O eclipse
Comprei a Visão e lá vinham os óculos para ver o eclipse.
Diz Gonçalo M. Tavares:
“O senhor Henri olhava para o eclipse anunciado que ainda não começara.
Se os astros se atrasam, o que fará o resto-disse o senhor Henri.
O senhor Henri tinha trazido uns binóculos enormes.
…se os meus binóculos tivessem o cumprimento que vai da terra ao sol, aí sim, eu veria as coisas mais próximas- disse o senhor Henri.
…em chinês existe uma única palavra para o eclipse e é para comer. O eclipse é uma coisa escura que come um astro.
…é uma bela imagem.
O senhor Henri, entretanto, pousou os binóculos e tirou da sua mochila uma garrafa de absinto.
Depois de beber umas boas goladas o senhor Henri disse: que belo eclipse! E bebeu mais umas goladas.
Deitado no chão à espera que algo acontecesse no céu o senhor Henri acabou por fechar os olhos e adormecer.
Quando acabou pegou na sua mochila e na sua garrafa de absinto e retirou-se.
Tive um eclipse privado, disse o senhor Henri para si próprio, satisfeitíssimo com os astros que conseguira ver no seu céu particular.
Um eclipse que depende só de mim, eis o que trago nesta garrafa-disse o senhor Henri.”
(2003, Ed. Caminho, p.31)
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