Não adoro bola, mas não fico escandalizada com o entusiasmo ou com o pseudo-nacionalismo à volta da bola. Intoleráveis são as ligações perigosas do triângulo betão-boys-bola, a torra de dinheiro com os estádios, as claques boçais. E a cultura homofóbica e machista em torno do desporto, em particular de alguns desportos.
Pedro Bidarra, cujas ideias sobre a bandeira, a marca Portugal e a europe's west coast fazem do país um rectângulo em saldo, acha que não há problema em dizer, no hino da Galp, para a selecção portuguesa no Mundial o seguinte:
“É o retrato de um país aplicado ao futebol.Tem tudo o que é preciso, só perde por ser mole.Toca a acordar, pessoal!Queremos mais garra,deixar de ficar felizes quando a bola vai à barra. Vamos com tudo, meter o pé, chutar primeiro,
Que o último a chegar é paneleiro.Ter medo deles? Isso era dantes!”
Pedro Bidarra decidiu responder aos protestos da
Sara, com a
seguinte prosa:
”Paneleiro, puta, cabrão, filho da puta, caixa d'óculos, sapatona, vaca, cabra, betinho, galdéria, anormal, idiota, atrasado mental, chato, puta de merda e cabrão do caralho são insultos. Apenas insultos. Insultos que ofendem apenas (quando ofendem) a quem são dirigidos. No caso da letra a quem , no abstracto "se corta a dar o litro".
Para mim a liberdade de expressão não tem excepções”
“Apenas insultos” é uma coisa que o autor ainda tem que explicar melhor o que são. “Apenas insultos que ofendem a quem são dirigidos”. Lapalisse explica. Para além do vazio na resposta de Bidarra, a questão é que o país é homofóbico e Pedro Bidarra sabe disso. E sabe também que essa homofobia vende nuns sítios mais do que noutros. Se tivesse que fazer um hino para o extinto ballet Gulbenkian, de certeza que a música era outra.
E este é mais um motivo para não gostar de bola. Para boicotar todos os produtos lançados pela BBDO e, evidentemente, a GALP.
Na bola, entre os seus adeptos, futebolistas e treinadores, não faltam gays. Atletas gays, com feitos olímpicos que a selecção bem pode cobiçar, como Bruce Hayes , Mark Tewsbury ou Greg Louganis, são muitos. E cada vez mais “saem do armário”.
Aqui há uns tempos vi um
sketch do Gato Fedorento bastante biliar sobre este tema. Semelhante- mas numa versão diferente- de um
anúncio da Pepsi, também concebido pela BBDO, que muita polémica suscitou nos EUA. Basta ver este
site para perceber que a BBDO e os Pedros Bidarras deste mundo fazem, apenas e tão só, o que for necessário para vender produtos. Uns anúncios são gay-friendly outros nojentamente gay-bashing.
A bola vende e é vendida. Bidarra está disposto a passar por cima de tudo e todos para mercadejar. Não lhe interessa mais nada. A alusão à liberdade de expressão é apenas instrumental e oportunista. Se, daqui a uns tempos, alguém lhe pagar bem para fazer uma campanha contra o racismo, faz. Se lhe pagarem para propagandear o xenofobismo, também. A liberdade de expressão para este senhor é uma espécie de licença para atirar.
No site da Galp,
paneleiro agora aparece substituído por calaceiro. Caloteiro ou coveiro, que me lembre para já e no espírito grosso da letra- que inclui também coisas lindas como “cabelos de menina” - eram bem melhores. Calaceiro não sei se pega. Mas provavelmente essa também não é a intenção.