Antonio Tabucchi responde a Pacheco Pereira
No DN de hoje:
“De entre as várias motivações (a meu ver todas elas pitorescas, nenhuma realmente política) pelas quais, segundo o dr. Pacheco Pereira, o eleitor português deveria preferir Cavaco Silva a Mário Soares ("Vamos escolher o 'fixe' ou o 'confiável'", Público, 22 de Setembro) gostaria de destacar a seguinte: “Mas atenção, (…) há aqui uma clara divisão social, uma diferença de meios, de vida, e também de tempo, de idade. Cavaco nasceu em Boliqueime entre o pobre e o remediado, e Soares em Lisboa e nasceu rico. (…) Mário Soares nasceu numa família urbana, mais do que remediada, liberal, cultivada, e estudou no colégio de seu pai, homem republicano e progressista. Teve sorte. Só que depois, lutando contra a ditadura, acabou numa prisão em S. Tomé e no exílio já não teve tanta sorte. Mais tarde, nos anos da pós-revolução de Abril, teve os seus problemas para conseguir, juntamente com outros, que Portugal não fosse uma imitação de Cuba, mas sim uma democracia parlamentar.Entre Mário Soares e Cavaco Silva há uma diferença de idade, sem dúvida. Mas um homem que vai a caminho dos 70, como Cavaco Silva, quando havia o salazarismo já era bastante crescido. Será que, estudante de economia em Inglaterra, não se apercebeu que em Portugal havia uma ditadura? E será que não se apercebeu disso por ter nascido "entre o pobre e o remediado" em Boliqueime? Conheço portugueses da idade dele que nasceram pobres, muito pobres, e que conseguiram estudar no estrangeiro, mas com a consciência do País de onde vinham. (…) Faltava-lhe pois o que se chama "consciência política". O que, para um político, é uma falta grave. E quem não a teve aos 20/30 anos, quando o seu país precisava dela, não sei se a poderá ter em idade mais que madura, quando o seu país já a tem, porque alguém se bateu para lha conquistar e continua a bater-se contra qualquer ameaça que a possa desfalcar.”
“De entre as várias motivações (a meu ver todas elas pitorescas, nenhuma realmente política) pelas quais, segundo o dr. Pacheco Pereira, o eleitor português deveria preferir Cavaco Silva a Mário Soares ("Vamos escolher o 'fixe' ou o 'confiável'", Público, 22 de Setembro) gostaria de destacar a seguinte: “Mas atenção, (…) há aqui uma clara divisão social, uma diferença de meios, de vida, e também de tempo, de idade. Cavaco nasceu em Boliqueime entre o pobre e o remediado, e Soares em Lisboa e nasceu rico. (…) Mário Soares nasceu numa família urbana, mais do que remediada, liberal, cultivada, e estudou no colégio de seu pai, homem republicano e progressista. Teve sorte. Só que depois, lutando contra a ditadura, acabou numa prisão em S. Tomé e no exílio já não teve tanta sorte. Mais tarde, nos anos da pós-revolução de Abril, teve os seus problemas para conseguir, juntamente com outros, que Portugal não fosse uma imitação de Cuba, mas sim uma democracia parlamentar.Entre Mário Soares e Cavaco Silva há uma diferença de idade, sem dúvida. Mas um homem que vai a caminho dos 70, como Cavaco Silva, quando havia o salazarismo já era bastante crescido. Será que, estudante de economia em Inglaterra, não se apercebeu que em Portugal havia uma ditadura? E será que não se apercebeu disso por ter nascido "entre o pobre e o remediado" em Boliqueime? Conheço portugueses da idade dele que nasceram pobres, muito pobres, e que conseguiram estudar no estrangeiro, mas com a consciência do País de onde vinham. (…) Faltava-lhe pois o que se chama "consciência política". O que, para um político, é uma falta grave. E quem não a teve aos 20/30 anos, quando o seu país precisava dela, não sei se a poderá ter em idade mais que madura, quando o seu país já a tem, porque alguém se bateu para lha conquistar e continua a bater-se contra qualquer ameaça que a possa desfalcar.”
Fica o destaque. Mas vale a pena ler toda a crónica: “Quem testemunha pela testemunha?”.
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