Joaquim Cerqueira da Rocha (1937-2007)
Conheci-o em 1959 em Ponta Delgada, era ele tudo menos um aspirante a oficial miliciano, e eu um finalista do Liceu Antero de Quental virado para as letras.O meu irmão Arnaldo, oficial do Exército, chamou-me a atençao para aquele estudante de Direito desterrado nos Arrifes.Conversa puxa conversa, tornámo-nos amigos.Mais uns tempos e o Cerqueira da Rocha começou a emprestar-me livros que tinha trazido de Lisboa na previsão da sua falta local.Um deles foi a história do Teatro Moderno do Luis Francisco Rebelo, acabado de sair.Mergulhei então na leitura dos movimentos culturais do século XX pela primeira vez, no Liceu ainda mal se dava o romantismo.
Quando cheguei a Lisboa,no ano seguinte, levou-me ao restaurante Tatu no Campo Grande onde se aboletavam muitos estudantes de esquerda.Daí a uns meses eu estava envolvido nas associações de estudantes.
Sempre discreto o Cerqueira da Rocha assistiu ao meu percurso como dirigente estudantil com visível satisfação.Num ou outro momento mais difícil dava-me um abraço mais apertado. Também me emprestava o seu «quarto independente» para coisas próprias da idade.Depois a vida separou-nos.
Voltei a encontra-lo depois do 25 de Abril, em campos políticos diferentes mas com a mesma amizade renascida.Admito que o meu percurso de moderador da revolução o tenha desiludido um pouco.Porém com a situação normalizada lá nos reconciliamos.
Cerqueira da Rocha havia montado banca de advogado na sua terra, a Figueira da Foz,onde chegou a ter responsabilidades autárquicas.Há uns anos convidou-me com o seu sorriso quase alegre para palestrar num almoço de gastrónomos.Fui com enorme prazer, por ele.Com uma distinção de maneiras muito subtil ao saber da importância que eu atribuira à leitura do livro sobre Teatro Moderno, ofereceu-mo com a seguinte dedicatória Com um grande abraço que começou em 1959.Um grande abraço meu querido amigo Cerqueira da Rocha.
<< Home