Perguntas tolas
Tão devagar!...
Joaquim Fidalgo, no Público
Joaquim Fidalgo, no Público
"Senhor Presidente Cavaco Silva, como é que vai conseguir conciliar as responsabilidades deste alto cargo com as suas obrigações familiares?"Pergunta tola, dir-se-á. (....) Nem por isso. Foi exactamente esta pergunta que fizeram, no mês passado, à recém-eleita Presidenta do Chile, Michelle Bachelet. Uma mulher, claro. Só a uma mulher nos lembramos de fazer uma pergunta assim(....) Além disso, e dado que Michelle Bachelet é divorciada, alguém perguntou-lhe mesmo se não iria ser mais difícil suportar as agruras do cargo "sem os carinhos" de um parceiro lá em casa. Mas a senhora também respondeu à letra: "Adorava que, se neste meu lugar estivesse agora um homem, lhe fizessem exactamente esse tipo de perguntas. Desafio a que o façam no futuro..." E mais disse aos jornalistas: "Quando eu nomear algum ministro, não se esqueçam de o questionar sobre como vai equilibrar as coisas entre o trabalho político e a vida familiar, como vai ser quanto à casa, quanto aos filhos, etc..."Mas não, nunca fazemos essas perguntas aos homens. Nem eles as fazem a eles próprios. Se é pela pátria, seja pela pátria - e a mulher trata do resto lá em casa!
Portugal continua a ser dos países da Europa onde há menos presidentas, onde há menos ministras, onde há menos catedráticas, onde há menos directoras, onde há menos comentadoras...
(....)Esta semana, entretanto, o inefável Portas estreia-se na televisão, emparceirando com os outros dois campeões do comentadorismo nacional - Marcelo e Vitorino. Nem de propósito, repare-se como todos seguem o mesmo modelo: ao lado, uma mulher bonita, com bom ar e bom nome, emprestando ao quadro uma certa aura de credibilidade jornalística e criando uma ilusão de diálogo; no centro da acção, um homem a debitar verdades definitivas, qual oráculo ritual dos tempos modernos. (....).A mulher faz, ou faz de conta que faz, as perguntas; o homem, obviamente, dá as respostas. Assim é que é...
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