ART&rial V
(ART&rial I; ART&rial II; ART&rial III; ART&rial IV)
Ao contrário de El Greco, Rubens era rico e famoso, dono de um grande estúdio e seguido por muitos pupilos. E a sua pintura oferece o mais desconcertante vermelho, a tez mais calandrada, as texturas mais minuciosas. Passou a sua juventude em Itália e regressou a Antuérpia já nos seus trinta anos. É a síntese única do encarnado de Ticciano com a fidelidade representativa de Bruegel; a harmonia entre Caravaggio ou Carracci e Van Eyck. De Itália trouxe as grandes telas, as preferências das princesas, a teatralização da cor. Da Flandres conservou a dignificação dos objectos e a estética nem sempre padrão.
O Art Institute of Chicago orgulha-se de ter Rubens, mais do que um Rubens, e os curadores divertem-se. Ao lado de um dos seus quadros, uma obra de Jassens, um dos seus rivais. Na sala contigua, um quadro de Poussin, uma interpretação do barroco completamente diversa, fazendo com que, quando se passa de uma galeria à outra, o ângulo confronte os dois pintores.
Detenho-me num das minhas paixões por Rubens e imagino como se sentiria rodeado deste modo.
Ameaçado nunca… sabia bem que tinha a vida na ponta do pincel, o vigor no punho, o pulsar surdo do peito na luz da carne que animava. É Barroco e esplendoroso.
Nesta Sagrada Família, a pele de Maria e de Cristo encandeiam, raptando a nossa atenção. O tom de José e de Elisabete não empalidecem o íman, e o movimento no colo rubro acompanha o céu atormentado. Há um cordeiro que fará o sacrifício, permitindo a esta fase abdicar da serenidade e da simetria renascentistas.
Os seus quadros glorificam a Europa do poder de então, conflituosa na guerra e na igreja. Rubens aceita encomendas dos jesuítas e dos católicos, de Luís XIII, de Carlos I de Inglaterra ou de Filipe III de Espanha. É assim que imagino Rubens a olhar para as pinturas de Jassens ou Poussin.
O Art Institute of Chicago orgulha-se de ter Rubens, mais do que um Rubens, e os curadores divertem-se. Ao lado de um dos seus quadros, uma obra de Jassens, um dos seus rivais. Na sala contigua, um quadro de Poussin, uma interpretação do barroco completamente diversa, fazendo com que, quando se passa de uma galeria à outra, o ângulo confronte os dois pintores.
Detenho-me num das minhas paixões por Rubens e imagino como se sentiria rodeado deste modo.
Ameaçado nunca… sabia bem que tinha a vida na ponta do pincel, o vigor no punho, o pulsar surdo do peito na luz da carne que animava. É Barroco e esplendoroso.
Nesta Sagrada Família, a pele de Maria e de Cristo encandeiam, raptando a nossa atenção. O tom de José e de Elisabete não empalidecem o íman, e o movimento no colo rubro acompanha o céu atormentado. Há um cordeiro que fará o sacrifício, permitindo a esta fase abdicar da serenidade e da simetria renascentistas.
Os seus quadros glorificam a Europa do poder de então, conflituosa na guerra e na igreja. Rubens aceita encomendas dos jesuítas e dos católicos, de Luís XIII, de Carlos I de Inglaterra ou de Filipe III de Espanha. É assim que imagino Rubens a olhar para as pinturas de Jassens ou Poussin.
No auto-retrato de 1639 há a espada nobre e a distinção. Mas no seu olhar nem um traço de arrogância ou desdém. Antes a expectativa que lhe deu o génio da exuberância viva.
Em mim toca agora Orfeo de Monteverdi. A senhora avisa que o museu vai fechar, tem um uniforme e a autoridade. Eu devia ir, mas as minhas paredes nunca terão reproduções. Ignoro que são os últimos minutos e volto a pôr a ópera no princípio. Quero saber se já o consigo trautear e, assim, levar comigo Rubens. A senhora insiste e eu obedeço, chego a casa e penduro-o atrás da porta. Continua meu e só se vê quando a porta está fechada. Do lado de dentro, é claro.
Io la Musica son,
Io la Musica son,
ch' à i dolci accenti
sò far tranquillo
ogni turbato core,
et hor di nobil ira,
et hor d' amore
posso infiammar le più gelate menti.
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