O homem que tem o nariz mais comprido vê mais longe (provérbio russo)
Assinalam-se os 200 anos do nascimento de Gógol. Mas também é tempo de recordar a sua morte. No livro que Nabokov lhe dedicou (Assírio & Alvim), o autor descreve a tortura a que foi sujeito o escritor de Almas Mortas: “Aliando uma notável interpretação errónea dos sintomas a uma igualmente notável antecipação dos métodos de Charcot, o doutor Auvers mandou mergulhar o doente num banho quente, ao mesmo tempo que lhe vertiam água fria sobre a cabeça, sendo depois deitado na cama, com meia dúzia de gordas sanguessugas aplicadas ao nariz.” Ao nariz, ao órgão que Gógol tanto prezava – era através dele que via - e que acabou por resultar num conto. Como também sublinha Nabokov: “É por isso que há algo de terrivelmente simbólico na cena patética das tentativas fúteis do moribundo para se desembaraçar dos amontoados negros e imundos de quetópodes que lhe sugam o sangue das narinas. Podemos imaginar o que sentia se também nos lembrarmos de que vivera toda a vida obcecado por uma aversão particular a criaturas viscosas, rastejantes, furtivas”.
Quase tão sebentas como a triste história da Psiquiatria, acrescente-se.
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