sábado, dezembro 31, 2005

Vida de Casado

Vivos e mortos, amor e morte, comédia e macabro. Tim Burton regressa com o melhor de diferentes mundos. E, como de costume, sempre que com o choque entre eles se tira bilhete para uma realidade mais animada.
Victor é o filho único de peixeiros novos-ricos. Vitória é a filha única de uma nobreza arruinada. O mundo dos vivos é pardacento e previsível. E o casamento seria de conveniência, não fosse o facto de os noivos se apaixonarem. Mesmo.
Mas como assim a história acabaria já e ainda só passaram 10 minutos, Victor, numa tentativa desesperada e solitária de memorizar os seus votos de casamento, compromete-se, acidentalmente, com uma noiva cadáver. Uma beleza azul que, apesar de ter a cara meia podre e um olho que insiste sair d’órbita, mantém os restantes atributos. Outrora deixada no altar, jurou consumar um amor-vingança, causa que tanto a conserva (literalmente) quanto a amarra. Um limbo onde é apanhado o esquálido e idealista Victor.
O além, contudo, é uma pândega. Um cabaret cheio de vivacidade, onde esqueletos saem do armário só para um pezinho de dança, fantasmas morrem de riso e cabeças perdem o juízo. Sem se preocuparem muito com o extravio de tronco e membros.
Mas se o mundo dos mortos é bem mais carnal do que o dos vivos, o amor é mais ambicioso do que o “até que a morte os separe”. E onde os vivos encontram os mortos, faz-se justiça e juntam-se os predestinados.
A primeira cena com que Burton nos presenteia no “A Noiva Cadáver”, a borboleta devolvida à sua natural liberdade, é, então, o sentido do desfecho. A doçura que polvilha todo o filme, a par com a acidez e o humor- permitindo a identificação aos três principais personagens- tem, no final, um encantamento suplementar. Tim Burton sabe o que faz. Ossos do ofício.

Um café, sff VII


"Ocorre-me que não me consigo lembrar de nenhum detalhe preciso do teu rosto. Apenas ainda consigo ver a forma como te afastaste entre as mesas do café, a tua silhueta, o teu vestido”

Franz Kafka, em carta a Milena Jesenska, Abril de 1920.

“As tabernas com os belos nomes “Eldorado” e “Trocadero”, ambas situadas junto ao Mercado da Fruta, onde Kafka passou “muitas noites sentado”, infelizmente não chegaram aos nossos dias. O mesmo se passa com o café City, onde Kafka se encontrava frequentemente com Jizchak Löwy, e com o Café Corso, que Kafka e Brod gostaram de frequentar nos seus tempos mais juvenis: “No estilo fim de século. Local de encontro das beldades do bailado, das variedades e do grande capital de Praga”. Neste, os jovens queriam evidentemente assistir ao que se passava, só podendo ‘entregar-se a esse divertimento mesmo à justa’.

Wagenbach, K. (2001) A Praga de Franz Kafka. Ed. Fenda
No café, Signac

O belo verão de 2005

Do ano que hoje termina não esquecerei o belo e prolongado estio que me proporcionou um daqueles renascimentos que devem ter levado Ruy Belo a escrever que esperava sempre o verão como uma nova vida ,e proso o poema.
Só em Setembro( um mês que adoro) me dei conta do esplendor em curso quando nadava na piscina do Hotel Atlântico.E anotei o prazer antes do seu desvanecimento.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Gente que apreciei em 2005- III

-Pedro Mexia, pela atitude séria no programa O Eixo do Mal;
-Urbano Tavares Rodrigues,pelo livro O Eterno Efémero;
-Marta Rebelo, pelo seu livro sobre finanças locais;
-Eurico Figueiredo, pelo vinho Solar do Prado e pela buliçosa cidadania;
-Mário Bettencourt Resendes, António José Teixeira e António Peres Metelo,pelos claros comentários na TSF;
-Tiago Alves, pela condução do programa Os Artistas da Bola, ás segundas-feiras na Antena1 ;
-Maria Inácia Rezola, pela capacidade de investigação histórica,aliada ao domínio das últimas tecnologias;
-Leonor Vaz Monteiro,pelo trabalho de seminário sobre o malogrado pedido de negociações de Portugal à CEE em 1961 ;
_Inês Queirós, pelo trabalho de seminário sobre Portugal e a disputa internacional das reparações de guerra entre 1919 e 1933 ;
-Sérgio Santos,Paulo Afonso,Tiago Viegas e Ricardo Santos, pelo conceito político-técnico que presidiu à linha MP3 da campanha jovem de Mário Soares;
-Ana Sá Lopes,pela Vanessa;
-Joana Vicente Amaral Dias, pela forma inteligente e corajosa como se tornou numa personalidade política nacional;

Adeus siesta

Afinal parece que Asnar não conseguiu pôr os espanhois a trabalhar ao ritmo do capitalismo moderno.Uma comissão , cujo horário de trabalho não foi divulgado, descobriu que o intervalo da tarde para a siesta é o grande responsável pela fraca produtividade dos trabalhadores em Espanha.
Ora, pela leitura dos jornais portugueses julgava ser esse um problema apenas nacional.Mas não.Mesmo o facto dos nossos vizinhos preferirem ficar no emprego até ás 20h é criticado por essa comissão, enquanto entre nós são os conjuges que se queixam dessas extravagâncias.Para a comissão do horário único as luzes dos escritórios devem fechar-se pelas 18h, o que não descansará ninguém de bom senso, se as coisas forem devidamente aproveitadas...
O almoço também não escapa à estrita regulamentação liberal europeia.A redução do tempo do repasto irá destruir os bons restaurantes existentes e trará o triunfo da «bucha» e da sopinha requentada.Comer em menos de uma hora só está ao alcance de quem já pratica o arenque fumado, ou o pastelinho de bacalhau...
Mas cuidado, com este horário nórdico os espanhois ainda nos comem!

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Um prazer intelectual e político

A apresentação do livro «Mário Soares, o que falta dizer»,feita por Carlos Amaral Dias foi um momento de grande qualidade cultural, como raramente as épocas eleitorais proporcionam.Recorrendo à mitologia e à sua formação, o Professor comparou Mário Soares a Orion, e chamou-lhe o caçador do futuro.E descreveu os normopatas como irremediavelmente falhos de perspectivas.
O livro, em que Mário Soares é entrevistado por Anabela Mota Ribeiro,Elsa Páscoa e Maria Jorge Costa, recomenda-se.

Gente que apreciei em 2005- II

-Diana Andringa,que desmontou as´reportagens sobre o arrastão na praia de Carcavelos;
-Constança Cunha e Sá, pelas entrevistas aos candidatos presidenciais na TVI;
-Márcia Rodrigues,pela qualidade da sua preparação nos temas internacionais que apresenta na RTPN;
-José Magalhães, por ter resolvido a situação de imigrantes mal instalados no aeroporto de Pedras Rubras, mal teve conhecimento do assunto pela TSF;
-Maria João Avillez, pelo ambiente do seu programa na Sic-N, Outras Conversas;~
-Luis Osório, pela coragem do seu projecto jornalístico à frente da Capital;
-Jorge Silva Melo,pela direcção dos Artistas Unidos,pelos textos no Mil Folhas,pelo documentário televisivo sobre a Glicínia Quartim que passou na rtp2;
-António Brotas,que foi um dos governantes mais inovadores que Portugal teve no domínio da Educação, pela sua persistente cidadania, pelas informadas propostas que envia por e-mail aos responsáveis pelos sectores da Ciência,dos Transportes,da Educação, e que faz circular por outros interessados, amigos e conhecidos;

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Gente que apreciei em 2005- I

Ontem mudei de agenda e revi algumas notas deixadas aqui e ali sobre espectáculos vistos,artigos e livros lidos, pessoas que vão e vêm,debates travados,e outras efemérides próprias de agendas sintéticas, feitas para não esquecer o que pode correr esse risco.
Daí resultou um esboço de lista de coisas agradáveis que me apetece recordar, e de outras, poucas, que nem quero que me habitem a memória.Sem qualquer ordem, e sem pretender ser justo para todos, aqui deixo uma primeira amostra do exercício:
_Ana Lourenço e João Adelino Faria,Os excelentes apresentadores da Sic-Notícias;
-Ricardo Costa e Nicolau Santos,os inteligentes condutores do Expresso da Meia Noite ,também da Sic-notícias;
_Luis Filipe Borges, não tanto pelos Pasteis de Nata que inovou o panorama televisivo na rtp, mas sobretudo pelos magníficos textos deixados caír no blogue Causa Nossa;
-Fátima Campos Ferreira, ao vivo;
-Nuno Gomes, Nelson e Carlos Martins, no campo;
-Beatriz Batarda e Rita Blanco a representar;
-Manuel de Lucena,Mário Mesquita,e Joana Amaral Dias, a escrever;

Um café, sff VI

No dia 12 de Agosto de 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, Cocteau foi ao café La Rotonde.
Nesse sábado quente, encontra-se com Picasso e outros artistas, por volta do meio-dia, e almoçam. Para Picasso, um encontro habitual. Cocteau é um recém-chegado.
Os amigos mais próximos de Picasso, como Georges Braque e Guillaume Apollinaire, não se reuniram neste almoço já que se encontravam em recuperação, feridos na batalha. Apollinaire, aliás, não chegaria a recuperar e faleceria dois anos depois.
Segue-se uma sessão fotográfica que dura até às quatro da tarde, durante a qual Cocteau, com a sua Kodak, capta as expressões de alguns dos principais nomes da Escola de Paris: além de Picasso e a sua namorada, a modelo Pâquerette (Eva tinha falecido meses antes), Modigliani, Andre Salmon; Henri-Pierre Roche; Kisling, Max Jacob, Manuel Ortiz de Zarate posaram. São vinte e nove fotografias reunidas em A Day with Picasso: 24 Photographs by Jean Cocteau (Klüver, 1999, MIT Press).
Seria o início de uma relação importante. Doze dias depois, Cocteau anuncia a colaboração de Picasso num ballet de Diaghilev, com música de Erik Satie. Assim foram para Roma, uns meses depois, e estrearam em Paris em Maio de 1917. Para Picasso representava uma reviravolta na sua carreira- que se encontrava ameaçada depois de um dos seus principais promotores, Kahnweiler, ter sido exilado- contribuindo para o reconhecimento que teve entre as duas guerras.
Sobre o encontro, o autor das fotos escreveu no dia seguinte num bilhete para uma amiga:
”Nada de novo, a não ser que Picasso me leva para a Rotonde. Nunca fico mais que um instante, apesar da lisonjeira acolhida do círculo (talvez deva dizer cubo)... Sentar demais em cafés traz esterilidade. Bati chapas de Picasso e Mlle. Pâquerette e dos jovens que não vão além de um julgamento do mundo segundo Mme. Bongard. Você verá as revelações”.

Café de la Rotonde,Picasso.

Um café, sff V

Noutros tempos, o Monstre Vert viveu no castelo da sua propriedade, no castelo de Vauvert, no centro de Paris, mas a sua luxuosa morada foi destruída pelo fogo, e então foi-se esconder, segundo Nerval, “nas caves de uma casa desabitada, no final do Jardin du Luxembourg, no boulevard de Montparnasse, junto à avenue de l’Observatoire”, quer dizer, nada mais nada menos que no solar onde anos depois construíram La Closerie de Lilás, onde Fitzgerald e Hemingway, por volta dos anos vinte do século XX, se encontrariam frequentemente, primeiro como colegas e amigos e depois como rivais e inimigos.
(…) Um lugar ideal para o nosso odradek, hoje o fantasma secreto de La Closerie de Lilas.
O odradek Scott (como eu lhe chamo, porque sou a única pessoa que lida com ele) é a memória viva das relações ente Fitzgerald e Hemingway. Não é mais do que isso, o que, se virmos bem, é muito. Ou não é ser muito ser-se a memória daquela amizade entre os dois escritores?
Suspeito que os seus fios velhos e partidos pertencem a uma fita magnética onde tem gravados, para seu desespero, todos os encontros e desencontros deste par. Conhece tudo o que se passou entre os dois. Chama-se a si mesmo Scott e identifica-se com o autor de O Grande Gatsby e luta para que Hemingway (que para ele sou eu) nunca se esqueça do que se passou.
Walter Benjamin disse que um anjo nos recorda de tudo o que nos esquecemos. Scott, como odradek que é, sempre situado entre a porta e o balcão de La Closerie, recorda-me, quando lá vou, até ao mais ínfimo pormenor do que se passou entre os dois amigos.

Vila-Matas, E. (2005) Paris Nunca se Acaba. Ed. Teorema.
Os jogadores de cartas, Cézanne.

3 anos? Desculpe, não consta.

"Mas, francamente, que concepção de "risco" é esta que ignora os problemas sociais explosivos de urbanizações como a de Vila D'Este? Que, face ao trabalho de uma estrutura situada no terreno, prefere refugiar-se na indiscutível "verdade" de que um projecto destinado a combater o absentismo e o insucesso escolar não contempla, em princípio, crianças de três e cinco anos!? Uma coisa é certa o risco daquelas duas crianças revelou-se na sua trágica morte e no rasto de miséria social e humana que as envolvia e a isso não há regulamentos, despachos, pareceres, razões orçamentais que resistam."

Cavaco recua

Cavaco recua na questão do secretário de Estado,após ter lido a Constituiçao que atribui ao Governo a competência exclusiva da sua própria orgânica.
Aliás se Cavaco Silva tivesse lido a Constituição no devido tempo não se teria candidatado a Presidente da República, antes teria disputado as eleições legislativas contra José Sócrates...Assim fica sem secretário de Estado...
E nós ficamos com a sensação de que a sua eleição agora seria um risco escusado para o bom funcionamento das instituições.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Os estudos sobre sustentabilidade da segurança social portuguesa também não conheço

Alguém pode explicar ao ex-primeiro-ministro que é bom que saiba o que passa “lá fora” e imprescindível saber o que acontece por cá, especialmente quando se fazem propostas directas ao Governo?

Um café, sff IV

« Nous passons nos soirées dans un café de Montparnasse, le plus souvent la Rotonde. On y retrouve Boris Poplavski, Alexandre Guinger, Antoine Ladinski, Mikhaïl Alexandrovitch Struve, Georges Adamovitch et, quelques ans plus tard, Vladimir Smolenski, Youri Felzen, Youri Mandelstam, Goerges Fetodov et, plus rarement, Vladimir Weidlé, Boris Zaïtsev et d’autres (…) Nous n’avions pas de vie quotidienne bien réglée et n’en voulions pas. J’éprouvais le sentiment d´être libre et liée ; libre parce que je vivais en Occident, j’étais jeune, je lisais de livres, rencontrais des gens, mûrissais et écrivais ».

Berberova, N. (1989) C’est moi qui souligne. Ed. Babel
Au café, Manet

Um café, sff III

"The taxi stopped in front of the Rotonde. No matter what café in Montparnasse you ask a taxi-driver to bring you to from the right bank of the river, they always take you to the Rotonde. Ten years from now it will probably be the Dome. "


Hemingway, E. (1994) Fiesta. Ed. Arrow
Le Moulin de la Galette, Toulouse-Lautrec

Elementar, meu caro Watson

As jornalistas do JN, não comprando a ideia de que Cavaco apenas decidiu candidatar-se em Agosto, insistem com o candidato, tentando mostrar que a decisão há muito tinha sido tomada:
JN: Quando não quis participar no cartaz do PSD, nas legislativas, estava já a demarcar-se do partido para se candidatar?
Cavaco: Não tem nenhuma relação. Quando me afastei da liderança do PSD, em 1995, tomei a decisão de manter-me totalmente à margem da estratégia partidária e não é possível encontrar uma declaração minha em que dê opiniões sobre estratégia partidária. Em relação ao cartaz, ninguém falou comigo. Alguém que visse aquele cartaz diria, afinal ele está na vida política activa
.”
Basta olhar para o cartaz e ver como, tirando Cavaco, claro, todos estão na vida política activa.

Ministro forever

HOJE: O candidato presidencial Cavaco Silva desdramatizou hoje a sua proposta de criação de uma secretaria de Estado para acompanhar as empresas estrangeiras em Portugal, argumentando que o cargo já existe em vários países europeus.
"Conheço países que têm um membro do governo ou um director-geral que acompanha com uma certa regularidade a situação dessas empresas estrangeiras para antecipar problemas, (...) mas longe de mim sugerir qualquer secretário de Estado porque isso é uma competência exclusiva do primeiro-ministro
"
ONTEM:
JN: Problema grave é o da deslocalização de empresas estrangeiras. Nessa matéria, o presidente pode ajudar?
Cavaco: Há uma coisa que pode ser feita em Portugal, que eu sei que já foi feita noutros países. Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal e, de vez em quando, fosse falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparam e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las a inverter essas motivações. Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.
JN: Vai propor isso ao Governo?
Cavaco: Já o estou a propor aqui.
"
Só faltava acrescentar: O Primeiro Ministro eleito lerá o jornal.

Agora, mudo. Depois, verborreico.

JN: Vai usar até à exaustão o poder da palavra?
Cavaco: Ai isso vou. Vou falar
.

Cavaco, a campanha mais cara

Foi sem surpresa que se verificou ser o orçamento de Cavaco Silva o mais dispendioso para esta campanha presidencial.Nos números oficiais apresentados os gastos subirão a 3.700.000 euros, mais de meio milhão acima de Mário Soares.
Também no capítulo das receitas há diferenças de filosofia política orçamental.Enquanto Mário Soares exibe a contribuição partidária, e a angariação de fundos,para os contabilistas do antigo presidente do PSD apenas há donativos singulares e uma grossa estimativa da futura subvenção estatal.
É no capítulo da subvenção estatal que Manuel Alegre deposita a maior esperança de financiamento da sua atormentada campanha.Por aí não poderá desistir de ir às urnas e de contar os votos.
Mais prudentes neste capítulo mostraram-se Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa,cada um com menos de metade dos valores estimados pelos apoiantes de Alegre em termos da subvenção estatal.Em princípio serão reembolsados, e os seus partidos lá estão como reserva bancária.
Um dia falaremos dos efeitos políticos das leis de financiamento das campanhas eleitorais presidenciais.

Prova de Vida

Consta que o Bilhete de Identidade de Maria Filomena Mónica já vai em mais de 20.000 exemplares vendidos, e imensa gente me faz saber que já o leu.Pois hoje vou falar de outras memórias, agora de um homem da mesma geração.Que obviamente fala mais de mulheres.
Trata-se de 3 volumes de Rodrigues da Silva,actual chefe de redacção do Jornal de Letras, e militante de extrema-esquerda desde o tempo das lutas estudantis contra a ditadura.
Pois Rodrigues da Silva ,com a cumplicidade de um editor privado,escreveu cerca de 1.500 páginas apenas com 50 cópias para distribuir aos seus amigos ou a quem lhe marcou a existência.PROVA DE VIDA é o título evocador de um livro que se lê de um trago.E como é largo o copo...
Confesso que acho o último volume menos conseguido do que os 2 primeiros.É caso para se dizer que não são só os historiadores que têm dificuldades com os tempos mais recentes.
Este postal é também uma tentativa de convencer o meu querido amigo Rodrigues da Silva a deixar entrar a sua vida relatada no circuito comercial...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Um café, sff. II


“Em Paris conheço muito bem o itinerário dos autocarros e sei explicar ao taxista o trajecto que desejo seguir. (…) Numerosos lugares estão ligados a recordações precisas: trata-se de casas onde antes viveram amigos que já há tempos que não vejo (…), ou então cafés onde me aconteceram coisas esquisitas: o Café de la Paix, por exemplo, junto à Ópera, onde um dia um estranho vizinho de mesa tentou convencer-me de que o meu físico assentaria bem num casaco igual ao que Yves Montand usava no seu último filme; o Café de flore, onde travei uma fugaz conversa com Roland Barthes, que me contou que, depois de 30 anos como cliente de bar, a empregada da caixa tinha-o visto na televisão e ficou a saber que era escritor e tinha-lhe pedido um livro com dedicatória e ele decidiu- uma vez que ela o tinha visto em algo tão visual como a televisão- oferecer-lhe O Império dos Signos, o seu único livro profusamente ilustrado; o Café Blaise, onde me fez efeito um LSD de uma potência notável e pouco faltou para não ser assassinado por uma namorada muito malvada; o Café Aux Deux Magots, onde sem mais nem menos o arquitecto Ricardo Bofill me disse não sei quantas vezes que era muito mais fácil dar nas vistas em Barcelona, mas muito mais difícil- “como o estou a conseguir precisamente agora”, repetia a todo o momento- triunfar em Paris; o Café La Closerie des Lilás, onde adquiri o hábito de me sentar na mesa noutro tempo habitual de Hemingway e sair sempre sem pagar; o Café Bonaparte, onde acompanhado de Marie-France (travesti tipo Marilyn Monroe que estava a rodar comigo Tam-tam, um filme underground de Adolf Arrieta) vi com grande assombro como um louco furioso entrava no estabelecimento com um martelo e escolhia ao acaso um dos clientes para lhe assentar uma contundente pancada no crânio que o deixou estendido e morto; o café que fica perto do cruzamento da rue du Bac com o boulevard Saint-Germain, onde Perec recomendava que nos sentássemos para observar a rua com um esmero um pouco sistemático e a anotar o que víssemos, o que nos chamasse a atenção, obrigando-nos a nós mesmos a escrever “inclusive o que aparentemente não tem interesse, o que é mais evidente, o mais comum, o mais opaco”. “
Vila-Matas, E. (2005) Paris nunca se acaba. Ed. Teorema.
Mulher na Esplanada de um café, Degas

Um café, sff. I


"A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século XVIII. Nenhuns na América do Norte, para além do posto avançado galicano de Nova Orleães. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da “ideia de Europa”.

Steiner, G. (2005) A Ideia de Europa. Ed. Gradiva
Esplanada de Café à Noite, Van Gogh

O meu cinema paraíso

Após o jantar em família revejo,na rtp2,o filme de Tornatore«Cinema Paraíso», com música de Ennio Morriconne.Já não tem o mesmo efeito da exibição no fim dos anos oitenta , mas ainda impressiona.Recordo o meu Teatro Vilafranquense,na ilha de S Miguel,onde dos sete aos doze anos vi tudo que havia para ver sem limite de idade, pois o Estado só a muito custo lá chegava, e não começava por pedir a idade dos frequentadores daquele cinema restaurado em 1950.
O meu Alfredo era o cabo Norberto da guarda-fiscal, que escolhia os filmes e os discos que davam ambiente ao velho teatro transformado em sala de cinema.O início da sessão era sempre precedido da marcha turca de Mozart, e os espectadores saíam ao compasso da marcha de Radetzky.Como o meu pai era muito severo com distracções que ele considerava inúteis, o cabo Norberto dava-se ao trabalho de passar lá por casa para convencê-lo a permitir que eu e um irmão meu fôssemos com ele ao cinema.
Saí de Vila Franca do Campo em 1954 com 12 anos e só voltei a encontrar o cabo Norberto em 1975.Ele fez questão de assistir ao meu primeiro comício em S.Miguel!

sábado, dezembro 24, 2005

Cassete Cavaco

"Discurso atrás de discurso. Cavaco só parece mudar as vírgulas. Acompanhá-lo durante quatro dias, chega para decorar as duas versões (breve e longa) das suas intervenções. "

Revista Visão

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Bonecos de Neve

O primeiro lançamento de neve artificial na zona do Marquês de Pombal, que estava agendado para quarta-feira mas não se concretizou por falta de licença camarária, tem início às 18h de hoje, numa iniciativa do Banco Espírito Santo (BES). (...) Questionado sobre a possibilidade de a iniciativa complicar a circulação automóvel no Marquês de Pombal, com tráfego intenso e parcialmente transformado em estaleiro das obras de prolongamento do túnel das Amoreiras, João Reis garantiu que "as questões estão todas salvaguardadas" (Público)



Jingle da Câmara Municipal de Lisboa para este Natal: Let it Snow.

Oh, Oh, Oh !


Bush: "It's been a good year for the American people."

Penada

A revista Visão tem uma rubrica intitulada “Transições”. É um conjunto de curtas: eleições, nomeações, distinções, saídas. E óbitos.

Com K

"a mandatária para a juventude é presença assídua nas iniciativas mais importantes de campanha. (…) Além de ser elogiada por Cavaco, demonstra ter uma grande empatia com a mulher do candidato, Maria Cavaco Silva. Durante um jantar com jovens apoiantes, no Pavilhão de Portugal, Kátia apresentou a candidata a primeira-dama a uma jovem estilista. Maria agradeceu e elogiou um vestido que a jovem usou, numa cerimónia anterior. As duas mulheres fizeram boa parte do trajecto de mãos dadas”. Kátia Guerreiro, 29 anos, está nesta campanha porque não quer ser confudida com a famigerada 'geração rasca'".
Revista Visão.

"Pró que for preciso"

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"Publicidade. Melhor: a campanha presidencial de Mário Soares dirigida à nova geração. 'MP3 - Não há duas sem três'. Nunca dantes se viu um presidente com ideias. Nunca depois se voltará a ver."
- Miguel Somsen, "Dois Mil e Cinco: O filme", jornal Metro, 23 Dez.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Vox Populi



"Bubble Project" - Hoje é praticamente impossível andar pelas ruas de Nova Iorque sem encontrar estes "balões" colados em algum cartaz ou paragem de autocarro. A ideia é incentivar o grande "público anónimo" a escrever uma mensagem de volta que dê um novo significado/contexto aos mesmos cartazes comerciais.

terça-feira, dezembro 20, 2005

O Presidente interpela o Primeiro Ministro

O debate entre Mário Soares e Cavaco Silva deu a diferença entre duas personalidades.Mário Soares como candidato a Presidente da República, Cavaco Silva como candidato a primeiro ministro.

A Mãe de todos os debates

Com o aproximar da noite o país prepara-se para seguir o debate mais esperado desta pré-campanha eleitoral.Os outros debates foram uma devida homenagem ao pluralismo das candidaturas mas todos sabiam desde o princípio que obrigar Cavaco Silva a defrontar-se com Mário Soares era o objectivo democrático por excelência destas presidenciais sorrateiras.
Evidentemente que este deve ser apenas o primeiro frente a frente entre ambos.Mário Soares já se declarou pronto para novos debates no período propriamente eleitoral.De preferência noutros moldes mais livres.

A que título?

Recebi, através do endereço dos bichos-carpinteiros,um e-mail de Henrique Teixeira, que recorda ter sido meu aluno na FCSH nos anos noventa, perguntando-me se apoio Mário Soares na minha qualidade«de Político, de Académico ou de Cidadão».Tudo isso para «conhecer melhor a sua pessoa», remata o antigo estudante.
Pois ,caro Henrique Teixeira, apoio Mário Soares,após uma profunda observação da situação portuguesa e internacional, como cidadão e político que se situa na ala esquerda de uma sociedade mal estivada e a adornar para estibordo.E olhe que já fui acusado de desvios direitistas no início do regime democrático...Mário Soares, é ainda hoje o único fenómeno político à esquerda que obriga a direita a conter-se nos seus propósitos de hegemonia e exclusão pela via eleitoral.
Outra conversa será a necessária reformulação,no futuro, das correntes progressistas na nossa sociedade.
E deixe a Academia em paz nesse particular...
Conhece-me agora melhor?

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Uma eleição de alto risco

Teve razão Mário Soares em alertar , ontem, o país para o facto da possível eleição de Cavaco Silva representar um alto risco para os portugueses, tendo em conta o perfil crispado e crispador do embuçado.
Com há poderosa gente interessada em adormecer os cidadãos é bom que fique o alerta.O verdadeiro quadrado começa a formar-se.

Luis Miguel Cintra-Prémio Pessoa

Não vou discorrer sobre um grupo de iluminados que atribui distinções aos seus contemporâneos com maior ou menor critério.O certo é ter-se imposto o Prémio Pessoa da iniciativa de Francisco Pinto Balsemão e do seu jornal Expresso.A sua atribuição anual pode ser mais ou menos caprichosa, ou aleatória, mas é sempre um acontecimento e uma consagração.
Este ano o contemplado foi Luis Miguel Cintra que tanto tem trabalhado por uma cultura de qualidade «das artes do espectáculo» entre nós.Sou um dos privilegiados com os espectáculos da Cornucópia nesmo ao pé da porta, com o rigor, e até o gosto pelo esforço da assistência, que o Luis Miguel Cintra e a discreta Cristina Reis arquitectam há cerca de trinta anos .
E ainda há o cinema com realizadores como João César Monteiro e Manuel de Oliveira a unir a imagem e a voz deste grande actor do nosso tempo.
Há obras e talentos que só os contemporâneos podem usufruir e apreciar na sua plenitude.Estes prémios fazem então ainda mais sentido.

domingo, dezembro 18, 2005

Mesa 2 Maior

A humorada mesa 2 do Procópio,onde Nuno Brederode Santos recebe há anos amigos, parentes e curiosos, é uma das tertúlias mais difíceis de entrar em Lisboa, mesmo contando com a anexação de uns bancos baixinhos que os retardatários puxam como se de um cargo na corte se tratasse.Pois esta noite a mesa 2 alargou-se num jantar no restaurante Manel no Parque Mayer.Mais um pouco e saíam outros candidatos cívicos sem cobertura partidária.Foi a falta de originalidade que travou os mais audazes.E o facto dos debates televisivos carecerem de glamour.

sábado, dezembro 17, 2005

Sempre houve desconto

Afinal os ingleses, para além de pragmáticos, continuam a apreciar a lógica política.Acabaram assim por corresponder à expectativa ontem aqui exarada sobre o melhor momento para começarem a descontar no montante do cheque que recebem com o retorno das suas contribuições para o orçamento comunitário.As Perspectivas Financeiras 2007-2013, agora aprovadas, são boas notícias para a UE e para Portugal.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

A data do cheque

Se Londres não aproveita a sua presidência da UE para descontar no cheque britânico, quando o fará?Seria uma boa maneira,numa altura excelente, para criar aliados europeus.O que será que se ensina hoje em Oxford e Cambridge, cara Filomena Mónica?

País de eventos

Referi no programa televisivo Prós e Contras que Portugal teria tendência a especializar-se na realização de eventos internacionais que exponenciassem o cluster do turismo e dos serviços.Pois a UEFA acaba de atribuir à Federação Portuguesa de Futebol a organização do Campeonato Europeu de sub-21, a realizar entre fins de Maio e princípios de Junho do próximo ano.Lá voltaremos a ter estádios cheios, hoteis com elevado grau de ocupação, comércio solicitado numa época intermédia.
Alguém tem alguma coisa contra?

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Candidatura experimental

Ontem no debate Soares-Alegre, o primeiro evocou a questão da experiência como uma vantagem sobre Alegre. Este ripostou com um argumento vazio. Dizia Alegre (o que depois foi retomado por comentadores e outros) que, de acordo com essa perspectiva, então nunca ninguém chegaria a Presidente da República, pois era sempre necessária uma experiência prévia.
Não tem sentido a resposta de Alegre. Parece a resposta de um irmão mais novo, complexado em relação ao mais velho. É evidente que, para ser Presidente da República, convém ter uma vasta experiência. Não tem que ser um cargo de júbilo, mas exige-se que o candidato tenha traquejo e prática. E Alegre não tem.
E não adianta, como outros fizeram, vir dizer que Cavaco tem essa experiência, logo o argumento de Soares cai por terra. Primeiro, o argumento de Soares deve ser situado no contexto em que foi proferido. Isto é, qual o candidato da esquerda melhor posicionado. Em segundo lugar, a memória dos tempos governativos de Cavaco não deixaram boas recordações. Ou seja, é justamente o facto de sabermos quem foi (quem é) Cavaco que nos permite rejeitá-lo liminarmente. Tanto é assim que Cavaco fala o menos possível, aparece o mínimo. Ele também sabe que a experiência prévia permite avaliar melhor cada candidato. Por isso procura que todos nos esqueçamos do que ele foi.
Ora, Alegre avalia positivamente a anterior experiência de Soares. Ao ser reeleito com 70% dos votos, Soares recebeu esse reconhecimento da larga maioria dos portugueses. E Alegre avalia negativamente (suponho que sim, mesmo que a sua candidatura não seja de esquerda, seja “transversal”) a anterior experiência de Cavaco. Se Alegre não considerasse a experiência importante, então basear-se-ia em quê para não votar em Cavaco?
De facto, é da máxima importância a experiência anterior de um candidato à Presidência da República. É necessário saber quem foi, o que fez, o que pensa realmente sobre cada uma das questões nacionais, europeias e internacionais. Como se posicionou em relação a cada uma é o que permitirá supor o que fará no futuro.
E Alegre, neste domínio, é fraco. A sua maior experiência anterior (praticamente a única) foi a de ser deputado do PS. Como agora sustenta muita das suas principais posições (ou mesmo o âmago supra partidário da sua candidatura) contra as decisões que tomou enquanto deputado (desde a privatização da água ao TGV), a sua experiência também não lhe é favorável.
Talvez por isso tenha fique tão abespinhado quando alguém lhe fala do passado.

A raposa e o corvo


"A fábula da raposa e do corvo repetiu-se ontem na TVI, no sexto debate entre candidatos presidenciais. Com Mário Soares a evidenciar as fragilidades de Manuel Alegre para o cargo e não ter uma linha de pensamento."
(JN)

Jornalismo de combate

O jornalismo de combate terminara em Portugal nos anos oitenta.Porém voltou agora ,mais situacionista é certo, mas não menos audaz.Hoje Miguel Carvalho na Visão,e Fernanda Ribeiro no Público, apresentam peças expressivas do novo modo de pastorear leitores.Na televisão ao menos estamos a ver.
Será que ainda teremos,no futuro, umas teses de mestrado sobre as perversões comunicativas das presidenciais de 2006?

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Verticalidade e Transversalidade II

O debate foi relativamente animado, sobretudo na primeira parte. Soares pôs Alegre sempre à defesa. E este chegou mesmo a responder a interpelações directas de Soares. A finta de Alegre acabou por ser desastrosa quando Soares relembrou que ele próprio se tinha “auto-suspendido”. Na segunda parte, e a propósito do TGV, Soares recordou que o voto de Alegre (caso tivesse existido) teria sido a favor. Como tinha sido a favor do programa do governo. Quanto mais Alegre tenta descolar-se do PS, mais gruda.
A candidatura de Alegre começou por tentar ser a candidatura apoiada pelo PS. Depois de rejeitada, passou a supra-partidária. Finalmente, e como dizia Helena Roseta há pouco na Sic, não é uma candidatura de esquerda. É transversal, dizia a ex-deputada. É polivalente, multiusos e muito flexível. Tanto que acaba por não ser nada. Tanto que Alegre tem muito mais divergências com Soares do que com Cavaco Silva.
Ficou claro que Alegre não é o melhor candidato da esquerda. E, seguramente, não é o melhor candidato para derrotar a direita.

Verticalidade e Transversalidade I

Alegre só tem senso-comum. Soares tem mais do que bom-senso. Tem tanto que várias vezes tentou reconduzir o debate para aspectos mais interessantes. E, por fim, teve que, pela enésima vez, chamar a atenção sobre o facto de se estarem a discutir “banalidades”.
É extraordinária a interpretação que Alegre faz dos poderes presidenciais. A dita bomba atómica serve-lhe para quase tudo. A certa altura, fica a ideia de que não é por convicção. É feitio.
O estilo de Alegre foi pouco adequado. Desde elogios aos artigos do próprio jornalista sobre a OTA (quando em diversas ocasiões disse que com uns artigos tinha ficado convencido, com outros nada convencido), à evocação de Sophia M. Breyner, mãe do jornalista. Dizer, a propósito da suas próprias afirmações ( “dormir descansado com Cavaco Silva”) que quem é conhecido por “dormir bem é Soares”, saiu mal. Piada fácil, num debate entre candidatos à Presidência da República, dá buraco.
O facto de Alegre ter aproveitado as “alegações finais” para se dirigir às mulheres e às mulheres apenas, sem apresentar uma única ideia, foi uma instrumentalização. O problema da paridade existe. E é grave. Tomá-lo deste modo, só porque as mulheres são a maioria do eleitorado, porque podem identificar-se com o candidato no pretenso estatuto de vítimas ou porque o candidato supostamente faz charme, é pobre.
Isto sim, é paternalismo.

Não gostei de ver, no rescaldo, alguns jornalistas a dizerem que Soares tinha falado de Cavaco. Independentemente do juízo sobre se isto é bom ou não para o candidato, foram os jornalistas que, pelo menos por duas vezes, puxaram o assunto.
Constança Cunha e Sá esteve mais apagada. E foi desagradável escutarem-se as trocas de impressões, em sussurro, entre os jornalistas.

"Marito & Cavaquito"

Clique para aumentar
[Via: MovimentoMP3]

O Natal à venda no eBay



E se o Natal estivesse à venda no eBay?
E se o dinheiro do leilão revertesse todo para a Unicef?

Mozart dos pequeninos

O público do S. Carlos também gosta de rir, como se demonstra pelas noites divertidas passadas com o Rapto do Serralho de Mozart-Strehler.Como não tenho visto o implacável João Gonçalves ao intervalo, pergunto-lhe , por esta via, se já viu, e se não ficou menos grave com a humanidade por uns instantes...

Não haverá nova guerra dos sinos II

A Conferência Episcopal Portuguesa tomou ontem uma posição sensata sobre a retirada dos crucifixos das escolas, uma questão que se está a resolver calmamente, sem empolgamentos combativos, quer pela parte do Estado quer pela parte da Igreja Católica.O «bom senso» a que a Conferência Episcopal apelou está bem presente na metodologia praticada pelo Ministério da Educação.
Não haverá guerra dos sinos como no final da I República, e podemos dar mais atenção aos verdadeiros problemas da sociedade portuguesa.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Esquerda, direita. Volver…

Hoje foi um debate chato. Cavaco esteve na sua pose habitual de enguia. Não foi claro relativamente às privatizações, à energia nuclear, à polícia. Jerónimo de Sousa não conseguiu, como aliás reconheceu, “desbloquear” o adversário.
Ainda assim, alguns momentos foram notáveis.
Quando questionado sobre a paridade entre mulheres e homens e sobre as críticas que Jerónimo lhe tem dirigido sobre este tema, Cavaco responde (e cito de cor): “Lá em casa, quando se ouve isso, a minha mulher ri-se bastante. O homem é uma mulher e um não está à frente do outro”. O.K. Também acho graça, sim senhor.
Outro momento cómico foi quando, perante a farpa de Jerónimo que se referiu à distância entre o discurso e as práticas do outro candidato, Cavaco se insurgiu: “Os portugueses, geralmente, vêem-me como um homem de palavra”.
A língua portuguesa é traiçoeira, ai pois é.
Relativamente ao TGV, Cavaco insinuou que a apresentação pelo governo das análises custo-benefício, se devia à sua própria insistência. Aliás, quando o Guedes de Carvalho comentou: “Até parece que o ouviram”, Cavaco não desmentiu.
Quando Ricardo Costa confrontou Cavaco Silva com a contradição entre os seus elogios à Califórnia e os seus receios relativamente à imigração (questão que levantei no meu artigo no DN de hoje), o candidato repetiu a asneirada que anteriormente tinha referido. Os portugueses podem ficar em minoria. E decidiu, ainda por cima, dar como exemplo o Luxemburgo. Desta feita deve ter esquecido o número de portugueses que lá vivem e trabalham.
Bonito foi ver Cavaco a utilizar a expressão “Olhe que não, olhe que não”. Será que também está em desespero de causa?

Como diz o senhor professor...

Os novos cartazes de Cavaco Silva são ainda piores do que os anteriores. Para além da linha gráfica, a posse em esforço é má. A frase “Sei que Portugal pode vencer”, do seu manifesto, é pomposa. Ele sabe (ele sabe sempre tudo e não se engana) que Portugal pode vencer. Não é que Portugal vencerá. Com ele, só com ele e com ele apenas, Portugal vencerá. E o que será vencer, neste caso?
Mas o mais notável é o facto de a frase aparecer entre aspas. Cavaco não fala directamente aos seus eleitores. É citado. Cavaco não fala directamente aos portugueses. Está em silêncio, claro. Outros falam e falarão por ele.
“Sei que Portugal pode vencer”. Assim, entre aspas, como se fosse uma citação inspirada de um académico exímio.
Sim, Senhor Professor, sem dúvidas…

Discrição QB


Informa-nos a revista VIP (Very Important Person) do dia 13 do corrente mês: "Katia Guerreiro não é uma mulher nada fácil de se apanhar. Isto porque, além das normais obrigações profissionais que preenchem a sua vida, a recente missão de promover a candidatura presidencial de Cavaco Silva junto dos eleitores mais jovens tem obrigado a fadista a acelerar, ainda mais, o ritmo de vida."

Este post (atípico) vem na senda da seguinte frase escrita pelo Paulo Tunhas: "Contrariamente à (Mandatária para a Juventude) de Soares, os (Mandatários) de Cavaco e Alegre são discretos e a gente quase nunca os vê (os de Jerónimo de Sousa e Louçã eu nem sequer sei quem são)."

Caro Paulo, não seja por isso, compre a VIP de Dezembro, sempre fica a saber um pouco mais sobre a "discreta" Mandatária de Cavaco.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Fernando Rosas, o melhor da noite.

Assisti ao debate entre Manuel Alegre e Francisco Louçã e achei-os muito tacticistas.Já Fernando Rosas brilhou nos comentários que fez ao debate na Sic-notícias, e assim acabou por dar a vitória às suas cores.

A esquerda e o ambidextro II


O que o debate Louçã-Alegre mostrou é que o primeiro tem ideias para o país, um projecto, enquanto o segundo tem um discurso frágil e pouco preparado. Enquanto Louçã tinha respostas e propostas, politica e tecnicamente sustentadas, Alegre parecia estar numa conversa de café. Para além disso (tendo Louçã capitalizado e bem, as constantes contradições entre o discurso crítico de Alegre em relação ao PS e a sua cumplicidade com essas mesmas críticas), Alegre esteve constantemente à defesa.
Aqui se encerra um capítulo. Alegre não rouba um único voto do Bloco.
E, portanto, também não lhe tira o sono…

A esquerda e o ambidextro

O deputado do PS bem que tentou esquivar-se à apreciação do governo (os seus reparos, ultimamente, tal como o voto-não-voto, são sempre velados) atirando generalidades como o presidente enquanto garante de “governabilidade e estabilidade”. Foi engraçado ver Alegre a ser confrontado pelo jornalista com um “Mas isso não é uma resposta formal” e retorquir com “Não, não é. É a resposta que se deve dar”. Pois…
Seja como for, desde o início Louçã colou-o às suas contradições, nomeadamente ao silêncio de Alegre em relação ao aumento do IVA e à votação do orçamento rectificativo. E aqui Alegre mostrou irritação.
O mesmo em relação à UE. Alegre foi o primeiro a responder, falando do seu “pacto económico e social”, enviando algumas supostas farpas à UE e claramente tentando embaraçar Louçã com a definição de “que projecto europeu”. Mas o Bloco não é o PC. O que funcionou no debate Soares-Jerónimo, aqui não colheu. Louçã colocou-se na sua linha de “europeísta de esquerda” e, com um golpe rápido, atirou Alegre ao chão. Há pactos que nem podemos escolher e, quando foi feita a alteração ao artigo oitavo, dando larga margem à UE para definir as políticas económicas, Alegre não votou contra.
Nas questões sobre a ocupação partidária de lugares de nomeação política, Alegre foi vago. E quando a coisa aperta, lá vem o inevitável recurso à moralização. Sobre Oliveira Martins, “A, B ou C”, como disse, não comenta. Mas insistiu que tem que haver decência na política, claro. Alegre ainda não reparou que a retórica moralizadora capta os votos de descontentamento até a um certo ponto. Quando é a doer, vira feitiço contra feiticeiro.
Neste ponto Louçã foi mais claro e concreto. Nomeou a Caixa Geral de Depósitos e, outra vez, lembrou a importância da tomada de posições políticas nos momentos certos.
Quando, já no final da primeira parte, surgiu a questão do Alberto João, Louçã estava em terreno delicado. Mesmo assim aguentou-se bem. Mas as dificuldades de Louçã dissiparam-se quando Alegre cometeu suicídio. E fê-lo dizendo duas coisas espantosas. Primeiro que o problema é que Alberto João (ou outro qualquer) poderia voltar a candidatar-se, ganhando. E isso criaria um problema ao Presidente. Como se fosse esse o problema!
Não satisfeito, atirou-se ao rio, alegando que, dissolvendo-se a assembleia o “demitido” não deveria poder voltar a candidatar-se. Lindo. Louçã logo esclareceu que ninguém deve ser impedido de se candidatar na sequência de uma decisão política. Disse que a opinião de Alegre estava errada. Este reconheceu.

A segunda parte começou com as habituais tibiezas de Alegre. Deve ou não o mandato de 6 anos do Procurador Geral da República ser alterado? Não responde. Substituiria ou não o actual? Não responde. Mesmo quando a jornalista o relembra que essa será uma questão para o próximo presidente, Alegre hesita, debita um “pois…” e repete apenas que considera a sua prestação negativa.
Quanto à Pátria, a ladainha do costume. Numa declamação em posse teatralmente discutível, lá vem a dita cheia de sílabas tónicas. E aí vai disto, Evaristo. Para Alegre é a resposta dos povos à globalização. Para Louçã a sua pátria é a globalização outra. Quanto à evocação que Alegre faz, sistematicamente, de Bernardo Soares já não há pachorra. E, já agora, é bom relembrar o seu enquadramento: “Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente”.
Etc, que isto já vai longo.
Alegre não é um voto de descontentamento como, aliás, reconheceu. Mas também não é um voto de mudança, como pretende. É um voto de protagonismo. Pronto. Agora que já teve uma dose suplementar, importa-se de estudar mais um bocadinho?

A leviandade marcelista

Ontem houve uma flagrante tentativa de agressão a Mário Soares numa rua de Barcelos.Várias câmaras de televisão captaram a cena que durou tempo suficiente para poder ser analisada por quem sabe ver.Pois Marcelo Rebelo de Sousa preferiu intrometer a sua cultura livresca recordando, a despropósito, a célebre história do OBSERVATOIRE passada com Mitterrand,cuja veracidade é discutida em França nas inúmeras biografias que este suscita.
Já se sabia que os livros de Marcelo não são sempre escolhidos por critérios de qualidade.Mas a leviandade da insinuação ontem feita na RTP1 merece a penalização da opinião pública.E deve merecer do professor uma retractação o mais depressa possível.O mais tardar no próximo programa oferecido ao comentador pela estação pública de televisão.

Você sabe que a coisa correu mesmo mal quando…

até Luís Delgado é forçado a reconhecer que Cavaco perdeu o debate com Louçã.
E já agora…não encontro no site de Cavaco o vídeo deste debate (ao contrário do vídeo do debate com Alegre, prontamente disponibilizado).

A capa

domingo, dezembro 11, 2005

Adivinhem quem foi jantar

Ontem fomos jantar a casa de uns amigos que convidaram outros tendo resultado uma reunião de apoiantes de 3 candidatos presidenciais que esgrimiram argumentos até à exaustão.O acolhedor ambiente, o excelente jantar. a boa garrafeira, ajudaram a que tudo se passasse com civilidade, se bem que acaloradamente.Entre os convictos não houve oscilações:Soares, Cavaco e Alegre mantiveram os votos adquiridos, mas uma entusiasmada tecnocrata confessou que depois do debate entre Cavaco e Louçã inclinava-se cada vez mais para votar no coordenador nacional do BE.
Como havia peritos em transportes também se discutíu muito o TGV e a localização do novo aeroporto.Mas portos e linhas férreas não ficaram em repouso.
Se o mesmo se passar em outros jantares não me venham dizer que a sociedade portuguesa está conformada.

sábado, dezembro 10, 2005

Muita pausa e pouca "uva"

Informa-nos o Expresso, de que os Portugueses "desperdiçaram 1.574.203.400 horas de trabalho no ano passado".
As pausas para café, as pontes, as baixas e o tempo útil de trabalho desperdiçado são os principais culpados da nossa falta de produtividade comparativamente com França, EUA, Áustria, Alemanha, Reino Unido, Espanha ...


Uma pergunta:
Nas actuais «knowledge-based economies» ou Sociedades do Conhecimento, onde o factor de produção "conhecimento" se tornou já no principal catalizador de inovação e produtividade, quantas horas são necessárias para produzir riqueza?

Uma opinião:
Os Portugueses (e falo por mim, claro) têm uma apetência para mostrar que trabalham muito, fazem horas pós-expediente, andam pelo escritório até às sete, oito e por vezes nove horas da noite (média generalista). Porquê? Será que desconhecemos o célebre princípio de Pareto ou a regra dos 80\20? Será que sabendo que 80% dos resultados se obtêm em média com 20% do esforço e do trabalho, poderemos finalmente conseguir focalizar e gerir melhor o nosso pouco produtivo tempo?

O regresso do Homo Economicus

"Duas pessoas sérias com mesma informação têm de concordar."
- disse Cavaco Silva na sua entrevista à RTP.

Incorrecto Sr. Professor. E o Sr. melhor que ninguém deveria saber da teoria microeconómica (vide Teoria de Jogos, Teoremas da Impossibilidade de Arrow, Equilíbrios Não-Cooperativos de Nash ... resumido e para leigos), que os decisores económicos - as pessoas, tendo acesso à mesma informação e recursos disponíveis, têm preferências diferentes e tomam decisões diferentes (mesmo dentro de um conjunto comum de regras que condicionam tais decisões). Esta divergência de decisões mais não é que uma manifestação do pluralismo da natureza do ser humano e de uma «ideia de argumentação» que é inata nas Sociedades Livres.

Coisa que talvez o Sr. Prof não compreenda, pois foge ao modelo de completa racionalidade, do cálculo de variáveis endógenas a que o homo economicus está habituado - e claro, da visão que o Prof. tem dos homens e das suas relações em sociedade.

Momento cultural



DJ Piñacolada, also known as João Coutinho, hoje no Cais do Sodré ... a dar música ao pessoal.

A Bandeira da Cruz Vermelha

A Cruz Vermelha ,esta primeira ONG fundada por Henri Dunnant após ter presenciado os horrores da batalha de Solverino entre austriacos e piemonteses,acaba de dotar-se de uma terceira bandeira,que se junta à da cruz e à do crescente,cujo símbolo é uma figura geométrica,uma espécie de paralelogramo pintado a vermelho de sangue..Assim já poderá circular por todas as partes do mundo sem ferir susceptibilidades.
Até agora ainda ninguém tinha pensado nessa solução de justapor símbolos laicos aos símbolos religiosos.Mas é engenhoso...

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Porque hoje não é Sábado

Parece que o Pulo do Lobo está muito preocupado com a credibilidade do 24 horas e com a defesa de Kátia Guerreiro. Convém não esquecer que as originais declarações da mandatária para a juventude de Cavaco foram dadas à Sábado. E que, esta semana, a Sábado voltou a confrontá-la com as petas. O 24 horas apanhou boleia.
Será que lá pelo Pulo do Lobo não dão credibilidade à Sábado? Compreendo…

Todos os pecados juntos


Apenas 15 anos depois do fim do regime de Pinochet, o Chile está perto de eleger a sua primeira mulher presidente. Michelle Bachelet, 54 anos, mãe solteira de 3 filhos, é actualmente Ministra da Defesa. Durante a ditadura esteve presa, foi torturada e exilada durante 5 anos.
Agora concorre para a Presidência, num país católico, conservador e machista. E Bachelet tem posto como prioridades na sua agenda os direitos das mulheres, designadamente os laborais. No seu gabinete, prometeu, 50 % serão mulheres.
Diz Michelle Bachelet: “Sou mulher, separada e agnóstica. Todos os pecados juntos”.
As sondagens dão-lhe uma vantagem de 25%.

Muito inteligente

Vasco Pulido Valente, Público
"Pouco a pouco, a língua da política acabou por se tornar numa "língua de pau". Basta reparar, por exemplo, nesta campanha: com a possível excepção Soares, só se ouvem fórmulas sobre fórmulas, que há muito tempo perderam qualquer espécie de significado ou valor evocativo. O jornalismo comenta essas fórmulas com outras fórmulas, se possível mais pobres, mais rígidas, mais previsíveis. (...)
Entretanto, o deputado (e poeta) Manuel Alegre promete um "Laboratório (?) da Língua Portuguesa" e o dr. Cavaco puxa pela sua qualidade de "incentivador da Língua Portuguesa" ("incentivador", calculem) e proclama a sua fé na virtude persuasiva do verbo. Não entrou evidentemente naquelas cabeças que, por falta de vocabulário e de compreensão sintáctica, não tarda muito ninguém conseguirá ler ou perceber português. (...)"

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Segunda parte e finalmentes

A segunda parte do debate ficou muito marcada pela Europa. Para além de Soares ter o mérito de trazer para a discussão esta questão nuclear, consegui marcar uma posição. É europeísta, como sempre foi. Tem um projecto para Portugal na Europa e para a UE. Como ele próprio disse, sem Europa seríamos hoje uma Albânia. Isto é, com a Europa ainda conseguiu acantonar Jerónimo de Sousa ao discurso rígido, de visão curta e titubeante que o PC tem sobre esta matéria. O mesmo, e por arrasto, em relação à China. Confrontado com a interpelação do jornalista, Jerónimo não foi capaz de esclarecer o que pensa sobre o país que recentemente visitou. Soares deu um tiro no porta-aviões. Primeiro evidenciou o Frankenstein. Os EUA ajudaram a criar o monstro… Depois: “A China tem o pior do capitalismo selvagem e o pior do comunismo- o seu autoritarismo”.
Nas alegações finais e para além dos objectivos diferentes de cada candidato, Soares esteve tranquilo. Jerónimo parecia pouco preparado para esse momento. Esperança e confiança é bom. Mas curto.
Quanto à insistência dos jornalistas, no rescaldo imediato, sobre a “grande ausência”- Cavaco, claro- ficou demonstrada parcialidade de quem diz que a esquerda só se apresenta para derrotar Cavaco, ou que Soares só fala de Cavaco. Se não falaram de Cavaco (embora muitas críticas estivessem implícitas) foi apenas porque, e para além de ser um debate entre Mário Soares e Jerónimo de Sousa, ninguém perguntou. Soares só fala de Cavaco e de Cavaco apenas quando, depois de lhe terem perguntado uma miríade de vezes o que pensa sobre o assunto, decidem apurar para o telejornal os 30 segundos em que se prenunciou sobre o candidato do PSD, anulando todas as restantes intervenções. Há crítica ao Cavaco na esquerda. E há muita. Mas, e para além disso, Soares tem um projecto para estas presidenciais. Para o país.
Finalmente, quanto ao modelo do debate, os candidatos fizeram uma sopa-da-pedra. É um modelo pobre, inflexível e muito penteadinho. Soares e Jerónimo, como já disse no post anterior, conseguiram imprimir-lhe uma vivacidade que esteve a dormir no debate da “alegre cavaqueira”.
Para amanhã fica, sem dúvida, o reconhecimento de Jerónimo de Sousa da isenção de Soares. Os elogios ao seu segundo mandato ainda vão fazer correr alguma tinta.
O confronto de hoje mostrou que Soares é contemporâneo, hábil, desarma os jornalistas e passa à segunda volta. Jerónimo é o candidato do PCP e é simpático. Para já assegura o seu eleitorado. Depois apoia Soares em Fevereiro.

Primeiras impressões

Esta primeira parte foi só Soares. Jerónimo, umas vezes para aí conduzido, outras vezes espontaneamente, falou de Soares todo o tempo. Soares falou dele próprio. Do seu passado, das suas ideias presentes e do seu projecto para a Presidência. Jerónimo, até para esclarecer o que distingue a sua candidatura da de Soares se manteve a falar apenas deste.
Em três momentos Soares arrumou Jerónimo ao canto. Primeiro quando assinalou que o PC o tinha apoiado em outras eleições, porque sabia que Soares seria um Presidente isento. A versão de encostar Soares ao governo não tem, assim, cabimento.
O segundo foi quando Jerónimo criticou o primeiro mandato de Soares, elogiando o segundo. Soares respondeu prontamente: “Mas é curioso. No primeiro apoiaram-me e no segundo não”.
O terceiro foi quando Jerónimo disse que a concertação social não é boa ou má. Soares replicou que, como é evidente, a concertação, por princípio, é boa. Quando não existe é que não é bom com certeza.
O debate Mário Soares- Jerónimo de Sousa foi, até agora, isso mesmo. Um debate. Ao contrário da estucha Cavaco-Alegre que, ainda por cima, supostamente, era direita-esquerda. No debate de hoje existem algumas convergências, como é natural. Mas existem divergências, que foram assinaladas, sem salamaleques mornos.

Sharing the Sacrifice, or Ending It

BOB HERBERT, NY Times
The truth is that no one knows for sure what will happen if we pull our troops out of Iraq. Many of those who insist that the sky will fall were insisting three years ago that Iraq had weapons of mass destruction and that invading U.S. troops would be greeted as liberators.
The public initially supported this war because the administration was very effective at promoting the canard that Iraq was somehow linked to Al Qaeda and involved in the Sept. 11 attacks.
Now the hawks must once again bear the burden of persuasion. They must persuade the public that the U.S. should continue indefinitely fighting this war, which has embedded us in such a hellish predicament and taken such a horrendous toll.
If it's not worth fighting, then we should be preparing an orderly exit now.

Oooopssss...

Ontem Rita Guerra cantou os parabéns a Mário Soares. E fez questão de sublinhar que o seu nome consta da Comissão de Honra de Cavaco Silva mas sem a sua autorização. Nem sequer foi contactada por essa candidatura.

A caixa de comentários

A festividade deste blogue, que dura há mais de 6 meses, sofre hoje com a decisão,tomada por unanimidade, de condicionar o acesso dos visitantes à caixa de comentários dos bichos-carpinteiros.
Não o fazemos só por nós mas também pelo facto de os ataques, calúnias e insultos a terceiros se terem multiplicado nestes últimos tempos de forma imparável e intolerável.Não nos achamos no direito de permitir que,através da nossa liberalidade, haja outros a sofrer,involuntariamente, as consequências desta.
Os parasitas que se serviam da caixa de comentários para chegarem aos nossos milhares de leitores terão agora de se dar ao trabalho de conseguirem audiências por outros meios.
Lamentamos despedir-nos dos comentários sérios,e de qualidade,que enriqueciam este blogue.Tentaremos encontrar uma via para manter a inter-acção com esses blogonautas.Até um dia destes.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

A vitória do jogo de equipa

Acabo de regressar do estádio da Luz, e de presenciar a vitória do SLB sobre o Manchester num jogo em que o espírito de equipa se sobrepôs aos rodriguinhos dos jogadores em promoção no mercado.Parabéns ao Koeman que delineou esta estratégia de tudo concentrar no último combate.

Porque voam os presos?

Condoleezza Rice veio à Europa para explicar a utilização de aeroportos europeus por voos clandestinos da CIA, que transportariam prisioneiros dos EUA de umas cadeias para outras.O terrorismo internacional é condenável, e deve ser castigado.Mas a administração Bush caíu num atoleiro moral que a desacredita irremediavelmente.

terça-feira, dezembro 06, 2005

As grutas do anonimato

Quem se der ao trabalho de rotular a orientação política das maiores barbaridades (mau português, falta de nível, de educação, de tolerância democrática, etc...) que surgem nos comentários deste blogue verá que não tivemos a fortuna de contar com a participação do centro e da direita cultos e bem educados que há em Portugal.
Pela minha parte, tenho pena que alguns «trogloditas» confundam debate político com insultos. Mas é seguramente por isso que se refugiam nos mais diversos anonimatos : afinal, mesmo para insultar e assinar por baixo é preciso um mínimo de coragem...

A frase sobre a cavaqueira Manuel-Aníbal

“Não houve debate. Entrevistas paralelas, com imenso respeitinho, e olhares delicodoces de lado, não merecem o nome de debate”
Vasco Pulido Valente, Público.

Mesmo calada consegue mentir


A Mandatária para a Juventude de Cavaco Silva, Kátia Guerreiro, vai cada vez melhor. O seu disco Fado Maior é concordante com o slogan de campanha de Cavaco Silva, Portugal Maior que, como já foi notado aqui, tem por musa o salazarismo. O hino de campanha, que Kátia apresentou recentemente e que foi escrito por Dias Loureiro, inspira-se na mocidade portuguesa.
De acordo com este quadro, Kátia Guerreiro recusa-se a participar em debates e entrevistas. Em todos os debates que a comunicação social organizou até à data, Kátia não compareceu. Confronto de ideias, discussão de opiniões, apresentação de convicções são, para a Mandatária de Cavaco, uma perda de tempo. Tudo muito democrático, portanto.
Como se isto não bastasse, ontem o 24 Horas noticiava que Kátia Guerreiro mentiu. Disse que trabalha no Hospital Egas Moniz, e não é verdade. Disse que está a fazer uma especialidade em oftalmologia e não está, como esclareceu o director clínico Pedro Abecassis. Kátia aparece de vez em quando no hospital. Está lá apenas como observadora. Vale a pena ler a notícia para ver como Kátia não apenas cometeu um pequeno “exagero”, como fez mesmo uma enfabulação. À revista Sábado tinha dito que fazia a especialidade em oftalmologia (quando a Ordem dos Médicos não autorizou o seu pedido de internato), que via doentes e que até que quando metia férias no hospital os colegas eram muito compreensivos!
No voto do silêncio, tal candidato, tal Mandatária. O senhor não fala e a senhora também não.
E, pelos vistos, quando Kátia fala, mente.

domingo, dezembro 04, 2005

Sá Carneiro e os Reformadores

Reparo que a maior parte das histórias sobre a trajectória política do malogrado Sá Carneiro, com origem na direita, apagam o papel do acordo entre o então presidente do PSD e os autores do Manifesto Reformador, António Barreto e eu próprio,na elaboração de um programa que previa , pela primeira vez, o recurso ao referendo, e uma maior flexibilização do sistema económico,terminando com a irreversibilidade das nacionalizações e alargando o papel da iniciativa privada .O acordo assinado entre nós dava liberdade de opção na maior parte das questões, inclusive na questão presidencial que se avizinhava , e durou um ano.Terminou porque os apoiantes de direita de Sá Carneiro e Freitas do Amaral julgavam possível eliminar as forças genéticas que tinham derrubado a ditadura e nós não queríamos embarcar nessa aventura que dura até hoje.Mas a relação pessoal com Sá Carneiro foi sempre defendida pela transparência contractual entre ele e os reformadores.
Pessoalmente optei por apoiar o General Eanes na sua reeleição em 1980, contra o candidato da AD, o general Soares Carneiro.Perdi então alguns amigos políticos.Cavaco Silva não disse nada que se ouvisse na altura, mas não estava ao lado de Ramalho Eanes.Resignou-se.

sábado, dezembro 03, 2005

O mundo em 2006

Clique para ver a edição de 2006"Be prepared: 2006 will be a year of living dangerously. American soldiers will struggle to prevent civil war in Iraq. Nuclear brinkmanship will intensify in Iran. The global economy will slow, perhaps sharply if any of the mounting risks to stability hits hard. Those risks are many: a house-price bust, higher oil prices, a dollar collapse or—a looming nightmare—a bird-flu pandemic."
- Editorial

Esta edição conta ainda, entre outros, com as colaborações de Bob Geldof, Paul Wolfowitz e José Manuel Barroso, que nos fala da necessidade de um «new European realism».

"Taken for granted"

Diz-nos Jorge Fiel, funcionário do Expresso:
"(Manuel Pinho) Não é provável que sobreviva à remodelação que José Sócrates vai apresentar a Cavaco Silva na próxima Primavera."

Será que alguém comunicou já aos portugueses que o seu voto foi já decidido por alguns jornalistas?

O futuro, uma continuação do presente

"Acredito no Quinto Império, porque senão o acto de viver era inútil. Para quê viver se não achássemos que o futuro vai trazer-nos uma solução que cure os problemas das sociedades de hoje?"
- Agostinho da Silva

Por vezes algum do meu "cepticismo realista" torna-me involuntariamente num arauto daquele pessimismo tão típicamente lusitano. Não é fácil, ao ser português conciliar o pragmatismo terreno de que precisamos para construir o nosso futuro com a, e igualmente importante, criatividade imaginativa - essa capacidade inata que nós Portugueses temos em não nos deixarmos condicionar pelo tempo e pelo espaço.

Cultura alexandrina

Revejo, num canal do cabo, o paradigma do que ficou conhecido, nos anos setenta ,como o Western spaghetti:o filme de Sergio Leone «Por um punhado de dólares».Com música de Ennio Morricone , o filme vê-se como um divertimento, e dá para apreciar grandes actores como Clint Eastwood e G. Maria Volonte.Foi ainda um sinal da força cultural do império hollywoodesco deste lado do mar. Mas nunca se copia sem recriar.Desde Alexandria que assim é.Com Sérgio Leone também.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Humanismo Cristão

«Como todos sabem eu sou um social-democrata. O respeito, a dignidade da pessoa humana é o valor central que impulsiona toda a minha acção política"»
- Cavaco Silva, Lusa, 3 de Novembro de 2005

«Como nos vamos livrar dos funcionários públicos? Reformá-los não resolve, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e diminuem as receitas de IRS. Só resta esperar que acabem por morrer…»
- Cavaco Silva, Lusa, 28 de Fevereiro de 2002
[Via: Super-Mário]

Para um demagogo, um demagogo e meio.

A coisa que menos aprecio num decisor político é a manifestação de virtudes ou sentimentos que realmente se não tem. (ah claro, mas Cavaco não é um decisor político)


[ Adenda em jeito de post scriptum: Cavaco não pode ser social-democrata, pois o seu Partido (que afinal já não o é) em termos de praxis político-ideológica é no fundo um partido liberal-democrata. A social-democracia «revisitada» (vide Anthony Giddens e a sua 3ª via) hoje, na minha leiga opinião, é um território ocupado pelo PS. Mas é melhor perguntarem ao Pacheco Pereira, que destes assuntos percebe mais que eu. ]

A idade da vida política

Ariel Sharon e Shimon Peres,ambos na casa dos 80 anos,sairam agora dos seus partidos que ajudaram a formar e a governar um país difícil,para se lançarem numa nova fase da sua vida , apoiando a criação de uma nova força política que consiga levar para a frente, do lado israelita, o plano de paz para o médio oriente.Que lição de vitalidade e sentido do dever.É a audácia da derradeira idade de que falava André Gide.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

"Os itos"


[Clique para aumentar | Via: Movimento MP3]

Porque desta vida apenas levamos uma barrigada de riso.

O MP3, Mário Soares, e o futuro

Hoje, Dia da Restauração, o movimento de juventude de apoio à candidatura de Mário Soares, liderado pela Joana Vicente Amaral Dias,vai apresentar o seu manifesto político e a sua linha de campanha autónoma na sede nacional da Praça dos Restauradores.Uma prova de vitalidade para todos os envolvidos, e um testemunho político para o futuro,com Mário Soares na presidência.

Gostavam de ser assim aos 80 anos, não?

Que bela meia hora televisiva nos proporcionou Mário Soares na entrevista com Judite de Sousa.Quem não terá gostado?

Falta do deputado

Manuel Alegre agiu de acordo com o que tinha anunciado na RTP1 e não foi ontem à votação final do orçamento. Como não foi, não votou. Uma vez mais, Alegre não cumpriu os seus deveres como deputado. Ainda por cima é também vice-presidente da Assembleia da República.
A sua falta não tem justificação. Contudo, a porta-voz justificou esta falha com a separação de poderes. Falando como se Manuel Alegre já fosse Presidente da República, disse que o deputado faltou porque um Presidente da República não pode estar comprometido com o orçamento. Esta justificação é completamente estapafúrdia. Manuel Alegre é um deputado eleito que deve cumprir ainda mais escrupulosamente os seus deveres, tendo em conta que é, justamente, candidato à presidência. Jerónimo de Sousa e Francisco Louça também são candidatos à presidência e lá estiveram na votação, cumprindo as suas obrigações.
Além disso, ser a porta-voz da campanha presidencial a justificar, publicamente, a falta do deputado é, no mínimo, insólito. E quanto à separação de poderes ficamos conversados.