sexta-feira, janeiro 13, 2006

Alegre é que não

João Miguel Tavares, DN:
Alegre, pelo contrário, tem feito uma campanha desastrosa, coleccionando intervenções absurdas nos debates televisivos e confundindo acção política com saraus de poesia. Não são só as ideias puídas - é a amálgama indigesta de nacionalismo bacoco e de resistência antifascista.Nesta campanha eleitoral, Manuel Alegre parece querer ser, ao mesmo tempo, Humberto Delgado e Américo Tomás. Não me lembro de alguma vez ter visto esta mistura de marialvismo soixante-huitard, de conservadorismo revolucionário, de patriotismo socialista, de Trova do Vento que Passa em batida hip hop. Ontem, Alegre foi a Chaves reviver o "salto" de 1964 para Espanha, quando fugiu de Portugal em direcção ao exílio. Antes disso, homenageou os presos políticos do Forte de Peniche, homenageou Salgado Zenha, homenageou tanta gente que nem Álvaro Cunhal conseguiu escapar à sua sanha laudatória. É como se ele só se tivesse candidatado à Presidência da República para distribuir vastas condecorações no 10 de Junho. Manuel Alegre baseou toda a sua campanha numa pretensa superioridade histórica e moral. No início, pode ter sido traído por Soares. No dia 22, não merece ficar à sua frente.