Ao Sábado no Correio da Manhã
O João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos já seleccionou o mais importante do Bilhete Postal de hoje.
O João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos já seleccionou o mais importante do Bilhete Postal de hoje.
A convite do jornal A Bola fui aos Açores participar na homenagem a Pedro Pauleta, o melhor goleador de sempre da selecção. Há muito de simbólico na carreira de Pauleta: não jogou em nenhum dos «grandes» do futebol português, não foi incensado pela opinião lisboeta, quase que teve de pedir desculpa por ter batido o record de Eusébio, vindo de outros tempos mitificados. Mesmo assim foi capitão da equipa nacional, como o foi do Paris Saint-Germain, numa cidade pouco dada a reconhecimentos desses a portugueses, Artur Jorge que o diga.
"While animals are content with existence and reproduction, men desire also to expand, and their desires in this respect are limited only by what imagination suggests as possible. Every man would like to be God, if it were possible; some few find it difficult to admit the impossibility."
Ouço alternadamente duas estações de rádio que tratam da momentosa questão.Vejo surgir no país novas correntes de opinião, conforme os Casos. As que seguem o Caso Freeport, as que seguem o Caso Portucale, as que seguem o Caso dos submarinos, as que seguem os casos do BCP, do BPN, ou a «Operação Furacão».Deve ser a isto que entre nós se chama «A morte das ideologias»...
Deixo aqui o Bilhete Postal de hoje :
Hoje volto à Posse de Obama. Destaco o vocativo«My Fellow Citizens!», em vez do clássico «Americanos!». Fico à espera que um dos nossos Maiores comece um dia destes por «Cidadãos!». Não deve demorar muito.
Hoje a maioria absoluta é um fardo para o PS na Assembleia da República.
Enquanto houve abundância de crédito no sistema financeiro global o rating internacional dos Estados era muito favorável ao endividamento dos próprios.O que aconteceu.Agora o crédito retraie-se. O BCE baixa a taxa de juro de referência na zona Euro. A empresa de «notação» Standard&Poor`s ,esquecida dos produtos financeiros «tóxicos» ,refaz a hierarquia do «rating» dos Estados, cujo eventual efeito será o de obrigar alguns países pagarem mais caro os próximos empréstimos a que todos recorrerão. Dentro de uma indicação do BCE de baixa dos juros , entenda-se.O crédito, desde que exista, será mais barato .Assim apareça a massa monetária injectada através de intermediários , talvez inoperacionais.E na ausência de um orçamento «federal» na UE. Cada um por si na Europa, mais uma vez ? Veremos que outra crise se seguirá.
Obama começou bem. Mandou suspender os processos que corriam pelos tribunais militares especiais criados pela Administração Bush. O seu ministro da Justiça ,Eric Holder, considerou os «afogamentos» simulados de prisioneiros em Guantánamo como actos de tortura. Ainda se chegará à condenação dos voos da CIA com passageiros clandestinos.
Não gosto muito do género, como não gosto de fados com letra sobre fados, mas é evidente que quem entretem um blogue tem tendência a reflectir sobre a blogosfera. Estou aqui há pouco mais de 3 anos e já noto imensas diferenças neste universo. Há mais gente, mais« côteries» de apoio mútuo, os blogues muito colectivos levam a melhor nas audiências, não sei se na influência. A contra-informação fina também chegou a este meio menos favorável ao domínio das agências de comunicação.Nada disto me incomoda num meio tão personalizado e diversificado. Preocupam-me sim algumas desistências anunciadas de gente de qualidade. Esta semana recebi um e-mail muito significativo do João Vasconcelos Costa a dar conta de alguma desilusão com o meio.Agora leio uma reflexão pessoal do Francisco José Viegas em que este anuncia uma interrupção por motivos em nada alheios a sentimentos de pertença e de partilha.Más notícias para a nossa blogosfera.
Ontem era moeda corrente que o Século XXI tinha chegado à América com a eleição de Obama. Antes tinha-se referido os ataques às torres gémeas em 2001, mais conforme com o calendário e a analogia com quem faz da IGM o início do SecXX. Tenho a impressão que o Século XXI vai começar ainda mais vezes...quase até acabar!
Em Portugal o dia foi marcado pela concentração de meios da protecção civil nas estradas da neve.Desta vez queixaram-se que foi demais. A semana passada que foi de menos.Alerta laranja...
Parece-me que Barack Obama escolheu fazer um discurso discreto no acto de posse. Simples e enérgico. Para forçar um down-grade nas expectativas? Para não ter de aturar os nostálgicos de Ted Sorensen?
Hoje é dia de Obamamania por todo o lado. Uns porque acreditam numa mudança no mundo, outros porque assim voltam a tratar os EUA como aliados, muitos porque escolheram o homem e o momento para entrarem no sistema geo-político gerido por Washington.
Acabo de ouvir alguém no Forum da TSF propor que se faça um referendo sobre o TGV.Não é só o Marcelo Rebelo de Sousa que tem ideias destas!
Retirei do Correio da Manhã esta frase de Pedro Solbes, ministro das Finanças do governo espanhol
A esquerda moderna está a ficar mais à esquerda. Para perceber melhor este mundo tumultuoso, ler o ilustrativo artigo de André Freire«O esquerdismo na Europa após a Guerra Fria» no jornal Público.Primeira avaliação marcada para Junho nas eleições europeias.
Falar e não falar é o possível tema comum às crónicas deste fim-de-semana no Correio da Manhã. O cardeal falou na ceia do Casino com a Fátima Campos Ferreira, o banqueiro Oliveira e Costa calou-se perante os deputados.Veja as diferenças.
Há dias fiz aqui uma pergunta sobre a influência da presente crise no ensino universitário de Economia. Se ainda se ensinava o mesmo. Uma pergunta audaciosa para quem, como eu, teve as suas cadeiras de Economia, Econometria e de História Económica no final dos anos sessenta, princípios dos setenta. Mas com a preocupação de quem estudou a desorientação que se seguiu à I GM e a espera inútil de um regresso à« Normalcy » liberal até à vitória dos regimes ditatoriais. Recebi respostas estimulantes do Luis Aguiar-Conraria, a quem reenvio o asisado Progress not regress, do Pedro Laíns de quem sou devedor de uma excelente História Económica de Portugal, e de vários Ladrões de Bicicletas com quem tenho acompanhado algumas pistas alternativas ao paradigma dominante.Dou por bem empregue o desafio.
Acabo de ouvir o discurso de despedida de Bush. Muita justificação sobre os mandatos. Nenhuma ideia para o futuro. George Washington continua imbatível quanto à qualidade do «Farewell Address».
O BCE volta a baixar a taxa de juro de referência. Os Estados multiplicam os projectos de investimento e injectam capital no sistema financeiro. O dinheiro continua porém a não chegar às «empresas, às famílias e às pessoas». Que tal experimentar pelo lado do aumento dos salários?
O governo alemão volta a não poder respeitar o Pacto de Estabilidade que impôs aos países da zona euro, e que já foi o alfa e o ómega de muitos tecnocratas. Sinal dos tempos mas que obriga a reflectir retrospectivamente sobre a abundância de bons alunos de maus mestres.
Outra notícia do dia tem a ver com a recomendação emanada do Vaticano sobre a proliferação de aparições da Virgem Maria em países como a Roménia, a Itália, o Equador, Chile, México e Espanha.Um voto de silêncio é pedido a todos quanto julgam ter assistido a essas ocorrências até que equipas de« psicólogos, teólogos, padres e exorcistas» possam fazer o seu trabalho junto dos videntes. Evidentemente que essa disposição não tem efeitos retroactivos.
Grande alarido levantou um conselho do cardeal D. José Policarpo às mulheres europeias e cristãs que queiram casar com um muçulmano . Aconselhou-as a pensar duas vezes. Genericamente não me parece demais. Mesmo entre pessoas da mesma rua , do mesmo credo, mesmo para uma união de facto, não faz mal um período de reflexão.O cardeal pecou apenas por defeito. Ah, e por ter ido ao casino...
Gosto muito de seguir os temas económicos na blogosfera tanto através dos Ladrões de bicicletas,já aqui várias vezes citado, como na Destreza das Dúvidas do Aguiar Conraria. A pergunta permanece para todos: Ainda se ensina o mesmo nas universidades sobre economia, finanças e gestão do que antes da crise?
Agora que a família Obama está a pensar em ter um cão na Casa Branca, venho testemunhar que a Vora e a Moira, dois cães de água do sexo feminino, fizeram a felicidade do meu filho durante anos. Sensíveis, inteligentes, caseiros, mas capazes de aventuras, demonstraram por mais de uma vez que eram pessoas como nós. Da linhagem recriada pelo dr. Bessa, foram prendas do Fernando Brederode Santos, tio materno do rapaz, que foi um dos grandes difusores de cães de água por toda a família e arredores. Houve um tempo em que no Jardim do Príncipe Real, ou em Campo de Ourique, pais, mães, filhos e primos congénitos, devidamente tosquiados, se visitavam sem se reconhecerem necessariamente. O último que o Fernando treinou chamava-se Simbad, mas aburguesou-se um pouco com a idade.
Foi concludente a vitória de Cristiano Ronaldo e ela trouxe prestígio a Portugal. É positivo.Como é um jogador mediático muito ligado à publicidade de certos produtos no mercado da Península Ibérica essa vitória também terá um valor mercantil difícil de apurar. Esse aspecto não me interessa particularmente mas pode ter estado na origem da forte campanha de apoio desencadeada. Até aqui nada a dizer. Mas que se insinue que os treinadores portugueses deviam ter votado obrigatoriamente em Cristiano Ronaldo é um exagero digno dos tempos da União Nacional, e deve deixar esta mentalidade portuguesa mal vista ,mesmo no mundo do futebol. Como muito bem disse hoje Paulo Duarte , seleccionador do Burkina Fasso, ao DN
Foi o melhor da noite: Cristiano Ronaldo telefonou agora directamente de Manchester para Fátima Campos Ferreira que conduzia o programa Prós e Contras dedicado à sua vitória.Foi mais do que profissionalismo.
Hoje não houve crise para ninguém em Portugal. Não houve queixas de falta de créditos bancários para as micro, as pequenas e as médias empresas. Até não se deu pela queda da taxa Unibor que acena capitosa a todos os endividados domésticos. Voltou a auto-estima colectiva com a escolha de Cristiano Ronaldo como melhor jogador da FIFA. Como são os patrões do Manchester United que lhe pagam o ordenado este orgulho nacional até nos sai mais barato do que o promovido pela Expo98 ou pelo Euro 2004.
Todos os Invernos desde 1992 há uma disputa entre a Rússia e a Ucrânia sobre o preço do gás a pagar por este país. No tempo da URSS não havia preços assentes no mercado entre Moscovo e Kiev. Enquanto durou essa bizarria os ucranianos recebiam o gás por um valor dez vezes menor do que os países fora da órbita soviética. Mas desfeito o contrato político e ideológico a Rússia passou a querer cobrar à ocidental. Quinze anos depois ainda fornecem o hidrocarboneto tão útil ao aquecimento de lares e funcionamento de indústrias pesadas ao preço da chuva se por tal se entender um preço duas vezes e meia inferior ao praticado no mercado europeu. Sobre isso nada dizem os nossos liberais e afins.Só falam em «segurança energética», um conceito extra-mercado...Ora os tempos não aconselham o recurso a argumentos que arruinem os alicerces do sistema.
Faleceu o José Manuel Rodrigues da Silva.Como ele me escreveu na dedicatória da sua fabulosa Memória- Prova de Vida- editada em 20 exemplares por José Carlos Alfaro-«Um Amigo diferente.»De facto. Conhecemos-nos na crise estudantil de 1962. No dia 24 de Março o Rodrigues da Silva não foi para os cafés:« Nem para os cafés nem para lado nenhum.Fiquei.Ali, frente à Polícia de Choque.Como tantos, como cada vez mais à medida que os minutos iam passando. E esse gesto, puramente instintivo, daí a nada colectivo, é que ditaria tudo o resto» (p 186).
Papéis trocados. Há uns tempos que PS e PSD andam com os papéis trocados, sobretudo quando estão no governo.Assim nascem os monstros políticos nos regimes.
O Pequeno Médio-Oriente chama a atenção para o facto do governo de Israel ter medido tudo menos a desumana violência no ataque à Faixa de Gaza: o calendário eleitoral, a falta de aliados locais do Hamas , a transição entre Bush e Obama nos EUA. Bush despede-se com o seu proclamado projecto de um Grande Médio-Oriente por terra. Volta o pequeno onde quase tudo se joga há dezenas de anos.
Pergunto-me se não teria sido melhor para o governo ter deixado aprovar as propostas de suspensão da avaliação dos professores apresentadas pelas oposições.Os críticos não podem pensar em tudo...
O calendário dos 3 actos eleitorais previstos para este ano será objecto de grandes manobras entre os principais interessados e decisores. Para já os papeis estão trocados no que diz respeito às legislativas: José Sócrates sugere a antecipação para Junho , MFL oferece mais seis meses de governo ao primeiro-ministro . As eleições europeias e autárquicas fazem aqui o papel das «chocas» nas touradas.
José Silva Lopes voltou a impressionar hoje na SIC-NOT pela crítica serena às ilusões da direita sobre a melhor forma de enfrentar a crise.Diz-me com que economista andas e dir-te-ei quem és.
Escrevem-se páginas sobre as semelhanças e as diferenças entre a crise de 1929 e a actual que ainda não tem data. Um dos indicadores humanos mais salientes até aqui era a falta de suicídios de empresários. Choviam as explicações: já há poucas empresas «familiares» daquelas em que um «patriarca» se envergonha , os poderes públicos ocidentais têm injectado massa monetária em circulação que dá para fazer cantar muitos cegos, enfim a época é mais hedonista do que a anterior e o capital mais anónimo e irresponsável. Pois bem, um empresário alemão, carregando às costas dois nomes pesados como os de Adolfo Merckle, atirou-se para a linha de comboio perto de Estugarda. Isto está a ficar feio lá fora.
Dez Anos de Euro em Portugal mereceu ontem uma reflexão pessoal do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Curiosamente é o primeiro responsável que a faz num mundo recheado de economistas. Mas com tantas entidades financeiras não haverá nenhuma que queira promover um estudo aprofundado do tema? O Banco de Portugal, por exemplo. Até porque Vítor Constâncio foi dos poucos que, antes ,chamou a atenção para os problemas e as vantagens da entrada de Portugal logo no primeiro grupo de países.
Pode discutir-se « o efeito multiplicador» keynesiano dos investimentos públicos em projecto. Mas o« efeito multiplicador» político da entrevista de José Sócrates à SIC foi bem visível esta noite nas estações televisivas e ainda falta a imprensa até ao fim de semana. Fica submersa a mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva.
Há uma semana que estou para receber uma encomenda da Suiça via VHL. Uma simpática Senhora, moradora em Genebra, esteve cá em casa em Outubro, e resolveu enviar, por VHL já que tinha dúvidas sobre a velocidade dos Correios estatais europeus, umas prendas de Natal aos meus netos, daqueles brinquedos sem arestas nem materiais duros. Instalou-se a perplexidade nos serviços. Se eu confirmava o valor declarado pela remetente( e que desconhecia completamente como se deve em lembranças desta natureza!), se eu confirmava que não iria efectuar nenhum pagamento à delicada Senhora, mais o número de contribuinte, e o de telefone, assim como o nome completo. Felizmente que já devem ter as minhas impressões digitais por aí... Mas a encomenda ainda não chegou...
Bush, quando a procissão da guerra no Iraque ia no adro, publicitou a visão de um Grande Médio- Oriente em transformação democrática. Porém a menos de um mês de Obama tomar posse é o pequeno Médio-Oriente que regressa dramaticamente. Enquanto ele pode estar calado?
Terá sido um checo quem brevetou o Torrão de Açúcar. A presidência semestral da UE cabe neste difícil início de 2009 a Praga que gosta de se rever nesse símbolo que é uma metáfora. Só me pergunto porque é que ninguém se pergunta sobre os porquês do euro-cepticismo de países como a República Checa e a Polónia...
A Semana do PR foi deveras afanosa. Os últimos dias do ano exigem normalmente um PR de plantão em Belém a assinar amnistias, diplomas de ocasião, entradas em vigor do Orçamento e correlativos, redacção da mensagem de Ano Novo. Esta acabou por adiar o Dies Irae ...
A Mensagem do PR foi adequada ao momento que o País atravessa. Não sei se estou a plagiar algum comentador mas admito com naturalidade que sim. Agora que Cavaco Silva não fala sem acariciar alguns «nichos eleitorais» isso também foi patente: agricultores, pequenos comerciantes, jovens à procura de emprego, vítimas da crise financeira, todos foram contemplados com uma palavra de consolação.
O meu «Reveillon» foi caseiro. Fui seguindo a programação das televisões portuguesas depois da Tosca realizada nos locais romanos da acção no canal Arte. O melhor ainda foi a transmissão do fogo de artifício. Que a minha neta de 5 anos me tinha anunciado durante o dia com a alegria de quem gosta destas coisas efémeras.