domingo, novembro 27, 2005

Concordar em discordar

Num interessantíssimo artigo de opinião pessoal publicado no Diário Económico, Tiago Mendes dissertou as seguintes palavras:

"Nada é mais natural num debate que discordar. O problema não está aí. Está antes em não se aprofundar essa discordância. Em não se fazer um esforço para que ela possa ser 'mutuamente compreendida'. Hoje o interesse numa discussão reside mais em saber quem a 'vence' do que em esclarecer o porquê das 'divergências'. Seja sobre as presidenciais, o défice, ou o aborto, mais que esgrimir pontos de vista finais sobre certo assunto, seria útil explorar o que os origina, para que intervenientes e telespectadores percebessem claramente a 'racionalidade' por detrás da discórdia. Com mais razão e temperada emoção. Estou certo que Aumann ficaria muito satisfeito se em Portugal um qualquer debate terminasse com um simples e cordial 'Meu caro, concordamos então em discordar?'. Selado - se possível - com um democrático aperto de mão."

Edward de Bono, por exemplo, considera que qualquer tipo de argumentação entre pontos de vistas diferentes, acaba por se resumir quase sempre a uma batalha final de egos. Tal, defende o autor, deve-se à tradição do sistema lógico que "nós" - Civilização Ocidental - herdámos da Grécia Antiga.

O problema não está em provarmos que a nossa razão é mais válida, melhor ou superior que a dos outros - o problema está, em que nós não suportamos estar errados perante os outros. Daí e muitas vezes, a lógica de uma discussão entre diferentes opiniões acabar num "jogo de soma nula": só um pode ganhar e quem ganha acaba como começou, com a mesma visão do mundo e das coisas sem ter acrescentado nada de novo aos seus argumentos.

Num contexto político e mais actualizado, podemos igualmente olhar para a "dificuldade" que alguns pensadores como Rawls ("Consenso de sobreposição) e Habermas ("Razão comunicativa") tiveram em justificar sistemas, onde em democracias liberais ocidentais, pudessem co-existir pacificamente pontos de vistas plurais e por vezes antagónicos.

Em resumo a culpa é dos Gregos, portanto.