A Coordenaçao Nacional para a infecçao VIH/SIDA no escuro
Há uns dias, vi a apresentação da nova campanha da Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA num qualquer telejornal. A mensagem que pretende passar é a de que não fazer o teste é viver às escuras. Vai daí, no spot televisivo, sucedem-se diálogos estapafúrdios –num café à procura de uma mesa, por exemplo – e finalmente, qual Branca de Neve, a única imagem que aparece é uma mensagem ESCRITA, num cantinho do ecrã, a aconselhar o teste.
O Público de hoje solicitou comentários aos técnicos sobre a campanha. Orquídea Lopes, especialista desta área, classifica-a como “árida, fria, distante” e sublinha como o slogan aparece no imperativo: “faz o teste!”, o que considera pouco funcional. Como também não se vêem rostos, persiste-se na ideia de anonimato. Fausto Amaro, perito em percepções dos riscos sobre a SIDA, mostra como a campanha não é generalista, já que as pessoas são tratadas por tu e são difundidas vozes jovens apenas. E a mensagem final, sobre necessidade de fazer o teste nunca se ouve, só se vê.
Para além disso, a relação entre encontrar uma mesa num restaurante ou um lugar para estacionar e os comportamentos de risco é, diz FA, “de difícil compreensão”. A mim, parece-me mais uma palhaçada. Uma palhaçada perigosa. OBVIAMENTE, o risco não é da mesma ordem. Não sei no que estavam a pensar quando fizeram estes anúncios, mas parecem mais um spot humorístico do que uma campanha de prevenção. Para a próxima podem mesmo relacionar os preços da electricidade com o teste ou colocar o slogan final em letras ainda mais pequenas, a passar em rodapé ou remetendo apenas para o teletexto. Ou façam anagramas, textos crípticos, charadas e advinhas.
A campanha custou à Coordenação Nacional para a Infecção VIH/sida 100 mil euros, mais 100 mil euros comparticipados pela Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica. Mas o maior problema não é esse, claro. É a insistência em campanhas frágeis, pouco estruturadas e ineficientes. Enquanto isso, os números de pessoas com VIH-SIDA continua a aumentar e a fazer de Portugal um dos países europeus com mais alta incidência. 32.000 segundo a ONU.
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