Há dias de azar.
Uma daquelas ondas, que tão depressa surge quanto some, engoliu a manhã de sexta 13. Foi um arrastão de horas noticiando “a maior subida de sempre” da criminalidade. A direita empolou, os cidadãos alarmaram-se. Tenha medo. Muito medo. Seja irracional. Mas 2008 subiu apenas comparativamente a 2007, ano de descida excepcional. Aliás, a criminalidade violenta em 2008 foi inferior à de 2006. Por exemplo, em 2008 registaram-se 143 homicídios. Em 2006, 194. E, em 2000, 247. Nos anos 90, rondavam os 400. Ou seja, embora os homicídios desçam ano após ano, divulga-se a percepção oposta. Com o mesmo pensamento mágico das superstições.
Entretanto, os media badalam crimes que nem a rodapé teriam direito. Muito menos a repetição. A mesma que do pequeno faz grande, do raro faz regra e da cautela, pavor. O medo é a reacção mais primária: insufla mas não muda. Paralisa. Os partidos dão repostas instantâneas, polícias musculam-se, governantes fabricam leis precipitadas. Perde-se a reflexão sobre causas e combate à criminalidade em tempos de crise. E de abundância. Afinal, a histeria convém aos que não querem debate. Ponha-se o pânico a correr pelas ruas, que o crime agradece. Mesmo que tenha de passar por baixo de uma escada.
<< Home