O dia mais longo
Ontem acordei às 5 da manhã e deitei-me pelas 3h da madrugada de hoje, após ter ido a Gelsenkirchen ver o Portugal-Inglaterra.Alegrou-me estar com a enorme tribo de gente que gosta genuinamente de futebol pelo jogo e pelas emoções que desencadeia.Relembrei-me de mim próprio quando abandonei o campo de jogos do meu Liceu em Ponta Delgada para ficar mais tempo na biblioteca a ler, e como esse abandono me marcou existencialmente.
Também foi a primeira vez que estive num estádio fechado e isso fez-me impressão.Sou do tempo em que se escrevia entre nós «o futebol é um desporto de inverno».Ora aqui está uma verdadeira mudança climática:os 33 graus a céu aberto do verão continental alemão estavam amenizados dentro do estádio completamente cheio!
Os portugueses eram uma minoria confiante.Perto de mim alguns emigrantes apoiavam a selecção com fervor mas já num português contaminado pela sintaxe alemã.Não sei porquê, comovi-me com esse português ainda mais profundo mas fugidio da perfeição, entre dois paradigmas linguisticos e culturais mas sem pertencer a nenhum inteiramente.A identidade reencontrada no apoio à selecção nacional dava a todos eles um momento de harmonia.Nos penalties abraçamo-nos todos.Os jovens portugueses «well educated» que estavam comigo vindos de Lisboa participaram espontâneamente nessa reunião de gerações e de percursos.
O jogo foi emotivo sem ser grande coisa do ponto de vista da beleza.Como disse friamente Scolari«quem joga lindo já está eliminado».
Agora Portugal está nas meias finais.Que jogue lindo para ganhar.
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