domingo, abril 30, 2006

Singela homenagem a Freud

Mania das Perguntas
Ia sossegadamente pela estrada cheia de sol, um pouco cansado com o passeio e farto de poeira e de tantas ralações.
Aí, salta-lha à frente um pássaro ridículo com rabo de bicho feroz e cara de mulher gulosa.
- Quem és tu? – perguntou o pássaro, atravancando a estrada.
Olhou para o pássaro idiota e respondeu aborrecido, embora com delicadeza:-Sou o Oedipo.
-Pois eu sou a Esfinge.
- Já ouvi falar, sim senhora. Agora com licença. Vou com pressa. Boa tarde.
O pássaro sacudiu o rabo, passou a língua pelos lábios, atravancou ainda mais a estrada com as asas abertas e disse, num sorriso glutão:
- Espera aí. Vou fazer-te uma pergunta. Se não responderes, já sabes, como-te. Qual é…
- Que mania de fazer perguntas! - comentou Oedipo. Tirou a granada ofensiva do saco de couro que trazia a tiracolo e enfiou-a, discreto, pela boca aberta do pássaro.
Ouviu o estoiro e prosseguiu o seu caminho para Tebas. Em sossego, mas realmente farto de poeira e de tantas ralações.

Mário-Henrique Leiria, Novo Contos do Gin