Um Amigo diferente
Faleceu o José Manuel Rodrigues da Silva.Como ele me escreveu na dedicatória da sua fabulosa Memória- Prova de Vida- editada em 20 exemplares por José Carlos Alfaro-«Um Amigo diferente.»De facto. Conhecemos-nos na crise estudantil de 1962. No dia 24 de Março o Rodrigues da Silva não foi para os cafés:« Nem para os cafés nem para lado nenhum.Fiquei.Ali, frente à Polícia de Choque.Como tantos, como cada vez mais à medida que os minutos iam passando. E esse gesto, puramente instintivo, daí a nada colectivo, é que ditaria tudo o resto» (p 186).
E «tudo o resto» foi a vida de um honrado Homem, activo e dedicado dirigente estudantil na época em que muitos faziam o seu curriculum , miliciano contrafeito na guerra colonial em Moçambique, impedido de ensinar na metrópole pela PIDE, jornalista do Diário Popular onde o 25 de Abril o encontrou revoltado e radical. Eu devo ter sido um dos raros«reformistas» de quem não se afastou na altura.Escrevia-me bilhetes postais por isto e por aquilo, até bem recentemente. Sempre o vi autêntico, impressionado pela luz de outra sociedade. Vi-o pela última vez quinta-feira no hospital de Santa Maria. Disse-me :« Já não saio daqui». Saí e fui homenageá-lo dando uma volta vivencial pela Cidade Universitária dos nossos vinte anos.
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