Um café, sff V
Noutros tempos, o Monstre Vert viveu no castelo da sua propriedade, no castelo de Vauvert, no centro de Paris, mas a sua luxuosa morada foi destruída pelo fogo, e então foi-se esconder, segundo Nerval, “nas caves de uma casa desabitada, no final do Jardin du Luxembourg, no boulevard de Montparnasse, junto à avenue de l’Observatoire”, quer dizer, nada mais nada menos que no solar onde anos depois construíram La Closerie de Lilás, onde Fitzgerald e Hemingway, por volta dos anos vinte do século XX, se encontrariam frequentemente, primeiro como colegas e amigos e depois como rivais e inimigos.
(…) Um lugar ideal para o nosso odradek, hoje o fantasma secreto de La Closerie de Lilas.
O odradek Scott (como eu lhe chamo, porque sou a única pessoa que lida com ele) é a memória viva das relações ente Fitzgerald e Hemingway. Não é mais do que isso, o que, se virmos bem, é muito. Ou não é ser muito ser-se a memória daquela amizade entre os dois escritores?
Suspeito que os seus fios velhos e partidos pertencem a uma fita magnética onde tem gravados, para seu desespero, todos os encontros e desencontros deste par. Conhece tudo o que se passou entre os dois. Chama-se a si mesmo Scott e identifica-se com o autor de O Grande Gatsby e luta para que Hemingway (que para ele sou eu) nunca se esqueça do que se passou.
Walter Benjamin disse que um anjo nos recorda de tudo o que nos esquecemos. Scott, como odradek que é, sempre situado entre a porta e o balcão de La Closerie, recorda-me, quando lá vou, até ao mais ínfimo pormenor do que se passou entre os dois amigos.
Vila-Matas, E. (2005) Paris Nunca se Acaba. Ed. Teorema.
(…) Um lugar ideal para o nosso odradek, hoje o fantasma secreto de La Closerie de Lilas.
O odradek Scott (como eu lhe chamo, porque sou a única pessoa que lida com ele) é a memória viva das relações ente Fitzgerald e Hemingway. Não é mais do que isso, o que, se virmos bem, é muito. Ou não é ser muito ser-se a memória daquela amizade entre os dois escritores?
Suspeito que os seus fios velhos e partidos pertencem a uma fita magnética onde tem gravados, para seu desespero, todos os encontros e desencontros deste par. Conhece tudo o que se passou entre os dois. Chama-se a si mesmo Scott e identifica-se com o autor de O Grande Gatsby e luta para que Hemingway (que para ele sou eu) nunca se esqueça do que se passou.
Walter Benjamin disse que um anjo nos recorda de tudo o que nos esquecemos. Scott, como odradek que é, sempre situado entre a porta e o balcão de La Closerie, recorda-me, quando lá vou, até ao mais ínfimo pormenor do que se passou entre os dois amigos.
Vila-Matas, E. (2005) Paris Nunca se Acaba. Ed. Teorema.
Os jogadores de cartas, Cézanne.
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