domingo, abril 30, 2006

Singela homenagem a Freud

Mania das Perguntas
Ia sossegadamente pela estrada cheia de sol, um pouco cansado com o passeio e farto de poeira e de tantas ralações.
Aí, salta-lha à frente um pássaro ridículo com rabo de bicho feroz e cara de mulher gulosa.
- Quem és tu? – perguntou o pássaro, atravancando a estrada.
Olhou para o pássaro idiota e respondeu aborrecido, embora com delicadeza:-Sou o Oedipo.
-Pois eu sou a Esfinge.
- Já ouvi falar, sim senhora. Agora com licença. Vou com pressa. Boa tarde.
O pássaro sacudiu o rabo, passou a língua pelos lábios, atravancou ainda mais a estrada com as asas abertas e disse, num sorriso glutão:
- Espera aí. Vou fazer-te uma pergunta. Se não responderes, já sabes, como-te. Qual é…
- Que mania de fazer perguntas! - comentou Oedipo. Tirou a granada ofensiva do saco de couro que trazia a tiracolo e enfiou-a, discreto, pela boca aberta do pássaro.
Ouviu o estoiro e prosseguiu o seu caminho para Tebas. Em sossego, mas realmente farto de poeira e de tantas ralações.

Mário-Henrique Leiria, Novo Contos do Gin

Bush of a Thousand Days

The Downing Street memo — minutes of a Tony Blair meeting with senior advisers in July 2002, nearly eight months before the war began — has proved as accurate as "Mission Accomplished" was fantasy. Each week brings new confirmation that the White House, as the head of British intelligence put it, was determined to fix "the intelligence and facts" around its predetermined policy of going to war in Iraq. Today Mr. Bush tries to pass the buck on the missing W.M.D. to "faulty intelligence," but his alibi is springing leaks faster than the White House and the C.I.A. can clamp down on them. We now know the president knew that the intelligence he cherry-picked was faulty — and flogged it anyway to sell us the war.

In memoriam



John Kenneth Galbraith, 1908 - 2006

Poderia-vos falar da tradição Vebleiniana e "institucionalista" que percorria do princípio ao fim o pensamento liberal de Kenneth Galbraith;

Poderia-vos recomendar a leitura do célebre "Affluent Society" ou do igualmente conhecido "The New Industrial State" ...

Mas em vez disso (e como não tenho jeitinho nenhum para escrever estas coisadas post-mortem), deixo-vos a eloquência e a acutilância realista e crítica do espírito de John Kenneth Galbraith em duas citações. O suficiente para perceber quem perdemos no sábado passado.

......

"The modern conservative is engaged in one of man's oldest exercises in moral philosophy; that is, the search for a superior moral justification for selfishness."

"Economists are economical, among other things, of ideas; most make those of their graduate days last a lifetime."


sábado, abril 29, 2006

Fim de semana prolongado

Sou um desses despreocupados que gostam de fins de semana prolongados , e até de pontes, por os julgar muito produtivos para a industria nacional do turismo, e em que todos, ociosos e trabalhadores, contribuem para a «produtividade» a apresentar em Bruxelas.O blogue fica bem entregue.

Notícias do futuro

Estava com alguma curiosidade de ler o EXPRESSO depois do fracasso da sua manchete sobre a crítica que Cavaco Silva faria aos deputados que faltaram a uma votação.Embora não tenha lido literáriamente o anúncio de que «Cavaco puxa orelhas a deputados», imaginei que algum sopro tivesse chegado às orelhas seguras da direcção do jornal.Mas não parece ter sido o caso.
A direcção do EXPRESSO «penitencia-se», mas não pede desculpa aos leitores e não explica qual o grau de credibilidade da notícia não verificável que publicou com toda a pompa e circunstância.
Já há tempos sugeri que se fizesse um recenseamento de «notícias» publicadas que se revelaram falsas.Para ajudar à credibilidade do sistema...

sexta-feira, abril 28, 2006

Novilíngua I

1.(No altifalante de uma loja) “Uma menina de homem à secção criança”.
2.Este ano o dia da mãe calha num dia do pai?
3.Viste a mensagem?

A Salomé de Richard Strauss

Fui esta noite à Gulbenkian assistir à versão concerto da Salomé de Richard Strauss.Para quem como eu passa horas a trabalhar ouvindo óperas em CD, as versões concerto não causam desilusão antes acentuam os aspectos musicais e líricos daquele género.Quando os cantores insinuam por gestos e expressões estilizadas os momentos dramáticos tudo fica sugerido e sublimado ou sublinhado.E mesmo sem ver Salomé dançar percebe-se o lado encantatório da sedução.Salomé merecia seduzir sem dor.A versão concerto permite essa ilusão.

quinta-feira, abril 27, 2006

A Mentira

de Enrique de Hériz vale a pena. Uma saga familiar com uma trama admirável, numa escrita original e com força. Por vezes peca por excesso. Mas perdoa-se face à revelação inteligente e frequentemente impiedosa da traição da memória, da verdade de cada um como uma lenda, da mentira como sobrevivência social e individual, das precárias fronteiras entre imaginação e mentira. Inclusivamente na literatura.
Hériz move-se entre vários registos com grande desembaraço, vai da acção à reflexão agilmente e pontua com ironia quando estamos desprevenidos.
“Mas eu sei que não fica nada. Júlio também o sabia. A única diferença entre nós é que ele o soube antes e resistiu com todas as forças. Cada um luta contra a devastação do tempo com as suas melhores armas. Eu apenas soube opor-lhe a resistência do conhecimento, que é enganosa e débil. Vi a morte vir e refugiei-me nesta sabedoria aparente mas inútil, como quem pretendesse defender-se de um vírus batendo-lhe com um microscópio. Júlio não procurou refúgio. Saiu a campo aberto e postou na primeira linha da frente as armas da sua imaginação. Obuses quando os teve; depois pedras; agora apenas uma cuspidela. Posso culpá-lo por isso? Qual é o seu delito? Inventar-se a si próprio? Então, subo ao patíbulo e ofereço o pescoço à corda. Ainda mais, dou por concedido o indulto, porque pelo menos ele obteve o triunfo final, mínimo se quisermos, mas decisivo. A russa não foi a sua melhor obra. Aproximou-se da perfeição, mas era só um ensaio. A arma definitiva, a sua invenção absoluta, é esta doença que agora o refugia na ausência. Júlio inventou que não é. Quando o seu olhar se perde, quando não é capaz de se lembrar do seu próprio nome e os meus filhos desesperam, eu sei onde ele está. Sei que mundo habita. Um mundo vazio. O auto-retrato da sua lenda. É essa vitória final; que a morte ao chegar encontre o campo de batalha deserto”.

Pregões

Pires de Lima não falha uma. Depois de ter anunciado que o CDS tinha que ser um partido sexy e de ter bradado “tragam as espanholas”, hoje apregoou na Assembleia da República que o seu grupo parlamentar tem contribuído para a taxa de natalidade porque em 12, três foram pais recentemente. “Não só pregamos, como damos o exemplo”, rematou. Macho. Muito Macho.

Portugueses deportados do Canadá

Vídeo aqui

Mensagem do governo ao PR?

O tema anunciado para debate hoje na AR é a resposta do governo ao discurso do PR?

Todos falaram

No debate abaixo anunciado sobre o 25 de ABRIL e a EUROPA não esteve uma multidão como no jantar de 21,muito longe disso, mas todos os presentes tomaram a palavra e expuseram os seus diversos pontos de vista sobre o tema proposto.Gostei também de reencontrar um antigo aluno meu a moderar a mesa com competência e ideias.O Luis de Carvalho.

O Conselho Nacional do Santuário

Há meses circulou a notícia que o Vaticano pretendia ter a say na gestão do santuário de Fátima.Ontem a Conferência Episcopal Portuguesa decidiu criar um Conselho Nacional para apreciar os orçamentos do santuário e estabelecer os contributos anuais para a diocese de Fátima-Leiria,entre outras atribuições mais pastorais.Os novos estatutos serão agora submetidos à Congregação do Clero do Vaticano para homologação.Aguardemos.

quarta-feira, abril 26, 2006

O 25 de Abril e a Europa

Debate hoje, no Bar Ribeirarte (Edifício do Mercado da Ribeira, 1º andar), às 21 horas, com José Medeiros Ferreira, Nuno Ramos de Almeida e Rogério de Brito.

Arquivo

Expresso, 14 de Abril:
Cavaco critica deputados faltosos
O Presidente da República, Cavaco Silva, deverá pronunciar-se sobre a questão da falta de quórum no Parlamento no seu discurso do 25 de Abril. No pressuposto de que a «qualidade da democracia» não é conciliável com o que se verificou esta semana, inviabilizando a aprovação de diversos diplomas do Governo, Cavaco deixará clara a sua desaprovação ao facto de deputados assinarem o livro de presenças, para depois abandonarem a sessão parlamentar. Recorde-se que o tema do funcionamento da democracia, assim como o da exigência, são conceitos caros ao actual Presidente, amplamente destacados, aliás, no seu discurso de tomada de posse, a 9 de Março. A insistência neste lema na cerimónia comemorativa do 32.º aniversário da revolução dos cravos - o seu primeiro discurso de fundo após a posse - implicará uma inevitável crítica ao incidente que marcou a semana política.

Forçar a mão

Cavaco Silva não deixou que lhe forçassem a ralhar com os deputados no discurso do 25 de Abril, como muitos pretendiam.Caso o actual PR tivesse sido membro da AR talvez se considerasse autorizado a deixar caír uma palavra indirecta de aviso aos seus antigos pares.Assim agiu com bom senso e sentido do respeito devido à separação de poderes.E até Napoleão gaguejou diante da Assembleia dos duzentos...
Mas a pressão sobre o novo PR desdobrou-se depois com a gritaria para que ele não promulgue a lei da paridade, tendo em conta as «dificuldades» no processo de apuramento da votação no parlamento...Só a primeira parte deste forçar de mão está jogada.O próximo teste ao PR está marcado.Promulga, não promulga, envia para o TC a lei da paridade?Fica prometido um post para a ocasião!

terça-feira, abril 25, 2006

Consenso?

Evidentemente, Cavaco Silva tem razão no alerta que lançou em relação à crescente exclusão social, desertificação do interior e discriminação. A alusão a um pacto de regime, na senda do “duas pessoas com a mesma informação, chegam à mesma conclusão”, já é completamente vazia. Nem mesmo com a referência aos míticos bons homens da província pode ter sentido.

O Estado Social Democrático

O discurso de Cavaco Silva vai pela via social democrática.O Estado Social Democrático como leitura actual dos deveres políticos.Mas então que políticas?

O anúncio do 25 de Abril

Anabela Chaves anuncia que Cavaco Silva irá referir-se enfaticamente ao 25 de Abril como data fundadora do regime democrático.Já tive ocasião de analisar o significado dessa posição do novo PR num debate noExpresso da Meia Noite após o discurso de posse.Volto hoje no DN a abordar o tema.

Perca peso

Leio no Público que a licenciatura em Psicologia do Porto está em risco de ficar de fora de Bolonha, porque uma funcionária da Reitoria não terá pago o excesso de 300 gramas no peso da documentação enviada pela faculdade.
Considerações sobre Bolonha à parte, é burlesco que perante um processo que visa a harmonização do ensino superior no espaço europeu e que levou anos de trabalho de revisão curricular, uma Faculdade como a do Porto possa ficar de fora por causa de um selo. Pois, já sei: choque tecnológico. Simplex.

A estátua de Salgueiro Maia

Estive há pouco na Sic-Notícias a comentar o significado das comemorações do 25 de Abril, num país que já não comemora quase nada.Nem 5 de Outubro, nem 1 de Dezembro se afirmam especialmente.Apenas o republicano dia de Camões, fixado a 10 de Junho, resiste oficialmente à banalização de uma sociedade cada vez mais profana.Nesse contexto até considero que as comemorações do 25 de Abril mantêm uma pujança assinalável.Mesmo que alguém em Santarém tenha soterrado a estátua de Salgueiro Maia.

segunda-feira, abril 24, 2006

Palmatória

O editorial de José Manuel Fernandes de hoje é uma espécie de caderneta sobre “lições dos mestres”, a partir do livro de George Steiner e Cécile Ladjali, Elogio da Transmissão.
Como JMF se limitou a picotar e colar umas tantas dessas “reflexões” sobre a relação professor-aluno, parece não ter aprendido muito com as lições. Mas pasmo que não tenha procurado algum livro complementar, onde se proclame que umas boas palmadas, aplicadas na altura certa, são pedagógicas. Afinal, foi o que defendeu há uns dias a propósito daquele inenarrável acórdão do Supremo.

Outra na ferradura

Realmente, não há paciência para a rodriguinho sobre como andará a lapela do Presidente da República amanhã. De qualquer forma, para quem cantou a Grândola na campanha eleitoral…já não digo ir de chaimite. Mas um cravo…

domingo, abril 23, 2006

Um mundo em mudança

Pela BBC


Argentina's Upsala Glacier was once the biggest in South America, but it is now disappearing at a rate of 200 metres per year.




Mount Hood in Oregon at the same time
in late summer in 1985 and 2002.









Rhone glacier in Valais, Switzerland. In 2001, the glacier had shrunk by some 2.5km,
and its 'snout' had shifted about 450 metres higher up.

Iraq II

or a Nuclear Iran?
Com atraso, mas aqui fica o destaque para a crónica de Thomas Friedman no NY Times de quarta-feira:

Modernismo antes do "pós"



"Modernism: Designing a New World" actualmente no V&A.

"Modernism: Designing a New World, at the V&A, is the first in-depth exhibition that looks at the key movement of 20th-century design. Modernism revolutionised the world around us and the way we live. It inspired our love of minimalist architecture and design and still influences the buildings we inhabit, the chairs we sit on and the graphic design that we see today."

A dívida de Cahora Bassa

Muito gostaria de saber qual o peso do serviço da dívida de Cabora Bassa nas contas portuguesas actuais, assim como a percentagem desta no total da dívida pública.Um gráfico com a evolução dos dois indicadores também seria bem vindo.Desta vez dispenso relatório por uma questão de produtividade e de salários extraordinários...

sábado, abril 22, 2006

As dificuldades de Cavaco

Hoje os jornais trazem declarações de Cavaco Silva na Bósnia sobre a lei da paridade cuja votação no parlamento« atravessou algumas dificuldades», disse.Como Cavaco Silva nunca foi deputado, e em todas as votações que participou estas foram secretas, nunca se saberá se algum dia se viu em dificuldades para apurar uma.Mas agora está a ser empurrado para não promulgar a lei da paridade que os partidos que o apoiaram nas presidenciais votaram claramente contra.Gostava que o canal Parlamento transmitisse as discussões em Belém a esse respeito.Para ver as dificuldades do PR em tomar uma decisão.Ou afinal não haverá dificuldades, e a paridade avançará?

sexta-feira, abril 21, 2006

Kerouac "Beat Generation"



O chicote anda no ar

Após uma semana de intensa vigilância jornalística sobre os diferentes tipos de quorum na AR chegaram os relatórios da viragem sobre o modo de encarar o governo da nação. Desta vez folgam os juízes.Porque será que tenho a impressão que o chicote vai cair de novo nas costas dos mesmos?Com algum circo à mistura, claro...

quinta-feira, abril 20, 2006

80-85-...

A rainha Isabel, que chefia o Reino Unido, o Canadá, a Austrália..., festeja agora os seus 80 anos.Ciampi com 85 está a ser pressionado para aceitar continuar como Presidente da República italiana.Eu queria era vê-los cá a disputar umas eleições, neste país da eterna juventude...

Sócrates, o Pregador


Já dizia S. Paulo: "A Fé sem Obras, é Vã."

A ver vamos ... mas há que começar pela fé e "espalhá-la", não é?

Rumsfeld aguenta comentaristas

Ronald Rumsfeld tem um problema de âmbito mundial a resolver antes de se demitir :como fazê-lo sem lançar no descrédito os comentaristas que sempre apoiaram os seus erros no Iraque?Consta que o caso dos portugueses é especialmente pungente pelo excesso de zelo que demonstraram.

Falta uma lista

Falta-me uma lista para perceber melhor o que se está a passar:a lista dos diplomas a votar naquela quarta-feira.

terça-feira, abril 18, 2006

Realmente ...

"Office workers are distracted every 11 minutes by an email, phone call or colleague."

[Fonte: University of California]

Privados

Parece que o Ministério da Justiça pondera a transferência de três prisões para novas instalações nas periferias das respectivas localidades e pretende entregar a gestão e a vigilância a privados, ficando as funções de segurança nas mãos dos guardas prisionais.
Relativamente à deslocação para a periferia, a verdade é que prisões como a de Coimbra, no coração da cidade, levantam alguns problemas. Todavia, escusado será dizer que o valor destes imobiliários não será alheio a esta matéria.
Aliás, este é um projecto que vem desde, pelo menos, o governo de Durão Barroso. Relativamente à gestão privada, não podia estar mais em desacordo. O Estado retira aos cidadãos a sua liberdade, como consequência de actos ilícitos. Mas entregar a “gestão” da privação da liberdade, dessa pena máxima, a privados, não é admissível.

segunda-feira, abril 17, 2006

Da rua à urna

With these protests, have America's Hispanics finally broken their terror?

Destempo

Agora que, finalmente, os manuais escolares vão ter um tempo de vida mais longo, só falta mesmo que as pessoas tenham mais do que um filho, para que a medida possa ter alcance.

O deserto de Belém

Leio vagamente o anúncio do povoamento turístico-cultural da zona de Belém graças às obras de arte de Joe Berardo.Aquela zona é certamente um dos locais mais frequentados para o lazer dos lisboetas em família dada a plateia que se estende, relvada ou calçada, em bordejo do Tejo.Os toques de bola entre pais e filhos pode cansar ao fim de um certo tempo, mas estes já podem visitar a Torre de Belém, os Jerónimos, o laico CCB,o Museu da Marinha, o dos Coches, o Aquário Vasco da Gama,O Jardim Tropical...Aliás é o que já fazem os turistas estrangeiros em seus autocarros garridos.Faltará animação cultural, diurna e contemporânea, mas é difícil imaginar um deserto com mais água...

sábado, abril 15, 2006

Aleluia!Aleluia!

Escrevo este post matinal(que não é um early morning...)sem ter lido a imprensa, contráriamente ao que costumo fazer.Mas desde ontem que tenho o tema na cabeça:glorificar a mensagem da ressureição em vida.É a lição que tiro da Páscoa.
Desde Renan que se percebe melhor o que houve de retrocesso civilizacional na aceitação por parte de Jesus em ser sacrificado na ara como Homem e como Primogénito do Senhor.Desde Abrahão que Jeová se contentava com o sacrifício do cordeiro , e a humanidade inteira por aí estava salva.
O que aprecio na Páscoa cristã é pois a esperança da ressureição.Mas das sucessivas ressurreições que viver humanamente implica.Saber ressuscitar é um mistério pessoal.

sexta-feira, abril 14, 2006

Eu, pecador, me confesso.

Passei esta sexta-feira maior em Lisboa, tendo principiado por ir comprar os jornais pois o jornaleiro aqui do canto votou-nos ao abandono até ao terceiro dia.Pela cara da empregada da Loja de Conveniência devo ter exagerado na dose.E hoje nem comprei A Bola ...Lá fui ler a imprensa, que no dizer de Goethe é a missa quotidiana do homem moderno.Quando cheguei a casa naveguei um pouco na Internet, e até escrevi um post contra o governo!
Cá em casa esta minha actividade bloguistica não é altamente apreciada.Também quando ligo a televisão para ver futebol(como é agora o caso)tenho de procurar a aliança bi-lateral com o meu filho para criar algum consenso.A disputa para ler e mandar fora os jornais é o nosso dia a dia.Pois agora cresceram as minhas dificuldades domésticas desde que o Penitenciário- Mor do Vaticano catalogou toda esta minha disciplinada actividade dentro dos «novos pecados».Como se já não me bastassem os antigos...

Ministros residentes

José Sócrates, depois da sua viagem a Angola,levou a Conselho de Ministros a magna questão das idas ao estrangeiro dos seus ministros, recomendando abstinência e down-grade.Freitas do Amaral terá adivinhado esse impulso puritano do seu primeiro-ministro, e parece que já terá evitado viajar várias vezes até Bruxelas, seja por considerar as reuniões do Conselho de Ministros da UE muito menos dramáticas do que as domésticas, seja para poder trocar, no ministério das Finanças, duas económicas por uma executiva da próxima vez.
Pois eu tenho uma outra solução:nomear ministros residentes em algumas capitais mais importantes ou apetecidas...Quê?Já se chamaram embaixadores?!

quinta-feira, abril 13, 2006

Pingue-pongue

A falta de quorum na Assembleia República para proceder às votações é lamentável e desprestigiante. Mas as desculpas e acusações mútuas entre PSD, PS e CDS não ficam atrás.

quarta-feira, abril 12, 2006

O futuro-casino

Um casino num edifício transparente em Lisboa, que invade ilicitamente a cidade com publicidade, instalado no antigo Pavilhão do Futuro. Podia lá haver melhor metáfora do nosso tempo?

Fraco Estado

Como é que foi possível que uma funcionária, sem qualquer formação para além da 4ª classe, dirigisse uma instituição com deficientes profundos? A carga horária a que estava sujeita, ainda mais tratando-se de funções tão exigentes, é absolutamente incompreensível. Isso não a desculpa mas, realmente, devia era responsabilizar outros.
O acórdão que legitima bater em crianças é, efectivamente, apenas mais um sinal de um país atrasado, que desrespeita completa e absurdamente os direitos das crianças. Os menores em Portugal só suscitam grandes paixões quando estão em estado fetal.
O Estado Português rectificou convenções que condenam em absoluto o uso da força, das palmadas, estalos, etc. como forma de educação. Pelos vistos, e também à pala da falta de formação - só isso poderá justificar que se digam coisas como as que constam do acórdão “Será utópico pensar o contrário e cremos bem que estão postas de parte, no plano científico, as teorias que defendem a abstenção total deste tipo de castigos moderados”- a convenção dos direitos das crianças é completamente ignorada.
Numa coisa o acórdão tem razão. É difícil, sempre muito difícil, avaliar se a palmada constitui ameaça à integridade física, se é pedagógica, se há recorrência. Também por isso - por mim devia ser por princípio - se deve condenar toda a violência física. Especialmente a dirigida a crianças. Em particular a crianças que, por deficiência ou por outros aspectos, são mais vulneráveis.
Quando um adulto bate numa criança, assina o atestado da sua própria incompetência. Bater é reconhecer que se foi incompetente em ensinar, formar, orientar, aconselhar e corrigir. É o recurso dos fracos que, evidentemente, não esperam que a criança responda da mesma moeda, ou que se dirija à esquadra mais próxima.
O Supremo considerar que se justificam castigos corporais, é o falhanço de uma sociedade e das suas instituições.

Um acordão redigido no quarto escuro?

Lê-se as citações de um Acordão do Supremo Tribunal de Justiça sobre um caso de maus tratos variados praticados por alguém em mais de um menor deficiente mental e não se acredita.Que clima se instalou na sociedade portuguesa que estimula semelhante regressão argumentativa sobre métodos educativos, chamemos-lhe assim?... Pelo menos um juiz conselheiro acha natural fechar meninos no quarto escuro e dar-lhes uns safanões a tempo, ou mesmo a destempo, desde que louvados em algum exemplo do pai de família desconhecido. Nem o facto da funcionária acusada ter ainda o hábito de amarrar as crianças à cama perturbou o sono do relator.Dá aliás a impressão que o acordão foi redigido no quarto escuro.Faltam-lhe luzes.

Sem surpresa

A Sic-Notícias passa imagens individualizadas de alguns reformados da Caixa Geral de Aposentações que auferem mensalidades superiores a 5.000 euros.São na sua maioria magistrados ou gestores de empresas públicas os que auferem tão excepcional tratamento dado pela lei. Que se passará na cabeça dos editores ? Querem esses reformados fechados em casa a ver televisão? Já dizia a Constituição de 1822 que «A casa de todo o Português é para ele um asilo»...O mesmo canal avança com o número de 48.000 funcionários públicos que pediram a aposentação em 2005 perante o anúncio das medidas de alteração no futuro cálculo das pensões no sentido da baixa.Alguém esperava outra coisa?Quem se acusar deve ser imediatamente avaliado.Caso seja funcionário público, claro!

terça-feira, abril 11, 2006

As ruas de Paris

As manifestações em França levaram o governo conservador a recuar na aplicação da sua recente lei sobre o CPE.A vitória dos estudantes ,e seus aliados sindicais, deveu-se à força de mobilização demonstrada, mas o recuo do governo só foi possível por não necessitar de fazer exercícios de autoridade contraproducentes.É maior o horror por esta decisão de Chirac nos meios da direita portuguesa do que entre a direita francesa.

O cardeal Saraiva desilude Fátima Bonifácio

No programa Prós e Contras o diálogo com o islão foi defendido pelo cardeal Saraiva, vindo directamente do Vaticano, e pelo Prof César das Neves que de lá nunca saíu.As Fátimas presentes torceram-se todas perante tanta liberalidade.Já não se pode contar com a Igreja Católica para a defenestração dos infiéis!

segunda-feira, abril 10, 2006

Dois artigos sobre as presidenciais

Recomendo vivamente os artigos de Pedro Magalhães e de André Freire hoje no Público sobre as eleições presidenciais e o pathos anti-partidos revelado.Quando constatei politicamente isso mesmo,aqui no blogue e no DN, logo a seguir às eleições fui mal compreendido.Veremos agora a aceitação pela via da ciência.

domingo, abril 09, 2006

O Professor Marcelo revê a Constituinte

Ouvi o programa de Marcelo Rebelo de Sousa, agora questionado por Maria Flor Pedroso, enquanto falava ao telefone.Pareceu-me que o também constituinte disse que a discussão sobre a existência, ou não, de um período de antes da ordem de dia só se teria processado entre o V e o VI governo provisório, ou seja entre Agosto e Setembro de 1975.Ora a discussão sobre a introdução da chamada «Hora Prévia» teve lugar logo no início da assembleia, mais precisamente na sessão oitava a 18 de Junho.Nela tomei parte, com Lopes Cardoso, em nome do PS, assim como Fernando Amaral,Mota Pinto e o próprio Marcelo pelo PPD e Amaro da Costa pelo CDS que defenderam as virtudes políticas da sua existência, contra as posições de Lopes de Almeida, Octávio Pato, Vital Moreira , José Catarino, que defenderam a sua limitação.Quando saí da Assembleia em Setembro para ir para o VI Governo o período de antes da ordem do dia estava mais do que consagrado e foi muito importante para a edificação de um regime político pluralista e parlamentar.

Uma coisa é rever a Constituição, outra a Constituinte...

Pela calada

O primeiro mês de Cavaco Silva em Belém foi um mês de silêncio.Por mim só apresento queixa caso não discurse no dia 25 de Abril.Mas não acredito que o PR aproveite o feriado para ir até à Madeira...

sábado, abril 08, 2006

Sexo, cigarro e saúdinha

Parece que o governo arranjou uma óptima maneira de aumentar substancialmente a clientela de bares de strip-tease, cabarés e casas de alterne.
Só aí serão permitidas as máquinas automáticas de venda de tabaco já que, de acordo com a proposta para restringir o fumo nos locais públicos, apenas os estabelecimentos com acesso condicionado a maiores de 18 anos vão poder ter estes equipamentos (bares e discotecas têm permissão para receber clientes a partir dos 16 anos).

sexta-feira, abril 07, 2006

Aquecimento global



Reportagem aqui.

A Newsweek também dá destaque ao tema.

Mais notícias na Forbes e ABC.

Binómios Bloggers- Escritoras

Depois do pequeno fait-divers V. Pulido Valente- Clara Ferreira Alves, houve o caso João Pedro George- Margarida Rebelo Pinto. Agora Pacheco Pereira aí está com Agustina Bessa-Luís. É que esta coisa do binómio bloggers-escritoras teria muito mais impacto se fosse com um blogger corredor de fundo, com uma escritora consagrada, numa parceria menos azeda, mas nem por isso menos publicitada. E chama-se "Fama e Segredo na História de Portugal". Nem mais.

Les blogs, nouveaux maîtres à penser?

Esta é a questão levantada na edição de sexta-feira pelo clássico Le Monde.E dá como exemplo um blogue da autoria de um há ainda pouco tempo desconhecido Prof universitário de linguística de Aix-En-Provence, Jean Veronis, cujas reflexões são lidas muito para além do universo dos seus alunos.Outra curiosidade, muitos dos blogues mais lidos em França são de pessoas acima dos 50 anos.Atenção aos novos protagonistas:juventude nas ruas, senadores nos blogues!

quinta-feira, abril 06, 2006

Boys, Bola, Betão, Bidarra e Bílis

Não adoro bola, mas não fico escandalizada com o entusiasmo ou com o pseudo-nacionalismo à volta da bola. Intoleráveis são as ligações perigosas do triângulo betão-boys-bola, a torra de dinheiro com os estádios, as claques boçais. E a cultura homofóbica e machista em torno do desporto, em particular de alguns desportos.
Pedro Bidarra, cujas ideias sobre a bandeira, a marca Portugal e a europe's west coast fazem do país um rectângulo em saldo, acha que não há problema em dizer, no hino da Galp, para a selecção portuguesa no Mundial o seguinte:
“É o retrato de um país aplicado ao futebol.Tem tudo o que é preciso, só perde por ser mole.Toca a acordar, pessoal!Queremos mais garra,deixar de ficar felizes quando a bola vai à barra. Vamos com tudo, meter o pé, chutar primeiro,Que o último a chegar é paneleiro.Ter medo deles? Isso era dantes!”
Pedro Bidarra decidiu responder aos protestos da Sara, com a seguinte prosa:
”Paneleiro, puta, cabrão, filho da puta, caixa d'óculos, sapatona, vaca, cabra, betinho, galdéria, anormal, idiota, atrasado mental, chato, puta de merda e cabrão do caralho são insultos. Apenas insultos. Insultos que ofendem apenas (quando ofendem) a quem são dirigidos. No caso da letra a quem , no abstracto "se corta a dar o litro".
Para mim a liberdade de expressão não tem excepções”

“Apenas insultos” é uma coisa que o autor ainda tem que explicar melhor o que são. “Apenas insultos que ofendem a quem são dirigidos”. Lapalisse explica. Para além do vazio na resposta de Bidarra, a questão é que o país é homofóbico e Pedro Bidarra sabe disso. E sabe também que essa homofobia vende nuns sítios mais do que noutros. Se tivesse que fazer um hino para o extinto ballet Gulbenkian, de certeza que a música era outra.
E este é mais um motivo para não gostar de bola. Para boicotar todos os produtos lançados pela BBDO e, evidentemente, a GALP.
Na bola, entre os seus adeptos, futebolistas e treinadores, não faltam gays. Atletas gays, com feitos olímpicos que a selecção bem pode cobiçar, como Bruce Hayes , Mark Tewsbury ou Greg Louganis, são muitos. E cada vez mais “saem do armário”.
Aqui há uns tempos vi um sketch do Gato Fedorento bastante biliar sobre este tema. Semelhante- mas numa versão diferente- de um anúncio da Pepsi, também concebido pela BBDO, que muita polémica suscitou nos EUA. Basta ver este site para perceber que a BBDO e os Pedros Bidarras deste mundo fazem, apenas e tão só, o que for necessário para vender produtos. Uns anúncios são gay-friendly outros nojentamente gay-bashing.
A bola vende e é vendida. Bidarra está disposto a passar por cima de tudo e todos para mercadejar. Não lhe interessa mais nada. A alusão à liberdade de expressão é apenas instrumental e oportunista. Se, daqui a uns tempos, alguém lhe pagar bem para fazer uma campanha contra o racismo, faz. Se lhe pagarem para propagandear o xenofobismo, também. A liberdade de expressão para este senhor é uma espécie de licença para atirar.
No site da Galp, paneleiro agora aparece substituído por calaceiro. Caloteiro ou coveiro, que me lembre para já e no espírito grosso da letra- que inclui também coisas lindas como “cabelos de menina” - eram bem melhores. Calaceiro não sei se pega. Mas provavelmente essa também não é a intenção.

O Bloco de Esquerda pergunta bem

Leio que o Bloco de Esquerda, através da sua deputada Alda Macedo,coloca a questão central sobre o futuro da colecção Berardo.A avaliação do seu valor, que em qualquer caso devia ter sido feita antes da assinatura do protocolo,para eventual compra por parte do Estado é a que se fará agora , ou a que a colecção terá depois do CCB a ter exposto durante 10 anos?

Afinal a AR comemora

Afinal há um orgão de soberania que tem um programa de comemorações dos trinta anos da Constituição: a Assembleia da República.Assim está bem.

quarta-feira, abril 05, 2006

Para haver teatro basta um espaço, um actor e uma testemunha

dizia Peter Brook. E o António Gonzales, meu colega no ISPA, entre dar as suas aulas, arrancar os cabelos com os ultimatos de Bolonha, terminar a tese e tomar conta do filho, ainda arranja tempo para fundar um grupo de teatro, o dISPAteatro. Lá fui à antestreia do Tesouros da Sombra, a partir de textos do bizarro Alejandro Jodorowsky. E poucas vezes vi uma faculdade tão metamorfoseada, ocupada e vibrante.
“Quando as longas sombras do amanhecer se encurtam gradualmente para, ao meio-dia, debaixo dos nosso pés, se converterem num halo negro quase invisível, mostram o que realmente são: raízes secretas que nos dão à luz”. A. Jodorowsky

Bichos-carpinteiros por aí

De um leitor devidamente identificado…

Ensaduichado entre uma visita ao millionário millenium bcp, com promessas de fundos e de linhas de crédito de milhões, e a necessidade visceral de ver o benfica, estava enlatada uma inauguração de uma exposição do instituto camões na embaixada de portugal em angola...
Com ricardo salgado (presidente do bes), comandantes de fragata, joe berardos, emído rangel, nicolau santos, entre outros ávidos à espera de um flutuante bacalhau com o PM, depois de duas horas à espera ele lá apareceu, acompanhado de freitas do amaral. Correram entre obras de paula rego, julião sarmento e rui chafes como se estivessem atrasados para apanhar o alfa, com ou sem serviço de massagens.
Com o adido cultural em angola nervosíssimo com a preparação da exposição, ficou a ideia que tanto poderiam estar expostas obras de arte como modelos de telemóveis (e não sei se a segunda mereceria mais atenção se os modelos fossem novos da nokia).
O ponto alto da visita ao centro cultural improvisado foi mesmo uma tentativa de assalto a um dos acompanhantes da comitiva por um pobre coitado que foi logo agrilhoado pela policia, mediante a indignação dos altos dignatários do nosso país, ficando a ideia de que mais uma vez, angola seria tão bonita, não fossem os angolanos famintos...

Bebi, não consigo dizer alcoolemia!

Outra vez?Apetece perguntar ao ler o DN de hoje sobre discordâncias no governo a respeito da taxa de «alcoolemia».Foi assim que Guterres revelou ao mundo ser-lhe indiferente governar os portugueses, pelo menos os que iam ao volante.A discussão na AR foi um hino ao non-sense.Agora até o assunto da PJ perde todo o seu charme perante esta bebedeira de vinho tinto.Tino.

Como se faz um beato

Apanhei a parte final do programa que a sic-not oferece, creio que semanalmente, a Paulo Portas.Este dissertava sobre o Papa João PauloII com tanta veneração que as palavras acabaram por lhe faltar.Socorreu-se então da imitação da vida de Ratzinger para com o antecessor, embora rendendo-se à figura de intelectual do actual Sumo Pontífice.Por fim antecipou-se a Marcelo Rebelo de Sousa e apresentou, em primeira mão, um livrinho do Cardeal Saraiva Martins intitulado «Como fazer um santo».Fiquei esclarecido.Paulo Portas já tirou as devidas lições do compêndio...

terça-feira, abril 04, 2006

Droga de políticas

Nascimento Rodrigues foi à comissão de saúde alertar para o problema da incidência de hepatites entre a população prisional, cujas estimativas apontam para 30% e para 15% também com SIDA. O Provedor de Justiça indicou que este número está, provavelmente, subestimado. Ainda se aguarda o estudo sobre troca de seringas nas prisões. Há dez anos que se aguarda. E, portanto, nesta matéria como em tantas outras, quer PSD quer PS têm responsabilidades…
Mas em relação às prisões, e vencidas hipocrisias (género “isso é admitir que há droga lá dentro”), parece que um dos maiores receios se prende com a utilização das seringas como arma. Este é um dos motivos pelos quais a melhor solução parece ser a abertura de salas de injecção assistida dentro dos estabelecimentos prisionais.
De qualquer maneira, e tendo-se anunciado o despedimento de 1400 técnicos do IDT, de um total de cerca de 1700- ou serão supranumerários e excedentários em mobilidade ?- não estou a ver como vão ser cumpridas funções básicas- o, quanto mais um estudo que anda a marinar há uma década ou medidas que existem noutros países há duas. Na Visão de há duas semanas, Goulão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência-IDT, alertava que esta área e as respostas às populações, desde a redução de danos ao tratamento, estão fragilizadas. E agora, o que vai fazer?
Quando, em 2002, Goulão recusou o convite do então presidente do IDT, Fernando Negrão (sim, Negrão que agora contesta já teve responsabilidades cruciais nesta área e não as soube cumprir) para vogal da administração, tendo em conta que Manuel Pinto Coelho, dono de clínicas de desabituação privadas, também integraria a equipa, interpretei a sua posição como uma não cedência a outros interesses e a defesa dos princípios técnicos.
A ver…

Luanda não espera Lisboa

Conversando com vários amigos angolanos e portugueses residentes em Angola, verifico que a visita de Sócrates ao país está a passar completamente despercebida. Ontem, depois de um dia de chumbo, fazendo com que o meio-dia parecesse lusco-fusco, chovia estilo dilúvio em Luanda, levando a um cenário mais ou menos caótico com cheias, entupimentos e engarrafamentos vários. Hoje é feriado – comemoração da paz. Mas não chega para explicar o desinteresse pela visita do PM e, realmente, o entusiasmo não é bilateral, como assinalei aqui. Já tinham, aliás, existido outros sinais como as dificuldades na preparação da visita e a ausência de José Eduardo dos Santos na tomada de posse de Cavaco.
Como dizia José Eduardo Agualusa, há uns tempos na Pública, Sócrates leva trinta empresários mas podia levar três mil. Chega tarde, em “plena euforia da reconstrução”, essencialmente ao abrigo dos acordos com a China. Para além de que, e como sublinhava o escritor: “receio que o ênfase dado à vertente económica desta visita não beneficie a imagem de Portugal junto da opinião pública angolana”. Esta imagem às vezes é reforçada pelos media- vê-se RTP em Angola- e reflecte-se em episódios como a recente recusa de ajuda a propósito da cólera. No dia dos exultantes festejos do Carnaval em Luanda, a RTP repetia incessantemente as notícias da cólera vistas, é claro, com os nossos olhos. Com asco e no rescaldo de um dia intenso de festa, muitos mandavam desligar a televisão.
Provavelmente, a falta de interesse da população e mesmo dos media angolanos deve-se a este facto. Concorrendo muito dificilmente com os múltiplos interesses internacionais que zumbem à volta de Angola, Portugal faria melhor em apostar na consolidação de outros laços, tendo em conta que muitos angolanos estão (ainda?) ressentidos com os portugueses. Como dizia também JEA, Portugal podia diferenciar-se apostando “no campo da educação e da cultura” onde, para além da língua, os laços são (ainda?) fortes.
Por enquanto, o volume de notícias nos media portugueses sobre este périplo de Sócrates não tem qualquer correspondência na imprensa angolana. Aguardo as imagens que a televisão vai mostrar. Sempre quero ver até que ponto consegue operar a máquina de propaganda do governo.

Atirar a primeira pedra

E eu que sempre pensei que a versão da cegonha era bem acolhida pela Igreja católica:

Pela primeira vez

maioria dos britânicos quer retirada do Iraque.

O novo McCartismo

University professors denounced for anti-Americanism; schoolteachers suspended for their politics; students encouraged to report on their tutors. Are US campuses in the grip of a witch-hunt of progressives, or is academic life just too liberal?

segunda-feira, abril 03, 2006

Refugiados, segurança paranóica e a estupidez humana

Editorial do NY Times de hoje:
In Sierra Leone there is a woman who was kept captive in her house for four days by guerrillas. The rebels raped her and her daughter and cut them with machetes. Under America's program to resettle refugees, she would be eligible to come to safety in the United States. But her application for refuge has been put on indefinite hold — because American law says that she provided "material support" to terrorists by giving them shelter. (…)
A Liberian woman was kidnapped by a guerrilla group and forced to be a sexual slave for several weeks. She also had to cook and do laundry. These services are now considered material support to terrorists. In Colombia, the United Nations will no longer ask the United States to admit dozens of refugees who are clearly victims, since all their predecessors have been rejected on material support grounds. One is a woman who gave a glass of water to an armed guerrilla who approached her house. Another is a young man who was kidnapped by paramilitary members on a killing spree and forced to dig graves alongside others. The men, many of whom were shot when their work was finished, never knew if one of the graves would become their own.(…)
The law does not formally reject these applicants but places them on indefinite hold. No one accused of material support has ever had that hold lifted. The Department of Homeland Security can supposedly waive the material support provision but has never done so.

A ler devagar

O artigo de hoje da Joana Vicente Amaral Dias no DN.Só faltou uma nota sobre o factor humano em Freitas do Amaral para eu poder concordar por inteiro.

Carlos Fabião, presente!

A notícia da morte de Carlos Fabião obriga a pensar sobre a dívida das gerações actuais em relação àqueles oficiais do MFA que após terem conspirado contra a ditadura, derrubado esta, e ajudado a erguer o regime democrático pluralista em que ainda vivemos, se retiraram discretamente do proscénio e voltaram aos seus lugares de origem.Carlos Fabião foi um deles.Depois de ter sido Chefe do Estado Maior do Exército, num período em que não havia voluntários, regressou tranquilamente à sua patente de Ten-Coronel e foi colocado no distrito de recrutamento na Avenida de Berna.Foi aí que o fui reencontrar já que era seu vizinho na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.Conheci vários casos pessoais tratados com humanidade e eficiência pelo antigo operacional da Guiné.Tanto se ocupava de um Marcelino da Mata como de um anti-fascista com problemas adjacentes com a tropa.Seguia com orgulho a carreira universitária do filho, meu colega de Faculdade, e parecia distante da vã glória de mandar.Fazia tudo como se fosse um dever, mas não por dever.Nunca se preocupou com a imagem mas com a substância das coisas.Um outro grande nome do MFA, Vítor Alves, declarou «que a geração de Abril está a chegar ao fim». O pior é se não ficou uma escola de gente assim...

domingo, abril 02, 2006

As lágrimas de Nuno Gomes

Pois não é que volta e meia me lembro das lágrimas de Nuno Gomes ontem no banco depois de se ter lesionado nas vésperas do encontro com o Barcelona e do mundial na Alemanha?O futebol é isto mesmo:retratos emocionais da vida como jogo de sorte e azar.

Abaixo o «roaming»!

Quantas vezes não ficamos acelerados quando dizemos, ou ouvimos alguém dizer ao telemóvel,«estou em Badajoz»!Isso ainda antes da maternidade de Elvas ter sido jumelada com aquela outra.Ou mesmo «estou em Paris para perceber porque os jovens estão contra as virtudes dos despedimentos fáceis»!Antes que qualquer conteúdo nos atravesse os tímpanos só pensamos na percentagem da chamada que vamos pagar ou fazer pagar!
Pois agora a Comissão Europeia vai tentar acabar com essa prática onerosa e hostil ao mercado único.Ora aí está uma coisa útil.

sábado, abril 01, 2006

A importância de se chamar JMF

Há entre pessoas que mal se vêem laços contínuos imperceptíveis que as ligam independentemente da sua vontade.
Assim quantas vezes não dou por mim a ler com mais atenção um texto que me poderia ser especialmente destinado.«JMF não é quem pensa...», e sinto essa interpelação como se me fosse dirigida!Até já dei por mim a considerar se esta asserção não seria verdadeira quando descobri que ela não me era destinada.Foi ao enviar um sms a alguém terminando com bjs.JMF,talvez num sinal de uma mais pessoal relação e certamente por economia de tempo e de caracteres.Grande foi a desilusão quando esse alguém me respondeu na volta do sinal sonoro com um claro«Qual JMF?».
Foi então que se fez luz no meu espírito. Para essa senhora jornalista as iniciais de José Medeiros Ferreira(JMF) estavam já associadas a dois grandes nomes da imprensa portuguesa,João Morgado Fernandes(JMF)e José Manuel Fernandes(JMF) como se fosse uma patente registada em Genebra..Agora vou até ao Tribunal Internacional das Iniciais Iniciáticas.Também tenho direito ao JMF.Ou acham que devo por a sigla no mercado?