A vida política
Medeiros Ferreira fez ontem uma menção muito simpática à minha crónica no DN (que terá seguimento para a semana), que agradeço e estimo. Não posso deixar de referir que, no mesmo dia, saiu uma crónica no Público de José Neves que partilha do essencial da minha argumentação. Passo a citar um excerto:
“(…) Em Alegre e em Cavaco (…) a política morre aos pés de um nacionalismo exacerbado. Nesse nacionalismo, toda a contradição deixa de poder existir como parte de um conflito. A contradição é feita diferença e é apenas uma particularidade a ser confortada - isto é, sumida - na retórica do candidato. Aqui, o eixo central do discurso não tem lugar para pobres ou ricos, mas portugueses; não há pretos nem brancos, mas a unidade nacional; não há homens nem mulheres, mas o país; não há homossexuais nem heterossexuais, mas a pátria. Alegre dá verso à "vontade nacional" e Cavaco contabiliza o "interesse nacional". Em lugar da política, temos estética e técnica. Um poeta lusofónico e um ministro das Finanças, uma vez feitos candidatos presidenciais, apenas mobilizam o descontentamento para o extremo da política. É por isso que são deles os discursos mais vanguardistas. Instalados em todos os "centros" e em todas as instituições, Alegre e Cavaco tentam agora colocar-se de fora.
Hoje só interessa uma candidatura que seja política. E se algum candidato pode ajudar a construir uma alternativa, ele é o que procure as energias de um descontentamento radical com o actual estado de coisas, dispondo uma opção de conflito e de ruptura. Precisamos de alguém que fale de pobres e de ricos, de pequenas reformas e de grandes fortunas, de paz e de guerra, de pretos e de brancos e de proletários e de patrões. Ao contrário do que imaginam os discursos presidenciais, o mundo não se divide entre portugueses e outros. Em Portugal, há mais vida para lá de "Portugal".
“(…) Em Alegre e em Cavaco (…) a política morre aos pés de um nacionalismo exacerbado. Nesse nacionalismo, toda a contradição deixa de poder existir como parte de um conflito. A contradição é feita diferença e é apenas uma particularidade a ser confortada - isto é, sumida - na retórica do candidato. Aqui, o eixo central do discurso não tem lugar para pobres ou ricos, mas portugueses; não há pretos nem brancos, mas a unidade nacional; não há homens nem mulheres, mas o país; não há homossexuais nem heterossexuais, mas a pátria. Alegre dá verso à "vontade nacional" e Cavaco contabiliza o "interesse nacional". Em lugar da política, temos estética e técnica. Um poeta lusofónico e um ministro das Finanças, uma vez feitos candidatos presidenciais, apenas mobilizam o descontentamento para o extremo da política. É por isso que são deles os discursos mais vanguardistas. Instalados em todos os "centros" e em todas as instituições, Alegre e Cavaco tentam agora colocar-se de fora.
Hoje só interessa uma candidatura que seja política. E se algum candidato pode ajudar a construir uma alternativa, ele é o que procure as energias de um descontentamento radical com o actual estado de coisas, dispondo uma opção de conflito e de ruptura. Precisamos de alguém que fale de pobres e de ricos, de pequenas reformas e de grandes fortunas, de paz e de guerra, de pretos e de brancos e de proletários e de patrões. Ao contrário do que imaginam os discursos presidenciais, o mundo não se divide entre portugueses e outros. Em Portugal, há mais vida para lá de "Portugal".
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