domingo, novembro 04, 2007

Porque não há uma ala crítica no PS

Hoje o Público insere um trabalho da jornalista São José Almeida sobre o desaparecimento da ala esquerda no PS.Fui devidamente contactado, mas por me estar a dedicar a outras cogitações, apenas respondi por telefone. Ora recebi durante o dia várias chamadas que me davam conta de alguma perplexidade com essas declarações que reduziriam excessivamente a questão ao aparecimento da candidatura presidencial de Manuel Alegre.

O que penso então, sucintamente, desse apagamento das posições críticas dentro do PS?

Em primeiro lugar, já na elaboração das listas para deputados José Sócrates tinha testado a fortaleza do grupo de críticos eliminando alguns a preceito e cooptando outros;

Em segundo lugar, o facto do PS ter alcançado uma maioria absoluta original criou um ambiente interno de grande expectativa e reconhecimento;

Em terceiro lugar, as forças que tinham levado às eleições antecipadas ampararam-se do palco público e apresentaram, com uma panóplia vasta de meios internos e externos, um plano financeiro imperativo e restritivo como há muito não acontecia;

Em quarto lugar, as eleições presidenciais desenrolaram-se num quadro de divisão das esquerdas com Manuel Alegre a empurrar Mário Soares, que vinha de uma vigorosa trajectória de esquerda, para o papel forçado de candidato oficial do socratismo;

Em quinto lugar, Alegre jamais soube o que fazer com a sua candidatura e muito menos com o milhão de votos que alcançou, circunstâncialmente ou não, empatando uma reoganização do espaço político da esquerda até hoje, uma atitude que ainda lhe pode valer a candidatura oficial pelo PS em 2010, caso Cavaco Silva esteja em boa forma;

Em sexto lugar, Sócrates , que não dorme em serviço , convenceu Alberto Martins a aceitar ser líder parlamentar na fase mais ingrata da produção legislativa contra o edifício frágil da segurança social, e continuou a afastar do parlamento outras vozes mais livres como João Cravinho ou o adiado Manuel Maria Carrilho;

Em sétimo lugar, o poder pessoal de José Sócrates crescia no país , apoiado por uma silenciosa direita social e perante a expectativa dos militantes do PS mais preocupados com a trajectória futura do partido depois desta experiência sui-generis.Muito dificilmente sairá de dentro do PS o primeiro cartão amarelo a José Sócrates.Só Mário Soares o poderia fazer e numa circunstância extrema.

Desta vez fui claro?