O silêncio como programa de vida
Por Henrique Monteiro (Cartas Abertas, Expresso)
O Professor Cavaco Silva delineou uma finíssima estratégia para se colocar em Belém: o silêncio. O Professor não fala, não professa, não sussurra, nem sequer espirra para que o espirro não possa ser confundido com uma declaração. O Professor cala e consente.
Vários especialistas de várias matérias, contratados pela candidatura do Dr. Mário Soares, têm tentado extrair do Prof. Cavaco Silva um murmúrio que seja, um tímido rumor, um simples bocejo... Inútil. O professor Cavaco Silva não abrirá a boca, e muito menos para comer bolo-rei. O professor Cavaco tudo o que diz se resume a um simples «humm... hummm...»!
Perguntaram-lhe pela França e os carros ardidos; falaram-lhe do bloqueio da ponte e do fim do feriado de Carnaval; atiraram-lhe com a derrota que sofreu com Jorge Sampaio há 10 anos; em desespero questionaram-no sobre o terrorismo, o 11 de Setembro, o 11 de Março, o 4 de Julho, o 25 de Novembro, o próprio 25 de Dezembro. Ele... nada. Sorriu e fez «hum»!
Poucos sabem, no entanto, que esta estratégia, ao contrário do que com alguma malícia têm insinuado os Drs. Soares, Alegre, Louçã e Jerónimo, não visa - longe disso - ganhar eleições. O silêncio (e o silêncio é de ouro) é um programa de vida do Prof. Cavaco Silva. Em Belém, logo que ganhe as eleições com uns silenciosos 52 ou 53 por cento, o professor vai manter o estilo. Nas reuniões de quinta-feira, dois «huns» significam uma certeza e um «hum» uma certeza absoluta. Caso haja três «huns», Sócrates pode começar a pensar em arrumar a papelada.
Nas recepções aos Chefes de Estado estrangeiros, uma ligeira alteração (ou um duplo) permitirá ao professor proferir algumas palavras, nomeadamente: «Como Vai Vexa e a sua Exma família?»
De resto, o silêncio vai imperar. Um silêncio calmo e tranquilo, do qual nenhum português decente vai discordar. Aos poucos, todos nos calaremos e, no Parlamento, pela primeira vez em muitos anos, ouvir-se-ão os passarinhos. As manifestações da CGTP serão como os cortejos fúnebres, apenas o leve roçagar dos sapatos no alcatrão alterará o sepulcral silêncio das massas. O próprio Prof. Marcelo, na televisão ao domingo, guardará de Conrado o prudente silêncio, não apresentando mais do que as capas dos livros recomendados, uns ligeiros acenos para as fotos dos que lhe são benquistos e um polegar virado para baixo frente às fotos daqueles que, do seu ponto de vista, meteram água. Os noticiários da TVI terão menos 30 decibéis, ainda que um bebé tenha sido devorado pela bisavó, e o público do futebol assinalará um golo como quem aplaude um fado de Coimbra.
Uma só coisa poderá mudar a estratégia do Prof. Cavaco: caso ele chegue à conclusão de que o calado é o pior.
Perguntaram-lhe pela França e os carros ardidos; falaram-lhe do bloqueio da ponte e do fim do feriado de Carnaval; atiraram-lhe com a derrota que sofreu com Jorge Sampaio há 10 anos; em desespero questionaram-no sobre o terrorismo, o 11 de Setembro, o 11 de Março, o 4 de Julho, o 25 de Novembro, o próprio 25 de Dezembro. Ele... nada. Sorriu e fez «hum»!
Poucos sabem, no entanto, que esta estratégia, ao contrário do que com alguma malícia têm insinuado os Drs. Soares, Alegre, Louçã e Jerónimo, não visa - longe disso - ganhar eleições. O silêncio (e o silêncio é de ouro) é um programa de vida do Prof. Cavaco Silva. Em Belém, logo que ganhe as eleições com uns silenciosos 52 ou 53 por cento, o professor vai manter o estilo. Nas reuniões de quinta-feira, dois «huns» significam uma certeza e um «hum» uma certeza absoluta. Caso haja três «huns», Sócrates pode começar a pensar em arrumar a papelada.
Nas recepções aos Chefes de Estado estrangeiros, uma ligeira alteração (ou um duplo) permitirá ao professor proferir algumas palavras, nomeadamente: «Como Vai Vexa e a sua Exma família?»
De resto, o silêncio vai imperar. Um silêncio calmo e tranquilo, do qual nenhum português decente vai discordar. Aos poucos, todos nos calaremos e, no Parlamento, pela primeira vez em muitos anos, ouvir-se-ão os passarinhos. As manifestações da CGTP serão como os cortejos fúnebres, apenas o leve roçagar dos sapatos no alcatrão alterará o sepulcral silêncio das massas. O próprio Prof. Marcelo, na televisão ao domingo, guardará de Conrado o prudente silêncio, não apresentando mais do que as capas dos livros recomendados, uns ligeiros acenos para as fotos dos que lhe são benquistos e um polegar virado para baixo frente às fotos daqueles que, do seu ponto de vista, meteram água. Os noticiários da TVI terão menos 30 decibéis, ainda que um bebé tenha sido devorado pela bisavó, e o público do futebol assinalará um golo como quem aplaude um fado de Coimbra.
Uma só coisa poderá mudar a estratégia do Prof. Cavaco: caso ele chegue à conclusão de que o calado é o pior.
<< Home