maria ao Templo de Deus, acusação de que este só se livrou após ter passado o teste da "água da prova do Senhor"
Encontra-se aqui um texto muito semelhante: “The figure of the old shepherd was one of the most attractive for the Russian icon-painters. On the icons dating from the 15th and 16th centuries he is called ‘the pastor', on some icons of the 17th century he is referred to as Anen. The scribe Anen (Anna) accused Joseph and Maria of the sin before the Nativity of Christ but after they had had ‘the water of accusation' and there was no sin on them the high priest let them got home”.
Não é por isto que julgo Luís Rainha nos termos em que se referiu a mim, alguém em quem “os pruridos éticos aparentemente podem ser suspensos quando se trata de criar uma máscara mais "cultural" e informada”, ou alguém que, “em vez de puxar pela cabeça em busca de opiniões originais, preferiu usar algumas passagens alheias, sem tal referir”.
E são estas declarações e o facto de LR ter ido, propositadamente, à cata de um plágio que queria encontrar, que mostram que, para além de uma acusação infundada, existem no seu post outras intenções.
Portanto, quanto a desonestidades, ficamos conversados.