E raramente se engana
Ainda Paulo Portas na Sic-Not:
Paulo Portas, que hoje está menos demagógico,conseguiu falar quinze minutos sem se dirigir à jornalista Clara de Sousa com a sua sonora intimidade«Oh Clara!».Mas depois tem sido um festival.«Oh Paulo!»...
Só comecei a ver os Prós e Contras depois de ter ido à Feira do Livro.Mas o que ouvi pareceu-me suficiente para criar um ambiente de alarmismo político e social.A época dos incêndios sociais chegou aos estúdios da RTP.
Espero que o programa Prós e Contras não acabe sem que a Fátima Campos Ferreira pergunte onde param as 4 onças de ouro que D. Afonso Henriques prometeu pagar ao Papa se este reconhecesse a independência do Condado Portucalense.
Sobre as agências de comunicação e o quixotesco Manuel Maria Carrilho, duas observações:
Durante meses eles são incensados nas colunas desportivas de apreciação individual dos jogadores.GÉNIOS COM VINTE ANOS são apresentados prontos a vender para qualquer equipa de top mundial.Mesmo quando jogam mal,ou derivam para a jogada individualista, ou simplesmente bonitinha mas inconsequente.São semanas a fio.Imagino o desespero dos treinadores sérios que ainda os querem aperfeiçoar táctica ou tecnicamente perante o coro dos mitificadores.E depois perdem perante equipas normais, sem árbitros sensíveis aos «Ai Jesus» dos que caem por sistema perto da grande área.É o preço da avaliação fabricada.
Fui um destes dias à ópera em Budapeste.No primeiro intervalo um casal de portugueses certifica-se que sou eu.
"Premiar os mais capazes é a única forma conhecida para gerar riqueza e empregos. Estúpido é pensar que os pobres acabam com a redistribuição da pobreza."
Ha uma harmonia temporal nos sentimentos e nas atitudes que sempre me impressionou.Quarenta anos depois Luandino Vieira nao se sente motivado para aceitar um premio que lhe foi atribuido verdadeiramente em 1965.
A Sociedade Portuguesa de Escritores resolveu não atribuir o Grande Prémio de Teatro deste ano.Parece que as peças teriam grande qualidade literária mas nenhuma se adaptaria ao dramatismo cénico.E que tal umas sessões de leitura de textos?
O Expresso noticiava que mais de 70% das notícias dos orgãos de comunicação social provinham das agora incontornáveis agências de comunicação.Estou certo que essa percentagem se concentra na capital.A leitura de vários jornais locais garante-me que a grande amiga dessas redacções é ainda a agência LUSA, mais barata e transparente, pois muitas vezes é citada como fonte.E se em Lisboa, e no Porto, se citassem também as tais agências de comunicação como fontes, não se daria um passo em frente na compreensão do fenómeno?
Marques Mendes desta vez até apresentou umas medidas mais simpáticas para a função pública.Mas enquanto os portugueses se lembrarem da forma como foram governados por Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Santana Lopes ninguém quererá os seus rebuçados.
A atribuição do prémio Camões a Luandino Vieira transportou-me ao terrível ano de 1965(dezenas de prisões de estudantes, expulsões de todas as universidades portuguesas, Guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, manifestações e ameaças contra os candidatos anti-salazarista que defenderam então a auto-determinação para as colónias...)quando a Sociedade Portuguesa de Escritores(SPE)o distinguiu com o grande prémio da novelística, que levou ao encerramento daquela sociedade pelas autoridades da ditadura.Os membros do juri, Augusto Abelaira,Alexandre Pinheiro Torres, Fernanda Botelho, Manuel da Fonseca, que votaram a favor foram perseguidos.Tudo porque Luandino Vieira era um nacionalista angolano membro do MPLA, que estivera preso, desde Luanda ao Tarrafal!Quase ninguém conhecia na altura o livro Luuanda que fora premiado.Ainda me lembro de um jovem do liceu de Ponta Delgada, chamado Jaime Gama, que foi detido pela Pide por ter escrito um artigo favorável a Luandino Vieira...
Sábado, 9 da manhã: Comprar o Expresso, tomar o chá acompanhado de um delicioso e calórico scone, regresso a casa, paragem no ecoponto local ... o "saco de plástico" fica mais vazio e leve em cerca de 400 gramas. Só não fica mais leve na totalidade, porque preciso de algo que me entretenha durante a preguiça do "après-midi" refastelado no sofá.
Romano Prodi acaba de constituir o seu governo de coligação que todos consideram mais à esquerda do que ao centro.Prefiro no entanto salientar que a espinha dorsal governamental é formada por vários ex-comissários europeus, entre os quais Prodi, Amato,e Emma Bonino, e sobretudo integra o antigo membro do directório do Banco Central Europeu, Padoa-Schioppa.Mais tarde se verá o resultado dessa síntese cultural italo-federais europeus.Durão Barroso deve observar com cuidado esses regressos ao plano nacional...
Fui esta noite ao Frágil, onde já não entrava há anos,a convite da Âncora Editora, para assistir ao lançamento de uma obra sobre António Variações e sobretudo para ouvir a Lena d)Água que imortaliza a voz daquele criador radical.Muita gente que conheço e outra que gostaria de conhecer.À hora que escrevo ainda deve haver muita conversa cruzada na rua da Atalaia...
Não consigo ver um jogo de futebol sem tomar partido, mesmo que não esteja em campo o SLB ou a Selecção.A partir de certa altura estou a torcer por um dos lados.Ontem depois do Arsenal ter ficado reduzido a 10 elementos vesti a camisola mas o resultado não me agradou!
Estive na RTPN num programa sobre Humberto Delgado, e mais uma vez pude apreciar a dedicação que Iva Delgado coloca na permanente recordação do pai como personalidade maior da sociedade portuguesa do século XX.Já fez mais sozinha pela memória do «General sem Medo» do que o Estado todo.Quando a vejo lembro-me sempre do filho de Cristovão Colombo que passou a vida a proclamar que o pai é que tinha descoberto a América, e não Américo Vespúcio como decretaram os reis católicos para desterrarem em morte o temerário de 1492.Saber que alguém lutará pela memória de um nome deve dar muita força.
O almoço dos bichos não contou com a presença da Maria João Regala, cativa de Aveiro, mas sempre generosa quando se refere aos outros.Fez muita falta a Maria João. O almoço ficou assim incompleto.Em compensação foi muito agradável tratar o Hidden Persuader pelo nome próprio!
Uma nova comunidade europeia desponta no horizonte de 2010: a comunidade germano-russa do gás que fará do mar Báltico um elo de ligação directo entre os dois países.É o primeiro grande movimento estratégico da Alemanha depois da reunificação, caso se considere o desmembramento da ex-Jugoslávia apenas um pequeno precedente na alteração do mapa político europeu.
Esta madrugada os bichos-carpinteiros comemoram um ano de existência com mais de duas mil e duzentas entradas e trezentos mil visitantes.O primeiro post apareceu às 01:28 do dia 17 de Maio de 2005, como atestam os arquivos!Vinha «posted by josé medeiros ferreira» mas na verdade fora editado pela Joana Amaral Dias na altura em Chicago, pois há um ano eu nem sabia abrir um blogue!Assim a grande aposta da JAD quando me convidou para fazer este blogue terá sido sobre a transitoriedade da minha ignorância...
A segunda intervenção que me cativou foi a da senhora enfermeira do hospital de S. Marcos que chamou a atenção para o número crescente de cesarianas nas maternidades que recebem parturientes de fora.A drª Belandina ainda não conseguiu entrar na discussão.
A primeira parte dos PRÓS e CONTRAS foi dominada pela personalidade da obstetra de Barcelos drª Belandina.Cada intervenção cada salva de palmas.Resultado:não fala há meia hora.Veremos na segunda parte.Há novos recursos humanos a ter em conta.
Eu não iria ao funeral de nenhum dos responsáveis pela carnificina que inaugurou a mudança do mapa político europeu na peninsula balcãnica,e tenho uma opinião sobre os responsáveis internacionais pela oscilação das fronteiras.Mas nunca pensei assistir à retaliação que a Comédie Française acaba de praticar proibindo a representação de uma peça de Peter Handke por esse se ter declarado ao lado dos Sérvios no funeral de Milosevic.O pior que podia acontecer à criação artistica em França seria a possibilidade prática de haver censura sem réplica.Nenhum teatro se oferece para representar Handke, ou qualquer outra vítima óbvia de censura política, dentro ou fora de França?O verdadeiro teste sobre a aceitação de novas censuras faz-se agora.Os abaixos-assinados por si só não impedem a via artistica domesticada.
O britânico Timothy Garton Ash parece não ter partido político e aconselha os seus colegas de métier por este mundo fora a manterem-se virgens de qualquer filiação partidária.O infeliz conselheiro de Blair e de Bush parece-se com aqueles árbitros de futebol que só se declaram adeptos de clubes de bairro para poderem ser nomeados para os jogos entre os grandes.Acredita quem quer claro.
Ao passar hoje pela Assembleia da República visitei uma exposição sobre os 20 anos da entrada de Portugal e da Espanha na União Europeia , para cuja inauguração em Bruxelas havia aliás sido convidado.A ideia da exposição conjunta já tinha muito a ver com a filosofia exógena da nossa integração europeia.Mas o resultado é ainda de pior qualidade do que a filosofia continental:pobre em temas, sem uma explicação específica da situação dos dois Estados,com critérios ad hoc como o da entrada da Espanha no Conselho da Europa sem quaquer referência à adesão anterior de Portugal,a exposição é digna de figurar naquelas agências turísticas que pararam no tempo porém não no edifício da AR, embora já se tenha visto por lá igual mas não pior.
O extremar do mercado
Fui assistir ao lançamento do livro de Manuel Maria Carrilho«Sob o Signo da Verdade» que coloca de chofre o problema ,muito mal resolvido, das relações entre os Média e as campanhas políticas.Até aqui falava-se vagamente dessas«agências de comunicação» que ganhavam e perdiam eleições ,num sistema alternativo próprio dos duopólios.O ranking das principais agências deve estar muito próximo umas das outras pelo que quem não trabalha com uma pode procurar os serviços da outra.Bem sei que os principais escritórios de advogados também apresentam sociedades competentes para tratarem com qualquer governo dos que alternam.E que possivelmente cada grupo económico tem gestores para dois ou três gostos partidários.Por isso me seduz aquele conceito de M M Carrilho de uma «redacção única» que harmonizaria a opinião pública.Mas será que é composta de jornalistas?Ou temos de procurar os manipuladores de moeda noutro lado?Com este livro acabou a idade da inocência do quarto poder instalado.
Os discursos dos nacionais a propósito do dia 9 de Maio fizeram-me recordar Filipe Gonzalez quando este disse que uma das maiores tristezas da construção europeia era ver os políticos a lerem papeis técnicos preparados por serviços burocráticos.Mas há quem goste.
O fim de semana político assinalou a rendição da direita política perante o governo de José Sócrates.Os tratados de Maio de 2006, assinados unilateralmente por Marques Mendes , Ribeiro e Castro, e João Almeida fazem prever a rendição até ao Orçamento de Estado para 2008.
Raramente perco um espectáculo da Cornucópia.Desta vez atrasei-me a ir ver A Gaivota de Tchekov, muito embora me tivessem chegado fortes ecos da excelência deste.Mas as agendas pessoais quotidianas são mais exigentes do que as nossas preferências culturais.E as lotações esgotadas fizeram o resto.
Sempre pensei que Freitas do Amaral foi para MNE do governo de Sócrates numa estratégia concebida para se apresentar como candidato presidencial nas passadas eleições. Se se tratasse apenas de aproveitar o ímpeto reformista do ex-presidente do CDS havia pastas mais adequadas para o efeito, como a da Justiça ou até a da Educação.A Pasta dos Estrangeiros dava prestígio sem querelas internas, acentuava o lado continental-europeu refractário à hegemonia norte-americana tido confusamente por mais à esquerda mas capaz de seduzir parte desta.Apenas a «disponibilidade »de Manuel Alegre não teria sido suficiente para impedir o pragmatismo da candidatura de centro+ esquerda governamental.O apoio do PS a Mário Soares anulou esse cálculo demasiado racional e tal não aconteceu. Freitas não tomou partido na contenda presidencial e teve de revêr a sua postura política para o próximo futuro.Confessa-se para já cansado. Freitas só será um problema para Sócrates se se vier a confessar desiludido, ou discordante,com a política governamental.
"Fidel Castro é o sétimo líder de um país mais rico do mundo, com uma fortuna de 900 milhões de dólares. O primeiro é o saudita Abdullah Bin Abdulaziz. A lista dos «governantes» milionários da «Forbes» acaba de sair.
O Estado de Direito requer transparência e publicidade material das leis que nos regem.O Promulgue-se e Publique-se na língua que faz fé nos tribunais é essencial para a segurança dos cidadãos e seus haveres.Desde a adaptação das directivas e regulamentos comunitários que algo se perdeu na terminologia e na técnica redactorial das leis.Agora pretende-se a «desmaterialização do processo legislativo» e o Diário da República vai acabar na versão impressa em papel.Tudo muito leve e moderno.Mas o cidadão comum fica mais longe ou mais perto dos códigos?
Já escrevi aqui sobre o meu pintor de eleiçao.Hoje tinha encontro marcado com ele na abertura da sua exposição na Fundação Arpad-Vieira da Silva.Rodeado de amigos, admiradores, e compradores, muitos deles acumulando esses vários aspectos, vigoroso nos seus setenta e cinco anos, impecável no vestuário tecido em alta qualidade e combinado em cores esbatidas e difíceis, ele deliciava-se a explicar como a criatividade se treina.Como me tinha dito, e ao Joaquim Pinto de Andrade, na cadeia do Aljube, aonde a Pide nos reuniu na passagem de 1962 para 1963.Na altura não acreditei muito na didáctica para artistas.Hoje sei que a educação pela Arte é possível.E que Nikias é um Mestre.
José Carlos Vasconcelos pergunta hoje na revista VISÃO«Como é possível ser o mais desigual da Europa um País que teve o 25 de Abril e SÓ foi governado por sociais-democratas e socialistas?».
A América hispânica mexe dentro e fora dos USA\EUA.O hino norte-americano já tem uma letra em castelhano cantada por manifestantes ao norte da fronteira.E como se sabe não há língua oficial constitucional da União.A sul a pressão dos emigrantes mexicanos para entrar é enorme.
John Kenneth Galbraith deixou um volume de memórias que me deliciou no início da década de oitenta, intitulado «A life in our times».Um caso em que a vida ainda é superior à obra vasta e diversa.O «new-dealer» rooseveltiano, o professor de Harvard, o oficial das forças norte-americanas na Alemanha que interrogou o ministro de Hitler, Albert Speer(esse mesmo que anunciou os perigos de um regime totalitário com as actuais tecnologias),o conselheiro de Kennedy que economizava as suas opiniões quando via o presidente tamborilar os dedos na secretária em sinal descodificado como de impaciência, o embaixador na União Indiana que criticou a tolerância de Washington para com o salazarismo, escrevia admiravelmente bem.Até aqui só tinha aconselhado a leitura dessas memórias a gente com quem partilho uma afinidade electiva.A minha homenagem ao personagem que acaba de falecer é socializar agora esse prazer.