Do Tarrafal ao Prémio Camões
A atribuição do prémio Camões a Luandino Vieira transportou-me ao terrível ano de 1965(dezenas de prisões de estudantes, expulsões de todas as universidades portuguesas, Guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné, manifestações e ameaças contra os candidatos anti-salazarista que defenderam então a auto-determinação para as colónias...)quando a Sociedade Portuguesa de Escritores(SPE)o distinguiu com o grande prémio da novelística, que levou ao encerramento daquela sociedade pelas autoridades da ditadura.Os membros do juri, Augusto Abelaira,Alexandre Pinheiro Torres, Fernanda Botelho, Manuel da Fonseca, que votaram a favor foram perseguidos.Tudo porque Luandino Vieira era um nacionalista angolano membro do MPLA, que estivera preso, desde Luanda ao Tarrafal!Quase ninguém conhecia na altura o livro Luuanda que fora premiado.Ainda me lembro de um jovem do liceu de Ponta Delgada, chamado Jaime Gama, que foi detido pela Pide por ter escrito um artigo favorável a Luandino Vieira...
Foi uma espécie de caso Dreyfuss, que desencadeou paixões a favor e contra a decisão.De certa maneira nascia assim a literatura angolana do ponto de vista político.Hoje ela já tem dois prémios Camões: Pepetela, e aquele por quem o escândalo chegou!
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