London calling
Aceitar uma morte inesperada ou súbita é sempre mais complicado do que fazer o luto por uma morte esperada, mesmo que perda dolorosa. A morte de uma criança, porque contra ciclo vital, é de integração penosa. Atribuir sentido, dar significado, ao contrário de uma morte no final da vida, é mais complexo, mesmo que o enlutado seja dotado de interpretações transcendentais ou religiosas. Contudo, a perda ambígua, como aquela pela qual passam agora os londrinos que procuram os seus familiares, ou como a que suportaram muitos dos sobreviventes ao tsunami, ou ainda como aquela que arcam os familiares dos desaparecidos em combate, não é menos dramática. Difícil fazer o luto porque significa desistir da esperança, mesmo que magra. Difícil suster o alento: cada dia é racionalmente mais fatídico. Difícil exigir uma resposta, pois a sua suspensão é tantas vezes a única forma de acreditar no impossível. Negada a oportunidade "atempada" de ritualizar a perda, "enterrar os mortos". Duas ou três semanas mais de espera, dizem as autoridades britânicas. Uma eternidade para quem vive nesse limbo.
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