segunda-feira, março 06, 2006

Identidade e descentralização

José Medeiros Ferreira já assinalou num post anterior a entrevista que Cavaco Silva deu ao jornal espanhol ABC. Paulo Gorjão justifica esta opção com base numa suposta intenção de Cavaco Silva reiniciar a sua projecção na Europa. Pode ser que sim. Mas não deixa de ser interessante reparar e sublinhar que é a um jornal espanhol que o Presidente eleito dá a sua primeira entrevista.
No Público de hoje, Manuel Carvalho assina o editorial em torno dessa entrevista. Reparando que a descentralização é um dos temas quer do Presidente que sai, quer do que entra, abordados por prismas opostos, acrescenta:
“Cavaco manifesta as suas opções afirmando que "a centralização prova que Portugal é um país com uma forte unidade, que não tem problemas linguísticos, étnicos ou religiosos". Ou seja, para Cavaco, a centralização é, ou parece ser, uma consequência, uma "prova" da identidade nacional.(…) Ao contrário do que sugere o próximo Presidente, não é a centralização que cimenta a unidade nacional: pelo contrário, os seus efeitos estão a colocar zonas do interior cada vez mais longe de Lisboa e mais perto de Vigo ou Huelva. Depois, os defensores da descentralização radical ou da regionalização não são por definição menos patriotas nem menos defensores da unidade nacional do que os que defendem ideias contrárias. Levar a discussão por estes caminhos é como acusar os que criticam a política iraquiana de Bush de serem antiamericanos. Implica uma visão redutora, injusta e errada do que está em causa. Porque o que está em causa é a escolha de uma terapia política capaz de reformar o Estado obeso e ineficaz que consome recursos que o país não tem; de libertar os cidadãos e as empresas dos bloqueios da burocracia e do livre arbítrio dos tiranetes da administração central; ou de encontrar modelos de política pública mais eficazes para a coesão nacional, evitando que a população e a riqueza se concentrem em proporções terceiro-mundistas em torno da capital. É por aqui que o debate faz sentido, sem o perigo da emocionalidade que Cavaco agora faz ressurgir. “