Não tem fuba no cubico?
A propósito da visita de Sócrates a Luanda (que obviamente se prepara com esmero) no próximo dia 4 de Abril, a revista Visão publica uma reportagem, que faz capa, com o título “A Nova Angola”. Essencialmente, traça-se um futuro bastante optimista, sublinhando-se o período de paz e o acentuado crescimento económico.
O número de retornados de Angola terá sido cerca terá sido cerca de 300 mil. Agora, e em três anos, o número de residentes portugueses duplicou, estando a caminho dos 50 mil. Há um crescente interesse das empresas portuguesas por Angola, que se cifra numa enorme esperança verde. De dólares. Mas pode ser que termine em verde de inveja...a história das relações económicas entre Portugal e Angola nunca foi propriamente profícua, especialmente depois de 64 e dos famosos “atrasados”…
Mas voltando à reportagem. Descreve Luanda como uma cidade em franco progresso: “Até a caótica Luanda está a mudar: mais limpa, mais iluminada e com uma dinâmica forte que dispara o comércio formal, em lojas bem decoradas e cadeias sul-africanas de fast-food, e a construção das torres multinacionais”.
Esta é a cor do texto. Só aqui e ali, quase fora de tom, se indica o 160º lugar que Angola ocupa no Índice de Desenvolvimento Humano; os dois terços da população que vivem na miséria ou se incluem comentários como este, de um empresário: “Este é um país tão extraordinário, que a filha do Presidente tem 25% de um banco e ninguém questiona de onde vem o dinheiro”.
Em Novembro do ano passado, Angola celebrou os seus 30 anos de independência. Uma independência celebrada depois da escravatura, ocupação e repressão. Uma independência indelevelmente marcada pela guerra fratricida, que terminou apenas há quatro anos. Angola cresce? Ainda bem, porque muito necessitará de crescer. A Luanda e a Angola que vi em Setembro de 2005 -todas as fotos são de então- de facto, tinha muita fome e desespero. Os meninos que cheiram gasolina, as meninas da rua, os sinais humanos das minas por todo o lado, os esgotos a céu aberto, o lixo que se acumula, os bairros da lata horizontais e verticais, os funerais da SIDA. E um apartheid social. Restaurantes praticamente só com “pulas” e meia dúzia de africanos muito ricos, esplanadas na praia vigiadas por seguranças, que impedem os “mangolés” de se aproximarem, complexos turísticos onde já se sabe quem serve e quem é servido, quem é o dono e quem é o empregado.
Também vi muita dignidade, vontade e uma certa garra. Resta saber se será suficiente para contrapor à aceitação resignada de muitos quanto à entrada das grandes companhias estrangeiras como a única via possível.
A presença em força das multinacionais em muitos países africanos tem-se constituído como uma verdadeira invasão, acompanhada pela privatização de vários sectores do Estado e por um processo de usurpação dos seus recursos.
Efectivamente, o petróleo continua a representar a quase totalidade das receitas do orçamento de Estado angolano. Para além doutras questões, esta opção falha em diminuir a dívida externa e tem conduzido à negligência da produção nacional. A ideia de que, depois do petróleo, haverá a exploração dos outros muitos recursos, é apenas mais do mesmo, um modelo de desenvolvimento onde concorrerá, como agora, forte investimento estrangeiro (a China bem tem tratado da sua parte). E depois? Que fará Angola com isso? Como dizia Carlos Pacheco num artigo do Expresso, “de nada servem os fabulosos recursos em petróleo cujas rendas favorecem tão-só, e largamente, os barões da corrupção que controlam as estruturas do aparelho de Estado. Falta-lhe massa crítica, o país não possui indústrias de ponta, nem artefactos de guerra próprios, nem sequer produtos estratégicos, ou capacidade científica e tecnológica.”
A visita de Sócrates terá, certamente, a tónica no investimento das empresas portuguesas em Angola e, provavelmente, será propagandeada como mais um dos “sinais de optimismo e confiança” para a economia portuguesa. Resta saber se Angola, entre as múltiplas visitas de chefes de estado que vai recebendo, saberá fazer reverter as suas riquezas em benefício próprio.
Mas voltando à reportagem. Descreve Luanda como uma cidade em franco progresso: “Até a caótica Luanda está a mudar: mais limpa, mais iluminada e com uma dinâmica forte que dispara o comércio formal, em lojas bem decoradas e cadeias sul-africanas de fast-food, e a construção das torres multinacionais”.
Esta é a cor do texto. Só aqui e ali, quase fora de tom, se indica o 160º lugar que Angola ocupa no Índice de Desenvolvimento Humano; os dois terços da população que vivem na miséria ou se incluem comentários como este, de um empresário: “Este é um país tão extraordinário, que a filha do Presidente tem 25% de um banco e ninguém questiona de onde vem o dinheiro”.
Em Novembro do ano passado, Angola celebrou os seus 30 anos de independência. Uma independência celebrada depois da escravatura, ocupação e repressão. Uma independência indelevelmente marcada pela guerra fratricida, que terminou apenas há quatro anos. Angola cresce? Ainda bem, porque muito necessitará de crescer. A Luanda e a Angola que vi em Setembro de 2005 -todas as fotos são de então- de facto, tinha muita fome e desespero. Os meninos que cheiram gasolina, as meninas da rua, os sinais humanos das minas por todo o lado, os esgotos a céu aberto, o lixo que se acumula, os bairros da lata horizontais e verticais, os funerais da SIDA. E um apartheid social. Restaurantes praticamente só com “pulas” e meia dúzia de africanos muito ricos, esplanadas na praia vigiadas por seguranças, que impedem os “mangolés” de se aproximarem, complexos turísticos onde já se sabe quem serve e quem é servido, quem é o dono e quem é o empregado.
Também vi muita dignidade, vontade e uma certa garra. Resta saber se será suficiente para contrapor à aceitação resignada de muitos quanto à entrada das grandes companhias estrangeiras como a única via possível.
A presença em força das multinacionais em muitos países africanos tem-se constituído como uma verdadeira invasão, acompanhada pela privatização de vários sectores do Estado e por um processo de usurpação dos seus recursos.
Efectivamente, o petróleo continua a representar a quase totalidade das receitas do orçamento de Estado angolano. Para além doutras questões, esta opção falha em diminuir a dívida externa e tem conduzido à negligência da produção nacional. A ideia de que, depois do petróleo, haverá a exploração dos outros muitos recursos, é apenas mais do mesmo, um modelo de desenvolvimento onde concorrerá, como agora, forte investimento estrangeiro (a China bem tem tratado da sua parte). E depois? Que fará Angola com isso? Como dizia Carlos Pacheco num artigo do Expresso, “de nada servem os fabulosos recursos em petróleo cujas rendas favorecem tão-só, e largamente, os barões da corrupção que controlam as estruturas do aparelho de Estado. Falta-lhe massa crítica, o país não possui indústrias de ponta, nem artefactos de guerra próprios, nem sequer produtos estratégicos, ou capacidade científica e tecnológica.”
A visita de Sócrates terá, certamente, a tónica no investimento das empresas portuguesas em Angola e, provavelmente, será propagandeada como mais um dos “sinais de optimismo e confiança” para a economia portuguesa. Resta saber se Angola, entre as múltiplas visitas de chefes de estado que vai recebendo, saberá fazer reverter as suas riquezas em benefício próprio.
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