quinta-feira, março 22, 2007

Têm o rei na barriga, é o que é.


O Público de hoje titula na capa que “um terço dos bebés já nasce de cesariana”. A peça explica que, em 2006, 32 % dos partos em hospitais públicos foram por acto cirúrgico, longe dos aconselhados 15% pela OMS.

Para além da legítima vontade da mulher de ter um parto sem dor (e da fantasia de que a cesariana diminui o sofrimento do bebé e protege a sua sexualidade), outras razões explicam esta percentagem, como o aumento da idade da mãe e a falta de médicos e enfermeiros nas urgências obstétricas.

É verdade que o recurso à cesariana sem razões clínicas representa riscos desnecessários, como perigos anestésicos, infecciosos e hemorrágicos. Mas também é verdade que nos Privados a percentagem das cesarianas é bem mais elevada, andando nos 70%. E porquê? Não só porque se respeita a escolha da mulher. Este número deve-se, sobretudo, ao facto das cesarianas custarem o dobro de um parto normal (sendo que a diferença pode chegar ao quádruplo).

Este aspecto não é referido na peça do Público, claro. No editorial do jornal, aproveita-se para atribuir estes números às pequenas maternidades sem condições, entretanto encerradas- quando, na verdade, a falta de pessoal ocorre em unidades bem maiores- e imputam-se as percentagens, sobretudo, à atitude de “querer o melhor, mas com o menor esforço”; aos “maus hábitos das sociedades modernas, designadamente uma crescente preocupação com o conforto e bem-estar”. E só entre parêntesis, se diz que as taxas de cesarianas são mais altas no privado.

Claro. As cesarianas aumentam porque as mulheres portuguesas são umas levianas indolentes. Os partos serão muito melhores nas auto-estradas e a falta de pessoal e a ganância dos privados é de somenos.